League of Legends: As Crônicas de Valoran escrita por Christoph King


Capítulo 62
Capítulo 59: A Guerra de Freljord


Notas iniciais do capítulo

Capítulo relativamente maior do que os outros, digamos, haha. Um capítulo completo com começo meio e fim. A história de Freljord termina por aqui, continuando do ponto que parou na segunda temporada.



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Capítulo 59:
A Guerra de Freljord

No momento em que chegou a Rakelstake, Ashe não tinha ideia do que fazer com o pergaminho. Mas quando ele pôs-se a brilhar, ela sentiu Avarosa falar com ela. Mire, atire, dizia ela. Foi quando que, em contato com o arco, o pergaminho se transformou numa flecha elementar de gelo, o gelo mais transparente que ela já viu, chegando a brilhar como um diamante. Todos se afastaram dela, pois um vento poderoso a rodeou, e um frio congelante tomou conta dela. A flecha começou a brilhar, o arco também. Com a luz do sol que dava as caras, diversas cores cintilavam do arco, como um prisma. De repente asas apareceram nas costas de Ashe, asas angelicais. Ela mirou no céu e atirou. Foi como um foguete, um jato de luz e flocos de neve que ascendeu ao céu e explodiu. Naquele exato momento uma chuva de luz caiu sobre a cidade, sobre as pessoas infectadas. Todas foram curadas. Voltavam a si, antes andando por aí como zumbis, agora, eram pessoas normais, novamente.
O sol raiou, trazendo um calor que aqueceria o coração de todos. Placas de gelo saíam do corpo das pessoas, a infecção já curada. Ashe se sentiu uma heroína, mas não podia se esquecer de todos seus amigos que lhe ajudaram e a salvaram. Virou-se para eles, sorrindo. Aquela era a prova que ela era a herdeira legítima de Avarosa, não só de sangue, mas de alma, de coração.

[...]
Quando Sejuani chegou no acampamento da Garra, foi recepcionada por vários de seus homens. A maior parte deles infectados. As placas de gelo negro dando uma aparência terrível, todos magros, secos, fracos. Não estavam “zumbificados” como os de Ashe, mas piores. Estavam adoecidos, uma visão terrível. Se Sejuani não fizesse uso do pergaminho logo, poderiam todos morrer. Desceu de Bristle, junto de Udyr, e foi em direção dos seus homens, que a saudavam. Udyr pediu que eles se afastassem, e assim eles fizeram, mesmo não o conhecendo. Sejuani pegou o pergaminho, que, numa luz ofuscante, se dissolveu, se transformando em desenhos, tatuagens em seu braço. Estavam escritos em uma língua antiga, mas Sejuani sabia o que significava, mas não sabia explicar. Ignorou aquilo. Foi até o centro do acampamento, onde todos poderiam vê-la. Ergueu o braço tatuado ao céu, e ele começou a brilhar. De sua mão brotou uma onda de choque de flocos de neve e um brilho cintilante que ofuscou a visão de todos. O vento que a onda de choque causou foi o suficiente para retirar todas as placas de gelo de dentro de todos naquela região.
O sol voltou a brilhar naquela região, aquecendo a todos após aqueles terríveis dias invernais. Sejuani sentiu Serylda a parabenizar em sua mente, dizendo que ela era sim sua herdeira. Sentiu-se bem com aquilo. Se sentiu confiante, confiante o bastante para derrotar Ashe e seu exército e conseguir o trono para si, depois de tantos anos no escuro. Iria governar, tinha certeza.

[...]
Ashe adentrou ao quarto de Lissandra, que estava sendo guardado por dois guardas. A princesa loira correu até ela, feliz, e a abraçou, abraçou forte. Ashe notou que os olhos da princesa já estavam curados, ela já podia ver. A luz solar adentrava ao quarto, deixando tudo num clima mais tropical, não típico de Freljord.
– Ashe! – Lissandra parecia feliz, capaz de ficar ali, agarrada à rainha para o resto da vida. – Estou tão feliz, tão feliz que você voltou – afastou-se para poder olhá-la nos olhos. – Estou feliz que você voltou em segurança, depois de tanto tempo fora... Foram quantos dias?
Ashe preferia se esquecer daqueles dias, dias terríveis. Estava exausta depois de caminhar tanto por quase uma semana.
– Quase uma semana – fez uma careta.
Lissandra suspirou.
– Mas o importante é que você está bem, e meu povo também. Graças aos seus esforços. Hoje vocês serão agradecidos por tudo, por terem conseguido ir até o monastério e trazer os pergaminhos em segurança.
Ashe percebeu que Lissandra não sabia da história completa.
– Vejo que não te contaram a história completa.
A princesa franziu a testa.
– Como assim? Vamos lá – puxou o braço de Ashe, levando-a até a própria cama, onde se sentaram uma perto da outra. – Me conte tudo, não poupe detalhes.
Ashe contou cada detalhe, da forma como escaparam, de como Anivia os ajudou – e depois desapareceu –, de como chegaram ao monastério e travaram uma batalha com Sejuani e seus homens até que o monge Udyr interferiu. Depois contou como as duas tiveram um encontro com o passado, descobrindo que eram as descendentes de Avarosa e Serylda. Depois contou como os trolls roubaram os pergaminhos, de como foram até Howlling Abyss para pegar de volta, depois de como encontraram o troll Trent, que ajudou-a a chegar lá, de como foi capturada e de como Sejuani e todos os outros passaram por desafios da Bruxa Gélida e de seu labirinto, e depois como saíram de lá. Lissandra ouviu tudo atentamente, se deixar um detalhe passar.
– Incrível – ela disse. – Não imaginei que passaram por tanto sufoco. Peço mil perdões por isso...
– Ela realmente existe – retrucou Ashe. – A Bruxa Gélida. Você disse que era tudo um conto de fadas, mas ela é real. Eu a vi.
Lissandra engoliu em seco, envergonhada.
– Talvez meu ceticismo tenha feito vocês sofrerem – ela cerrou os punhos. – Maldita seja a bruxa. Eu deveria ter alertado a vocês o risco.
Ashe sorriu e colocou a mão no ombro da princesa.
– Não se preocupe, princesa. Nós conseguimos, é o que importa. Eu daria créditos a Sejuani, pois ela serviu de grande ajuda – fez uma cara triste. – Mas ela se revoltou contra mim e declarou guerra. Quanto a isso, temo que preciso ir embora, voltar à capital de Freljord, meu lar. Passei tempo demais aqui, Lissandra.
– Eu sei. E para compensá-la, irei com você – a princesa sorriu. – Finalmente irei ir à capital, e estou feliz, muito feliz. Minha mãe nunca gostou muito da sua, mas agora somos amigas.
Ashe riu.
– Claro, venha, e traga seu exército. Só poderemos ser fortes se nos unirmos.
Lissandra se levantou, animada.
– Ótimo, vou movimentar meus homens nesse mesmo instante. Peço que faça o mesmo com os seus.
Ashe fez uma cara feia.
– Não sobraram muitos homens meus após tudo o que ocorreu – disse.

[...]
Sejuani adentrou à tenda-hospital, feliz ao ver Mestre Reed de pé. O velho, antes debilitado devido à infecção, agora parecia mais alegre e disposto a fazer o que fosse necessário para viver. Parecia mais disposto do que nunca, e mesmo que fosse muito idoso, parecia mais “jovem”.
– Reed – Sejuani chamou, sorrindo. – Parece que você está melhor.
O mestre sorriu e foi até a líder, abraçando-a, colocando a mão por trás da cabeça dela.
– Sejuani, minha cara... – após o longo abraço, ele se afastou, olhando-a nos olhos. – Você foi uma heroína lá fora, estou orgulhoso de você. Caminhou por tantos dias, mas parece que nem se cansou.
Sejuani se sentia feliz com a aprovação e todos aqueles elogios do mestre, que era como um pai para ela.
– Me sinto melhor do que nunca.
– Posso ver – ele disse. – Posso ver em seus olhos que sua alma está mais poderosa, mais forte. Sinto uma força ancestral emanar de você.
– É Serylda, mestre. Descobri ser a herdeira do seu poder e de seu legado. Ela ainda está viva, vivendo em mim.
Os olhos de Reed brilharam.
– Isso é incrível, Sejuani. Você tem tudo para vencer essa guerra.
– Nós vamos vencer – ela disse, cheia de convicção.
Ele olhou para a cabeça dela, os cabelos brancos bagunçados, sem um capacete para escondê-los.
– O que houve com seu capacete, aquele que te dei?
Sejuani fez uma cara feia.
– Houve um momento em que corremos das forças da bruxa, e meu capacete acabou caindo no abismo – se sentia triste por perder algo de tanto valor sentimental. Ganhara-o aos quinze anos, e era importante para ela tê-lo de volta.
Reed sorriu.
– Ótimo, pois saiba que eu tenho outro. Fiz três para o caso de você perder o original.
Os olhos de Sejuani brilharam junto de seu sorriso sincero.
– Muito obrigada, mestre.

[...]
– Acabou que eu nem curti esse castelo – disse Nunu.
O garotinho estava arrumando suas coisas, que mal foram tiradas da mala, e ele saiu em missão com Ashe. Seu quarto era bonito, mas não era tão grande quanto o seu no castelo da capital, disso ele tinha certeza. Mesmo assim era chato ter de ir embora, ainda estava encucado com o caso da garota decapitada. Por isso Thaynam estava ao seu lado.
– Talvez nós tenhamos mais chances de descobrir quem a garota era – disse Thaynam, que estava ao lado de Nunu, esperando ele terminar de arrumar as coisas numa mochila. – Eu soube que Mauvole tinha uma irmã mais velha que morreu e deixou o trono para ela. E se a antiga rainha de Rakelstake matou a irmã e escondeu o corpo?
Nunu balançou a cabeça.
– Não tem como, pois o corpo da tia de Lissandra foi encontrado no fundo de um poço. Ela caiu, era descuidada e alguns diziam que ela tinha problemas mentais.
Thaynam odiou sua ideia ter sido jogada por água a baixo. Tentou outra teoria.
– Talvez seja alguma funcionária, ou...
– Funcionários do castelo não usam vestidos daqueles.
Thaynam grunhiu.
– Talvez seja alguma parente de Lissandra, ou...
– Lissandra é a última da linhagem, pois todo o resto já morreu.
Thaynam olhou Nunu com raiva.
– Como você sabe tanto sobre Rakelstake?
– Eu já vivi aqui, esqueceu? Fui expulso por fazer do yeti meu amigo, pois na época eles não aceitavam esse tipo de relacionamento, e tal – Nunu terminou de dobrar a última roupa e a guardou na mochila. Virou-se para o tio. – Aceite, tio. Esse caso não faz o mínimo sentido.
– Eu esperava que você me desse uma lição de moral dessas por eu perder o espírito de detetive, mas está sendo o contrário – Thaynam franziu a testa. – Falando nisso, para uma criança, você é muito maduro, não é?
Nunu assentiu.
– Os líderes dessa joça já me ensinaram que o mundo é um lugar mal. Se Ashe não tivesse me salvado, eu teria ido à Noxus, me tornado um assassino poderoso, voltaria aqui e “faria a festa”.
Thaynam pareceu gostar da ideia.
– Eu devia fazer isso um dia, já que tenho sangue noxiano – ele se esticou. – Mas não, eu gosto do meu lar, e pelo que estou vendo, já estamos em guerra.
Nunu suspirou.
– Verdade – ele sorriu e semicerrou os olhos. – E eu aposto que Willump fará um estrago com todos os malditos aliados de Sejuani.
– Mas não vai mesmo! – exclamou Ashe, que apareceu na porta do quarto do jovem, utilizando um vestido longo e preto. Seus cabelos brancos estavam jogados para o lado direito. Ela até mesmo usava maquiagem. – A guerra está muito mais perto do que imaginei que poderia estar, e enquanto estamos aqui, arrumando nossas coisas, Sejuani está preparando seu acampamento de guerra.
Nunu franziu a testa.
– Ela já não tem um acampamento de guerra?
– Ao que parece, sim – respondeu Ashe –, mas, de acordo com uma carta que o Mestre Reed enviou, a batalha ocorrerá em uma zona plana de neve, onde não iremos colidir com nenhum vilarejo, e ainda teremos um local que suporte todos os mais de cem mil homens que batalharão. Ou seja, deveremos ter acampamentos em lados opostos, que fiquem num bom ângulo para a área da batalha.
Nunu pareceu animado.
– Ótimo, vamos!
Ashe colocou a mão na cabeça dele.
– Nananinanão, seu lugar não é na guerra, é na capital. Iremos voltar para casa e te deixarei lá!
Nunu fez uma cara feia, olhou para Thaynam, depois para Ashe, inconformado.
– Mas todos os nossos homens vão e o castelo ficará vazio!! – ele gritou. – Eu quero lutar, Ashe, eu quero ajudá-la.
Ashe se ajoelhou para ficar à altura de Nunu e olhá-lo nos olhos.
– Eu não quero que você se exponha. Ainda é pequeno, não tem ideia de como é uma guerra. Promete pra mim que ficará longe de perigo? – ele assentiu e ela sorriu para ele. – Ótimo. Você pode ficar com o Willump no castelo, mas não poderá ir à guerra, ok?
Ele sorriu.
– Tudo bem.
Ela se levantou.
– Vamos para as carruagens, pois nosso povo precisa de nós.

[...]
Sejuani posicionara seu exército em um novo acampamento, mais perto do local da guerra. Tudo isso acontecera em três dias de viagem e recolocação de tendas e móveis, também armas e armaduras. Fizera uma mini cidade ali perto, numa área banhada pelo sol, ao tempo que era agraciado com o vento gelado. Não sabia nem mais dizer em que estação estavam. Talvez ainda estivessem no inverno, era bem provável, mas não parecia.
E mesmo com todo aquele sol, podia ver nuvens negras se aproximando. Sabia que uma nevasca chegaria em breve, capaz de estragar alguns de seus planos. Odiava isso, gostava do calor, mas se quisesse viver em Freljord, era necessário que ela soubesse se adaptar ao frio. Sabia disso.
Haviam dezenas de tendas com a bandeira da Garra, bandeiras azuis. Dentro da principal tenda acontecia um banquete pré-guerra, com Sejuani e seus líderes. À mesa haviam muitos pratos especiais, como frangos assados, presunto, algumas frutas que podiam se encontrar em Freljord e vinho, cerveja e outros líquidos, como água. Na mesa retangular, Sejuani se sentava na extremidade norte, numa espécie de trono de madeira – naquela vez eles não utilizaram a mobília de Gelo. Haviam guardas ao redor dela e dos outros. Sentado ao seu lado direito estava Mestre Reed, do esquerdo estava Olaf, e se seguiam assim com Volibear sentado numa cadeira maior, Udyr ao lado de Reed, Raybear ao lado de Voli, Lyla, uma das líderes, e outros homens. Lyla, em especial, era uma mulher forte como Sejuani, com longos cabelos castanhos e uma armadura feminina de couro.
Sejuani, que usava seu capacete novo – mas que continuava tendo só um chifre –, disse:
– Ashe acha que batalharemos em uma área livre...
– E não vamos? – perguntou Lyla.
Sejuani fez que não.
– Não sou tão burra de mandar Reed enviar uma carta falando exatamente o que faremos – bebeu um gole de vinho numa taça de Gelo e comeu um pedaço de carne com seu garfo. – Somos conhecidos como maus e injustos pelos avarosianos, então, por que não?
– Por que é errado! – continuou Lyla. – Devíamos ser mais audaciosos, pensar no que podemos ganhar, não na fama que temos. Afinal, estamos aqui pelo poder, certo?
– Lyla está corretíssima, Sejuani – continuou Reed. – Sei que a senhorita já estava chegando ao ponto que queria, mas não podemos batalhar só para ferir Ashe. Sabemos que a senhora não gosta dela, mas não leve isso para o lado pessoal.
Udyr não parecia muito feliz em comer carne, por isso preferiu se deleitar só de frutas e água.
Ele disse:
– Se você quer o trono, Lady Sejuani, deveria ao menos atacar onde está o trono. O castelo. Invada a capital enquanto Ashe está fora.
– Esse era o ponto que eu queria chegar – Sejuani retrucou, irritada. – Mas já que vocês fizeram o trabalho, eu preciso saber que rota utilizaremos para chegar até o castelo.
Lyla riu.
– Use a cabeça, Sejuani. A capital é perto de onde estamos, ora.
– Podemos cruzar o rio e pegar uma rota expressa para lá – disse Volibear. – Sei onde ela fica, podemos passar por ela.
Olaf deu uma gargalhada.
– Ainda poderemos passar por uma aldeia e saqueá-la, haha. É uma ótima ideia, urso!
Reed não pareceu gostar da ideia.
– Não sei se seria o certo fazer isto.
– Não haverá saque, Olaf – respondeu Sejuani, calmamente enquanto comia uma uva. – Aprecio o pensamento de vocês, e será muito melhor se invadirmos a capital, assim nós forçaremos Ashe e seu exército a voltar. Será interessante ver a cara dela.
Lyla franziu a testa.
– Ainda não entendo parte de seu plano, Sejuani – ela disse. – Você pretende tomar a cidade, simplesmente tomando-a?
– Nós somos mais fortes, não somos? Podemos invadir sorrateiramente e, quando Ashe menos esperar... – Sejuani arregalou os olhos e ficou quieta. Udyr também pareceu ficar inquieto, como se algo os incomodasse.
Reed olhou para todos os lados.
– Algum problema, milady?
Sejuani fez uma cara furiosa, sacou seu mangual de gelo e atirou-o com força numa área da sala, causando grande impacto. Poderiam chama-la de louca, atingindo o nada, mas quando puderam ouvir um gemido, perceberam que não estavam sozinhos.
– Apareça, troll! – gritou Sejuani.
De apenas dois metros de onde o mangual havia atingido, uma forma apareceu. Trent, o troll, apareceu, vestindo uma capa mágico de invisibilidade, um pouco atordoado.
– Espião! – gritou Lyla.
– Espião... – Olaf sacou seus machados, sorrindo maliciosamente, como um devorador vendo sua presa.
– PEGUEM-NO! – gritou Sejuani.
Trent arregalou os olhos e se esquivou de Udyr, que avançou nele e deu um tremendo soco no chão na postura do urso, fazendo tudo tremer. Depois se esquivou de Lyla, que o atacou com duas adagas, depois Olaf, depois de Volibear... O troll parecia um peixe recém tirado da água, escorregadio e esguio, ligeiro e sagaz. Tinha reflexos incríveis para um simples troll, capaz de se esquivar de tudo.
Reed pegou um saco de suas roupas, botou a mão dentro e dele retirou um pó mágico. Atirou na direção de Trent, que, claro, se esquivou. O pó se transformou em gelo, congelando as cortinas. O troll saiu da tenda, se esquivou da lança de dois guardas e pôs-se a correr.
– Maldito seja – exclamou Sejuani. – Um espião de Ashe.
Udyr socou a mesa.
– Agora ele sabe do plano.

[...]
Ashe finalmente estava em seu castelo. Quando adentrou aos portões, fora recebida por todos os moradores da capital, que gritavam por seu nome e festejavam. Ela acenava, em cima de seu cavalo branco, seguida por Tryndamere, em seu alazão preto. Logo após vinha o resto de sua guarda e alguns outros homens bárbaros.
– Seja bem-vinda, Rainha Ashe! – gritavam as pessoas.
– A verdadeira Rainha!
– Acabe com Sejuani na guerra!
Ela estava feliz e radiante. O sol voltara a brilhar na capital, fazendo com que seus cabelos e vestido brancos reluzissem à luz solar, deixando-a com uma aparência divina. Estava feliz por estar de volta ao lar, muito mesmo. Fazia mais de três meses desde que fora para Rakelstake, e pareceram só poucos dias. Tudo passou realmente muito rápido.
Após a entrada triunfal, ela adentrou ao castelo, seguindo para o trono, antes vazio. Havia apenas um trono, o trono de gelo, apenas para ela. Mesmo que Tryndamere fosse o “rei”, ele se passava mais como um general, assim como em Noxus.
Ashe assentou-se no trono, algo que não fazia há muito tempo. Sentia saudades do conforto dele – que mesmo sendo de Gelo, não era nada desconfortável; ajustava-se à ela –, e de ser olhada por todos naquele local. Podia ver Lady Lissandra, Thaynam, Nunu, Braum (impossível não vê-lo), e, claro, seu marido, Tryndamere.
A sala do trono era como qualquer uma outra. O trono ficava no topo de “palco”, haviam pequenas escadas para ele. Embaixo dela haviam pilastras que dividiam um grupo de cidadãos, o tapete vermelho, e outro grupo de pessoas. Todas de pé. Ashe fez um sinal com a mão e todos se sentaram, como numa conferência.
Todos se calaram para ouvi-la falar.
– Meus caros cidadãos avarosianos – ela disse em alta voz –, nos últimos meses residi em Rakelstake, na capital dos Praeglácius, para assinar uma aliança com a líder deles, Lissandra. Houveram imprevistos que atrasaram minha volta, mas hoje estou aqui, e vos digo que estamos em tempos sombrios, não há como negar. Uma guerra com a Garra do Inverno está batendo à porta e é possível que... – hesitou, respirou fundo, e prosseguiu. – É possível que essa guerra esteja sendo observada pela Bruxa Gélida.
Houve um grande alvoroço na multidão de pessoas. Todas conversavam entre si, se perguntando o que diabos a rainha dizia, perguntavam se ela estava louca, e diziam que a bruxa não era real.
Ashe se levantou e gritou por silêncio. Foi incrível que todos se calaram, mesmo que demorasse alguns segundos, mas todos voltaram a atenção à ela, que tinha os punhos cerrados e uma expressão irada.
Ela tornou a se sentar no trono.
– Acreditem em mim, eu vi a bruxa com meus próprios olhos. Ela é poderosa, e parece querer interferir na guerra – respirou fundo. – Mas voltando à Sejuani: enviei um espião para o acampamento dela, um espião capaz de fugir dela facilmente. Ele deverá voltar em poucas horas, ou até poucos dias.
Ela olhou para todos ao redor, analisando cada pessoa naquele recinto.
– A partir de hoje haverá uma movimentação nos exércitos avarosianos – ela prosseguiu. – Com a ajuda de Lady Lissandra e dos Bárbaros do Norte, conseguiremos uma vitória certa. Nossa única preocupação, é com os Ursine e os Berserkers, aliados poderosos de Sejuani. Juntos nós podemos vencê-los!
Todos começaram a bater palmas. Ashe sorriu.

[...]
Para Trent fora fácil fugir. Era o que ele fazia de melhor, sempre foi. Até mesmo na guarda dos trolls, ele sempre fora bom em fugir e se esconder. Com a capa que ganhara de seus pais ele podia roubar coisas sem sequer ser notado, e até conseguir ótimas informações. No caso, ele conseguira um plano em primeira mão sobre o ataque de Sejuani. Fugiu da Rainha da Garra e de seus conselheiros, agora só precisava fugir de seus guardas.
Corria e se esquivava de todo pequeno soldado que o atacava, seja com adagas, com espadas, ou lanças. Conseguia saltar a incríveis alturas e seus pés de troll o permitiam cair sem se machucar.
Corria e ria, pois ninguém conseguia o alcançar. Corria em uma velocidade arrasadora, aproveitando do fato de correr em gelo e neve, e ser preparado para isso. Definitivamente era melhor que qualquer humano, e qualquer Ursine. Não adiantava. Ninguém o alcançava.
– Hahaha! – ele ria em alta voz, zombando de seus inimigos.
Saltou quando uma flecha veio em sua direção, agarrando-a de ponta-cabeça, caindo no chão e a guardando na capa.
Quando adentrou na floresta, colocou o capuz e ficou invisível, camuflado. Tudo havia ficado escuro, as grandes árvores cobrindo a luz solar, deixava o local bem frio. Trent começara a andar devagar, pois, na neve, seus passos emitiam sons. Os sapatos dos guerreiros da Garra pareciam ser próprios para serem furtivos, pois não faziam barulho algum. Os Ursine eram ursos, suas patas não faziam sons, também. Mas as patas de troll, sim.
– Eu encontrei as pegadas! – gritou um guerreiro.
Trent arregalou os olhos, olhou para trás e viu vários homens correndo em sua direção.
– Droga! – praguejou baixinho.
Olhou para os lados, sem saber o que fazer. Olhou para cima. Árvores. Pegou impulso e saltou, saltou tão alto que foi capaz de agarrar-se a um tronco. Ergueu-se e se sentou nele. Tirou o capuz e perdeu a invisibilidade. Os homens chegaram até o fim da trilha de pegadas, confusos.
– Elas chegam só até aqui – um soldado se queixou.
– Talvez ele tenha subido nas árvores – um outro supôs.
Trent, como sempre, brincalhão, disse:
– Temos um vencedor! – ele exclamou. Automaticamente todos os homens olharam para ele, assustados com a altura na qual ele estava. – Estava esperando por vocês.
Um dos soldados fez uma cara feia.
– Maldito seja, troll covarde. Desça aqui e nos encare.
Trent riu.
– Enfrentá-los não seria coragem, seria burrice – ele riu em alta voz.
– Você vai ver só! – o homem gritou. Ele pegou um arco e uma flecha, apontou para ele... – Não se mexa!
Ele atirou a flecha e ela zumbiu enquanto pegava distância e velocidade. Por mais incrível que pareça, Trent se sustentou em uma mão e ficou de ponta-cabeça, de forma que a flecha passou de raspão, não o acertando. Ele riu e saltou com a força do braço, caindo com os pés no tronco. Se desequilibrou, cambaleou para um lado, para outro, mas no fim se manteve firme lá em cima.
Riu da cara dos homens.
– Vocês erraram, hahahaha!
Um soldado mais parrudo tomou o arco da mão do mais novo à força.
– Me dê isso, seu idiota. Não consegue sequer acertar um outro retardado da sua raça – o homem apontou a flecha para Trent, que pulava e saltitava no tronco, que parecia ser mais resistente que ferro. – Tá no papo!
O homem atirou a flecha, que zumbiu enquanto ia na direção do troll que, por mais incrível que pareça, agarrou a flecha antes que ela chegasse. Todos os homens se espantaram, arregalando os olhos. Trent riu, agora com os olhos arregalados.
– Errou!! – ele gritou.
O homem parrudo fez uma cara feia.
– Homens! – ele exclamou.
A alegria do troll acabou a partir do momento que vinte dos homens sacaram seus arcos e flechas e fizeram uma formação de arquearia. Todos iriam atirar ao mesmo tempo.
– Fogo! – gritou o parrudo.
Uma chuva de flechas foi em direção de Trent, que por um segundo não sabia o que fazer. Foi quando se lembrou do que Ashe lhe dissera antes de manda-lo na missão de espionagem: “Quando sentir que irá morrer, não banque o senhor da zoeira. Só fuja”. Foi o que ele fez. Agarrou-se à capa e se jogou do tronco. As flechas passaram direto e caíram no chão, nenhuma o acertou.
Foi quando os homens notaram uma forma invisível cair no chão, num monte de neve, num estrondo. O homem parrudo apontou a flecha e foi andando lentamente até o monte de neve.
– Fim da linha... troll.
Foi-se feito um silêncio por alguns segundos, todos observando o monte de neve, como se esperassem a hora que o troll saísse.
Foi quando muita neve do monte foi jogada para a direita. Claramente era o troll pulando para fora. O homem parrudo gritou e atirou suas flechas no nada, onde a neve havia caído, junto dos outros homens. Após sete flechas jogadas fora, o homem percebeu que não estava atirando em nada.
– Senhor Otris... – o outro arqueiro chamou pelo homem parrudo, que se virou para ele. – Acho que fomos enganados.
Ele apontou para a esquerda do monte de neve, onde várias pegadas seguiam para a parte mais escura da floresta. Foi quando tudo fez sentido. Trent atirou neve para um lado e correu para o outro. No final das contas o troll não era tão idiota assim.

[...]
Trent adentrou o castelo correndo mais rápido que um cavalo, deixando patas de neve pelo chão. Foi capaz de atravessar a guarda avarosiana como um trem. Ele pensava que era por ser rápido mas, na verdade, Ashe pedira às tropas que deixassem um troll vestido de uma capa marrom entrar no castelo.
– Rainha Aaaaaaaaaashe!!! – ele gritava pelo salão do castelo, que era cheio de coisas chiques de Gelo e duas escadarias que davam para os quartos.
Ashe descia por uma das escadas, com Thaynam do lado.
– Você voltou! – Ashe exclamava.
Thaynam franzia a testa.
– Por mais incrível que pareça... – ele não parecia acreditar que um idiota daqueles conseguira adentrar o acampamento de guerra de Sejuani e sair sem qualquer tipo de arranhão. Ele estava eufórico, parecia que tinha tomado algum tipo de energético.
Ele saltitava, alegre, animado e energizado.
– S-Senhora Ashe... Você não vai acreditar no que eu descobri!! – ele exclamou.
Ashe olhou para ele, que parecia suado e ofegante, mas animado.
– Pois diga logo – ela ordenou.
– Eu descobri que Sejuani irá guerrear em área aberta, ao tempo que irá mandar homens tomarem a cidade enquanto nossos guerreiros estiverem fora. Será um massacre.
Ashe arregalou os olhos, perplexa.
– Sejuani... Sejuani seria capaz disso?
Thaynam chegou por trás da sobrinha, sussurrando em seu ouvido, como sempre fazia.
– Não pense que por vocês terem ficado amiguinhas no templo, que ela irá aliviar – ele se colocou à frente dela, para conversar cara-a-cara. – Sejuani é uma selvagem, Ashe. Ela faria de tudo para assumir o trono. Nós nascemos e vivemos no castelo, temos honra, e ela tem a fúria.
Ashe engoliu em seco.
– Entendo seu ponto de vista, tio, mas isso é algo terrível – ela se virou para Trent. – Obrigada por seus serviços, Trent, o Troll. Você será condecorado com uma medalha quando tudo isso terminar.
O troll abriu um sorriso e seus olhos cintilaram.
– Sério?
Ashe assentiu.
Virou-se para Thaynam.
– Acho melhor arrumarmos nossas tropas.
O tio fez que sim.
– Te ajudarei, já que é a sua primeira guerra. Já ajudei sua mãe diversas vezes, e agora te ajudarei.
Ela sorriu.
– Obrigada.

[...]
O tempo passou voando. Ashe e Thaynam lideraram o preparo das tropas avarosianas, enquanto que Tryndamere cuidou de seus bárbaros e Lissandra de seus praeglácius. Ashe se vestira a caráter, com uma roupa de couro azul-escuro (que constituía numa calça, numa bota, numa camisa decotada e num colete), luvas longas e de uma cor mais escura, uma capa que lembrava um sobretudo e que se ligava à cabeça com um capuz, também azul. Em suas costas, uma aljava e um arco. Seus longos cabelos branco-platinados passavam pelos lados do capuz.
Ashe andava pelo castelo escoltada por Tryndamere (que se vestia com a roupa tradicional de um bárbaro) e por Trent, que usava a capa por cima de uma pequena armadura, que se ajustava à capa e ao próprio troll.
Ashe se encontrou com seu tio, Thaynam, que era escoltado por outros dois soldados e tinha Lissandra ao lado, que se vestia com um longo vestido azul, usava uma tiara e seus cabelos estavam penteados em uma longa trança. Assim como ela, ele se vestia de forma diferente, porém, ele se vestia com uma armadura de ferro com partes de Gelo, armaduras fornecidas pela própria Lissandra.
– Não é sempre que a vejo vestida dessa maneira – ele disse à sobrinha –, mas quando a vejo, é por que vai destruir um exército inteiro.
Ashe sorriu.
– Não exagere – olhou para Lissandra; notou a tiara dela, que era feita de puro Gelo, mas era uma espécie de Gelo mais escuro. Aquele recinto estava iluminado a tochas e estava de noite. Deveria ser isso, pensou. – Está linda, Lady Lissandra.
A lady sorriu.
– A senhora também, Lady Ashe. Está linda nessa roupa de batalha. Eu também me vestiria como você, mas não fui treinada como a senhora foi. Logo, não lutarei.
– Ficará no castelo? – perguntou Thaynam.
A lady assentiu.
– Sim.
Ashe animou-se.
– Ah, então você poderia ficar com o Nunu, não poderia?
Lissandra hesitou, mas assentiu em seguida.
– Não serei a única a ficar, Ashe. Também teremos as esposas dos soldados, que ficarão aqui, para a segurança. Todas as pessoas também estarão em suas casas, pois todos temem o saque.
– Claro – respondeu Ashe. – Estava preocupada, pois Nunu estava com medo de ficar sozinho.
Trent começou a fungar algo no ar, como um cão de guarda. Foi andando lentamente até chegar perto de Lissandra, fungando-a. Ashe arregalou os olhos e Lissandra recuou, enojada.
– Trent! – Ashe exclamou. – Não fungue na Lady Lissandra.
– É que... – ele dizia, entre fungadas. – Ela me tem um cheiro familiar.
Lissandra franziu a testa, indignada.
– Troll besta, saia de perto de mim! – o empurrou.
Ashe não parecia totalmente certa do que Trent fazia, mas sabia que ele não estava fazendo sem motivo. Observava a forma como Liss o tratava, e observava. Thaynam teve que pedir que ele se retirasse, pois estava assustando a Lady.
Depois, Ashe foi até Lissandra.
– Peço que vá ver Nunu, daqui a pouco – pediu. – Estou ocupada demais, e ele não sai do quarto faz tanto tempo. Está chateado que não poderá ir à guerra.
Lissandra assentiu.
– Claro, tudo o que vossa majestade pedir.

[...]
– Relatórios do saque, Thaynam – pediu Ashe.
Andavam pelos corredores do castelo, rumo aos portões da cidade, às muralhas. Os dois foram até a área de observação, onde vários arqueiros se escondiam e observavam a movimentação do lado de fora da cidade.
– Recebemos um corvo de Reed, dizendo que o ataque não será cancelado só pela espionagem de Trent – disse Thaynam. – É assustador saber que Sejuani é capaz de atacar com toda a força na cidade e, depois, no campo. Amanhã haverá duas lutas.
– Podemos vencer? – perguntou Ashe.
Thaynam balançou a cabeça.
– Ainda não sabemos. Temos tantos homens quanto ela, mas...
– Devemos mandar dois terços para o campo e deixar um terço aqui – Ashe o interrompeu. – Sejuani só quer me atrasar, quer que eu esteja em dois lugares ao mesmo tempo. Quer que eu decida aonde estarei: ao lado de meus homens, ou da cidade.
Thaynam cruzou os braços.
– É uma ótima estratégia.
Ashe fez que sim.
– Mandarei imediatamente os homens para o campo. O tempo de chegar lá é o tempo dela chegar. E o pior: se Trent estiver certo, os homens de Sejuani passarão pelo rio e seguirão uma via expressa. Por acaso sabe onde fica esse rio?
Thaynam balançou a cabeça, negando.
– Infelizmente, não.
Um dos arqueiros da guarda percebeu o rumo da conversa e se intrometeu.
– Com licença, minha rainha – era um garoto jovem e magricela, que usava roupas de couro, cabelos castanhos e um capuz (como Ashe), arco e aljava –, mas eu sei aonde fica esse rio.
Ashe e Thaynam franziram a testa.
– Você sabe?
Ele assentiu.
– Existe um vilarejo lá perto, o vilarejo onde nasci e cresci. Agora que ouvi a conversa de vocês, temo que eles possam passar por lá e matar meus familiares – em seu rosto Ashe podia ver o desespero.
– Qual seu nome, jovem? – ela perguntou.
– Nathan – ele respondeu.
– Nathan, mostre-me o caminho para essa aldeia e para o lago, que você será bem recompensado.

[...]
Ashe cavalgava em seu cavalo branco pela noite acompanhada de outros três aliados, somente: Tryndamere, em seu alazão negro, Thaynam, em seu cavalo castanho, e Nathan, em um cavalo alaranjado.
Cavalgavam pelas sombras da noite, pela floresta obscura, seguindo o jovem rapaz. Antes dali, Thaynam perguntou à sobrinha se ela podia mesmo confiar naquele jovem, pois ele podia muito bem ser um espião. Muito tempo havia se passado desde o incidente com Trent na Garra. Tempo suficiente para Sejuani ter implantado um espião. Mas Ashe preferiu confiar, e seria bem recompensada por isso.
Enquanto cavalgavam em alta velocidade, Nathan falava:
– Meu povo é especialista em bombas – dizia. – Se for verdade que os da Garra atravessarão um rio, poderemos implantar bombas pela área e impedir a invasão.
– É uma boa ideia – disse Thaynam.
Ashe sentia o vento frio congelar seus olhos, transformando a cavalgada em algo difícil de se ver. Se somar a escuridão da noite, com o gelo em seus olhos forçando-os a fechar, poderia se obter uma queda brusca ou simplesmente um choque contra uma árvore.
Por sorte, chegaram no vilarejo rapidamente.
– Chegamos – anunciou Nathan.
O vilarejo era grande e bonito, cheio de pessoas andando para lá e para cá. Casas simples, mercados na rua, cavalos andando com seus donos, crianças correndo. Era bem iluminada, e Ashe sentiu-se bem em ver que Nathan não os levava para uma armadilha. Diria “eu te disse” para Thaynam se não estivessem atrasados. Devia ser nove da noite, e o ataque começaria às cinco da manhã.
– Vamos – disse Nathan –, vou apresenta-los ao Earl.

[...]
A “prefeitura” do vilarejo de Bjornidius era grande e bonita. Ashe se sentiu uma invasora pois naquele exato momento acontecia uma festa. Haviam dois banquetes para os nobres do vilarejo, que mais parecia uma cidade, com danças, músicas, iluminação com um lustre belíssimo e outras velas... Os guardas permitiram a entrada deles, pois eram nobres e, claro, Nathan era conhecido.
O Earl estava sentado num trono à frente de todos, sua esposa e filha aos lados, sentadas em pequenos tronos, como se fosse um pódio. Ele era velho, mas robusto. Deveria ter sessenta anos, pois tinha uma barba e cabelos brancos, uma coroa feita de ferro, roupas nobres e músculos. Sua esposa deveria ser somente uns cinco anos mais velha que Ashe e a filha deveria ter uns dezesseis anos. Foi quando Ashe percebeu que o Earl deveria tê-la pego como esposa quando ele só devesse ter a idade da filha, e engravidado logo em seguida. Sentiu nojo.
O Earl se levantou.
– Nathan Ragnar! – ele exclamou com um sorriso no rosto. – O que te traz de volta? Teve sucesso no exército avarosiano?
O Earl olhou para Ashe, Tryndamere e Thaynam ao lado, e ficou boquiaberto.
– R-Rainha Ashe... – voltou-se para Nathan. – Você me trouxe a rainha de Freljord e o rei dos bárbaros?
Saiu do trono e foi até ele, correndo. Todos ficaram boquiabertos e silenciosos quanto àquela situação.
O Earl apertou a mão de Ashe com muito entusiasmo.
– Sou o Earl Bjorn – ele disse, sorrindo com os dentes feios de velho a mostra. – A que honra teria eu de receber a rainha? – e fez uma reverência exagerada.
Ela sorriu.
– Não sei a honra, mas se querem continuar vivos, é melhor me escutarem.
Bjorn fez uma cara feia.
– O que quer dizer com isso.
– Quero dizer que se não me ouvirem, serão mortos pelo exército de Sejuani ao amanhecer.
Houve um grande alvoroço na festa. A música parou, as dançarinas pararam, e a conversação começou. Todos pareciam desesperados, sem saber o que fazer. Não tinham ideia do que estava por vir, mas temiam.
– Se o que diz é verdade... – respondeu o Earl, preocupado. – Deveremos terminar a festa agora e iniciar um conclave para decidir o que fazer.
– Não tenho muito tempo – respondeu Ashe. – Ainda tenho que voltar ao castelo. Portanto, seja rápido.

[...]
O conclave foi rápido. Vários velhos foram reunidos ali mesmo, na mesa do banquete, para debater o que fariam. Era óbvio que Sejuani morava ali perto, todos do vilarejo sabiam, era impossível não saber. Rapidamente fora decidido que reforçariam as guardas para batalhar contra os invasores.
Ashe franziu a testa, confusa.
– Mas Nathan disse que vocês eram mestres em bombas. Poderiam criar armadilhas.
Nathan concordou.
– Não é mesmo, Earl?
O Earl Bjorn fez uma cara feia.
– Jovem Nathan, desde que você foi embora, houve algo terrível com as minas de pólvora – ele disse. – Sempre achamos estranho haver minas do tipo em Freljord, e sabíamos que um dia elas acabariam, mas não do jeito que terminou. Elas foram cobertas por uma espécie de Gelo Negro, imensos esquifes pontiagudos que não permitiam a passagem. Qualquer um ferido por aquele gelo era infectado com uma doença que congelava por dentro. Muitos morreram por isso.
Nathan abaixou a cabeça.
– Entendo...
Mesmo assim, Bjorn sorriu.
– Mas desde então decidimos aumentar nosso exército, que mesmo pequeno, pode travar uma batalha contra os homens da Garra e atrasá-los, ou vencê-los até.
Ashe sorriu.
– Ótimo, então... temos uma aliança? – perguntou.
Bjorn assentiu e os dois apertaram as mãos.
– Mandarei homens para cá para ajuda-los – prosseguiu Ashe. – Eles chegarão antes do amanhecer.
Tryndamere deu um tapinha nas costas de Nathan, que cambaleou para frente.
– E este jovem merece lidera-los, pois foi de grande ajuda, não foi? – disse o rei bárbaro, deixando o garoto corado.
– Que isso... – disse Nathan, um pouco constrangido. – Só fiz o necessário para salvar meu povo.
Ashe foi até ele, colocou as mãos nos ombros dele e sorriu.
– Eu te disse que te condecoraria quando isso terminasse. Por que não antes? – ela ergueu a mão direita, que brilhou, sugando o frio ao redor, forjando uma flecha de puro Gelo. A flecha parecia de cristal de tão brilhante. Ela deu para ele, que hesitou em pegar. – Pegue. É o máximo que posso te dar agora. Lembre-se de só usá-la quando suas flechas acabarem, ok?
Nathan sorriu e fez que sim.
– Obrigado, mesmo, rainha.

[...]
Ashe, Tryndamere, Nathan e Thaynam voltaram para o castelo a cavalo mais rápido do que saíram. Cavalgaram a toda velocidade, chegando nos portões às meia-noite e meia, de acordo com a posição da lua e estrelas, dissera Tryndamere. Ele podia ver a hora de acordo com os astros, coisas ensinadas a ele por sua falecida mãe, uma espécie de astróloga bárbara.
Ashe adentrou à guarda, foi até o general mais próximo e pediu que enviasse duzentos homens para Bjornidius, liderados por Nathan. O homem hesitou, não entendendo o porquê. Ashe não precisou explicar, só fez uma careta para ele e ele obedeceu, com medo da rainha.
Depois que Nathan se foi com a tropa, Ashe subiu para o castelo. Percebeu que havia uma grande agitação entre algumas pessoas de lá, mais necessariamente as esposas dos soldados. Estranhou aquilo e foi até o quarto onde elas ficariam, juntas de Lissandra. Avistou a lady chorando junto de algumas outras mulheres, que usavam vestidos e choravam feito, bem... menininhas.
– O que aconteceu aqui? – perguntou Ashe.
Lissandra se virou para a rainha, em prantos, e foi até ela, abraçando-a forte.
– A-Ashe... – ela chorava e soluçava. – Eu não pude fazer nada...
Ashe se afastou dela.
– O que aconteceu? Por que todas choram?
– É Nunu, Ashe... – continuou Lissandra. – Ele foi sequestrado por homens de Sejuani.

[...]
No bilhete que Sejuani deixara estava escrito: “Levamos Nunu, seu garoto. Me encontre na torre abandonada há sete quilômetros de seu castelo, senão ele morre. Assinado: Sejuani”.
Ashe socou a mesa mais próxima com toda a força, fazendo com que ela rachasse. As mulheres ao redor se afastaram, pois não eram do tipo que gostavam de agressividade.
Lissandra viu uma lágrima cair do rosto de Ashe, cair na mesa. A rainha se virou, enxugou as lágrimas com a mão e fez uma expressão de fúria.
– Sejuani vai pagar por isso! – exclamou. Virou-se para Lissandra. – Você por acaso viu o levarem?
Lissandra fez que não.
Ashe franziu a testa.
– Mas você se desculpou por não poder ter feito nada.
– Eu sei, Ashe, é só que... – Lissandra hesitou. – É só que eu vi a janela aberta e fui a primeira a abrir o bilhete.
Ashe abaixou a cabeça.
– Entendo... Talvez seja bom que eu vá até essa torre.
Lissandra arregalou os olhos.
– Mas e se for uma armadilha?!
– Sejuani não é de fazer armadilhas – virou-se para Lissandra e a olhou nos olhos. – Ela pode tentar invadir a capital na surdina, mas sabe que armadilhas é coisa de covarde!
Ashe saiu do quarto, deixando todas aquelas mulheres ali. Lissandra enxugou as lágrimas e fitou a porta com o olhar. Depois sorriu.

[...]
Ashe reuniu uma tropa para invadir a torre, que consistia em Tryndamere, Thaynam, Braum e outros cinco bárbaros da tropa de seu marido. Todos iam a cavalo, menos Braum, que mesmo segurando aquela porta/escudo imensa, conseguia manter a mesma velocidade que os cavalos. Aquele homem era um monstro.
– Tem certeza de que não é uma armadilha, Ashe? – perguntou Thaynam, enquanto cavalgavam pela noite... novamente.
Dessa vez eles cavalgavam pelo campo aberto e nevado, em direção à uma trilha que atravessava uma parte da floresta e ia direto para a torre. De acordo com Braum, chegariam lá em cinco minutos.
– Tenho – Ashe respondeu. – Sejuani não é de fazer armadilhas.
Tryndamere bufou.
– Espero que você não esteja errada, querida.
Braum ria enquanto corria, às vezes até correndo mais rápido que os cavalos. Os bárbaros ficavam abismados com o quanto que ele corria. Por um rápido segundo, Thaynam fantasiou uma corrida entre Braum e Trent. Quem venceria?
Adentraram a floresta escura e continuaram pela trilha. Ashe olhava ao redor enquanto cavalgava em seu cavalo branco como a neve. Percebia o quão frio poderia ser naquela floresta, e quão sombria ela poderia ser. Podia sentir uma energia maligna a chamar, como a energia que sentiu quando viu a bruxa.
Rapidamente chegaram à torre, que, definitivamente era abandonada. Era em forma cilíndrica e devia ter, no máximo, sete metros de altura, com uns três andares, mais ou menos. Pararam na frente da torre, observando-a friamente. Olhando para o alto, Ashe podia perceber as nuvens que rapidamente cobriam o céu. Parecia que até o sol queria se esconder da batalha que estava para começar.
Ela desceu do cavalo e sacou o arco, pronta para qualquer coisa. Olhou ao redor. Bristle não está aqui, pensou. Era estranho que Sejuani não tivesse vindo em seu imenso javali, pois se tivesse vindo, o deixaria lá, pois sabia que o porco poderia se cuidar sozinho.
– Tio – Ashe chamou –, venha comigo.
Thaynam desceu do cavalo e sacou duas adagas.
Tryndamere desceu, indo em direção da esposa.
– Você não – ela o barrou. – Quero que vocês guardem a entrada, ok?
Tryndamere pareceu querer relutar, mas assentiu.
– Tudo bem, nós cuidamos da entrada.
Braum pousou a porta/escudo com força no chão, rindo.
– Braum cuida da entrada!! – e apontou para si mesmo.
Ashe foi até a entrada da torre com o tio ao lado. A porta do lugar era de madeira, e estava roída por cupins. Ashe a arrombou com um chute certeiro, e adentrou no local. Havia uma escada em espiral, os dois subiram.
– Tem certeza de que não é uma armadilha, Ashe? – perguntou Thaynam. – Não coloque tanta fé assim em Sejuani.
Ashe respirou fundo.
– Preciso que você guarde um segredo para mim – ela disse. – É que eu não sei bem se Sejuani está sozinha nisso.
Thaynam franziu a testa.
– Como assim?
– Se eu estiver certa, então terei certeza do que digo.
Thaynam já podia ter uma ideia do que ela estava dizendo, mas também não tinha certeza, não podia falar muito. Mesmo assim ele sabia que ela podia estar certa no pensamento. Que Nunu esteja aqui, ele pensou. Pois senão eu terei certeza das minhas suspeitas.
Subiram os três andares e chegaram ao fim da escada, no topo da torre, uma sala grande e velha, cheia de teias de aranha e afins. Na extremidade da torre, perto da janela mais próxima havia uma escrivaninha e uma cadeira. Uma criança estava sentada na cadeira, de costas para Ashe e de frente para a janela. A criança tinha cabelos curtos e claros como os de Nunu e tinha a sua altura. Era Nunu.
Ashe sorriu, feliz.
– Nunu!
Ela andou a passos rápidos até o garoto, enquanto Thaynam observava bem o local. Haviam runas mágicas desenhadas em todos os lados da parede, e neve encrostada ali. Foi quando tudo veio à tona.
– Thaynam...! – chamou Ashe em tom de desespero.
Thaynam virou a vista para a sobrinha e viu uma cena terrível. “Nunu” a golpeara na barriga com uma adaga de Gelo Negro. Na verdade, aquilo não era Nunu. Era uma criança morta revivida por magia negra. Logo após golpear Ashe, a criança desfaleceu, se transformando num monte de neve.
Thaynam correu até Ashe, a segurando antes que ela caísse no chão. Sangue empapava a barriga dela, e ela parecia prestes a morrer.
– Era sim uma armadilha – ela disse.
Não teve tempo nem para pensar e as runas nas paredes brilharam e zumbis da neve saíram delas, ao todo seis, com lâminas e espadas. Alguns não tinham partes do corpo e outros nem mesmo tinham membros.
– Espere um pouco – ele disse para a sobrinha.
Sacou as duas adagas que pegara e foi à batalha. Girou, se esquivou de um ataque zumbi e cortou um, cortou dois, os viu voltar a ser neve, saltou, cortou a cabeça de outro zumbi, fez picadinho de outro com vários cortes rápidos e atirou as adagas nos dois que sobraram, bem no coração. Logo, todos estavam mortos.
Voltou à sobrinha, pegando-a no colo quando o local começou a tremer. Desceu as escadas rapidamente, tomando cuidado para não cair, nem deixar nada para trás. Uma pedra, parte do teto da torre, caiu à frente dele. Teve de pular nela e saltar para a parede mais próxima. Que o sangue Du Couteau me salve, pensou. Quando viu já estava fora da torre, no chão e com Ashe no colo. A torre desabou rapidamente, não deixando pedra sobre pedra.
– O que diabos...? – perguntou Tryndamere.
Thaynam se virou para todos, desesperado.
– Alguém a ajude!!
Tryndamere viu a ferida na barriga da esposa, e foi até ela, desesperado.
– Não, não, não, não! – ele exclamou.
– Braum queria poder salvá-la – disse Braum, sem aquele tom risonho e feliz de sempre.
Ashe engoliu em seco e gritou:
– Saiam de perto! – eles não entenderam o pedido, confusos. – Saiam, AGORA!!
Os dois se afastaram, não entendendo o que ela estava fazendo.
Ashe se levantou, mesmo que cambaleante. Colocou a mão na barriga, sob a ferida. Fechou os olhos e começou a recitar algo.
– Sou do coração de gelo, do reino da neve. Sou descendente de Avarosa, sou a rainha do gelo. Da neve eu vim e para ela eu voltarei – sua mão começou a brilhar, sugando todo o frio ao redor para a ferida. – O frio já não mais me incomoda, o calor já não sinto. O gelo corre pelas minhas veias, e ele que me curará! – a ferida começou a se cicatriz rapidamente como se estivesse congelando, e logo após a pele nascesse encima do gelo.
Ashe sacou o arco e respirou fundo.
– Por isso que vocês devem confiar em mim – ela disse.

[...]
Ashe teve que se conformar que Nunu não seria achado tão cedo e voltou para o castelo. Estava chateada, mas não podia fazer muita coisa. Tinha medo de não acha-lo novamente, mas não podia se desesperar. Tinha uma guerra a travar, isso era um fato. Seguiu com seu exército para o campo onde batalhariam. Desde então tudo aconteceu bem rápido. Quando menos pôde esperar, estava de cavalo à frente de seu exército de mais de cinco mil homens, à frente do de Sejuani, que parecia tão selvagem quanto o seu.
Sejuani, do outro lado, estava montada em Bristle, ao lado de seus Ursine e de seus Berserkers. Ashe pediu a benção de Avarosa, ao tempo que Sejuani pediu a de Serylda.
Com o soar de uma trombeta a guerra começou. Os homens gritaram e os ursos rugiram. Foi uma corrida para saber qual exército se chocaria primeiro. Claro que foram os Ursine, que avançaram para os avarosianos da linha de frente, mas alguns foram rapidamente eliminados por escudeiros e lanceiros, pela estratégia.
– Arqueiros! – gritou Ashe, apontando o arco para cima. – Fogo!
Uma chuva de flechas atingiu dezenas de homens da Garra, matando milhares. Sejuani virou-se para seus arqueiros, mas não podia vê-los. Que diabos?, ela pensou. Foi quando viu todos mortos e um flash cortando e jorrando sangue de vários dos seus.
– Thaynam! – Sejuani gritou. Ela atirou seu mangual, que se esticou até Thaynam, que se esquivou e riu da cara da líder da Garra. Ele fez uma reverência e desapareceu no ar, saltando pelos homens dela e voltando para o seu exército, deixando-a enfurecida.
Era choque de ferro com ferro, ferro com carne, muito sangue sendo jorrado, gritos e muitos homens sendo atropelados por Braum e seu escudo. Ele atropelava vários homens e os socava com força. Volibear o viu e avançou nele, com as garras reluzindo com eletricidade.
– Pode vir em Braum, ursinho! – implicou Braum.
– Ora seu! – Volibear saltou encima dele com toda a força.
De outro lado da guerra, Olaf quebrava o crânio de vários avarosianos com seus machados poderosos. Ele simplesmente era uma máquina de matar, com uma fúria incontrolável. Lyla, do exército de Sejuani, era uma assassina rápida e poderosa. Matava seus inimigos rapidamente, mas quando via que não podia com um, fugia.
– Uma assassina – Thaynam saltou até ela e a golpeou, mas ela defendeu. Os dois começaram a duelar rapidamente com suas adagas, ferro com ferro, uma velocidade incrível.
– Noxiano e avarosiano? – ela perguntou. – Fico feliz em saber que meu pai não era o único noxiano com bom gosto com mulheres.
Thaynam sorriu.
Enquanto isso, Tryndamere e seus bárbaros faziam a festa, pois eram rápidos e habilidosos, podendo quebrar escudos com um só golpe. Tryndamere viu um dos seus bárbaros ser morto por Olaf e não deixou barato.
– Maldito Berserker! – ele saltou e brandiu a espada contra os machados de Olaf.
Olaf bateu duas vezes com os machados na espada de Tryndamere e se esquivou no terceiro ataque, depois no quarto e no quinto. Conseguia se livrar de um ataque do rei bárbaro com um só ataque de machado, uma força indestrutível, assim como suas armas.
– O rei dos bárbaros contra o rei dos berserkers, hahaha! – riu Olaf. – Quem diria?!

[...]
Ashe mesmo atrás das tropas conseguia um bom ângulo para atirar suas flechas de Gelo. Conseguia atirar uma flecha ao céu, que explodia e se transformava em outras cinco. Uma flecha, cinco mortos. Conseguia fazer uma chuva de flechas, pois atirava duas flechas por segundo, era rápida e tinha um braço forte.
Enquanto atirava suas chuvas de flechas, viu que Sejuani atacava os seus homens com o mangual e até Bristle os devorava de vez em quando. Enfureceu-se e atirou uma flecha contra ela, que defendeu com um escudo.
– Ashe! – ouviu uma criança gritar. – Ashe, socorro!
Mesmo dentre gritos e urros, Ashe pôde ouvir aquilo. Olhou para um lado da floresta e viu Nunu sendo carregado por alguma coisa lá para dentro. Depois olhou para Sejuani. Maldita seja, pensou. Envia outros para fazer seu trabalho sujo.
Abandonou a guerra e seguiu a trilha de Nunu, adentrando à floresta.
Sejuani a viu entrar na floresta e sorriu.

[...]
Ashe andava rapidamente pela floresta, seguindo o rastro de Nunu e seus gritos de socorro. O silêncio e o frio começavam a tomar conta do local, logo não podia mais ouvir os sons da guerra que acontecia lá fora. Parecia que as árvores tomavam formas sombrias e assustadoras, como pessoas em desespero e outras, com um tom sádico. Sentiu medo.
Chegou até uma área aberta, como um círculo na floresta. Avistou Nunu amarrado e amordaçado. Ele respirava ofegantemente e começou a respirar mais rápido, de olhos arregalados quando a viu.
– Nunu! – ela exclamou.
Correu até ele, guardou o arco nas costas e, quando chegou perto dele, tirou a mordaça e cortou as amarras com uma flecha de Gelo recém criada.
– Ashe! – ele a abraçou com força, feliz em revê-la. – Eu estava com tanto medo. Não sabia o que havia me pegado...
– O importante é que estamos juntos de novo!
Ashe podia nunca ter tido um filho, mas Nunu era considerado seu herdeiro, pois ela o amava tanto... O amava como se fosse seu filho de sangue. Queria ficar ali, abraçada com ele para sempre, sem desagarrar.
– Uma cena tão tosca que dá vontade de vomitar! – disse uma voz da entrada daquela área.
Ashe desagarrou Nunu e se virou para ver Sejuani de braços cruzados e com seu mangual em mãos. Ela sorria maliciosamente.
Ashe se levantou com uma cara furiosa.
– Nunu, corra. Me espere na saída da floresta – olhou-o nos olhos –, mas não se atreva a ir à guerra, ok?
Ele assentiu.
Saiu correndo e passou do lado de Sejuani, que o ignorou, seguindo para a saída da floresta, onde Ashe entrou.
– Você não tem vergonha, não? – perguntou Ashe.
Sejuani franziu a testa.
– Vergonha de te vencer descaradamente? Deixa eu pensar? Não! Hahaha.
Ashe cerrou os punhos.
– Não é disso que estou falando, sua puta.
– Nossa, a Ashe Certinha sabe xingar... – Sejuani estranhou o comportamento da inimiga, fazendo uma expressão confusa. – Espera um pouco, o que está dizendo?
– Foi você que sequestrou Nunu, não foi?! – gritou Ashe.
Sejuani recuou um passo, as mãos à frente do corpo.
– Opa, espera aí, você acha que eu fiz aquilo com ele? Só pode estar brincando, não é?
Ashe sacou o arco e apontou uma flecha para a inimiga.
– Eu não brinco.
Sejuani cerrou os punhos e rangeu os dentes.
– Como pode ser tão cega, Ashe? Como não pode ver que quem realmente o sequestrou foi...
– CALADA! – Ashe atirou a flecha, mas Sejuani a pegou antes que ela a atingisse.
– Quando se tem uma inimiga que usa arco e flecha, o mínimo que posso saber é como interceptar projéteis.
Ashe bufou e correu até Sejuani, dando-lhe um chute na boca do estômago. Sejuani brandiu o mangual para que atingisse Ashe, mas a mesma deu um salto mortal para trás e esquivou-se. Deu um chute de lado, mas Sejuani se defendeu, depois lhe dando um soco no rosto, seguido de uma voadora. Ashe caiu para trás, deixando algumas flechas no chão, que caíram da aljava. Se levantou e deu um soco para a esquerda, mas a inimiga se esquivou, depois atacou com o arco, mas Sejuani também se esquivou. Depois, Sejuani ergueu o mangual e bateu com força no rosto de Ashe com a parte dura, fazendo-a cair no chão. Sejuani subiu encima de Ashe e lhe deu três socos seguidos no rosto, fazendo o nariz dela sangrar. Sejuani sacou a pedra do mangual como uma faca e estava prestes para dar com ele no rosto de Ashe, quando ela criou uma flecha de Gelo com a mão direita e a enfiou no braço da inimiga, fazendo-a urrar de dor e cair para o lado.
Sejuani, ainda no chão, começou a dizer:
– Sua tonta, não consegue ver que quem sequestrou Nunu não fui eu?!
Ashe parou de lutar para respirar e perguntar.
– Então quem foi?
Sejuani aproveitou a distração de Ashe e deu-lhe uma rasteira, fazendo com que ela caísse no chão, de costas. Depois ergueu o punho e estava prestes a socar a barriga de Ashe, quando disse:
– Foi... – uma rajada de gelo congelou Sejuani por completo, deixando-a impossibilitada de falar ou sequer se mexer.
– Ashe! – Lissandra apareceu do nada na floresta, correndo na direção de Ashe, parecendo preocupada. – Você está ferida, com tantos cortes e sangue escorrendo pelo nariz.
Ashe franziu a testa.
– O que diabos faz aqui? Não estava no castelo?
Lissandra derrubou o corpo congelado de Sejuani no chão, que quebrou a casca congelada, deixando-a inconsciente.
– Eu senti que você precisaria de minha ajuda, então eu vim – ela ajudou Ashe a se levantar e deu alguns passos para a frente. – Venha comigo, eu te levo para casa.
Ashe respirou fundo, olhou para Sejuani inconsciente, e depois para Lissandra novamente.
– Não – respondeu.
– Não? – Lissandra fez uma cara feia. – Como não? Eu te ajudo e você me diz não?
– Isso mesmo, Lissandra... Ou eu deveria te chamar por outro nome?
Lissandra pareceu que iria chorar a qualquer momento, mas, do nada, um bizarro sorriso surgiu em seu rosto. Sua pele começou a ficar pálida, beirando o azul. Seus lábios também. Seu cabelo loiro embranqueceu por completo e suas mãos se tornaram garras geladas.
– Parece que finalmente você descobriu – ela começou a gargalhar, uma gargalhada que pôde ser ouvida num raio de cinco quilômetros. A tiara de Gelo que ela usava se transformou no elmo da Bruxa Gélida e aos seus pés brotaram pedras de Gelo Negro que subiam e desciam, como se tivessem vida própria. – Pensei que teria que matar pessoas inocentes para sempre para manter minha visão com o ritual ridículo estipulado pelos Observadores.
Ashe sorriu.
– Você pergunta como eu descobri. Foi até fácil, levando em conta as suas dicas. Thaynam também já tinha as suspeitas dele, claro, ele é um gênio. Antes de você envenenar a água do próprio povo e o soldado que mandei para a Garra com o pedido de paz, ele e Nunu descobriram uma área escondida no castelo onde residia, numa cama, uma garota morta com o corpo congelado e sem cabeça. Ele leu vários livros da sua biblioteca e, em especificamente um, ele descobriu que era necessário o sangue de uma pessoa para poder se transformar nela por um período de tempo. Nunu também disse que a Lissandra que ele conheceu quando era praeglácio não era nada parecida com você. Foi aí que tudo veio à tona: você fez com que Mauvole colocasse o nome da filha de Lissandra para que um dia você pudesse matá-la e assumir o lugar dela, levando em conta que você poderia manter o verdadeiro nome.
A bruxa sorriu.
– Seria uma ótima teoria, mas... Vocês parecem ter esquecido um detalhe: Eu era Mauvole, eu era a mãe dela, e a avó dela... – a forma como a bruxa falava fazia tudo parecer frio, como se a alegria do mundo fosse embora. – Eu sempre matava as princesas e tomava o lugar delas, então eu tinha uma filha, e a matava quando me era necessário, assumindo o lugar dela, e adiante.
Ashe fez uma cara feia.
– Eu poderia perguntar como você pode ser capaz de matar um filho, mas você é um demônio. Não se pode esperar muito de você.
Sejuani levantou lentamente, tonta e cambaleante.
– O que que houve? – ela perguntou e, quando avistou a bruxa, levou um susto e quase caiu para trás. – Eu sabia! Eu sabia que era a vadia da Lissandra. Era isso que eu queria te dizer, Ashe. Quem estava levando Nunu para cá era ela.
– Agora eu acredito em você – respondeu Ashe.
Sejuani se irritou.
– Ah, claro. Agora que estamos frente a frente com a bruxa maldita você me dá a razão.
Ashe se virou para ela.
– Menos, tá? Precisamos matá-la. Estamos juntas nessa.
Ashe apontou uma flecha para a bruxa.
– Renda-se!
Sejuani caiu na gargalhada.
– Sua idiota, ela pode te congelar estalando os dedos. Acha que ela terá medo de uma flecha de merda?
Lissandra sorriu e estalou os dedos. Ashe sentiu seus movimentos debilitados, olhou para baixo e viu que seus pés estavam congelados.
– Eu te congelaria toda, mas seria tão clichê – disse a bruxa. – Mas não, me sinto melhor em estar com vocês, agora, minhas duas irmãs. A chave para ressuscitar os Observadores está dentro de vocês duas.
– As almas das irmãs é a chave? – perguntou Sejuani.
Lissandra assentiu.
– Eu queria matá-las agora mesmo, mas percebi que ainda não está no tempo correto. Por isso, deixarei vocês sem exércitos criando uma nevasca tão poderosa que matará cada homem que vocês tiverem.
Ashe arregalou os olhos e apontou a flecha.
– Não teria coragem!
– Duvida?
Ashe podia ver a magia correr pelos braços da bruxa e seguirem para seus dedos. Um estalar e seria o fim da guerra... Mas ela não teve sequer tempo para fazer qualquer coisa, pois Bristle apareceu do nada e a atropelou, quebrando seu vestido e suas estacas de Gelo Negro do chão, lançando-a para longe. Ela rolou pelo chão, voltando à forma humana.
– Morre, sua piranha! – gritou Nunu, de cima de Bristle.
– Nunu! – exclamou Ashe. – Eu não te ensinei a falar essas coisas, mas estou muito feliz em te ver.
O gelo nos pés de Ashe e Sejuani derreteram e elas puderam se unir aos seus. Sejuani foi até o javali de estimação e lhe deu uma bronca.
– Eu já te disse para não deixar qualquer um te montar... – ela sorriu. – Mas foi um bom atropelamento. Quando voltarmos você receberá um prêmio.
Lissandra se levantou, na forma humana, parecendo uma morta, um zumbi cambaleante.
– Isso ainda não acabou! – ela exclamou.
– Para você acabou! – Ashe não hesitou mais. Um piscar de olhos e ela atirou uma flecha que atingiu Lissandra bem na testa, prendendo-a na árvore mais próxima, sangue escorrendo pela cabeça.
Ashe estava ofegante, tremendo por ter matado alguém que antes era sua amiga. Mesmo assim ela era uma traidora, e deveria ser morta. Mas sabia que uma bruxa não poderia ser morta tão facilmente. Talvez a forma humana tenha morrido, mas o espírito ainda estava vivo. Isso ficou bem claro quando uma brisa gelada passou por Ashe e Sejuani, gargalhadas ao fundo.
– Ela não morreu, não é? – perguntou Sejuani.
Ashe fez que não.
– Talvez venhamos a matá-la futuramente – olhou para o fim da floresta. – Mas agora temos que voltar à guerra.

[...]
Pode-se dizer que a guerra acabou, mas não houve vencedor. Ashe, Sejuani, Nunu e Bristle saíram da floresta para avistar uma cena chocante: todos os guerreiros, tanto avarosianos quanto Ursine, Berserkers, Bárbaros ou qualquer outra raça estavam caídos no chão, alguns mortos, outros dormindo.
– Que diabos...? – perguntou Sejuani.
Ashe olhou para a névoa que cobria uma parte específica do campo. Um ser saiu dela, um ser maligno e demoníaco. O céu da manhã se tornou escuro e vermelho como sangue. O ser era como um demônio musculoso com garras, asas diabólicas e um elmo negro em forma de chifres, tinha olhos vermelhos cintilantes, pele escura, seu peitoral e abdômen eram contornados por uma energia vermelha que lembrava lava e, em sua mão direita havia uma imensa espada vívida que parecia se mexer. Ela tinha várias camadas e parecia ser feita de sangue. Ele a enfiou em um homem avarosiano e a espada sugou o sangue do homem, se alimentando dele.
– Um demônio? – perguntou Ashe.
– Não – disse Nunu. – É Aatrox, um Guerreiro Darkin. Estudei sobre ele no colégio, mas pensei que era só uma lenda.
Aatrox sorriu para eles e abriu as asas.


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