Give Me Love escrita por CrazyCharlie


Capítulo 6
One




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–Filho?...-eu digo em voz baixa, enquanto ela amarra os cabelos.

–Que foi? Vai me julgar e ir embora como todas as outras pessoas? Acha que eu sou uma vadia sem escrúpulos?-ela vociferou. –Pois se for pra sair da minha vida, que sai agora! E se quer saber, Tomás, eu não ligo. Eu não ligo mais pro que as pessoas pensam quando eu digo isso. E aprendi a ignorar quando elas se afastam!-dessa vez ela gritava, descontrolada. Seu rosto estava molhado de lágrimas, mas lágrimas de puro ódio.

Fiquei em silencio.

Por que, pelo amor de tudo nesse mundo, essa garota havia ficado assim? Que todas histórias eram aquelas? E no meio de tudo aquilo, no meio do meu sofrimento e do dela, eu tentei encontrar a resposta. Todas as respostas, na verdade. Enquanto pensava, ficava em silencio. Até que ela quebrou o fio imaginário da minha mente.

–Pelo amor de Deus, diga alguma coisa!-ela gritou. Ainda bem que ela não tem vizinhos.

–Dizer o que, Liss?-eu respondo olhando em seus olhos. –Eu quero dizer, mas não consigo. Eu não sei. Eu não sei, okay? Eu não sei o que te deixou assim, ou o que fizeram com você, ou o que te deixa assim descontrolada. Mas acima de tudo,eu não sei o que...

–Ah meu deus, dá pra pular pra parte onde você me deixa? Pouparia muito sofrimento.-ela resmunga.

–Como eu dizia, eu não sei o que me prende aqui. Eu não sei porque ainda não fui embora. E o porque e a certeza de não querer ir. –eu digo e ela fica extasiada. Novamente, o silencio reina sobre nós.

–Depois de tantas que coisas que foram embora, finalmente chegaram algumas que são firmes.-ela sussurra enquanto se levanta e vai até a cozinha.- E entre elas, a bebida! –ela diz sorrindo enquanto pega uma garrafa de whisky e coloca sobre a mesa.

–Ah não!-eu digo e vou em direção a garrafa.

–Ei, essa é minha, pegue a sua!-ela diz meio grogue. Eu taco a garrafa no chão.

–Você enlouqueceu?! –ela grita.

–Eu não vou deixar você acabar com sua vida, Alicia! –eu respondo enquanto pego a outra garrafa que era pra mim. –Não vou mesmo.

–Me dê isso!-ela avança em cima da outra garrafa.Eu levanto meu braço e suas mãos escapam no ar.

–A vida é minha, Tomás. Eu faço com ela o que quiser. E se eu quiser me matar? E se eu quiser te matar?-ela vocifera.

–Vai ser difícil.- eu digo enquanto taco a outra garrafa pela janela.-

–Qual é o seu problema?!-ela grita enquanto sai da cozinha.

–O meu problema? O meu problema?! Pois bem, o meu problema, é sempre me envolver demais. Esse é o meu problema. –eu grito de volta.

Ela me olha com os olhos cheios de lágrimas enquanto vai em direção a porta.

–Coincidência, não?-ela sussurra e sai. Vejo-a sentando na escadinha da varanda. Aos soluços. Tento ir em direção a porta, mas ela murmura entre soluços ‘’me deixa sozinha, por favor’’.

Aquilo tudo martelava em minha mente. Idiota, idiota. Ela é idiota. Eu sou um idiota. Todos somos uns idiotas!

Vou até a cozinha, e sem querer, piso em alguns cacos de vidros.

–Droga!-eu resmungo comigo mesmo enquanto vejo meu sangue. –Bosta de garrafa!

Começo a juntas os cacos, e depois que jogo todos eles no lixo e limpo o resto da bebida, vejo as marcas de sangue que deixei no chão. ‘’Gênio!’’ Penso.

Vou até o banheiro e faço um curativo e enrolo minha camiseta no pé, e mesmo assim continuo mancando cada vez que piso no chão. Depois, limpo o chão com cândida.

–Liss, ta frio ai fora, entre, você vai ficar gripada.-eu digo baixinho pela janela.

–Só mais um tempinho, e já entro. –ela sussurra de volta.

Pego um cobertor na cama e vou pra varanda.

–Só pra garantir.-sussurro enquanto cubro-a.-Vou ficar lá dentro, então.

–Já vou.-ela diz baixinho.

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Deito na cama e pego meu celular e meus fones. Quando aperto o botão ‘aleatório’, sai a música ‘One’, do Ed Sheeran.

Ouço-a no último volume. As pessoas têm a mania de achar que quanto mais alto o volume da música, menor é o volume dos problemas. E eu sou uma delas.

Sinto alguém tocar os meus pés. Alicia.

–Tá ouvindo o que?-ela sussurra tocando meu pé machucado.

One.–respondo.-Ed e sua mania de descrever nossas vidas... –Sinto que ela captura a indireta.

–Pois é...- ela responde. –O que aconteceu com seu pé e porque você ta cheirando a sangue e cândida?-ela franze a testa.

–Pra fazer essa receita, você vai precisar de uns cacos de vidro quebrados em tamanho médio, um caminhão de ignorância, e o tanto necessário de genialidade pra primeiro limpar a bagunça em vez de estancar o sangramento. E pronto! Você vai ter um belo de um ferimento e cheiro de sangue com água sanitária.-Eu digo fingindo certo entusiasmo e ela sorri. Mas logo o sorriso se desfaz.

–Me desculpe por tudo aquilo... É que... –ela suspira cansada.-Eu vou ter que te contar tudo. Eu preciso. Mas, me promete que vai ouvir até o final? Que não vai embora até que eu explique tudo? Depois ta liberado pra sair da minha vida. –ela resmunga.

–Liss, eu não vou embora. –digo. –Não importa a gravidade do que você diga. Você acha que eu também já não errei nessa vida? Não sou nenhum santo. Você acha que eu também não tenho medo de perder as pessoas que amo? Se eu te contasse sobre coisas que já cometi nesses meus poucos anos de vida, você não agüentaria ouvir nem a metade.

Ela fica em silencio.

–Você não precisa dizer, se não quiser. –eu sussurro. –Eu vou entender. Quantas vezes eu já não tive esses ataques pós-traumas... Tudo bem, Liss. Não precisa me explicar nada. Eu entendo, juro.

–Sério?-ela sussurra de volta.

–Sério. Tá tudo bem. –eu digo. –Olha, se quiser um confidente, pode contar comigo. Mas só quando não estiver agüentando mais todas essas barras. Não se sinta pressionada a nada.

Ela fica em silencio.

–Tudo bem.-ela responde. –Mas você não acha que ficar exibindo esse peitoral enquanto diz palavras amáveis a mim, é se insinuar a um beijo?-ela sorri e se senta ao meu lado na cama.

–Não. –Respondo.- Acho que as preliminares de um beijo tem que começar de outras formas, tipo, um olhar. –digo enquanto sorrio. –Mas se você achar que estou me insinuando e se sentir atraída pela minha pessoa angelical e quiser um beijo, tudo bem. Como eu disse, não sou nenhum santo. –eu lhe dou um sorriso cafajeste.

Ela ri.

–Tudo bem, vamos seguir as suas ‘preliminares do beijo’. Mas não agora.-ela sorria.

Ficamos em silencio, olhando pro teto.

–Somos pessoas estranhas, né? Brigamos sem motivo nenhum e terminamos a noite com uma promessa de um beijo. Estranhos completos. –ela sussurra.

–Ah, aquilo foi uma promessa? Que bom, vou guardar suas palavras. –digo sorrindo.

Ela pega meu celular e meus fones, e me dá um lado do fone e outro da coberta.

–Vamos ouvir Ed Sheeran até cairmos no sono, só ele pra descrever nossa estranheza. –ela diz enquanto coloca One pra tocar novamente.

Infelizmente, ela acaba caindo no sono depois de murmurar um boa noite. E eu a respondo. Não com um boa noite, mas com a última estrofe da música.

‘’ E todos os meus amigos encontraram
Outro lugar para deixarem seus corações colidirem
Só me prometa que você vai ser sempre uma amiga
Porque você é a única’’

Ela sorri enquanto cai no sono, cansada demais pra responder qualquer coisa.

E enquanto não durmo, olho para o outro lado da cama enorme, que era onde eu deveria ir dormir. Meus cobertores pareciam clamar por mim, para eu ir me enrolar neles.

–Hoje não, cobertas. Hoje vou dormir com o corpo quente de Alicia colado ao meu.-sussurra pras cobertas.

E enquanto caio no sono, me sinto o maior idiota da terra por falar com cobertores.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando,



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