✖Epílogo✖

Bato os dedos na poltrona na ordem correta, tenho que batê-los sempre que Dr.Baronni usa sua toalhinha desbotada para secar sua testa, ele limpa a garganta a cada sete minutos e meio, achando que isso irá me fazer falar alguma coisa. Mas eu não quero falar com esse homem de aparência italiana robusta e incrivelmente amigável, a gota de suor acumulada em sua testa corre para sua têmpora e isso me faz querer falar com a voz que grita em minha cabeça, mandar ela parar de dizer coisas ruins sobre ele. Baronni seca seu rosto mais uma vez.

Um, dois, três.

–Senhor Iero - Ele havia dito apenas meu sobrenome, um erro terrível.

Dr. Baronni faz caretas horríveis enquanto grito seus defeitos, tento colocar as mãos sobre a boca, mas é incontrolável. Meu olhos lacrimejam enquanto levanto da poltrona de vime marrom e a derrubo, junto da mesa que havia ao lado.

Estou no precipício de novo e quero desesperadamente me jogar. Penso que se derrubar tudo da mesa de Baronni, me sentiria melhor e então me acalmaria. Mas não é verdade, pois, depois que eu o faço, a próxima coisa que enxergo é o mesmo encolhido em sua cadeira e as mãos de minha mãe me envolvendo, e sussurrando em meu ouvido palavras calmas e de carinho. Não tinha escutado o ranger da porta que me fazia querer arrancar os olhos.

Mamãe só me abraçava daquele jeito quando eu era terrivelmente sincero ou quando queria me consolar, e eu não precisava ser consolado no momento. Sentia minha respiração acelerada e me recolhi nos braços da minha mãe.

–Me desculpe - Sussurei em vão, Dr.Baronni já havia se levantado e estava mostrando a porta para nós dois, seu rosto estava vermelho como uma cereja e ele me reprovava com os olhos castanhos saltantes.

Depois desse dia eu nunca mais fui em um psiquiatra, minha mãe passou a não falar mais nada sobre minhas manias, meus penhascos, minhas quedas, meus machucados, meus ataques, minhas palavras feias, minhas palavras sinceras e talvez o que menos importava de tudo o que eu citei, como eu me sentia.

* * *

Aos oito anos eu já havia pulado de muitos penhascos, já havia entrado em muitas brigas que eu não queria ter causado, já tinha usado muitas palavras feias, já tinha magoado muito minha mãe e já havia me perdido em mim mesmo, inúmeras vezes.