–O que você faz aqui? Você... Você devia estar preso! -ela grita pro cara alto e loiro parado atrás de mim.

–Digamos que eu vim atrás da minha princesa. –ele diz enquanto dá um sorriso que logo vi que era maldoso. Olhei pra Alicia, que estava chocada e percebi que também estava amedrontada. Depois, olhei para o cara loiro. Em seu braço direito, havia uma tatuagem de uma sereia.

Em meio aos devaneios de choque de Alicia, tive os meus próprios. Minhas memórias que a tempos tentava esquecer. Em minha memória, eu estava na delegacia. Ao meu lado, havia um cara algemado e com o rosto todo machucado, e também uma tatuagem de sereia na perna.

–O que quer dizer?-eu perguntei com a voz fraca.

–O que?-o homem respondeu.

–Sua tatuagem. Toda tatuagem tem um significado. –eu exclamei.

–Não lhe interessa. -O homem responde e vai sentar no outro lado da sala.

Queria que isso tivesse parado ai, mas não, eu tinha que ir procurar o significado daquilo. Forço minha mente a tentar lembrar, e quando lembro, um arrepio frio percorre todo o meu corpo, até minha coluna vertebral se chacoalhar quase como um fio de aço solto.

De volta ao presente, ouço Alicia gritar alguma coisa.

–Ainda não acabou Ali. Ainda temos muito o quê viver. Lembra-se daquele dia? Mas é claro que sim. Teremos aquilo e muito mais brevemente. - o cara sorri e tenta se aproximar de Alicia.

–Cale a boca seu demônio! Você destruiu minha vida!-ela grita já derrubando lágrimas.

–Foi você quem veio atrás de mim. –ele diz enquanto tenta abraçá-la.

–Sai de perto dela!-eu esbravejo e seguro em seu braço, impedindo sua passagem.

–ME larga!-o cara se vira de repente e me acerta um soco.

–Segurança!-ouço Alicia gritar.

Em um único momento, pulo do chão e sem que o loiro perceba, pulo em seu pescoço dando um ‘mata-leão’, o que parecia bem apropriado.

‘’É, aquelas aulas de merda serviram pra alguma coisa!’’ digo a mim mesmo e vejo os tais seguranças se aproximando. Mas em um momento de descuido, o loiro me morde e consegue se soltar. E enquanto foge, ouço-o gritar.

–Você não sabe com quem mexe garoto. E você Alicia, nosso aniversario. –e então, o vejo desaparecer no meio das árvores com os seguranças indo atrás dele.

–Ah meu deus!-Alicia finalmente desaba na cadeira chorando, com a cabeça entre as pernas.

–Tá tudo bem Liss. Tá tudo bem. -eu digo enquanto passo um braço em volta dela.

–Não, não está. Eu mal te conheço e já te envolvo em todos meus problemas! Droga, agora... Agora... –ela funga e chora mais um pouco, até parar, enquanto eu acariciava suas costas. Nesse meio período, algumas empregadas e um segurança chegaram, mas ao ver o estado dela decidiram ir embora.

–Obrigada.-ela sussurra.-E desculpe.

–Pelo que?-sussurre de volta.

–Por não me chamar de louca, por me consolar mesmo nem me conhecendo direito. E por ter me defendido. E Por não ter me perguntado quem era ele. E desculpe por tudo isso...

–Tudo bem Liss, eu fiz o que tinha que ser feito. E quanto a ele... todos temos nossos coisas ruins do nosso passado que nos atormentam.

–Até mesmo você?-ela sussurra.

–Você fala como se eu fosse um super herói sem fraquezas. –eu sorrio e ela da uma risada fraca. E então, me olha.

Seus olhos estavam um pouco vermelhos por causa do choro, e quem visse diria que aquele brilho era por causa das lágrimas. Mas eu sei que não.

Quando eu era pequeno e ia acampar com meus pais, lembro que quando ficava muito encantado com alguma estrela, minha mãe sempre dizia: ’’Filho, deixe disso. Toda pessoa e uma estrela, basta a nós aprendermos enxergar o brilho de cada uma delas.’’. Mas com Liss era diferente. Eu não precisava fazer nenhum esforço pra enxergar seu brilho. Por que logo percebi que ela não era como a maioria das outras pessoas, era mais que isso, mas que uma única estrela. Ela era a junção de duas estrelas, que todos conhecemos como olhos. Eu poderia ficar olhando pra eles o dia inteiro, mas ela me tirou do meu devaneio.

–Hey... você ta bem?-ela sorria e passava a mão na frente da minha cara. –Parecia hipnotizado.

Eu coro e sorrio.

–Ah... sim. É que eu tenho muitos flashes de memórias e não sei controlar isso muito bem. –o que era uma meia verdade. Quer dizer, a parte dos flashes era completamente verdadeira, mas eu não diria a ela que estava assim porque estava ficando louco pelos seus olhos.

–Ah sim. Também tenho isso. –ela murmura e olha novamente pra água. Ficamos em silencio. –Estranho isso né?-ela murmura.

–Os flashes?

–Também. Mas é o modo como de uma hora pra outra as coisas parecem estar completamente normais ao nosso redor, mas dentro de nós o mundo está desabando.

–Sei bem como é. –eu digo e abaixo a cabeça. –só queria que isso acabasse.

Ficamos em silencio novamente.

–Desculpe, estou deixando você depressivo. –ela sorri e eu rio.

–De maneira alguma. É bom ter alguém que nos entende. –ela me olha por um momento. Desejei saber ler pensamentos só pra saber o que se passava na cabeça dela enquanto me olhava e sorria.

–Hum... Você conhece aquela música nova do Ed? Runaway? –ela diz se animando.

– Quer fugir pra onde?-pergunto.

–Pra quaisquer lugares onde ideais sejam valorizados. Pega o violão e vem. –Ela me puxa pelo braço enquanto sorri.

–Okay. -Pego o violão e nossas coisas e vamos até o carro dela, uma picape vermelha. Aquilo me lembrou a ‘’As vantagens de ser invisível’’. Jogo as coisas no banco de trás e me sento na frente com o violão em mãos. - O que você vai fazer ou o que quer fazer?

Então, começo a dedilhar a melodia de Runaway. E canto os primeiros versos. Até chegar na melhor parte da música. E com sempre, ela sempre cantava em seus versos preferidos.

‘’ I know what I want to do, want to run away, run away with you’’. ‘’Eu sei o que eu quero fazer, quero fugir, fugir com você’’.

Depois que cantamos essa parte, Liss me olha e então, começamos a rir sem motivos. Simplesmente felizes. Simplesmente infinitos. Ao olhar nos olhos dela, não consigo evitar meus pensamentos.

Meu Deus, eu iria até o fim do mundo por essa garota e seus olhos ...!