I'm Aquarius escrita por Tom


Capítulo 18
Ideologia


Notas iniciais do capítulo

Aproveite!



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Jimmy sentava-se desleixado no banco traseiro da limusine. Seu pai o olhava com preocupação e sempre abria a boca para dizer algo. Entretanto, mudava de ideia e olhava pela janela do automóvel vendo a paisagem passar em alta velocidade.

– Sabe, eu nunca entendi o porquê de ela ter ficado doente. – comentou o garoto em meio a um suspiro. Ele olhava para o teto do carro, com uma careta. – Simplesmente caiu na cama e ficou por lá.

– Ela perdeu um filho. O que você esperava? – perguntou o homem, franzindo as sobrancelhas. Jimmy sentou-se com uma postura melhor e fuzilou o pai com o olhar.

– Ela perdeu um filho, ok, triste, mas ela já tinha a mim! Eu, o primeiro filho! E então aquele pirralho simplesmente sumiu e ela se esqueceu de mim. – parou por um momento, tomando fôlego, e depois cuspiu as palavras que ficavam girando e girando na sua cabeça sempre que tentava dormir. – Aquela vadia me abandonou!

– Meça suas palavras, James! – falou Sr. Parsley em voz alta. Ele abaixou a cabeça e apertou as têmporas com as pontas dos dedos indicadores. Já era difícil ter perdido um filho, ainda mais a mulher, e agora teria que suportar uma discussão irracional com a única pessoa que havia sobrado. – Não vamos falar sobre isso. Não agora. – o homem suspirou pesadamente.

– Como ela morreu, afinal? – a voz de Jimmy saiu abafada. Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que perceber que sua mãe estava realmente morta e ele não poderia vê-la nunca mais. Por que mesmo havia estado afastado da família por todo esse tempo?

– Lembra que nós contratamos o detetive para achar seu irmão? Então, há alguns dias ele chegou com a notícia de que até que enfim tinha achado o garoto, mas não era da forma que pensávamos. A criança havia morrido há alguns meses atrás. Sua mãe, claro, não acreditou até ver a nota no obituário no jornal da cidade em que ele morava. Ele se parecia tanto com ela, até mesmo os olhos caídos. E então Sarah tomou todas as pílulas de seus remédios de uma única vez.

Houve silêncio depois disso.

NO PASSADO

– Elleanor, cuide de Thomas para mim? Preciso resolver algumas coisas, mas já volto. – pediu a Sra. Parsley com um sorriso. A empregada fez uma breve reverência e pegou a criança no colo, girando-o no mesmo lugar. O pequenino ria, alegre, e a mulher se sentia extasiada com aquela risada gostosa que Thomas soltava.

Quando Sarah Parsley voltou ao parque, naquele lindo dia de outono, não encontrou nem a empregada e nem o seu filho. Achou que eles poderiam ter voltado para casa mais cedo, então foi até a mansão. Quando nada encontrou, desesperou-se. Chamou seu marido, a polícia, queria chamar até mesmo os bombeiros, mas já era tarde demais.

Elleanor já havia fugido com Thomas.

Meses depois a mulher foi pega pela polícia, mas ela já não possuía mais a criança. Começou a berrar a plenos pulmões dizendo que aquele era seu filho e que não havia feito nada, que era inocente. Quando lhe perguntaram sobre o paradeiro de Thomas, ela simplesmente gargalhou. Dizia que seu marido estava com o garoto, são e salvo, e que nada atrapalharia a felicidade dela e de sua família.

No mesmo dia ela foi internada em um manicômio.

[...]

– Benjamin, espera! – pediu uma Lisbeth sem fôlego. – Eu não aguento mais correr.

– Isso é grave, Lis. Ele não se chama Darus Brudvig, primeiramente. É Bartholomew Tyhorner!

– E se ele apenas mudou de nome? Seria bem explicável, porque Bartholomew Tyhorner é um nome horrível.

Benjamin não respondeu. Seguia praticamente às cegas em direção à diretoria, porque tinha a sensação de que algo ruim estava prestes a acontecer. E, sinceramente, com o seu histórico de coisas não tão legais feitas no passado era provável que o culpassem se a garota fosse morta. Ele não queria isso, não mesmo.

– Por que não, Ben? Você próprio deveria ir lá e matar não só a garota, como o homem também. Vai dizer que não sente falta da sensação de poder colocar o fim na vida de uma pessoa? Eu sei que sente. Eu posso veeeerrr...

– É A MÃE DELA! – gritou Lisbeth, puxando Benjamin para o presente. Suas mãos estavam cerradas em punho e ele possuía um sorriso extravagante que não lhe pertencia. Automaticamente cerrou os dentes, sacudindo a cabeça. Viu então que se aproximavam da diretoria e que havia um número estranho de pessoas concentradas ali. Até mesmo um homem que Lis havia notado andando pelos corredores da escola estava lá tentando acalmar uma mulher, elegante, estava com uma expressão desesperada. Dizia alguma coisa, mas falava tão rápido e tão baixo que não era compreensível da distância que ainda estavam.

Eles diminuíram o ritmo da corrida para um andar rápido, ambos suspirando com dificuldade. Lisbeth abanou o rosto com a própria mão, como se aquilo fosse fazer com que ela se livrasse do calor.

– Que estranho. – comentou, em voz baixa. Depois de alguns segundos apreensivos, chegaram próximos da mini multidão que se concentrava ali. Perceberam, então, que a maioria eram policiais e que todos olhavam atentamente para o que Maddison Squarre tinha a dizer. – Acho que Corinne está com problemas.

– Eu já disse! Tem alguém querendo a minha filha morta! Meus detetives - apontou para o homem ao seu lado, o que Lisbeth tinha certeza que vivia bisbilhotando o corredor onde o seu quarto e o de Corin ficava - seguiram a mulher, aquela doida, qual é mesmo seu nome? – a socialite perguntou, olhando para os lados como se a resposta fosse cair do céu. Sua memória se anuviou, entretanto, e ela conseguiu se lembrar com clareza. – Elleanor! Isso! Seu marido e seu filho morreram em um acidente e ela acha que a culpa é de Corinne. Onde já se viu isso? – perguntou, meio histérica.

– Minha senhora, se acalme. Temos certeza que a escola é um local totalmente seguro. – disse o diretor com sua voz pastosa de quem tenta conquistar uma moça. Antes que Lisbeth conseguisse impedir, Benjamin se adiantou.

– O que a moça disse é verdade. Sua filha entrou no prédio dos professores com um tal de Darus Brudvig, mas eu o conheço e não é por ser professor. Ele estava num hospício há um tempo atrás, só que conseguiu fugir com a ajuda da Elleanor. A louca. – o loiro disse em voz baixa, se arrependendo de cada palavra que falava porque tinha medo de ser julgado.

As pessoas olharam para ele com curiosidade, o que quase correspondeu aos seus receios, mas o diretor abanou com a mão dizendo que estava tudo bem e que era para Benjamin e Lisbeth saírem dali. Logo os policiais partiram em um tour desesperado pela escola, guiados até o prédio dos professores. Maddison ia logo atrás, preocupada.

E NESSE MESMO TEMPO

Darus Brudvig entregava uma xícara de chá a uma Corinne chorosa. Ele sentou-se de frente para ela, numa poltrona, e cruzou as pernas.

– O que o jovem Turner disse era verdade, então. Você atropelou e matou aquelas pessoas. – afirmou o professor. Ele inclinou-se com curiosidade, como se cada movimento da garota lhe fosse interessante. Ela bebeu um gole do chá e fungou, acenando com a cabeça em confirmação. – Mas por que você fez isso?

A Squarre olhou-o bem nos olhos, pega de surpresa com aquela pergunta. Deixou a xícara sobre a mesinha de centro que ficava entre os dois e suspirou, entregando-se àquela influência que os olhos do homem tinha sobre ela.

– Eu não fiz por querer, se é isso que está pensando. Eu estava triste no dia, meu namorado tinha me traído e meus amigos... Bem, nem de amigos eu posso chama-los. Só se interessavam pelo o que eu tinha e não por quem eu realmente era. Então me entreguei naquela balada, foi divertido, e depois saí no meu carro. Mas eu estava bêbada e chapada, mal conseguia diferenciar um hipopótamo de um gato, e bum, eu simplesmente tinha passado por cima deles como se fossem um quebra-molas.

Sua voz morreu ao dizer a última palavra. Nunca havia falado tão abertamente sobre o assunto – na verdade, nunca havia falado nem consigo mesma daquela forma –, mas sentia que podia confiar em Darus. Ele a olhava de uma forma diferente, quase que com fascinação e ao mesmo tempo tristeza. O homem se levantou de sua poltrona e foi até um guarda-roupa, abriu-o e tirou de lá um aquário que possuía em seu interior uma camada de alguma coisa seca em uma tonalidade vermelha escura. Corinne se sentiu curiosa, mas nada disse. Ele voltou então para a sala, colocando-o sobre a mesinha de centro, logo ao lado da xícara.

– Eu tinha um peixe quando mais novo. Stuart, seu nome. Eu o amava. – comentou o professor com um sorriso ingênuo nos lábios. – Esse era o seu aquário. Num belo dia um de meus irmãos decidiu que seria engraçado ver Stuart nadando na areia, então ele tirou o peixe de sua casa e o colocou na caixa de areia do gato. Não sei se morreu por falta de água ou se o felino o comeu, mas depois disso nunca mais o vi.

Corinne franziu as sobrancelhas e teve que se segurar para não rir de Darus. Aquilo soou tão idiota para ela, tão ridículo. Como um homem maduro como aquele poderia se sentir daquela forma por causa de um peixe? Talvez a garota estivesse enganada desde o início sobre ele. Seu temido professor de filosofia não parecia ser tão interessante e tão misterioso o quanto aparentava. Parecia, na verdade, quase uma criança.

– Depois da morte de Stuart eu fiquei muito triste, mas foi isso que me ajudou a perceber que eu deveria ajudar as pessoas. – continuou Darus, como se nada tivesse acontecido. Ele olhou para o teto de sua sala e suspirou, voltando ao seu ar de “homem misterioso e sério”. – E faço isso desde então, ajudo as pessoas, principalmente a cura-las de seus pecados.

– Hmmm... – Corinne resmungou, já imaginando como sairia dali sem parecer rude. Pensou no que os estudantes daquela escola estariam pensando sobre ela nesse momento, se pegariam tochas e lanças e a caçariam atrás de justiça.

– Eu quero te ajudar, Corinne – o homem falou em voz baixa. – e sei que você pode me ajudar também. – ele encostou sua mão no aquário e lançou um sorriso estranho para a garota, parecia a própria loucura estampada ali. A morena, dessa vez, realmente se preocupou. Já começava a se levantar para ir embora dali.

– Deixemos para outra hora, não é mesmo? Já está tarde e eu não...

– CALADA! – berrou Darus, empurrando-a contra a poltrona. – Eu decidi que te ajudaria e assim eu farei. Eu sou um homem bom. – ele saboreou a palavra como se ela possuísse um gosto especial e único.

– Professor, você está me assustando. – a Squarre murmurou, olhando temerosa para o homem. Agora que ela havia realmente prestado atenção em todo o seu rosto – e não só nos olhos – viu que seu cabelo estava comprido, mais bagunçado, e que sua barba rala estava por fazer. Quando ele havia aprendido a ser tão desleixado com sua aparência? – Eu quero muito ir embora. – Corin continuou, mas o homem se abaixou e tirou por debaixo da poltrona uma arma cumprida, vulgarmente conhecido como “doze”. Apontou-a para garota, deixando os dois canos no centro de sua testa. Darus Brudvig suspirou e sorriu, como se sentisse prazer com aquela situação.

– Eu gosto de comparar as pessoas como um aquário. No início, vazio. Mas se fizermos algum esforço, podemos enchê-los vez ou outra até que por fim ele esteja inteiramente cheio. Com água, com peixes, com pedras, não importa. Ele fica cheio. E nós, como bons seres humanos, estamos sempre acrescentando coisas às nossas vidas, não é mesmo? Desde sentimentos às experiências, um carro novo ou uma nova moradia, até mesmo conhecimento. Consegue ver a semelhança? – perguntou o homem andando ao redor da poltrona de Corinne, sem tirá-la de sua mira. O coração da jovem estava disparado e algumas lágrimas começavam a brotar em seus olhos. Por que ele estava fazendo aquilo?, se perguntava. Não tinha nenhuma graça. – Mas assim como aquários ficam sujos depois de um determinado tempo, nós também ficamos. E muitas vezes, na maioria delas, quer dizer, nós temos preguiça demais para nos limpar.

“Depois que meu irmão matou meu pequeno Stuart, eu esvaziei o aquário. Mas não parecia certo deixa-lo assim, sem nada. E também não parecia certo deixar que meu irmãozinho vivesse para sempre com esse pecado nas suas costas. Eu sempre me importei muito com as pessoas, sabe? Então eu o matei. Era a única forma de aliviá-lo daquilo e assim ele poderia viver em paz para... sempre. Ele teve a mesma atitude que você, ficou assustado e com medo, mas tenho certeza que no fim o garoto aceitou. Mas claro que, depois de tomar essa atitude, eu decidi que essa se tornaria a minha ideologia e depois ajudei outras pessoas a se curarem de seus males. Lhes ofereci o perdão. E você, minha querida, também merece ser perdoada.”

Foi então que Corinne realmente percebeu o que estava acontecendo. Aquele discurso, aquela arma, ele tê-la trazido até ali, todo o interesse que ele havia demonstrado pela garota desde o início. Ele já sabia de tudo, já planejava assassina-la há muito tempo. A Squarre começou a chorar e tentou correr, mas o cano da arma estava grudado em sua testa e ela decidiu que se ficasse imóvel teria mais chances de sobreviver. Ou algo semelhante.

– P-p-por que você está fazendo isso?

– Bom, primeiro porque uma amiga me pediu e eu sou completamente leal aos meus amigos e segundo porque eu sou de Aquário. Somos destinados a ajudar a humanidade e quando fazemos disso nosso ideal, sempre vamos correr atrás para cumprir. Entendeu?

– Você é louco. – Corinne cuspiu as palavras como se aquilo pudesse feri-lo, mas Darus Brudvig apenas riu.

– E você acha que não sei disso?

É engraçado o fato de eu nunca ter pensado que um dia a morte viria até mim, mas ali estava eu chorando enquanto uma arma era apontada na direção da minha cabeça por um louco. Eu não tinha chances de sobreviver, isso era um fato, mas nos poucos segundos que me restavam eu pensei em tudo o que eu havia feito ou deixado de fazer. Talvez ele estivesse dizendo a verdade e, sim, eu precisava de um perdão. Afinal, quantos pecados eu já havia cometido?

Darus afastou-se alguns centímetros, posicionou bem a arma no espaço entre seu tórax e ombro direito e apertou o gatilho. As duas balas foram certeiras contra a testa de Corinne Squarre, que caiu para frente, caiu sobre o aquário, morta. O sangue que vazava dos buracos caia dentro do recipiente e se misturava com o sangue que já estava seco em seu interior.

O aquário estava se enchendo pouco a pouco, afinal.

[...]

Quando os policiais chegaram na cena do crime já era tarde demais. O corpo falecido de Corinne estava jogado no chão, sua cabeça completamente deformada pelo tiro, sangue por todo lado, e o homem já havia fugido. Maddison gritou, desesperada, e eles tiveram que retira-la dali para que não atrapalhasse a perícia. Enquanto isso o assassino discava um número em seu celular. Quando uma voz feminina e cansada atingiu seu ouvido direito através do aparelho, ele sorriu.

– Está feito.

E a mulher do outro lado da linha também sorriu. Deixou o aparelho telefônico cair de suas mãos e foi andando lentamente até o quarto do filho. Procurou pela parede o interruptor e quando o achou, a luz se acendeu revelando uma corda que pendia do teto e um pequeno banquinho logo abaixo. Ela subiu nele, seu olhar perdido no meio das fotos, dos objetos, dos enfeites que ali estavam, e colocou a corda em volta de seu pescoço. Teve que ficar na ponta dos dedos, até, porque estava muito alto.

Mas ela não se importava.

Não se importava nem um pouco.

– Agora posso me juntar a vocês. - murmurou em voz baixa enquanto seus lábios eram tomados por um sorriso franco e insano. Ela empurrou o banquinho para que ele caísse e, segundos depois, a corda começou a asfixia-la. Lentamente, Elleanor perdia os sentidos, mas sua mente já estava num lugar distante há muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Bem. É isso. Espero que tenha gostado e obrigada por acompanhar essa história até o fim. Abraços da tia.