"Você é alto, nunca vai entender!"

As palavras de Hinata ainda pareciam tinir nos ouvidos de Kageyama enquanto o acompanhava na volta para casa. O silêncio prevalecia entre eles desde que saíram do ginásio e parecia que assim continuaria por um bom tempo. Para a irritação do moreno.

– Oi, Hinata, ainda está chateado por mais cedo?

O menor finalmente levantou o olhar, parecendo atrapalhado por ter sido chamado tão abruptamente e com a voz sempre tão severa de Kageyama.

– Ahn? Por causa daquilo da altura? Não mesmo, não se preocupe – ele movimentava as mãos freneticamente sem saber como realmente dar uma desculpa. – Não queria te chatear.

Kageyama bufou.

– Você não me chateou, mas deveria parar de ser complexado com sua altura.

– Mas ser baixinho não tem graça! Não tenho muita vantagem no vôlei, mesmo que consiga pular, ainda me canso bem mais rápido que os outros com isso. E não posso alcançar as partes mais altas da prateleira.

– Não acredito que isso te preocupa – grunhiu Kageyama, levando a palma da mão até o rosto.

Andaram novamente em silêncio até o local onde pegariam caminhos diferentes para suas casas. Hinata colocou-se na frente do maior por um tempo sem o encarar ou pronunciar uma palavra. Kageyama o esperava.

Por fim, o garoto de cabelos alaranjados colocou-se na ponta dos pés para unir seus lábios em um selinho. Quando voltou os pés completamente ao chão, desviou o olhar rapidamente enquanto seu rosto se ruborizava.

– Não posso nem ao menos beijar meu namorado sem ficar na ponta dos pés – murmurou, claramente se mostrando envergonhado ao dizer aquelas palavras e o termo "namorado" em sim.

Kageyama fixou o olhar no rosto avermelhado do menor, aumentando seu desconforto. Depois de longos segundos daquela forma, o moreno se curvou para ficar na mesma altura de Hinata, colocou uma das mãos em sua nuca e novamente juntou seus lábios, mas em um beijo um pouco mais demorado e doce do que um simples selinho.

O tempo apenas passou enquanto permaneciam daquela forma, sendo que Kageyama não saberia dizer por quanto tempo o beijo durou depois que se separaram. No momento, ele mesmo se sentia envergonhado pelo ato e evitava encontrar o olhar de Hinata.

– Não fique reclamando por bobagens, eu não me importo com isso – grunhiu com o mesmo tom severo de antes, mas o rubor em suas bochechas o denunciava.

Hinata piscou por um momento, sem parecer saber como reagir. Apenas permanecia em seu lugar com os olhos um pouco surpresos fitando seu namorado. Kageyama não conseguia acreditar que o mesmo baixinho que anteriormente se mostrava desconfortável com seu olhar agora era o único que o estava olhando daquela forma.

– Não fique me encarando assim, idiota.

O menor pareceu perceber que estivera com seu olhar fixado no maior por tanto tempo e abaixou a cabeça. Kageyama pensou que o houvesse chateado por falar algo que não deveria, mas logo o viu dar um passo para frente lentamente para que sua testa se aconchegasse em seu peito e levantou os braços para envolver-lhe a cintura.

O moreno automaticamente sentiu seu coração se acelerar e amaldiçoou o fato de Hinata estar perto o suficiente para ouvir as batidas irregulares. Mas não houve nenhum comentário sobre esse fato, apenas um simples sussurro:

– Obrigado – Hinata disse com a voz tão baixa que Kageyama precisou forçar-se para escutar.

Kageyama sentiu o corpo relaxar e suspirou pesadamente. Hinata era um pequeno idiota que conseguia o deixar preocupado, irritado, mas também tranquilizava todas as partes de seu corpo sem ao menos se esforçar muito para isso. Quando parava para pensar, era clara a razão de tê-lo pedido em namoro.

Sem se sentir constrangido com isso, o levantador retribuiu o abraço, apertando-o mais contra si, e deixou o queixo repousar sobre a cabeça do menor entre as madeixas alaranjadas que faziam cócegas em suas bochechas.

– Kageyama-kun? Não consigo respirar – ouviu a voz abafada de Hinata sobre seu peito e afrouxou o aperto, sentindo-o voltar a respirar normalmente.

– Eu não preciso que você cresça mais – murmurou Kageyama.

Agradecia por Hinata não poder mais ver seu rosto bem mais vermelho agora. Mas sabia que seria provocado mais tarde por suas ações impulsivas e precisava logo pensar em uma desculpa, já que não poderia dizer que simplesmente o achou fofo e quis ser um pouco romântico com seu namorado. Não, muito meloso de admitir.

Mas ainda não precisava se preocupar com aquilo. Apenas se concentrava no cheiro de shampoo que os cabelos de Hinata exalavam e à forma como o outro agarrava suas costas. Talvez ambos não quisessem se preocupar com mais nada por hora.