Tomás Povs

-Sentados e quietos por que tenho que explicar o trabalho do semestre!- minha nova professora de português disse entrando na sala.

Antes de tudo, você tem que saber alguns fatos sobre mim. Meu nome é Tomás. É, acho que já é informação o suficiente. Brincadeira. Tenho 16 anos e acabo de me mudar aqui pra Campinas. Sou da capital de São Paulo mesmo, e me mudei por causa de algumas coisas que aconteceram... Eu te contaria, mas a senhora com sérios problemas de peso e idade a minha frente chamou minha atenção.

-Aluno novo?-perguntou.

-sim.

-Gostaria de se apresentar a turma?-ela perguntou gentilmente. Gelei.

-Não, obrigada. Estou bem. -forcei um sorriso.

-Entendo você é tímido. –ela sorriu depois voltou à turma. –Bom pessoal, o trabalho é o seguinte, vocês terão que escrever... -fez um suspense particularmente idiota. – Um livro!

-O quê?!-A turma inteira já dizia. - Não vou fazer, não sou boa com isso. -disse uma garota loira que sentava n fundo da sala. Eu sentei na frente, onde havia alguns lugares vazios.

-Azar seu Camila, vai valer dois terços da nota do bimestre!-a professora deu um sorriso maldoso. - Mas como é um trabalho muito difícil, e vai tomar bastante o tempo de vocês, podem fazer em dupla. A diretora não deixou que eu sorteasse as duplas, mandou que vocês escolhessem. - e fez uma cara de ódio.

Meio minuto depois, toda a sala estava divida em duplas já formadas. E eu? Sozinho.

Não que algumas meninas não tivessem jogado um charminho pra mim quando cheguei, mas não dei bola. Logo elas viram que comigo não conseguiriam nada.

-E você?...- A professora começava a perguntar quando uma garota apareceu na porta da sala.

-Desculpa professora Adelaide, é que eu estava na secretaria. –ela disse entrando na sala.

-Sei, na secretaria municipal de fofoca e pegação!-ela diz e a garota sorri. –Tudo bem, você só entra porque esse trabalho é muito importante!- Ela diz e a garota suspira aliviada. –Ah, Alicia, é um dupla e suas amigas já estão juntas.

-o quê?! Como vocês puderam fazer isso comigo?-ela diz pras meninas que sentavam lá no fundo.

-Alicia Katherine, venha, tem alguém sem dupla ainda!- a professora diz e Alicia vem batendo o pé do fundo da sala até a frente.

-Quem?-ela pergunta.

-Ele. –ela aponta pra mim. - E como é seu nome? Nem perguntei.

-Tomás Lira. –respondo. A garota se vira pra mim e depois pra professora. –Me deixa fazer com as meninas profe, por favor!

-Não. Você vai fazer com o Tomás e ponto. –ela se vira e sai andando para o meio da sala.

-Esse trabalho é pra entregar daqui a um mês. Bastante tempo. Então façam. A propósito, é um livro pra adolescentes. Então nada de livrinhos de 5 páginas. Não vou aceitar nada menos que 125 páginas. Entendido?-ela pergunta e a sala inteira murmura.

Alicia coloca a bolsa na minha mesa enquanto vai buscar a sua, mas chegando lá ela começa a arrastar, fazendo um ruído horrível. Levanto-me e vou ajudá-la.

-Obrigada. –ela diz secamente, depois se senta ao meu lado. –E então... Você é aluno novo né?

-Isso. Vim de São Paulo.

-E porque veio morar aqui? –ela pergunta enquanto pega um caderno rosa choque de dentro da bolsa.

-Ah... Umas coisas que aconteceram. –murmuro abrindo o meu caderno.

-Boas ou ruins?-ela diz.

-Mais pra ruins que boas.

-Então foi um amor. -ela sorri e me encara.

-Em parte, sim. Foi um desastre. -sorrio.

-Desastres são muito ruins, não fale assim. Não deve ter sido tão horrível!-ela meche na ponta dos cabelos castanhos.

-Ah, foi sim. Alias todo minha vida foi um desastre. -ela franziu a testa.

-Você não era popular?-ela pergunta como se aquilo fosse o fim do mundo.

-Não, não era. Mas costumava ser bem legal... Até que eu entrei na adolescência.

-Mas e sua namorada?

-Morreu. -eu digo com certo receio. Ela se espanta.

-Me desculpa... Eu não sabia, senão não tinha perguntado me desculpa...

-Tudo bem.

Ela suspira.

-E seus amigos?

-Eu só tinha um amigo. E ele também morreu.-ela quase cai da cadeira.

-Ah meu deus, eu vou calar minha boca. -ela diz virando pro lado e eu rio com a atitude e o tom de voz dela.

-Não se preocupe... Eu to superando.

Ela sorri.

-Isso é bom. Ei, você parece legal!-ela sorri.

-Ah, eu sou maravilhoso!-ela ri.

-Okay, mas o que temos que fazer?

-Escrever um livro. –eu digo e ela arregala os olhos.

-Eu sou péssima escritora! Estamos lascados. Você escreve?

-Sim... mas escrever em seu quarto só pra desabafar é uma coisa, e outra bem diferente é pra postar no site da escola!-ela sorri.-Além do mais não tenho idéia do que escrever.

-Eu tenho. Tenho várias idéias, só não consigo passar pro papel. Você pode fazer isso?

-Claro. E então? Vamos escrever o que?

-Um romance. –naquele momento, tive vontade de rir daquela menina fútil, mas, meses depois, eu a agradeceria por isso.