Minha chuva no deserto escrita por Lawlie


Capítulo 2
Capítulo 2 - Primeiro dia, primeiro contato com a dor


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que o segundo capítulo sairia em breve ~insira aqui qualquer risada esquizofrênica e sem motivo de internet~. Tá curto, mas tá aí. Esperem que gostem tanto quanto do outro (ou mais). Se houver algum leitor novo, por favor, revele-se :v



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Eu estava sentada esperando a morte me levar - mas percebi que isso não aconteceria tão cedo quanto eu esperava.

No momento em que o avião caíra, eu havia ficado inconsciente por alguns minutos. Assim que acordei, percebi o que havia acontecido e comecei a chorar. Chorei por um bom tempo, chamando pelo nome de minha família. Não era necessário: eles estavam ali, do meu lado. Mas não podiam fazer nada para atender meus chamados. Levei as mãos ao rosto e elas voltaram sujas de sangue. Um corte feio fazia o líquido quente sair sem parar. Eu acabaria desmaiando por falta de sangue. Ainda chorando, demorei um pouco até conseguir sair do meu assento. Rasguei uma das mangas da blusa leve de tecido fino e caro que usava e a enrolei o melhor que pude em volta do corte. Haviam outros pelo meu corpo, mas eu me preocuparia com eles depois. Eu queria sair do avião, mas para isso teria de passar por todos os... cadáveres. Estremeci e tentei desviar o olhar, mas acabei olhando mesmo assim. Achei que fosse vomitar. Segurei a mão de minha mãe pela última vez e me empenhei no esforço de sair pela passagem estreita em meio aos destroços, me arranhando e conseguindo alguns novos cortes na tentativa. Assim que consegui, andei por alguns metros antes de pegar o celular e constatar com desespero que não havia sinal algum ali, no meio do nada. Tentei todos os números de emergência e de conhecidos que me lembrava. Todas as tentativas inúteis. Andei mais alguns metros e sentei na areia sem saber o que fazer e voltei a chorar. Chorei a dor do choque e do susto. Chorei a dor da perda. A dor dos meus ferimentos. A de se estar ao mesmo tempo em um deserto físico e em um deserto de desespero.

Por fim, eu parecia não ter mais lágrimas para chorar e percebi que estava com sede e muito calor. Caminhei de volta ao avião e me rastejei para dentro. O frigobar nos fundos estava bem danificado, mas por sorte seu conteúdo nem tanto. Nem todas as latas e garrafas haviam estourado. Peguei uma garrafa de água e dei grandes goles. Joguei um pouco sobre meus ferimentos, sem me importar com racionamento. Abri um pacote de biscoitos e devorei até a metade. Pela primeira vez, avaliei o estado do avião. A parte da frente era destroços e um caminho estreito onde eu passava com muito custo. O meio não se diferenciava tanto, apesar de ser ligeiramente menos tomado pelos destroços, mas os fundos do avião não estavam tão mal. Então comecei a me acomodar. Noites no deserto atingiam um frio terrível e haviam alguns cobertores sob os assentos não danificados, ali no fundo. Eu dormiria ali o quanto desse. Apenas fiquei encolhida, meditando, até noitecer. Quando a noite chegou e o calor deu lugar ao frio, me cobri e fechei os olhos. Achei que demoraria até adormecer, mas eu estava cansada de tanto chorar e apaguei.

Acordei no meio da noite. Por que minha cama estava tão apertada? Ela era tão espaçosa... Tentei rolar para o lado e não consegui. Abri os olhos, apenas a luz da lua iluminava fracamente o lugar onde eu estava. Uma... cadeira...? Peguei o celular. 3h00 da manhã. Nenhum sinal. Nenhum sinal? Mas o sinal lá em casa era ótimo, principalmente em meu quarto. E por que o Wi-fi estaria desligado? Resmunguei e olhei em uma certa direção instintivamente. E então a realidade me atingiu como um raio. Eu estava olhando para o rosto de um cadáver. Comecei a gritar como nunca havia gritado. Gritei mais do que se estivesse pegando fogo. Mais do que se uma faca atravessasse meus órgãos vitais. Mas ninguém poderia me ouvir. Meus pais não apareceriam correndo para ver o que havia acontecido, porque eles estavam... Voltei a chorar. Bebi alguns goles da garrafa que havia deixado ao meu lado. Quando acabei de chorar, tentei voltar a dormir. Não foi fácil como da outra vez. Demorava a dormir e a cada vez que conseguia, era um sonho inquieto com pesadelos que me acordavam a curtos intervalos, mas eu tinha a sabedoria de não voltar a olhar para os lados.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo deve sair ainda nessa semana que começa amanhã (q) (explicação: hoje é sábado, amanhã começa outra semana, e é nela que postarei o terceiro capítulo).



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