Eternity escrita por Lena Saunders


Capítulo 1
Convocação Geral


Notas iniciais do capítulo

Espero que você goste, é uma honra te ter aqui.



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O inferno começou com uma "Convocação Geral". Pelo que sei, a última fora antes de eu nascer, para... Bem, anunciar que eu estava vindo.

Por esse motivo,todos estavam apreensivos. Todos menos eu. Eu mantinha a esperança acreditando que poderia ser uma boa notícia. Ledo engano.

Estávamos sentados há mais de quinze minutos esperando por Julieta e Soleil. Duas de minha irmãs.

Quando Soleil entrou na sala de jantar, só restara uma das 30 cadeiras. Ela se sentou ao de Jazz, nosso primo e Lunna, sua irmã gêmea. Ambas estavam radiantes, com seus eternos 18 anos.

Meus pais se levantaram, cerimoniosos como sempre. Os olhos azuis e o longo cabelo ruivo de minha mãe ressaltavam sua beleza Imortal.

– Como todos sabem - Comecou meu pai. - O quadro está prestes a mudar.

As cabeças se viraram automaticamente na direção do enorme quadro de prata pendurado no fundo da sala. Nele estavam os símbolos de cada um da casa, com diversas pedras preciosas milimetricamente enfileiradas. O Quadro das Primaveras. Para cada ano humano, uma nova pedra era adicionada para o aniversariante. Papai estava certo. Meu aniversario de 18 anos estava chegando e, com ele, o meu Dia da Escolha.

– Nós sabemos que isso não é algo realmente necessário, mas queremos dar a todos vocês a chance de ter uma experiência real de adolescência. - Ele continuou, antes de ser interrompido por minha sempre empolgada progenitora.

– E é por isso que vamos nos mudar para Paris! - Ela gritou. - Todos vocês freqüentarão a escola e, se quiserem, poderão fazer faculdade!

A sala se tornou um caos imediatamente. Todos se levantaram, querendo expor suas opiniões, gesticulando e falando em diferentes línguas. Protestos e agradecimentos encheram meu cérebro e repentinamente me senti sufocada e enjoada.

Sutilmente me retirei da sala e fui para meu quarto, certa de que eles demorariam para notar minha ausência, se é que notariam. Me deitei, tentando assimilar a noticia. No teto, estrelinhas prateadas giravam levemente, amarradas em barbantes. Durante toda minha vida eu fui proibida de sair dos limites do nosso vinhedo, mas agora, eu estava sendo jogada para fora dele. Não sabia dizer se era isso que eu queria.

Me perguntei se os humanos seriam como meus pais contaram. Se seriam como eu.

Não notei quando a porta se abriu e ele entrou. Senti o peso de seu corpo caindo ao meu lado e permanecemos em silêncio por alguns minutos.

– Como vai ser, Bleu? Viver com humanos, eu quero dizer.

Ele demorou mais do que eu esperava para responder, encarando as estrelinhas que coláramos há anos.

– Eu não sei, Ni. Mamãe nos mandou arrumar as malas hoje. Partimos amanhã de manhã, antes do sol nascer.

– Já?! - Me levantei em um pulo.

– As aulas começam segunda feira. - Ele passou os dedos desajeitadamente pelos cabelos. - Ela quer nos dar um tempo para nos adaptarmos à nova casa antes de irmos para a escola, eu acho.

– Quatro dias contra uma vida. Sim. Com certeza vamos nos adaptar. - Eu disse, sarcástica.

– Eu acho que não vai ser tão ruim. Ela disse que há uma surpresa na nova casa e, de qualquer forma, podemos levar os gatos conosco.

Ah sim. Meus bebês. Eu nunca partiria sem eles e tenho certeza que meus irmãos também não. Me lembrei de algo que me atormentava desde que olhara para o Quadro das Primaveras.

– Bleu, como é fazer 18 anos? Você sentiu dor?

Ele pareceu surpreso com a minha pergunta e pensou por alguns segudos.

– Eu não me lembro bem. Já faz cinco anos... Mas sei que não sentir dor. Rouge reclamou um pouco mas tenho certeza de que você vai ficar bem.

A porta se abriu repentinamente e dois furacões de cabelos negros entraram, discutindo e arrastando malas pesadas.

– Mamãe mandou entregarmos isso. - Sarah jogou uma mala preta no chão do quarto.

– E essa é sua, Bleu. - Hannah empurrou a mala azul para dentro do quarto.

– É para colocar todas as roupas e sapatos possíveis. Se precisarem de outras é só pegar lá embaixo. - Sarah avisou antes de sair, seguida por sua irmã gêmea. Elas voltaram à discutir antes de fechar a porta.

– Eu vou levar horas. - Bleu reclamou.

– Sim, você vai. Mas eu vou acabar em poucos minutos.

Ele mostrou a língua e começamos a trabalhar. Eu nunca havia feito malas antes, mas me pareceu lógico embrulhar os sapatos em saquinhos e colocar qualquer coisa que pudesse quebrar entre as roupas.

– Você sabe que pode escolher, certo? - Meu irmão perguntou, quase meia hora depois.

Continuei a entediante tarefa de encher a terceira caixa de papelão com as coisas dos meus gatos.

– Hey, Nila, é serio. Eles não vão te forçar a fazer isso. Mesmo a mamãe vai entender...

– Está tudo bem, Bleu, juro. Eu posso fazer isso.

– Mas não é isso que importa, Ni. Eu si que você pode. Mas você quer?

– Eu...

E a porta se abriu novamente, calma e cuidadosamente dessa vez. Meu pai entrou, seu aspecto tão sereno como sempre.

– Olá Bleu. Venilla. Eu vim ver como estão se saindo. Oh não, Bleu, você não precisa embrulhar tanto os sapatos.

– Eu disse, mas ele insiste em dois sacos protetores para cada par.

Meu irmão deu um sorriso de canto e continuou embrulhando cuidadosamente seus sapatos.

– Vocês estão bem com essa história de mudança?

Apesar de aparentar seus trinta e quatro anos mortais, meu pai tinha um olhar incrivelmente sábio e eu sempre tive certeza que ele era mais velho do que dizia ser.

– Claro. Apenas não entendi porque agora, já que passamos nossas vidas trancados aqui. - Respondi, lacrando a ultima caixa.

– Estávamos esperando o seu Dia da Escolha, filha. Agora todos aparentarão a mesma idade e é sobre isso que vim falar.

Ele mentiu. Meu pai, sempre tão íntegro e verdadeiro, mentiu para mim.

Bleu largou o último par de sapatos e se sentou na parte de baixo da nossa beliche. Eu me encostei na parede para ouvir o que nosso pai tinha a dizer.

–Eu quero dizer que é realmente muito importante para nós que vocês se adaptem á Paris e que, por isso, na casa nova vocês terão quartos individuais. chega de dividir.

Eu senti aquele frio na barriga, sempre tão familiar. Quarto individuais. Me separar de Bleu. O único que me enxergava.

– Ni, eu tenho certeza que... - Bleu tentou argumentar, em vão.

– Está tudo bem, de verdade. Eu não me importo. Me deem licença, vou treinar antes de empacotar o resto da coisas.

E, com estas palavras, deixei meu irmão e meu pai à sós. Fui para a Área de Treino. Como ainda não havia feito 18 anos, não sabia qual seria meu talento, por isso tentei praticar um pouco de tudo nos últimos anos.Eu era relativamente boa no arco e flecha e não deixava a desejar no piano. Fora isso, tudo o que eu fazia era um desastre.

Pratiquei sozinha por mais de meia hora, acertando 27 de 30 alvos. Uma média boa para a distancia que eu estava do alvo.

Quando minha irmã Serena chegou, eu já estava guardando meu arco. Ela lia enquanto andava em direção às Katanas, sem nunca olhar para frente ou tropeçar. Selena e Helena chegaram segundos depois, pegando as próprias espadas. Trigêmeas.

Meus pais dizem que se apaixonaram assim que se conheceram, dois refugiados políticos ou algo assim. Meses se passaram antes que meu pai revelasse o que era e, para a surpresa dele, ela já sabia. Ele a trasnformou no dia do casamento, e, quando ela se adaptou, ele transformou seus pais e depois seus irmãos. Por fim, ele transformou meu tio. Foi muita sorte todos eles terem sobrevivido.

Menos de um ano depois minha mãe, Valentine, descobriu que mesmo sendo Imortal, não poderia gerar filhos para sempre. Embora os homens produzam gametas durante toda a sua vida, as mulheres já nascem com um número pré determinado de óvulos e ela já gastara grande parte deles. Cada mês sem um filho era um óvulo disperdiçado. O humor dela piorou quando ela descobriu que, por ter se tornado uma vampira, provavelmente estava liberando mais do que um ovulo por mês.

Mas eles passariam a eternidade juntos e ela queria uma casa cheia de filhos. REALMENTE CHEIA. Então ela passou a dedicar sua vida à arte de procriar. Literalmente. Gêmeos idênticos são gerados quando um óvulo, fecundado por um espermatozóide, se parte. Como tudo nos vampiros é mais agressivo, desde de seus músculos até sua beleza, não poderia ser diferente com seus gametas. Quase sempre nascem gêmeos ou trigêmeos. É o mais comum.

Primeiro vieram Aideen, Ashton e Aaron. Os trigêmeos, fisicamente idênticos, com personalidades únicas. Minha mãe chorou de alegria durante o parto deles. Três lindos bebês.

Depois foram Serena, Selena e Helena. As trigêmeas. Nasceram idênticas mas seus hábitos influenciaram em suas aparências através dos anos.

Então Lunna e Soleil, as primeiras gêmeas. Rostos idênticos, com cabelos e olhos diferentes. Um milagre da mutação gênica.

Quando Julieta e Romeu, os primeiros gêmeos diferentes, nasceram, a festa durou uma semana. Nessa época, os trigêmios já estavam perdendo seus primeiros dentes de leite.

Elizabeth e Victória, gêmeas diferentes, foram batizadas em homenagem à rainhas inglesas. O parto delas durou cinco horas que mais pareceram semanas, segundo minha mãe.

Alex e Alec, gêmeos identicos fecharam quatorze filhos. A criatividade para nomes estava no fim e meu pai achava que já eram rebentos o suficiente, mas minha mãe insistia em procriar.

Sarah e Hannah, gêmeas idênticas, não foram identificadas quando nasceram. O cordão umbilical de Hannah se enrolou no de Sarah e, entre a correria e o desespero, acabaram misturando as crianças. Não se sabe qual delas é a mais velha.

Rouge, Touhe e Bleu, os trigêmeos: os três diferentes. Um pequeno milagre dos ovários da minha mãe. Bleu nasceu antes de sua irmãs. Bem antes. Dois dias antes, na verdade.

E então ela não conseguia mais ter filhos. Cinco anos se passsaram e ela amava seus dezenove filhos - DEZENOVE - mas queria mais.

Quando engravidou pela nona vez, ela teve certeza que eram trigêmeos. Ela escolheu nomes bregas como sempre e aguardou. Bebês "vampiros" levam o tempo que precisam no útero, e não nove meses. Alguns de meus irmãos levaram cinco meses, outros, onze.

Mas um ano se passou e ela não teve seus trigêmeos. Ela não poderia correr o risco de ir até a cidade mais próxima fazer uma ultrassom, já que veriam bebês de três meses dentro da barriga da mãe.Então ela aguardou.

Foi apenas com um ano e três meses que ela sentiu as dores do parto e mobilizou minha tia e minha avó para fazerem o parto. Havia três cobertores prontos, aguardando seus maravilhosos bebês.

Mas apenas um foi ocupado, com uma criança que não chorou ao nascer. Nem quando lhe deram uma palmada. Uma criança estranha, que nasceu com os olhos azuis abertos e com finos fios laranjas sobre a cabeça. Uma criança que nasceu marcada comuma flor na nuca. A flor da Baunilha, ou, em Francês, Venila. Eu.

Sou a vigésima filha de Genevive de Bourbone Sebastian. Irmã mais nova de Aideen, Aaron, Ashton, Serena, Selena, Helena, Lunna, Soleil, Julieta, Romeu, Elizabeth, Victória, Alexandre, Alecxander, Sarah, Hannah, Rouge, Touhe e Bleu.

Sou a única que não passou pela transformação. A única que não completou 18 anos. A única mortal.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por ter lido, espero que tenha gostado.



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