O dia de escola.

–Você é daqui? – perguntou-me.

Antes de respondê-lo, tive que me levantar ao ver minha mãe me procurando.

–Eu preciso ir. – disse já me afastando dele.

–Espero que nos veramos em breve!

–Fique bem. – foi a última coisa que disse.

Derek ficou sentado na grama como antes. Agora ele me observava e me senti envergonhada por isso.

–Quem é esse rapaz, Carrie? – perguntou mamãe.

–Derek... o nome dele é Derek.

Disse sorrindo ao lembrar-me dele. Minha mãe já estava colocando o cinto do carro enquanto meu pai dava a partida no altomóvel.

Apesar dele estar passando por um momento muito difícil, ele me pareceu ser um cara alto-astral. Quando vi seus olhos de perto, esqueci de toda a arrogência que ele me tratou quando nos vimos pela primeira vez. Parecia outro garoto, mais simpático e sensível.

Eu estava pensando nele mais do que queria ou devesse. Eu mal o conhecia, porém tive vontade de vê-lo novamente, de saber mais sobre sua vida.

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24 de fevereiro,2009-Texas.

Eu estava há 3 semanas sem aparecer na escola. E finalmente ou infelizmente chegara o dia.

Encontrei a Lauren logo na portaria, ela sorriu ao me ver.

–como você está linda! –disse-me.

–Aproveite meus últimos meses de cabelos longos e sedosos. – disse.

– Por que? – quis saber.

– Terei que fazer quimioterapia, Lauren. Como a gente já esperava.

–Meu Deus! Você vai ficar careca!

–Você podia me ajudar né? – disse rindo.

–AH! Desculpe. Mas é uma grande pena, daria tudo para ter o seu cabelo, com certeza ele é o mais lindo de todo o colégio.

Falava ela, enquanto passava seus dedos por entre eles.

–Lauren, não precisa exagerar!

–É verdade Carrie! São lindos!

Ela sempre teve uma fascinação por meus cabelos. Deve ser porque os dela, são curtos e extremamente crespos. Enquanto os meus, longos e lisos.

Entramos em nossa sala, assim que o sinal tocou.

–Carrie, nesse tempo em que você esteve fora, aconteceram muitas coisas. – sussurava Lauren em meu ouvido. – entre essas coisas, o aluno novo.

–Aluno novo?

–Sim! Ele é um tremendo gato, amiga! Você precisa vê-lo. As garotas ficaram suspirando quando ele chegou, com certeza é o garoto mais lindo da nossa classe!

–Meu Deus, Lauren! Você é muito exagerada.

–Só estou falando a verdade. Ele é muito lindo! Sem falar que o nome dele, é lindo também.

Eu ri.

– Sério? Como é? – fui um pouco irônica.

– Derek Tyler.

Assim que ouvi aquele nome, lembrei-me do garoto no hospital. Não podia ser o mesmo!

–Nome lindo né?

Nem respondi. Fiquei impnotizada ao vê-lo adentrar a sala. Era ele, o Derek do hospital. Caminhava até a sua mesa fitando os pés, carregando sua mochila em uma alça só, deixando a outra caída. Sentou-se lentamente e ficou em silêncio, sem falar com ninguém.

Ao fundo, percebi Lauren falando sobre ele, mas não dei importância.

Liza, uma garota popular na escola inteira, que estudava comigo desde a 7ª série, estava lá com Derek, falando qualquer tipo de besteira. Percebi que ele não estava muito afim de conversar, mas ela continuava tagarelando em seu ouvido.

Assim que a professora entrou na sala, ordenou para que todos sentassem em seus devidos lugares. Liza então, beijou a buchecha de Derek e foi até sua mesa, sem deixar de fitá-lo.

A professora então, sentou e pegou sua pasta, logo começando a chamada de presença.

–Carrie Moore?

–Presente.

Assim que respondi, olhei para Derek, do outro lado da sala. Percebi que ele me olhava agora, de tão envergonhada revidei e voltei a olhar meu material sobre a mesa. Vi no canto de olho, que ele ficou me olhando, e só desgrudou o olhar de mim quando a professora o chamou.

–Derek Tyler?

–Presente.

Respondeu de forma calma e doce. Percebi Lauren vibrar ao meu lado, ‘que lindo!’ sorri ao ouvir a animação dela.

Durante o processo da aula, notava que Derek me olhava. Dando algumas disfarçadas, eu olhava também só para constatar. O sinal tocou, e nos mudamos de sala. Lauren andava ao meu lado falando coisas sobre a matéria que havíamos aprendido. Enquanto caminhava e ouvia Lauren, percebi que Derek não estava nos acompanhando. Assim que entramos na próxima sala, percebi que ele já estava sentado na carteira ao lado da parede, justamente o meu lugar.

–Olha quem está sentado no seu lugar! – cutucou-me Lauren.

Me aproximei devagar e envergonhada, enquanto minha amiga ia para seu devido lugar. Derek já retirava o caderno de dentro da mochila preta,quando notou que eu estava parrada ao seu lado. Logo, aqueles olhos lindos olharam em minha direção. Corando, apenas afirmei:

–Desculpe, mas este é o meu lugar.

–Não vi seu nome escrito na mesa.- foi grosso.

Revidei os olhos em desaprovação.

–é só olhar na lista de planejamento que está colado no mural ao lado do quadro branco.

Percebi que seus olhos viraram em direção ao quadro. E constatou que meu nome se encontrava na 3ª carteira, ao lado da parede direita. Imediatamente levantou-se contrariado, pegou seu caderno e jogou de forma violênta dentro da mochila. Sem dizer nada, afastou-se de mim e foi até o fundo da sala, sentando-se na única carteira vaga que ficava justamente ao lado da carteira de Liza, que sorriu ao vê-lo sentarse por lá.

Assim que me acomodei em meu lugar, a aula começou. Fiquei pensando se Derek fosse bipolar, por ser tão grosso em algumas ocasiões, e tão simpático em outras. Pensei tanto nessas ipóteses, que só caí na real, quando a aula havia acabado.

Era hora do intervalo, e o pessoal já estava eufórico.

–Carrie, eu vou passar o intervalo na biblioteca estudando. Se quiser, pode ir comigo! – disse Lauren ao se aproximar.

–Tudo bem, eu vou ficar no pátio da escola. Não se preocupe comigo. –afirmei.

Então, Lauren sorriu e se afastou. Ela fica quase sempre na biblioteca estudando nos tempos livres, e isso já não é novidade nenhuma. Fiz como sempre, e fui até o pátio da escola, onde já haviam muitos alunos conversanso sentados nas sombras das árvores.

O meu lugar estava reservado, como eu sentava todos os dias no mesmo lugar, embaixo de uma jabuticabeira, ninguém se atrevia a ficar lá, pois sabia que aquele era o meu lugar.

Haviam pássaros cantando como sempre, e eu me sentia muito bem lá.

Peguei meu livro de leitura de dentro da minha pasta, e me pus a ler sob a sombra da jubuticabeira.

De repente, ouvi alguns passos se aproximando. Estavam cada vez mais pertos, parei minha leitura e levantei a cabeça devagar, a luz do sol que agora invadia meus olhos me impediram de enxergar. Só pude ver, quando Derek parou-se na frente da luz solar e ficou me fitando. Arregalei meus olhos, e olhei para mim só pra constatar que estava tudo certo. Assim que vi que tudo estava normal comigo, que não haviam cocôs de passarinhos em meu cabelo ou nada do tipo, questionei:

–O que foi?

–Posso me sentar aqui com você?

Estranhei imediatamente a pergunta. Só o que invadia minha mente era ‘porque?’

–Pode, o lugar é público. – disse arrogante.

Então, ele sentou-se ao meu lado.

–Me desculpe por ter sido grosso com você na sala de aula.

Sem querer muito papo, apenas afirmei:

–Tudo bem.

Voltei a ler meu livro, o ignorando.

–Que livro está lendo?

Respirei fundo, sem retirar meus olhos da leitura, levei a capa do livro até o alcance dos olhos de Derek.

–O vale dos anjos. – disse assim que leu o título.

–Huhum.

–Leandro Schulai quem escreveu?

–Huhum.

Ignoração total, não acham?

–Do que se trata o livro?

Revirei os olhos, marcando a página onde estava lendo. Virei o livro do lado oposto e comecei a ler a sinopse:

– A morte tem o poder de separar um amor? Para muitas pessoas a frase “até que a morte os separe” é a afirmação de que morrer é o fim de tudo, inclusive para o amor. Mas se fizermos essa pergunta para o grego Dimitris Saloustros a opinião será bem diferente. Com uma morte precoce e uma promessa feita à sua amada o rapaz parte em busca do desconhecido Vale dos Anjos, local onde se encontram as maravilhas do paraíso e o medo e apreensão das oito prisões, em busca de cumprir o seu feito. Auxiliado pelo anjo guia de enterro Obelisco cujo humor o ajuda nos momentos difíceis, pela cupido Anne cuja beleza é incomparável e treinado pelo misterioso mestre Ramirez, Dimitris parte em uma jornada recheada de grandes belezas, pessoas marcantes e mistérios complexos que o farão perceber que nada é por acaso e que sua estadia nesse misterioso local já era aguardada a muito tempo . . .

–Poxa, parece interessante. –disse ele.

–E é. Você deveria ler. Estou apenas no capítulo 2 e já estou amando!

Ele sorriu. E pegou o livro de minhas mãos, analisando a sinopse mais uma vez. Enquanto ele estava ocupado lendo, fiquei o observando. Era completamente lindo!

Sorriu mais uma vez, entregando o livro a mim.

–Você já está melhor? –perguntei me referindo a morte de seu pai.

–É...Eu acho que sim. –disse.- ainda está bem difícil sem ele.

–Eu imagino.

–O que estava fazendo no hospital aquele dia? –perguntou-me.

Engoli em seco. Não podia contar a verdade, não agora.

Estava pensando em qualquer desculpa, e então o sinal tocou. Levantei-me, em seguida, Derek.

Enquanto caminhava de volta para a sala,percebi que Derek caminhava ao meu lado, alguns passos mais distantes.

Eu não sabia a razão, mas parece que ele queria se aproximar de mim.