Não demorou muito até que eu estivesse com tudo pronto. Por mais inferiores que os humanos sejam, as armas deles são tão simples. Katniss só precisaria apertar um botão e toda a Capital iria pelos ares. Seria um ótimo show de fogos. No entanto, antes de podermos atacar, eu precisava fazer mais duas coisas.

– Você está indo para a Capital? - Katniss murmurou.

– Eles vão prendê-lo - alertou Gale.

– Não seria a primeira vez. - Dei de ombros. - Além disso, eles não terão tempo.

– Qual é o plano? - perguntou Peeta.

Encarei o padeiro.

– Vou entrar, desarmar todas as armas deles, e sair.

– Quando? - Katniss parecia um tanto quanto aflita.

– Esta madrugada. - Andei até a garota. - Não importa o que aconteça, você precisa atacar quando o relógio estiver marcando três horas. Posso contar com você?

– Claro - ela confirmou.

– E quanto a mim? - perguntou Peeta. - Disse que precisava de mim.

– Não só de você, de Gale também. - Olhei para o outro. - Katniss, posso conversar com eles a sós?

– Não.

– Katniss, por favor. - Encarei a arqueira. Ela hesitou, mas cedeu e saiu da sala. - Bem, amigos. Vamos ao que interessa.

– É, por que precisa de nossa ajuda? - perguntou Gale impaciente.

– Tem um problema em dois mísseis. Os dois mais importantes. - Sentei na cama e olhei para os dois. - Quando Katniss for disparar, preciso que vocês estejam posicionando os dois.

– Certo. - Peeta deu de ombros.

– Espere - Gale interrompeu. -, quando eles dispararem...

– Vão carbonizar os dois. Sim.

– Você vai nos matar? - Peeta levantou-se da cadeira branca irritado.

– Vocês querem derrotar a Capital? - perguntei tranquilamente. Peeta me encarou nervoso. - Vocês podem morrer como heróis, ou deixar que a Capital mate mais centenas de crianças. É uma escolha que não farei por vocês.

Os dois se entreolharam.

– Tudo bem - concordou Peeta. Gale assentiu logo depois. - Com uma condição.

– Digam.

– Quero que você tire Snow vivo de lá - disse ele. Encarei-o confuso. - Quero saber que ele sofreu por tudo que cometeu.

– Condição aceita. - Levantei-me. - Peeta, Gale, vocês morrerão como heróis. Talvez, com muita sorte, vocês sobrevivam. Se isso acontecer, aposto que todas as garotas dos treze distritos ficarão loucas por vocês.

– Só tem uma garota que nos interessa - disse Gale. - Infelizmente, a mesma garota.

– É, não ligo. - Andei até a porta do quarto. - Vocês ficarão nos dois últimos mísseis. Estejam prontos na hora certa, não contem a ninguém.

– Como nos despediremos? - perguntou Gale.

Dei de ombros.

– Escrevam uma carta. Sejam criativos. - Saí do quarto e encontrei Katniss parada do outro lado da porta, ela me encarou curiosa. - Venha, vamos conversar.

Seguimos até a floresta, um pouco afastada do Distrito.

– Não deveríamos estar aqui - disse Katniss.

– O que eles vão fazer? Matar o símbolo da rebelião? - Sorri debochadamente. - Acho que não.

– Acha que vai funcionar? - ela perguntou. Seu tom cofiante de sempre, havia se tornado um tom de preocupação.

– Claro. - Dei de ombros. Sentei em um galho de árvore e Katniss sentou ao meu lado. - O que pode dar errado quando Katniss Everdeen está no comando?

– Você está no comando, Loki. - Ela olhou para cima, as estrelas brilhavam fortemente. - Você teve a ideia, distribuiu os papéis...

Sorri.

– De fato, mas você acha que eu conseguiria fazer isso sem você? - Estiquei a mão e chamas cresceram suavemente na palma. - A garota em chamas.

– Você conjura fogo e flores. - Katniss assoprou minha mão. - Tem alguma coisa que não possa fazer?

– Não sou bom com espadas - menti.

– Você se defendeu de três flechas...

– Com uma flecha, não com uma espada.

– Qual a diferença? - perguntou ela.

– É mais fácil impressionar as pessoas com flechas. - Subi na árvore e escalei até estar bem mais alto que Katniss. - Nenhuma espada pode ser arremessada com tanta precisão.

– É tudo uma questão de circunferência. - A garota me acompanhou na escalada. - Não é nada tão espetacular quanto conjurar flores.

– Flores secam e morrem. - Retirei uma flecha que estava guardada em minha armadura e apontei na direção de Katniss.

– Flechas quebram.

– Você pode colá-las novamente.

– Pegam fogo.

– A garota em chamas tem medo de fogo? - Segurei a mão de Katniss e a puxei para cima, até que estava ao meu lado. O espaço do galho era muito pequeno, o que nos obrigou a dividir o ar, sentindo a respiração um do outro. - Uma grande ironia.

– Você nunca me disse que seu irmão era adotado - ela sussurrou. - Prim me contou.

– Ele não é - admiti. Katniss me olhou confusa. - Eu sou. Não sou filho de Odin, apenas alguém que ele encontrou e resolveu tomar posse.

– Conheceu seus verdadeiros pais?

– Não importa. - Aproximei-me um pouco mais. - Eu sou o rei de Asgard, e nada mudará isso. Nem mesmo meu querido irmão.

Sem que eu notasse, algumas coisas que eu não queria dizer, acabavam simplesmente saindo de minha boca.

– Achei que gostasse de seu irmão.

– Thor é um idiota.

– Então por que o quer em Asgard novamente? - perguntou Katniss.

– Ele é meu irmão, não é? - Dei um rápido beijo no canto dos lábios de Katniss e saltei da árvore. - Está na hora.

– Boa sorte - ela disse, descendo da árvore com um pouco de dificuldade, até que pisou em falso e despencou. Segurei-a segundos antes dela cair contra o chão. - Obrigada.

Soltei Katniss e dei de costas, mas ela segurou minha mão.

– O que foi? - perguntei virando-me. A arqueira se aproximou e me beijou, não um daqueles beijos exagerados de cinema, um bem mais simples, porém demorado. Nossos lábios ficaram encostados suavemente, até que me afastei. - Três horas. Nem um minuto a menos.

– Certo.

Afastei-me pela floresta, em direção à Capital.