James fitava o horizonte lembrando do passado; a primeira vez que vira Lily no Expresso de Hogwarts. Sorrindo fracamente observando a chuva, estava sentado no balanço da pracinha, as gotas de chuva encharcando seu casaco, mas ele não ligava, não naquele dia, não naquele momento.

Ainda fitando o horizonte, lembrou de quando ela havia partido. Fora há alguns meses e mesmo assim ainda não conseguia superar o fato de que nunca mais veria sua ruiva, seu doce lírio. Um acidente de carro. James ainda não conseguia acreditar. Ela se fora por causa de um acidente de carro.

E em sua cabeça a culpa fora sua, pelo simples fato de não ter ido levar o pequeno Harry à escola aquele dia. Soluçava fracamente enquanto o vento bagunçava seus cabelos – deixando-os mais rebeldes que o normal –. Ela se fora levando Harry, seu pequeno garoto. Todos estavam tão felizes por ele, Lily estava tão feliz por ele.

Pôs as mãos no bolso da calça abaixando a cabeça enquanto pensava em quando ela descobrira que estava grávida. Um fraco sorriso formou-se em seu rosto. O jeito que ela chorava e sorria ao mesmo tempo, como ele havia girado-a no ar gritando a plenos pulmões que seria pai no meio do hospital, as pessoas lhe dando parabéns, Sirius rindo e os abraçando, fora perfeito.

Aquele fora o melhor dia de sua vida - se não contar o casamento e o nascimento de Harry -, ele finalmente teria uma família completa. Sua vida estava perfeita. Até aquele dia, o maldito dia do acidente.

Encarou o céu, as gotas de chuva batendo contra seus óculos prejudicando ainda mais sua visão, parecia estranho, um homem adulto sentado naquele balanço em meio à uma tempestade. Mas naquele dia ele não se importava, afinal, fora num dia daqueles, há quatro meses atrás, que ela havia partido.

Limpou as lágrimas e saiu do balanço. De cabeça baixa foi até sua casa. Tirou o casaco e jogou no chão foi até o segundo andar onde estaria o quarto de Harry, ajoelhou-se ao lado do berço e olhou a parede, tocando cada detalhe e sorrindo recordando-se do dia em que pintara o quarto com Lily, ela estava tão linda com seus cinco meses, estavam sujos de tinta branca, rindo e brincando, logo teriam seu pequeno bebê ali, naquele quarto, naquele berço. Sorriu e passou a observar o guarda-roupa, como ele fizera uma Lily enfurecida trocar todas as roupas amarelas por azuis afirmando que se não o fizesse estaria testando a masculinidade do garoto.

Soltou um riso fraco e levantou-se, não aguentaria passar mais nenhum segundo ali.

Foi até seu quarto, espiou pela porta e respirou fundo, não entraria ali, era dor demais deitar na mesma cama que um dia ela também deitara, sentir seu cheiro sem poder abraça-la, sem poder toca-la. Fechou os olhos inspirando uma última vez aquele cheiro e foi até a escada.

Ficara sabendo do acidente a noite quando passara no jornal que um carro idêntico ao de Lily havia capotado e pego fogo na Avenida "Candy" onde encontraram dois corpos, um de uma mulher ruiva com partes do cabelo queimado e uma aliança no dedo e um garotinho que estava dentro dos braços da mãe, dormindo. O garoto por algum milagre não havia sido machucado muito gravemente, mais inalara muita fumaça, chegaram no hospital e o garoto infelizmente não resistira, o pequeno Harry veio a falecer horas depois. Ele não queria acreditar, chorara por dias, por meses. Sirius e Remo até tentaram consola-lo mas a dor de perder Lily e Harry era demais.

Sentia muita falta de acordar cedo olhar para o lado e vê-la dormindo, radiante como a luz do dia. A exata luz do dia que não conseguia ver sem ela por perto. Procurou por uma folha de papel e escreveu um pequeno bilhete e pondo na perna de sua coruja enviou para Sirius, ele sabia que Sirius entenderia, Sirius sempre entendera.

Respirou fundo bagunçando seus cabelos e virou-se para o espelho, observou a casa novamente, sorriu uma última vez e murmurou um fraco “Avada Kedavra” enquanto esperava a luz verde vir em sua direção, não valia a pena viver naquele mundo sem ela por perto, por fim tudo escureceu e James finalmente caiu no chão com um baque surdo, já sem vida.

Acordou e percebeu que estava em outro lugar, o paraíso por assim dizer, sua Lily estava com um garoto no colo e estendia a mão para ele enquanto sorria, e neste exato momento James soube que estava tudo bem, pois quando Lily era seu sol, e quando ela sorrisse o céu iria se abrir novamente e não haveriam mais tempestades.