League of Legends: As Crônicas de Valoran escrita por Christoph King


Capítulo 65
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

O fim de uma história, o começo de outra. Começou com Swain, terminará com Swain. Terminará com o corvo. Não um corvo, mas O Corvo. No final das contas a Rosa Negra realmente se desabrochou novamente. Como avisado, o fim veio mais cedo, porém, o recomeço também virá logo. Será breve.



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Epílogo:

O Corvo

Swain encarava seu jardim de rosas negras com um sorriso impiedoso. Elas simbolizavam mais que uma beleza mórbida, mas seu reinado desabrochando. Lembrava-se de todas as vezes que LeBlanc lhe dissera que a rosa negra iria se desabrochar um dia. E sabia que esse dia estava ridiculamente perto.

Regou-as com sangue, o mesmo sangue que escorreu pelo machado de Darius, o sangue de seu inimigo, Keiran. Podia ouvir os gritos do garoto ecoando por sua mente. Queria poder ouvi-los novamente. Algo que sempre almejou, por todas as vezes que fora humilhado sem poder dizer uma palavra, por todas as vezes que fora injustiçado. Sempre fantasiou a forma como Keiran morreria, e ela condizia com o que aquele homem lhe dissera uma vez na floresta. O homem de preto. O Corvo.

Lembrava-se dele, aquele ser sombrio, o deus noxiano. Swain sabia ser o escolhido, e LeBlanc também.

Ela desceu pelas escadas do castelo até o jardim, vestindo-se da mesma forma de quando conheceu Swain, porém, dessa vez ela tinha um cajado em mãos.

– Sinto um cheiro diferente – ela disse. – Sabe qual é?

– Ferro? – perguntou ele. – Sangue cheira como ferro.

Ela fez que não.

– Não, me amorzinho. É a vitória sobre nossos inimigos. Demacia é a próxima. Iremos ascender de uma forma que Boram jamais fez.

Swain respirou fundo.

– Boram seguia demais as normas. Levava o jogo da guerra como uma brincadeira – balançou a cabeça em desaprovação. – Não tinha senso de estratégia, vivia na mesmice. Jarvan III viveu os melhores anos da vida, com lutas gloriosas e vitórias internas. Mas agora ele tem um novo inimigo.

Novos inimigos – corrigiu LeBlanc. – E lembre-se do nosso combinado após a sua coroação, okay?

Ele fez que sim.

– Como eu poderia esquecer? É meu triunfo, o início de minha jornada. É aqui que minha história é contada.

Emília fincou o cajado no chão e o abraçou por trás, lhe dando um beijo do pescoço. Ele, porém, não abria mão de regar as rosas. Cada angústia passada pelas mãos do irmão adotivo maldoso jogadas por cima de flores odiosas. Cresceriam tão maldosas como o portador do sangue, e talvez o dono delas.

– Eu disse que você governaria – ela disse ao ouvido dele, fazendo-o arrepiar os pelos. Ela falava de forma sedutora e venenosa, como se aquilo fosse um aviso, ou uma ameaça adocicada. Swain não sabia o que pensar, só sabia que era verdade.

Lembrou-se de quando era jovem, de quando encarou-a pela primeira vez após se encontrar face-a-face com o Deus-corvo. Ela o escolheu rapidamente, sem nem precisar ver seus dotes estratégicos. Vendo-os ainda, teve certeza de que era ele a quem sempre procurou. Arianne Swain não era uma mulher tão inteligente, mas seu pai, Marcus, era um gênio. Jericho teria puxado o avô, a mãe ficando com as habilidades mágicas. Não deixava de ser uma ótima guerreira e nem uma ótima maga, mas não era do nível do filho nem do pai. E LeBlanc sabia o porquê. Ter se envolvido com aquele homem não foi uma escolha sábia, embora tenha trazido bons frutos.

Quando o regador terminou de regar as rosas com o líquido avermelhado e vívido antes extraído de Keiran, ele se afastou de sua aliada, andando a passos lentos pelo jardim. Beatrice empoleirou-se em seu ombro, limpando a cabeça com as asas e vice-versa. Ela parecia alegre, e o dono também. LeBlanc o seguia, o som de seu salto-alto ecoando pelo mármore terrestre, um sorriso no rosto.

– Sua coroação será ainda hoje – ela comentou enquanto ele continuava a andar. – E pelo que soube, os guerreiros de Kalamandra chegarão hoje. Katarina chegará hoje.

Swain riu.

– Ela se alegrará em ver que a irmã não se casou com um idiota – lembrava-se das palavras ríspidas de Cassiopeia, que se trancara no quarto por alguns dias, sem sair, afundada em lágrimas, lamentando-se a morte do noivo. – Uma hora ela supera, e quando superar, teremos uma serpente em nosso deque de cartas.

LeBlanc sorriu.

– Em qual sentido?

– Todos. Sinto que a partir de agora todos dançarão conforme minha música.

LeBlanc apareceu à frente dele num flash, agarrando-o e olhando-o nos olhos.

– Sim, meu rei, meu general – ela falou num tom picante. – Todos serão suas marionetes... em tempo.

O beijou, como fez na noite em que se aliaram. Como na noite em que ela mentiu sobre roubar a alma dele. No final das contas ela não precisou roubar nada, pois ele sempre fora uma pessoa desalmada, dedicada a viver e agir nas sombras. Um verdadeiro patrono da Rosa Negra.

[...]

Katarina chegou à Noxus como se tivesse ido embora por anos, muitos anos. Mas só haviam sido meses, talvez três, dois... quatro. Não tinha certeza. Só sabia que queria dormir, dormir em uma cama confortável, não numa carroça. Estava derrotada, cansada, dolorida, as pálpebras cansadas e cabelo bagunçado. Nunca se sentira tão mal.

Viu que toda a Noxus estava prontificada para recebe-los, como um festival. Várias pessoas festejavam nas ruas, com lamparinas e decorações, tudo sem tirar o clima sombrio da cidade. Ela acenava para algumas pessoas, que pulavam e sorriam ao vê-la. Gostavam dela, pelo menos.

A cidade parecia diferente, o clima, talvez. Podia ver corvos empoleirados por todo o canto, como se observassem. O único corvo que tinha visto durante todos os anos em que viveu ali (além dos mensageiros), foi Beatrice, a qual não via fazia tempo.

– Swain não soube esconder a surpresa de que assumiu o comando – comentou Talon, sombrio.

Katarina ainda observava a janela da carruagem, levando os olhos ao castelo, aquela coisa imensa e negra, surgindo. Via muitas pessoas amontoadas ali, como se algo estivesse acontecendo. Lembrou-se das palavras de Jarvan III sobre Swain, e tudo o que pensava sobre o governo dele.

– Tenho medo que ele vá mudar tudo – disse Riven, como se realmente sentisse medo. – Ele não é mais o Jericho que conhecemos, isso é bem claro.

Draythe assentiu.

– Sinto que terei de velar mais um corpo, mais um Darkwill – conteve uma lágrima. – Eu odiava Keiran, ah, como odiava... Mas ele era minha família, tudo o que me restou após a morte do papai.

Katarina cruzou os braços.

– Só lamento, Draythe. Todos nós perdemos coisas nesse meio tempo. Eu, por exemplo, perdi meu pai, que pode estar em qualquer canto, sofrendo, e eu estarei tendo que representar os Du Couteau no conselho. Ridículo.

Riven riu.

– Isso enquanto consola Cassiopeia da morte de Keiran.

Katarina assentiu; sabia que era total verdade. Odiava admitir.

[...]

Arrumou-se e foi até o castelo, até o hall, onde teve uma visão do que estava acontecendo. Haviam muitas pessoas ali, contemplando Swain em toda a sua glória e poder. Katarina, ao lado de Talon, só pode cruzar os braços e olhar com total desgosto enquanto um antigo amigo subia ao trono, e ela sabia que não era da forma mais limpa.

O local estava iluminado com velas e candelabros. O próprio Malek Hawkmoon fazia as honras com um discurso engrandecendo Swain. Katarina ficou boquiaberta. Malek odiava Swain e LeBlanc, sempre odiou a partir do momento em que descobriu do envolvimento de ambos com a Rosa Negra. De certa forma ele só sabia cuspir no prato em que comera, pois a própria LeBlanc o treinara com técnicas negras. Mesmo assim ele se contrabandeou para o lado dos Darkwill, protegendo Keiran.

– Ele fez algo – comentou ela.

Talon fez que sim.

– Swain não dá um ponto sem nó, tsc tsc.

Katarina respirou fundo.

– Acha que há volta para ele, para o Swain nerd e introvertido que conheci?

Talon riu.

– Ele vendeu a alma ao corvo, Kat. Não está claro? Não há volta para ele, ainda mais agora. O poder vai subir à cabeça de tal forma que ele irá se tornar um dos seres mais sombrios de toda a Runeterra. Com algumas exceções, claro. Já ouvi falar de coisas mais sombrias vindas de Ionia.

– Não quero saber de Ionia, quero saber de Noxus – irritou-se. – Swain tem como fazer de Noxus mais forte; ele é forte, por isso está lá. Mas... eu não estou segura dela – olhou para LeBlanc e para Talon foi como se tivesse apontado, devida a conexão que ambos tinham um com o outro. – Emília não é flor que se cheire, você sabe.

Talon sorriu de uma forma sarcástica, como se pudesse se lembrar de podres da mulher que poderiam derrubá-la, mas que iriam levá-lo junto.

– Conheço ela tão bem como você. Ela é sedutora e venenosa. Não confie nela e tome muito cuidado para não ser picada e envenenada.

À frente deles, Swain, vestido com seu manto e armadura negra era coroado por Darius, seu oficial, novo Mão de Noxus. Os dois ascenderam juntos de tal forma que Katarina não conseguia sequer entender. Eles sempre foram amigos, e tiveram personalidades ofensivas escondidas em um manto de ingenuidade, embora Darius sempre fosse extremamente espontâneo, Swain era quieto. Os quietinhos são os piores, dissera Phildora, a governanta, certa vez.

A coroa era mais para um capacete, verde e negro, com adornos que lembravam os de um corvo. Realmente Swain estava vestido como um rei, como um líder. Swain Tirano. Sua bengala fora convertida num cajado, e as penas de Beatrice pareciam cintilar.

Quando o olhar de Jericho e Katarina se encontraram, houve um choque. De um lado, um sorriso triunfante, de outro, uma expressão séria e carrancuda. Katarina não confiava mais nele. Queria distância, uma relação de pura subordinação, somente. Ele não era mais seu amigo, era seu líder, seu chefe. Ela teria de obedecer a tudo o que ele pedisse, e faria, mesmo que sem total prazer.

Deu as costas e foi embora daquele castelo, direto para casa, sem querer ver ninguém mais.

[...]

O banquete para os guerreiros de Kalamandra havia terminado, e Swain já havia sido coroado, mas algo estava faltando, algo essencial. Caminhou pelo hall do trono, agora escuro, apoiando-se em seu cajado a cada passo. Podia sentir a energia emanar dele, a sua energia, a sua magia.

Sabia que magia era algo que havia se perdido há tempos, mas pessoas que podia se teleportar a curtas distâncias como os Du Couteau, ou como desferir raios elétricos como Ryze, eram dignos do título de remanescentes. As guerras rúnicas ceifaram as vidas de muitos magos, inclusive a mãe de Swain. Sentia saudades dela.

– Está pronto? – ouviu uma voz ecoar pelo hall vazio.

Olhou para o lado e avistou LeBlanc, que andava como uma modelo, em cima de um salto-alto, vestida com uma roupa mais sedutora, menor, mais reveladora, com menos tecido, algo que deixava explícito algumas tatuagens feitas no corpo dela como se brilhassem somente no escuro.

Swain sorriu.

– É claro – prostrou as mãos sob o cajado.

LeBlanc fez uma expressão de confusão, como se desconfiasse de algo.

– Está me escondendo algo que pensa? Precisa eliminar qualquer pensamento disperso do que faremos, Jericho. Não haverá volta no que faremos.

Swain suspirou.

– É só que... sinto falta da interação com meus amigos. Principalmente a Katarina – ele perdera completamente a pose de líder, parecendo um jovem que perdera uma amizade. – Ela me ignorou por todo o jantar, e ainda por cima saiu mais cedo, com a desculpa que iria querer ver Cassiopeia.

LeBlanc fez uma cara feia.

– É isso que te atormenta? Katarina? – sorriu maliciosamente, seus olhos cintilantes num tom sombrio. – É só libertarmos Kael novamente e ela ficará nos conformes. Irá seguir tudo o que dissermos se a chantagearmos.

– Não! – gritou Swain, enfrentando-a. – Eu jamais faria isso com ela e você sabe disso. Kael era um amigo, ele gostava de mim. Não quero mais que ele venha a se ferir.

– Claro. Se o senhor quer, o libertaremos amanhã mesmo.

Swain engoliu em seco.

– Não, ainda não. Precisamos apagar tudo da mente dele em tempo, e ainda temos que nos preocupar com Jarvan IV.

LeBlanc sorriu como se gostasse de ver a ingenuidade dele.

– É isso que precisamos trabalhar, Jericho. Em você. É só ter algo que remeta a sua antiga vida, que você se enfraquece com dúvidas idiotas e com falsas esperanças. Você não pode ter dúvidas, não pode amar, deve ser frio, se conter. Katarina nunca vai te corresponder.

Ele cerrou um punho, o outro ainda afixado ao cajado.

– Claro, tem razão – sua expressão se tornara tão áspera quanto as rochas e mármore negro do castelo.

Com uma expressão ela pôde demonstrar tudo o que queria. Foi até ele, o puxou para a frente de um círculo mágico no centro do hall. Retirou parte de sua armadura, deixando-o sem camisa só com a parte de baixo. Seu peitoral estava cheio de tatuagens, desenhos e linhas e círculos, todos eles fazendo símbolos.

LeBlanc colocou as mãos nas têmporas de Swain, e as marcas de ambos brilharam num tom violeta.

Ó, Deus-corvo, ó, Deusa-maga, aceitem nosso pedido. Restaurem a honra perdida, tragam de volta o reinado da escuridão, derrote a luz de Demacia, faça de Noxus o centro de Runeterra, e, por fim, faça com que a Rosa Negra desabroche novamente.

Várias marcas no chão brilharam, se espalhando por todo o castelo. Se as ruas não estivessem vazias, todos veriam o brilho que saía do castelo, um brilho que trazia toda a escuridão como um imenso farol.

De volta ao hall, o círculo mágico ao redor dos dois brilhou e penas negras esvoaçaram. Swain sentia todo aquele poder mágico fluindo e se espalhando, como se fosse seu próprio sangue.

Foi quando, do chão, estátuas brotaram. Eram, ao todo cinco, de pessoas que Swain já havia visto há tempos. Antes de Kalamandra, Boram o levara a um local escondido dentro do castelo, cheio de estátuas de membros da Rosa Negra. Boram mentira para ele, omitindo que nunca havia se metido com eles, como se eles fossem uma lenda que desapareceu, quando, na verdade, fora ele próprio quem os transformara em pedra após ver o resultado do que eles fizeram com Sion, isso há anos atrás.

As personalidades dentro daquelas estátuas eram bem claras de se reconhecer. Ao fim do ritual, quando os brilhos e tatuagens sumiram, a pedra se quebrou, dando liberdade aos magos negros ali projetados. Um deles era um homem alto e magro, pálido, longos cabelos brancos, terno vermelho e olhos inumanos. Ele sorriu.

– Há quanto tempo, Emília – ele se chamava Vladimir.

Uma outra mulher saiu da estátua. Ela era alta e bela, com um corpo bonito e bem vestida, com cabelos negros e curtos e uma expressão sombria e calculista. Ela andava como uma aranha.

– Finalmente, livre – ela se chamava Elise.

Mais pessoas saíram de lá, uma era uma mulher de longos cabelos vermelhos lambidos para trás, olhos alaranjados, uma roupa colada e um belo sorrio. Thorn Zyra, ela se chamava.

Depois veio um homem alto e musculoso, com um manto escuro, como o de Malek. Ele tinha cabelos negros curtos e olhos castanhos, fora a expressão fria. Petal Mirror.

E o último deles era idêntico a Swain, porém tinha barba e uma aparência mais velha. Ele analisou-o como se procurasse algo.

– Você parece comigo.

Jericho sorriu.

– Por que sou seu neto, sou Jericho Swain, filho de sua filha, Arianne.

Marcus arregalou os olhos e depois sorriu como se aquela ideia nutrisse sua mente com bons pensamentos.

Emília se colocou à frente, imponente a eles.

– A linhagem Darkwill saiu do poder, está quase morta – sua roupa começou a brilhar, voltando a ser como antes, como a roupa que sempre usava, a clássica. – E eu, como a matrona, trouxe um novo líder enquanto vocês descansavam. Porém, temos um novo inimigo, que é Jarvan III. Temos duas armas, e a primeira é seu filho, Jarvan IV.

– Devemos matá-lo? – perguntou Zyra, mordendo os lábios.

Jericho riu.

– Está louca? Ele é mais útil vivo do que morto – virou-se para Emília, confuso em um ponto. – Você me disse que o Quarto era nossa única arma direta a ele, e agora diz que são duas?

Emília sorriu e analisou Marcus.

– Marcus tem a resposta, não tem? – o homem engoliu em seco. – Mesmo em pedra, pôde usar sua magia para observar sua filha até o dia de sua morte.

Marcus gaguejou, passando os olhos de Swain para LeBlanc.

– Olha, não sei se é o que penso, mas...

LeBlanc olhou nos olhos confusos de Swain. Aquela revelação iria transformá-lo num homem sem qualquer tipo de dúvidas, que saberia de tudo, tudo o que deveria fazer.

Embora, do outro lado do continente, uma conversa semelhante teria a resposta para a sua confusão.

[...]

Jaynee Lightshield adentrou à sala de seu marido, Jarvan III, o rei de Demacia. Ela se vestia com uma espécie de camisola, como se tivesse o esperado na cama todo esse tempo.

Jarvan III estava sentado em sua cadeira de rei, prostrado sob um papel, a pena-caneta em mãos, uma luminária ao lado, e às suas costas uma janela imensa que deixava a luz da lua cheia iluminar o local. Ele ergueu a vista para a esposa.

– Jay? – ele perguntou.

Ela sorriu.

– Está fazendo o que? Estive te esperando na cama, percebi que esteve pensativo durante o banquete para os sobreviventes de Kalamandra, então te dei um tempo.

Ele suspirou. A amava tanto, e percebeu naquele momento que odiaria perde-la como perdeu seu filho. Ela parecia muito calma para alguém que teve o filho feito de prisioneiro.

– Como consegue? – ele perguntou a ela. – Sabe, fingir que nada aconteceu com nosso Jarvie. Com nosso único filho.

O sorriso dela se tornou uma expressão entristecida.

– Eu tento não me precipitar, meu amor – ela engoliu em seco. – Sabe, tento pensar que neste momento, por mais que ele esteja sofrendo, que isso seja de crescimento a ele. Tento me conectar com o futuro, vê-lo em meus braços no dia em que voltará – ela fechou os olhos. – Minha mãe fez isso uma vez que meu irmão desapareceu em guerra.

Jarvan percebeu que suas mãos tremiam e ele suava.

– Ele estava morto – deu, por fim. – O corpo foi encontrado devorado numa ribanceira.

Jayne fez que sim.

– Mas minha mãe tinha fé que ele voltaria, e se a fé dela não foi suficiente, espero que a minha seja.

Jarvan se levantou e foi até a esposa. A abraçou forte, as lágrimas quase caindo, quando Jaynee se afastou. Ele franziu a testa.

– O que houve?

Ela respirou fundo.

– Eu sei o que estava escrevendo – ergueu lentamente os olhos ao marido. – Sei que é uma carta para Jericho Swain. Sei o quanto você o superestima, mas lembre-se que ele é mal, assim como a sua aliada, a Emília.

Ele fez que não.

– Não, Jaynee, você é que o subestima. Não sabe do que ele é capaz.

– Se transformar num corvo? É disso que você teme? – ela riu. – Já vi coisas mais loucas nesse mundo, Jarvan. Já vi homens se transformarem em pumas, gárgulas, mulheres se teletransportarem... Já vi de tudo, e aquilo não me dá o menor medo. – Percebeu, nos olhos do marido, uma tristeza de antes, não de agora, mas de muito antes. – O que se passa em sua cabeça, meu amor? O que te aflige?

Ele estava vermelho, como se estivesse prestes a chorar.

– Lembra que antes de nós nos casarmos, nós nos odiávamos? – ela fez que sim. – Na verdade, eu que odiava a ideia inicial de um casamento forçado. Eu te fiz me odiar, e sabe o porquê?

– Por que gostava de vadear com o Evan?

Ele fez que não.

– Antes de me casar, eu me relacionava com outra mulher, uma mulher linda, poderosa, habilidosa, inteligente. Ela tinha longos e vívidos cabelos negros, olhos cinzentos e era muito imponente. Eu me encontrava com ela quando meu pai não estava olhando, quando estava bebendo, para variar, e quando nós nos encontrávamos, tínhamos um ao outro como amantes.

Jaynee recuou.

– Claro, me esqueci de que fui a única a me casar virgem.

– A questão não é essa, Jay – ele tremia. – A questão é que ela engravidou.

Jaynee arregalou os olhos. Agora ela tremia.

– Q-qual era o nome dela?

– Espere – ele pediu. – A verdade é que após ter o filho, nós nos distanciamos, e um dia, quando o Quarto fez quatro anos, fui visitar o outro garoto, que havia feito cinco. O garoto era sério, tinha cabelos negros como a mãe e olhos como os meus. Ele era inteligente demais para a idade. Ela não gostou de me ver depois de tanto tempo. Ela já estava casada com outro homem, e estava se preparando para ir à guerra... Uma guerra contra nós demacianos.

– Ela era noxiana – deduziu Jaynee. – Claro, por que não? Continue.

Jarvan IV respirou fundo e se apoiou na mesa, ainda trêmulo.

– Acontece que algumas guerras depois, quando o garoto já tinha dez anos, ela veio a falecer pelas minhas mãos. Eu não havia visto que era ela, só que era uma noxiana. Naquela época eu ainda não era rei, e gostava de lutar por meu pai, massacrando os noxianos. De alguma forma o garoto viu, ele parecia ter algumas habilidades especiais. Eu vi nos olhos dele que ele iria querer vingança. Pensei em matá-lo, mas seria como matar o Quarto, nosso filho.

– E você não o matou, matou? – Jaynee já sabia o resto da história, mas não custava nada perguntar.

Ele fez que não.

– Não tive coragem, e deixei-o viver – ele hesitou. – A-a parte mais assustadora é que a outra a teve antes de nosso casamento, logo ele não é um bastardo, mas sim um filho tecnicamente legítimo.

Um desespero se passou pelo rosto de Jaynee.

– Você só pode estar brincando – ela começou a chorar.

Novamente ele fez que não.

– A verdade é que Arianne o teve antes de você ter Jarvan IV. Basicamente um ano. Logo, o rei legítimo depois de mim é ele, não nosso filho.

Jaynee cruzou os braços.

– Ótimo. E você acha que ele sabe?

Jarvan III olhou para fora da janela, onde as trevas devoravam toda a imensa Demacia com o poder da noite. Nuvens começaram a cobrir a luz da lua, enquanto uma enxurrada de corvos voava para lá. Corvos de seis olhos.

– Agora ele sabe.

No final das contas, Jericho Swain era Jericho Lightshield, o filho de Jarvan III com Arianne Swain. Era isso que Emília vira nele todo o tempo, a fonte de todo seu poder e inteligência. O jovem era uma porta para o domínio das duas cidades-estado mais influentes de Valoran, talvez de toda a Runeterra.

Ao saber disso, Swain sorriu. Sua humanidade havia ido embora. Saber daquilo despertou seu desejo interior de poder e ganância pura. Olhou para fora da janela, avistando a colina e todos os seus corvos que voavam pela noite. Com um comando, permitiu que Beatrice voasse para longe.

Enquanto batia as asas, ela perdia penas velhas, renovando-as. Num surto de energia e poder sombrios, ela se tornou maior, assim como seu dono. Maior e mais sombria.

Depois ela voou mais, e mais, e mais, e mais... até alcançar as nuvens.


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Notas finais do capítulo

E esse foi o fim... ou o simples começo?
Comente o que achou do final da primeira temporada. Comente a sua parte favorita da história. Se der, dê uma recomendação se quer que outras pessoas leiam.
Agradeço de coração por acompanharem-me nessa jornada, meus amigos, leitores, talvez fãs. Peço paciência e que não abandonem o barco, pois iniciarei a segunda temporada o quanto antes possível.



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