League of Legends: As Crônicas de Valoran escrita por Christoph King


Capítulo 58
Capítulo 55 - Garen & Katarina part. Jarvan III


Notas iniciais do capítulo

[ATENÇÃO: É extremamente necessário ler este capítulo antes do 56]
Garen é levado à presença do rei, sendo dado como desertor; uma morte pode mudar totalmente o rumo da vida dos Crownguard; Katarina e Swain decidem o que farão da guerra; Jericho mostra algo terrível à ela e depois parte para Noxus para o Casamento; Jarvan III discute com Xin Zhao e o mesmo desconfia.



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Capítulo 55:
Garen Crownguard – Kalamandra


– Como pôde participar de um ataque desse tipo, soldado? – perguntou-lhe o rei Jarvan III, irado, furioso.
Garen estava à frente de um palanque, na prefeitura de Kalamandra, onde Anson Ridley havia permitido a estadia do rei para que ele julgasse certos casos. Como um juiz, o rei se assentava no centro, ao seu lado, a rainha Jaynee, ao outro lado, o próprio prefeito.
Haviam dezenas de guardas ao redor, assim como alguns curiosos, membros restantes da cidadela de Kalamandra, que ousavam ficar lá, mesmo com uma guerra prestes a estourar.
Garen olhou ao redor, nervoso. Havia acabado de voltar da batalha, após ter saído daquele túnel e foi levado à presença do rei. Viu seu pai o olhar com preocupação, ao tempo que em seus olhos transpareciam decepção. Garen quase chorou pensando em ter desapontado a sua família. Também viu Luxanna e o garoto Ezreal, ao seu lado. O rosto dela estava vermelho, como se tivesse chorando há pouco tempo, o garoto a consolava. Ela não parece chorar por minha causa, Garen pensou.
– Soldado?! – o rei lhe chamou a atenção. Estava no mundo da lua, pensando em dezenas de coisas e havia acabado por ignorar o rei. – Lhe fiz uma pergunta. Responda!
Garen nunca havia visto o rei daquele jeito, enfurecido com ele. Garen era o melhor amigo do príncipe desde pequeno, amigo e guarda da coroa, como o próprio sobrenome sugeria, mas agora a situação havia mudado de alguma forma.
– Jarvan quis isso – respondeu. – Eu o aconselhei a evitar um ataque desses, senhor. Juro. Eu sabia que se ele atacasse Swain, algo daria muito errado. Mas preferi por segui-lo, sabendo que seria fácil eliminar o líder noxiano. Até mesmo lutei contra Du Couteau para evitar que ela assassinasse o príncipe... mas acabei deixando-o sozinho.
– Não me importo com essa ladainha do atual líder noxiano estar à deriva – o rei socou a mesa. – Eu havia feito um tratado de paz com ele, um tratado que foi quebrado pelo meu próprio filho... duas vezes! – sua voz soou como um trovão.
Garen notou que a jovem Buvelle não estava ali, tocando seu etwahl, para evitar que a fúria do rei se espalhasse. Por isso ele deveria estar daquele modo, mas também haviam muitos fatores em crise.
– Meu filho, além de me desobedecer, agora está sob as mãos de Jericho Swain – as palavras do rei se tornaram mais chorosas, tanto que a rainha tentou consolá-lo, massageando seu braço. Ela também parecia em crise, preocupada com o filho, mas deveria manter uma postura.
– Me desculpe, rei – Garen disse. – Desonro meu nome e minha família, deveria ter aconselhado o príncipe de melhor forma. Um ataque como aqueles foi deveras descuidado...
– Palavras não trarão meu filho de volta – ele socou a mesa; Jaynee tentou acalmá-lo. – Garen Crownguard, é com muito pesar que eu te rebaixo de guarda real... para um simples guarda da cidade.
Todos no salão exclamaram a surpresa. Evan ficou tão abismado quanto o filho. Nunca em anos de séculos de vigia, os Crownguard foram rebaixados de cargo. Foi um choque para todos, principalmente para Garen, que ficou trêmulo.
– Você não pode...
– Eu posso – respondeu o rei –, e vou. Por hora seu julgamento foi terminado. Teve sorte de não ser acusado como desertor, pois caso fosse, teria uma punição pior. Caso encerrado!

[...]
Garen se sentiu nu ao ter que trocar de armadura. Não utilizaria mais a sua imensa armadura dos Crownguard, mas sim a da guarda da cidade, bem menor e menos protegida. Preferiu por não vesti-la e sair com uma simples camisa branca com gola vê e uma calça. Se sentiu diferente, era como um homem que corta a barba, ou que raspa o cabelo, ou que sai de casa completamente nu esperando que ninguém note. Infelizmente, notaram.
– Você parece bem menos assustador nessa roupa – era Ezreal.
Garen se virou para ele, os punhos cerrados, uma cara marrenta. Os músculos ficavam bem mais destacados com a camisa branca do que com a armadura, disso ele tinha certeza.
Ezreal fez uma careta.
– Erro meu, continua assustador.
Luxanna chegou rapidamente atrás do namorado, vetando qualquer possível acesso de raiva ou discussão que Garen poderia arranjar, afinal, mesmo que Ez fosse um bom garoto, era o namorado da irmã mais nova.
– Gary, bom te ver – ela franziu a testa. – Que raios de roupa é essa?
Garen percebeu que ela tinha o rosto úmido, como se tivesse acabado de chorar.
– Fui rebaixado, tomaram minha armadura convencional – fez uma cara confusa. – Por que estava...?
Ela se expressou de forma triste, mas balançou a cabeça, como se quisesse esquecer algo.
– O que estava dizendo? – perguntou.
– Nada, não.
Ele se sentou em um banco próximo, estava na praça de Kalamandra em frente ao imenso cristal que enfeitava a pequena cidadela. Sentou-se espojado, era um cidadão comum, portanto não precisava agir como um chato e certinho o tempo todo.
Lux se sentou ao seu lado, Ezreal vindo depois, tentando manter distância do cunhado.
– Como se sente com essa decisão do rei?
Garen suspirou.
– Papai ainda não falou comigo, nem ao menos olhou para meu rosto – inclinou o corpo para frente, deixando os cotovelos nas pernas, olhando para baixo. – Sinto-me sujo, sem honra.
– Você abandonou sua formação, é de se esperar que... – Ezreal começou a falar mas foi impedido por Lux, que o olhou com desaprovação.
– Sei que abandonei, mas foi por uma boa razão – apertou o punho. – Lutei contra Katarina e para não morrer, tive que fugir por um túnel. Lá encontrei um livro, um livro bem estranho. Inclusive, Ezreal, gostaria que você desse uma olhada. Sou bom com espadas, não com livros.
Ezreal fez uma careta.
– Por que acha que eu posso “dar uma olhada”?
– Talvez por que você é um arqueólogo renomado com apenas quinze anos – ergueu a cabeça e fez uma cara irritada. – E também por que eu quero.
Ezreal se sentiu um tanto quanto acuado.
– C-Claro que eu dou uma olhada. Mande-me depois.
Lux riu.
– É bom ver que vocês estão em acordo.
Rapidamente o sorriso no rosto dela se apagou.
– Vejo que ninguém te contou, irmão.
Garen franziu o cenho.
– Como assim?
A face de Lux revelava a sua tristeza. Tentou rir um pouco com o irmão e namorado, mas não pôde esconder o que sentia. Ficou um pouco vermelha, chorosa.
– Durante o ataque, houveram pouquíssimos sobreviventes – tremia enquanto chorava. – Daniel se feriu gravemente e Jaime não sobreviveu aos ferimentos.
Por um segundo Garen odiou a si mesmo por ser tão mau. Esqueceu-se completamente de seus primos, Jaime e Daniel, que também estavam no ataque. Não havia visto a chacina demaciana com os próprios olhos, chegando a desacreditar na veracidade dos fatos.
Levantou-se rapidamente, trêmulo.
– Como assim...?
Lux se levantou junto do irmão.
– Garen... – nunca tinha visto a irmã falar com tanta seriedade. – Jaime está morto.

[...]
Garen chegou até o local onde eram tratados os soldados demacianos feridos, o hospital de Kalamandra, cedido por Anson Ridley. Era um estabelecimento grande, de cor azul-claro, humilde e como um hospital comum deveria ser.
Adentrou no local, no hall de entrada, onde havia um balcão com algumas funcionárias, alguns bancos onde se poderia esperar, e alguns corredores à esquerda.
– Onde está Daniel Crownguard? – perguntou à uma das funcionárias do local, atrás do balcão.
A funcionária era loira, com o cabelo preso num rabo-de-cavalo, vestia uma roupa de enfermeira e em sua banca haviam várias gavetas com fichas de pacientes.
Ela hesitou, franziu a testa e perguntou:
– Quem é você?
Garen pareceu inconformado por não ser reconhecido.
– Como assim quem sou eu? Não está na cara que sou Garen Crownguard?! – sua tristeza pareceu ter se tornado raiva, tanto que a mulher ficou surpresa com aquela resposta.
Ela fez uma cara de quem acaba de se arrepender de ter perguntado algo.
– Nossa, me desculpe. É que só te vi de longe e com aquela grande armadura. Agora...
– Eu sei! Rápido, me leve até meu primo.
Ela engoliu em seco.
– Q-Quarto quinze do segundo andar, senhor.
– Obrigado!
Ele correu, subindo as escadas loucamente com uma determinação: precisava ver o primo. Enquanto subia ia elaborando o que iria dizer a ele quando acordasse, como iria dizer que seu irmão acabara de morrer numa virada sensacional do exército noxiano a um ataque imprudente do príncipe, que não se encontrava.
Correu mais, mais e mais até chegar ao quarto quinze. Podia ouvir uma música que saía dele, uma música calma e serena, algo que quase fez seu coração chorar, despencar de seu corpo até o chão. Sentiu que se a ficha caísse, ele ia junto. Olhou para os lados: corredores e mais corredores. Engoliu em seco e abriu a porta lentamente.
No escuro se encontrava um quarto grande com dois leitos, num jazia um homem grande com longos cabelos castanhos e o outro com um deitado, ambos dormindo. Era Daniel, com uma roupa branca de pacientes de hospitais, um cobertor em cima de si. Sua aparência era terrível, machucado e cheio de hematomas, isso só no rosto. Garen não focou-se muito no outro homem, só em seu primo.
Abrindo mais a porta deparou-se com Sona Buvelle, a fonte de toda aquela música que acalmava seu coração, ou o deixava ainda mais triste. Não sabia ao certo o que sentia naquele exato momento. Se era dor, angústia, tristeza profunda... Não tinha a menor ideia.
Virou-se para Sona, que por um segundo parou de tocar.
Ela mexeu as mãos em gestos, libras, tentando se comunicar com Garen, dizer algo.
– Não faço a menor ideia do que você quer dizer, Buvelle – disse Garen.
Sona fez uma cara feia.
– Ela disse que você demorou a vir aqui – Garen se virou para o outro homem no quarto, o com longos cabelos castanhos. Era Taric. – E, sinceramente, obrigado por me acordar.
– De nada.
Sona fez mais gestos, gestos nos quais Garen não prestou muita atenção, foi até o primo mais novo, Daniel, que ainda dormia, inconsciente. Pegou uma cadeira e se sentou perto dele. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados e mais escurecidos, ele tinha faixas pelo corpo todo e hematomas, estava terrível. Garen se lembrou de quando brincava com seus dois primos. Daniel sempre se machucava e ficava chorando. Jaime dizia que ele nunca seria um guerreiro forte se continuasse chorando daquela forma. Era assim que ele parava de chorar.
Jaime deveria ter lutado bravamente, sem sucesso.
– Sona disse que você deveria parar de se culpar – traduziu Taric. – Que a culpa não foi sua, e sim do príncipe.
– Eu não o aconselhei direito, Taric – retrucou. – Você poderia estar mais do que ferido se não fosse por mim.
Taric deu uma risadinha para o alto.
– Ah-Ah, poupe-me, homem de Valoran. Eu sabia dos riscos no momento em que pisei no campo da guerra – ele tinha uma expressão cômica. – Jaime também sabia dos riscos, mesmo assim continuou – ele fez uma pausa, olhou para os lados e sussurrou: – Quer saber o que houve depois que você sumiu?
Garen foi consumido pela curiosidade. Não viu muito do que havia ocorrido, por isso não sabia o que esperar na próxima vez que lutasse contra as forças noxianas.
– Diga, homem.
– Quando Swain nocauteou Jarvan IV, o que foi rápido, ele abriu as asas com o dobro de tamanho que tinha antes, e por mais incrível que pareça, vários corvos de seis olhos saíram de suas asas. Eles atacaram cada soldado demaciano, atacando os olhos e os cegando. Eu mesmo fui cegado, mas me curei com os poderes da terra. Quando voltei a mim, estávamos derrotados e o exército de Noxus estava descendo o abismo que você mesmo criou. Decidi por me fingir de morto.
Garen observou o estado de Daniel.
– Ele não parece cego.
– E não está. Ele foi o último a cair. Brandia a lâmina ao redor de si, girando e girando, matando os corvos que se aproximavam. Ele gritava “Demacia!” no processo. Um típico Crownguard, eu diria.
– E Jaime?
– Bom, ele foi morto por Darius, que penetrou na armadura dele com seu machado gigante. Não o poupou, foi uma morte terrível.
Garen cerrou os punhos, com vontade de socar algo. Rangia os dentes, enfurecido. Odiou Darius desde o momento em que o conheceu, o odiava com todas as suas forças. Ele era tudo o que ele lutava contra, era um homem sem escrúpulos, sanguinário. Um assassino sem honra. E agora ele matara seu primo. Não sabia o que fazer, o que dizer. Só conseguiu dizer uma coisa:
– Eu vou matá-lo.
– Quem? Darius? – perguntou Taric, sarcasticamente. – Ah, querido, boa sorte. Aquele homem é um monstro! Onde já se viu aquilo? Já viu o tamanho do machado dele comparado à sua espadinha? – gargalhou.
Garen o olhou com um olhar tão furioso que Taric se desculpou com o olhar.
Sona tocou um acorde desafinado e irritado, como se quisesse chamar a atenção de Garen. Ele se virou e ela tinha uma cara feia estampada. Fez alguns gestos rápidos, tão rápidos que nem Taric os entendeu.
– Amorzinho – ele chamou carinhosamente –, faz essa parada de novo por que eu não entendi bulhufas. E devagar.
Ela o fez devagar, de forma que fosse fácil o entendimento.
– Ela disse que você não pode guardar esse rancor e tal. Também disse que você deveria tentar se redimir com o rei durante os próximos dias, tentando encontrar o príncipe – se virou para Crownguard. – É uma boa ideia. Se quiser eu te ajudo – deu um sorrisinho.
– Não, obrigado – Garen se levantou, imponente. – Vou pôr tal plano em prática – se virou para Sona, sorriu e disse: – Obrigado pela dica.
– Eu que traduzi – retrucou Taric. – Não mereço meu crédito, não?
Garen revirou os olhos.
– Claro, Taric, claro. Muito obrigado pela tradução.
– Não há de que.
– Quando Daniel acordar, me chamem! – ele saiu rapidamente do quarto.

[...]
Katarina entrou na tenda de Swain, como sempre fazia. O encontrou apoiado com as mãos em sua mesa de papeis, mapas e estratégias. Na tenda também se encontravam Draythe Darkwill, Darius, a Riven recém curada e Talon, que estava sentado em um banco, de braços cruzados e com uma posição sombria e silenciosa.
– Cheguei – anunciou Katarina. – Demorei, mas estou aqui.
Swain levantou os olhos para ela.
– Chegou atrasada, aonde esteve?
Katarina suspirou, irritada.
– Fui dar uma volta.
– Uma volta – Swain pareceu enfurecido, mas contido –, por que?
– Já perdemos muito tempo – ela disse. – E eu recebi uma carta para você, Jericho.
Ele franziu a testa.
– De quem é a carta?
– É do Chanceler Malek Hawkmoon.
Draythe pareceu se animar.
– Ele deve ter notícias de Noxus – disse, animado.
– Leia para nós – pediu Riven.
Swain fez que sim para Katarina.
Ele pegou uma carta que havia guardado no bolso. O envelope era branco, com um selo negro que a lacrava. Ela arrancou-o e retirou o conteúdo. Katarina pegou o papel de dentro e o desdobrou. Começou a lê-lo:
– Caro Lorde Jericho Swain, informo-lhe que após a morte do Alto Comandante, o castelo esteve bastante sobressaltado. Foi difícil para o povo entender que o líder de tantos séculos morrera. Aproveitando a morte de Boram, Keiran assumiu o trono...
– Desgraçado!! – exclamou Draythe. – Aquele mimado maldito sempre esperou por isso.
Katarina o olhou com repreensão.
– Desculpe – ele disse. – Pode prosseguir.
Ela voltou-se ao texto.
– Aproveitando a morte de Boram, Keiran assumiu o trono ao lado de... – Katarina parou, não acreditando no que lia – Cassiopeia Du Couteau – havia desespero em seus olhos. Não sabia como prosseguir, mas continuou: – Os dois arrumaram às pressas o castelo para uma comemoração, o casamento. Os dois se unirão no dia 17, um dia após o recebimento dessa carta, creio eu. Os dois vão se casar? Mas que merda!!
Draythe socou a mesa.
– Sabia que Keiran tinha algum plano. Com Jericho aqui, lutando suas batalhas, o General Du Couteau desaparecido, o papai morto, e com até mesmo Katarina longe, ele iria tentar assumir o poder – ele parecia preocupado, não sabendo colocar sua raiva em palavras. – Ele deve ter armado isso. Se ele se casar com Cassiopeia, terá aprovação quase que automática.
– Onde está escrito isso? – perguntou Swain.
– Sabe que o pai nos ensinou todas as leis noxianas, não sabe? Existe uma antiga lei que diz que caso um dos herdeiros se case durante o período de Trono Vazio, ele pode ser automaticamente proclamado grão-geral. Assim, nem eu nem você poderíamos contestar.
Riven balançou a cabeça.
– Sempre soube que aquele moleque não prestava.
Swain sorriu. Olhou para os bonecos de xadrez que estava na mesa, que representavam os exércitos noxianos e demacianos. Pegou uma peça, o rei preto, e colocou-o à frente do rei e rainha branco, derrubando todas as peças que haviam no caminho.
– A não ser que eu intervenha.
Riven fez uma cara feia.
– Mas Swain, temos uma guerra contra Demacia hoje! Você é o líder, não pode simplesmente ir embora.
– Deixa de ser fresca, Riven – zombou Darius. – Jericho sabe o que faz.
Jericho sorriu.
– Não só sei o que faço como nomearei algum de nós como líder nessa batalha.
Katarina levantou a mão, sem hesitar.
– Eu aceito a posse – todos a olharam, com caras de confusão.
Darius começou a rir.
– Tu tá maluca, né? Você é uma assassina, não uma líder, não um comandante, muito menos um general. Não é nada, nem os restos do que seu pai já foi...
– Calado! – gritou Swain, surpreendendo-o. – Katarina está certa em aceitar a posse. É a pessoa em que mais confio.
Darius fez uma cara feia.
– Mas e eu?
– Você virá comigo – sorriu. – Tenho uma utilidade para você.
Darius sorriu, já imaginando o que poderia ser.
– Tudo bem, se está dizendo... – deu de ombros, rindo.
Swain se virou para Katarina.
– Quanto à Katarina, deixem que eu converse a sós com ela.

[...]
Jarvan III andava à frente de sua tropa de soldados, todos em forma, um atrás do outro, em filas. Eram, ao todo, trezentos homens ao seu dispor. Obedeceriam quaisquer ordens dadas, sem hesitar, sem recuar, sem questionar. Naquele dia iriam lutar, mesmo que não fosse de acordo com o que o rei gostaria. Aquela era uma batalha na qual era difícil fugir... Mas não impossível.
O rei, a cavalo, conversava com Xin Zhao, que vinha montado em outro atrás dele.
– Essa batalha será complicada – disse Xin –, mas não invencível. Temo que venhamos a perder muito mais do que só soldados.
– Esse também é meu medo – respondeu o rei. – Mas não posso recuar. É meu filho que está em jogo, sabe disso.
Xin Zhao concordou.
– Perdoe-me por não estar lá, não ter lutado ao seu lado.
O rei deu um movimento com a mão direita, implicando que ele esquecesse daquele pensamento.
– Proteger o rei é mais importante do que proteger um desertor.
Xin Zhao franziu a testa.
– Se refere ao príncipe?
– Por que não? Jarvan nunca agiu daquela maneira. A partir do momento que pegou meus homens e foi em batalha contra um quase aliado, ele botou tudo a perder. Agora, muitos bons soldados podem morrer por causa desse passo em falso que ele dera – fez uma longa pausa enquanto cavalgavam lentamente à frente das tropas, depois continuou: – Eu preferia que a batalha fosse terminada aqui, mas Swain teve seu orgulho quebrado com os atos do Quarto.
Xin Zhao fez uma cara feia.
– Rei, não entendo por que dá tantos privilégios a Jericho – uma dúvida passava pela mente dele, mas não sabia dizer o que era. – Desde o início você pareceu passar a mão na cabeça dele, algo que você só fez com....
– Com Jarvan IV? – o rei riu. – Não sei do que insinuas, mas lembre-se de que sou movido pela honra e pela estratégia, Swain também é. Temos ideais parecidos, ele é bem diferente de Boram, a quem realmente lutamos todas essas vezes.
– Rei, fora Jericho quem armara as artimanhas e estratégias de guerra nos últimos dez anos. Ele é um inimigo pior e mais ardiloso que Boram.
Jarvan III sorriu de uma forma irônica, que mesmo que Xin não pudesse ver, pudesse sentir.
– Eu me lembro de quando vi Swain pela primeira vez, durante uma conversa com Boram – ele olhou para o alto, como se pudesse ver. – Estávamos a cavalo com nossas bandeiras erguidas, prontos para guerrear por um terreno imenso. De um lado estava eu, Jaynee e Jarvan IV com nossas tropas; do outro estavam Boram, Emília e o jovem Jericho. Quantos anos ele tinha mesmo?
– Dezoito, rei. Dezoito. Não era tão jovem.
– Sim, dezoito – ignorou totalmente o comentário final de Xin Zhao. – Eu via potencial naquele garoto. Cobicei as suas estratégias de guerra tantas vezes... Boram tinha uma joia rara em mãos. Isso me enfurecia.
Xin Zhao entendera, finalmente, o ponto no qual o rei queria chegar.
– Entendi, finalmente, aonde quer chegar – o rei olhou para trás com um sorriso. – O senhor via Boram como pai e filho, e chegava a se perguntar se Jarvan IV era mesmo o seu herdeiro, visando seus gostos diferentes. O garoto só pensa em guerra, em lutas, e mulheres... Assim como o senhor seu pai.
Pela primeira vez o rei ficara sério.
– Bela dedução.
– E eu ainda não terminei, haha. O senhor se via refletido em Jericho, mas de uma forma sombria, a sua versão noxiana. Agora que ele cresceu, tendo a mesma idade de Jarvan IV, o senhor...
– Pare! – o rei mandou que parasse, não só a conversa, mas o cavalo. Respirava ofegantemente, furioso. – Não quero mais conversar sobre isso.
Xin Zhao sentiu uma pena, pois estava gostando de colocar o rei “contra a parede”, deixando-o sem argumentos pela primeira vez. Mesmo assim, Terceiro não era muito de cortar assuntos desconfortáveis. Sempre os contornava. Mas então, por que ele fizera tanto escarcéu por causa do que dizia. Decidiu deixar quieto. Não queria brigar com o rei àquela altura do campeonato. Na verdade, não podia. Era um soldado de honra, amigo do rei e de toda a corte. Preferia permanecer com seu emprego.
Chegara à conclusão de que o rei só estava afim de revisar os pontos fortes de Jericho, seu rival naquela batalha, talvez para mascarar algo. Quando Jarvan III fora citado, o clima já mudara. O assunto se voltara contra o rei.
Xin Zhao tinha um mistério em mãos para resolver.

[...]
Katarina foi levada junto de Swain até uma tenda afastada de todas. Era a mais guardada, com dezenas de guardas parrudos, altos e “bombados”, típicos noxianos. Estava longe de todas, numa área longe da vista noxiana. Será que Swain não vê que é mais que óbvio que o príncipe demaciano está aqui?, Katarina se perguntou.
Swain se apresentou aos guardas, que saíram da frente e permitiram que ele passasse. Os dois entraram na tenda. Katarina se assustou com o que viu: Jarvan IV sentado numa cadeira, a cabeça caída para a frente, os braços amarrados na própria cadeira, vestido com uma camiseta branca e uma roupa de baixo, os longos cabelos castanhos pendendo no rosto, sangue em todo o canto. Ele parecia tremer, chorar. Tinha vários cortes no corpo. Uma visão decadente do tão cobiçado príncipe demaciano. O homem dourado que cavalgava toda a Valoran, lutando bravamente...
– Surpresa em vê-lo? – Katarina assustou-se ao ouvir uma voz conhecida. Olhou para o lado e viu Emília LeBlanc, sentada num sofá de pernas cruzadas. Ela tinha um coquetel em mãos, sentada de uma forma sensual. – Surpresa em me ver?
– Você... você... – Katarina tremia; sempre teve medo de LeBlanc. – Você não estava em Noxus.
Ela gargalhou, fazendo Jarvan se sobressaltar da cadeira, olhando para os lados, os olhos arregalados, tremendo, tremendo, tremendo muito. Ele parecia assustado, traumatizado. Ela riu mais ainda, uma risada sarcástica e malévola.
– Querida, eu estou em Noxus! – olhou para Jarvan de forma séria; ele virou o rosto, tentando não olhar diretamente nos olhos dela, com medo que virasse pó. – Eu estou em todos os lugares – e deu um sorriso.
Katarina virou-se para Swain.
– Por que me trouxe aqui?
Swain sorriu.
– Eu queria que você visse muito bem o que acontece com o príncipe enquanto conversávamos – cruzou os braços. – Pedi à LeBlanc que cuidasse dele após o ataque. Eu também queria certificar ao príncipe de que até agora o pai dele não enviou ninguém para resgatá-lo.
– O que?! – o príncipe gritou. – N-N-Não... N-Não... – gaguejava.
Katarina sentiu pena dele, pena da decadência. Nunca tivera pena de demacianos, mas a situação dele era diferente, sempre fora. O príncipe valente que levava os demacianos a vitória. O nêmese de Swain. Ele sempre quebrava as estratégias perfeitas de Jericho com um surto de heroísmo e poder demaciano. Mesmo que tudo parecesse mera propaganda.
– O que fizeram com ele? – perguntou.
LeBlanc riu e se levantou. Foi até o príncipe, rodeando a cadeira de forma sensual, mas em vez de causar excitação, causava pavor. Nunca vira o príncipe daquela forma, tinha medo só de pensar no que LeBlanc havia feito a ele. Ela entrelaçou os braços no pescoço do príncipe por trás, falando ao seu ouvido.
– Eu só fiz algumas modificações na personalidade dele – ela se esfregava nele enquanto o mesmo tremia e se debatia, os olhos arregalados de pavor. – Fiz com que ele vivenciasse seus maiores medos de forma que não pudesse sair da cadeira. Dizem que dor psicológica é pior que dor física. Tinham razão – ela deu um beijinho na bochecha dele, que pareceu queimar, deixando uma marca de beijo. – Depois eu fiz o trabalho mais complicado, que era o de fazê-lo sofrer. Eu mal comecei e ele já gritou, fiquei triste.
– O que você fez? – perguntou Katarina novamente.
LeBlanc ficou de postura ereta novamente, com as mãos nos ombros do príncipe.
– Percebe o sangue no chão e nas roupas de Jarvan? – perguntou ela, se segurando para não rir. – Percebe que uma perna é mais branca que a outra? – ela gargalhou, fazendo o príncipe se sobressaltar. Ria enquanto comentava o que fizera. – Eu cortei cada dedinho dele com um alicate, bem lentamente. Depois cortei o pé, e, por fim, a perna. Depois, com minha magia, a fiz crescer de novo, e de novo, e de novo...
– Pare! – Katarina estava com os punhos cerrados, ofegante. Não conseguia imaginar como uma pessoa pudesse ser tão maligna. Sempre matava suas vítimas rapidamente. Gostava de vê-las indo dessa para uma melhor rapidamente, não torturando. No final das contas o que o pai ensinara lhe tornara uma pessoa correta, mesmo que fosse uma assassina noxiana.
LeBlanc fez um biquinho.
– Não seja moralista, Katarina. Hipócrita. É uma assassina e reclama do que fiz.
– Eu mato minhas vítimas rapidamente, não as torturo – Swain só observava enquanto elas discutiam. – Isso é algo desumano! Vê a cara, a expressão dele.
LeBlanc fez uma cara hilária.
– Eu sei, não é demais?
Katarina balançou a cabeça.
– Melhor voltarmos, Swain. Já me provou o que queria.
Swain sorriu.
– Tudo bem – virou-se para o clone de LeBlanc. – Estou arrumando tudo para ir embora de volta a Noxus. Você e o principezinho vêm junto.
A clone fez uma cara feia.
– Que chato, não quero voltar. Não gosto muito da verdadeira.
– Pois é. Você é mais divertida que ela – e deu uma risada sarcástica.

[...]
Na cidade de Kalamandra, o número de pessoas ali não era nem metade do que era antes, antes da chegada das cidades-estado rivais. Garen andava por ela, um local deserto, não tinha certeza de quanto tempo esteve ali, nem quanto tempo se passou desde que dormira com Katarina. Olhou para um lado e viu exatamente o local onde sempre lanchava e conversava com Daniel e Jaime. Sabia que após Kalamandra sua vida nunca mais seria a mesma. Muita coisa acontecera. Se imaginava contando para a mãe todos os acontecimentos. Definitivamente não saberia colocar em palavras.
Foi até a residência dos Ridley, onde Ezreal deveria ter conseguido algo sobre o livro do qual havia encontrado. Sabia que só se passara um dia desde que lhe entregara o livro, mas a guerra estava aí, e se o garoto não fosse rápido, teria que voltar para Piltover rapidamente sem dar respostas a ele. Luxanna que não iria gostar da despedida.
Garen tinha rápidos flashes enquanto andava pela cidadela. Era estranho. Podia vê-la de outra forma, como se a visse por trás de uma camada de energia. Não conseguia entender, mas era como se visse a verdadeira face daquele lugar.
A mansão dos Ridley era imensa, maior do que qualquer outra casa da cidadela. Era a casa do prefeito, certo? Era bonita. Era terrível. Tinha muitas flores vivas. Mortas. Era de um vermelho e castanho profundo. De um azul e verde cintilantes e horripilantes. Exalava muita vida, diferente das outras casas. Exalava morte, assim como as outras.
Garen se pegou tremendo. Bateu na porta e olhou para trás, parecendo ter medo de algo, algo que não pudesse ser visto. Sentia que a partir do momento em que a porta se abrisse, o mistério estaria pronto para ser revelado.
A porta se abriu, e quem atendeu foi Ezreal. Ele vestia uma blusa de manga comprida amarela de tecido leve e gola vê, uma bermuda marrom e seus cabelos estavam úmidos. Havia terminado de tomar banho.
– Garen – ele parecia aturdido –, que bom que apareceu. Entre, por favor.
Entrou, ignorando todos seus instintos que gritavam para que ele corresse daquele lugar horripilante. Adentrou na casa dos Ridley, uma casa bonita, de madeira, super bem decorada. Horrível, horripilante, transmitia a morte.
– Descobriram algo? – perguntou.
Ezreal andava rapidamente, batendo os pés descalços no chão de madeira. Garen olhava para todos os lados, para a casa bonita, a decoração, os quadros pintados. Em um havia a face de Anson Ridley estampada. Ele parecia observá-lo. Garen jurou ver um verme saindo de dentro de seu olho e caindo no chão. Ignorou-o e continuou a subir as escadas com o garoto Ezreal.
Viraram à direita e foram para um quarto onde Luxanna estava sentada no chão atrás de uma mesinha onde o livro de Garen estava aberto. Ela parecia preocupada. Olhou para ele e sorriu.
– Gary – fazia tempo que ela não o chamava daquela forma. Levantou-se, foi até ele e o abraçou. – Estou feliz em ver que está bem.
Ele a apertou forte, não o suficiente para machuca-la, mas o suficiente para mostrar preocupação.
– As ruas estão desertas – ele comentou. – Sinto que tem algo de muito errado com essa cidade.
Ezreal engoliu em seco.
– Nós também achamos – o garoto estava sério demais.
Garen seguiu com os dois até o quarto onde estava o livro. Os dois tiveram facilidade em sentar no chão, eram pequenos e magros, já Garen não, era parrudo e muito grande. Demorou para se estabilizar.
– Bom – começou Ezreal –, para começar, Gary...
– Pra você é Garen.
Ezreal respirou fundo.
– Sim, claro. Para começar, Garen, nós lemos a história do livro durante a madrugada inteira – os dois tinham olheiras fundas; Garen sentiu um alívio, pois só de saber que os dois passaram a noite juntos, já tinha maus pensamentos. – Estranhamos o fato de meu tio não ter voltado para casa, mas ignoramos. Enfim. O livro conta a história de uma antiga civilização que habitou Kalamandra há exatos trezentos e cinquenta anos. Eles se chamavam Lunari, e adoravam a lua. O livro conta que eles faziam seus rituais em diversos locais, que hoje não passam de ruínas, como a que você encontrou. Também conta que em um certo momento da vida deles, uma forma obscura começou a levar jovens guerreiros, simplesmente os levava. De início, pensavam que era o poder da deusa lunar que fazia isso. Diana, a atual líder daquele grupo e antiga dona desse livro, levou todos a fazer um ritual de adoração à lua, que levava os guerreiros “para um lugar melhor”. Mas não era a lua que fazia aquilo. Uma névoa azul-escuro tomou conta de tudo. Uma risada maligna fez com que todos corressem e uma forma demoníaca apareceu. Era como um centauro, um ser da Ilha das Sombras chamado Hecarim. Ele matou muitos bons guerreiros, levando suas almas para seja-lá-aonde, e amaldiçoou a cidade. Amaldiçoou Kalamandra. Ao que parece, os Lunari permaneceram por mais quarenta e nove anos – dizem que a cada ano uma alma era levada –, e exatamente no quinquagésimo ano, Hecarim voltou. Ao que parece, Diana, mesmo velha, lutou contra a besta diabólica com seus poderes lunares e conseguiu fazer com que ele recuasse, levando menos almas do que de costume. Infelizmente, ela morreu, mas fez um pedido à dama da vingança, Kalista, que infelizmente, por ser da Ilha das Sombras, não pôde ferir Hecarim, mas ela prometeu que séculos após aquilo, quando as sombras estiverem mais terríveis, a alma de Diana será devolvida à uma jovem de mesmo nome que irá vingar seu povo.
– Uau – exclamou Garen –, é uma história e tanto.
Ezreal fez uma careta.
– Não terminamos – virou-se para Lux. – Amor, pode continuar da parte da qual parei?
Ela assentiu.
Já estão se chamando de amor?, perguntou-se Garen mentalmente. Francamente. Só não reclamou pois Ezreal estava o ajudando.
– Bom, Gary, pelo que parece, após a morte da líder Diana, o povo Lunari foi embora da área onde hoje é Kalamandra. Eles peregrinaram por meses e meses até chegar a um local: o Monte Targon. Isso não está escrito no livro como uma notícia de um jornal, pois a história de Diana termina aí, com sua morte, que é narrada por sua filha. Mas depois disso existem mais notícias recortadas e coladas, veja! – deu o livro na mão de Garen.
Em uma página estava uma notícia de criança desaparecida, em outra página de várias crianças desaparecidas.
– Achamos que as crianças tenham sido levadas pelo Tormento – ela disse. – É como chamam em Bilgewater.
Garen continuou a leitura. Passou uma página e viu uma notícia bizarra. “Tormento leva pessoas de todos os cantos de Valoran. Seriam os contos da Ilha das Sombras reais?”, em outro estava escrito que um centauro das sombras assassinou dezenas de pessoas numa vila chamada Kaladon.
– A antiga Kalamandra – Ezreal parecia acompanhar a leitura de Garen.
Garen notou algo assustador. As datas. Todas as notícias eram de anos subsequentes ao atentado contra os Lunari, de poucos anos depois. E todos, sem exceção, eram de anos diferentes, às vezes, anos seguintes. Garen passava todas as notícias, todas as páginas rapidamente, lendo a notícia e a data e ignorando o resto. Ano seguinte, ano seguinte, dois anos depois, cinco anos depois, e todas as aparições de Hecarim eram em anos múltiplos de cinquenta.
– Luxanna – ele disse, com pavor na voz –, em que ano e em que mês estamos?
Ela franziu a testa e depois respondeu:
– Ano XX50 e estamos no mês de Outubro... – finalmente ela pareceu entender o que acontecia. – Meu deus.
Ezreal engoliu em seco.
– Então o Tormento ocorre hoje – respirou fundo. – Durante a guerra de Noxus versus Demacia.
Garen foi até a janela mais próxima, percebendo que já estava escurecendo. Já podia ver a névoa azul-escuro tomando conta da cidade. De repente tudo vinha à tona, todos aqueles flashes tudo aquilo. Via flashes de pessoas andando pela rua, que sumiam e apareciam novamente.
– Agora tudo faz sentido – ele disse. – Os cidadãos de Kalamandra não eram reais.
Ezreal franziu a testa.
– Como assim?
– Eram todos espíritos, aparições. Talvez até ilusões – pensou em tudo o que tinha visto chegando ali. – Se abrir os olhos, Ezreal, verá que essa cidade é apenas um recipiente do caos. Era apenas uma arena, tudo estava previsto.
– Previsto?? – Ezreal estava confuso e cansado. – Como assim?
Garen cerrou os punhos.
– Se lembra de quando vocês dois estavam na caverna e os diamantes e ouro desapareceram de uma hora para a outra? – Lux e Ez assentiram. – Era tudo uma ilusão. Nunca houve ouro, nunca houve diamantes. Fomos pegos numa armadilha.
Foi quando um estrondo se ouviu, seguido por barulhos de coisas quebrando e se retorcendo. Foi quando a casa dos Ridley começou a se deformar, o chão parecia como se fosse uma onda, distorcido e fazendo ondas. Tudo naquele quarto estava se transformando em uma versão mais escura e sombria, a pintura das paredes se desfazia, deixando à mostra o aspecto diabólico da casa, que parecia ter vida, rangendo e gemendo.
– Que diabos...? – Ezreal estava paralisado, confuso com o que acontecia. – Como esse lugar.
– Esse lugar nunca existiu, Ezreal! – Garen gritou, os sons da casa fazendo com que ele gritasse mais alto. – Seu tio prefeito também é uma farsa. Ele morreu há quatro anos, Ezreal!! Ele morreu, você não se lembra?!
Ezreal tremia, e sim, ele se lembrava. Foram memórias que pareceram ser implantadas nele, algo que lhe deu arrepios. Lembrava de quando a filha de Anson, Melina, namorada de Jayce, havia sido morta por zaunitas. Ridley começara a comer muita coisa gordurosa e que o fez engordar e ficar diabéticos. Ele morreu de forma terrível... em uma noite de Outubro.
Ezreal começou a chorar, Lux ao seu lado, chamando por seu nome.
– Vamos embora, Ezreal! Essa casa está se desfazendo!! – ela chorava, tentando puxá-lo para fora, mas ele não se movia.
Garen não sabia o que fazer, estava muito aturdido, tudo acontecera tão rapidamente.
Olhou para trás e viu a névoa do Tormento adentrar lentamente pela janela.
– Merda – praguejou. – Lux, pegue o livro!
Ela obedeceu e, automaticamente, Garen a pegou com um braço, e Ezreal com o outro, deixando claro o quanto era forte, capaz de carregar os dois em ambos os dois braços.
Começou a correr, descendo as escadas e indo em direção à porta. Àquela altura os dois já podiam correr sozinhos, mas tudo na casa era tão assustador, que quase fizeram Ezreal desistir. Saber que tudo aquilo era uma mentira chegava a doer, doer muito. Garen sabia disso. Seu primo morrera por uma mentira. Morrera em uma noite de Outubro.
No andar inferior da mansão, a verdadeira casa dava as caras. Um local horripilante e escuro, os quadros pareciam mostrar cenas devastadoras, sombrias e sinistras. O quadro de Anson Ridley agora o mostrara morto, decomposto e cheio de vermes. O quadro sorriu para Ezreal de uma forma maligna.
Abriram a porta e saíram para fora. Atrás deles a névoa cobria toda a cidade, caminhando lentamente, fazendo com que a cidade mostrasse a verdadeira face. Continuaram a correr, sem nem olhar para trás.
Foi quando uma imagem deixou Garen e Luxanna em colapso.
À frente deles uma forma esperava. Um homem morto, com cortes pelo corpo, armadura quebrada, espada ensanguentada e uma ferida aberta no peito apareceu. Ele tinha cabelos castanhos e curtos, olhos azuis-esverdeados que brilhavam, sua aparência era de alguém que já morrera há dois dias e já estava em processo de decomposição.
Garen quase chorou quando viu quem era.
– Jaime.
O Jaime ressuscitado o olhou com ódio, uma expressão terrível. Agora ele era um morto vivo. Ele gritou, abrindo sua boca de um jeito inumano. Do chão, espíritos dos mortos de Kalamandra ascenderam da névoa, espíritos e corpos mortos-vivos de homens de várias gerações, de Lunaris a guerreiros noxianos.
– O Tormento começou – disse Jaime com uma voz alterada.


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