Young Folks escrita por Emily


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Hey, passarinhos. Eu já tinha postado essa fanfic antes duas vezes, mas resolvi postar de novo porque sou apaixonada por essa história. Espero que gostem!



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Capítulo 1

Bibury — Cotswolds (Inglaterra). 09:11 AM.

— E aí. — Peeta chamou Cato, que parecia distraído demais brincando com o cordão de bronze nas mãos. Peeta já tinha o visto; era um medalhão antiquado e caro, onde o brasão da família Balchary chamava atenção bordado na parte fronteira do medalhão. Nunca conseguiu realmente ver o que tinha dentro dele, já que a sua família passada era um assunto restrito para Cato. — Quem vai ser a minha vítima da vez?

Cato franziu a testa, olhando em volta à procura de algo. Estavam sentados em um banco de pedra de granito, onde as pedras foram organizadas em um estilo medieval. A frente deles, uma rua de pedras era tão longa que os meninos a perdiam de vista. Ao lado esquerdo, casas de campo grudadas uma nas outras iam estendendo-se com a rua. Do lado direito, foram agrupadas várias mesas e barracas, gerando o acúmulo de diversas pessoas. Um sebo temporário. A cidade onde Peeta e Cato encontravam-se hoje era Bibury, uma cidadezinha de campo antiga em Cotswolds. De acordo com Peeta (observando a localização do sol, já que os seus relógios foram ironicamente roubados) eram nove horas da manhã. Eles precisavam — ou melhor, queriam, já que apesar da paisagem bonita de Cotswolds, nenhum deles suportava mais esse clima de feira da renascença* — sair de Cotswolds o mais rápido possível. Geralmente, o melhor horário era a hora do almoço, onde em geral os guardas davam mais importância para seus pratos de batata frita do que perseguir dois adolescentes com sérios problemas com a lei.

Os olhos de Cato iluminaram-se repentinamente.

— Aquela ali — disse Cato em um sussurro, apontando com a cabeça para uma das barracas. Peeta seguiu a direção e encontrou um grupo de adolescentes, mais ou menos da sua idade, acompanhados de um homem adulto, rindo e fazendo gestos obscenos há pelo menos oito metros de distância. — A de casaco cinza e boina preta que está tirando fotos.

— Que parece a cópia da Anita Radcliffe de 101 Dálmatas? — Peeta estreitou os olhos. Os outros riam e faziam bagunça, enquanto a menina com o rosto escondido pela boina tirava fotos. — Acho que não, Cato. Ela está acompanhada e...

— Eu ouvi uma conversa deles, Peeta. Ela disse que iria procurar por livros daquele tal de William Shakespeare. — Cato deu de ombros, fazendo uma careta quase imperceptível ao pronunciar as duas últimas palavras. — Provavelmente vai sozinha — continuou ele, rolando os olhos ao notar a provável grande expressão de dúvida estampada no rosto de Peeta. — Você sabe. Garotos adolescentes com um mínimo de masculinidade não iriam suportar 30 segundos olhando para aquelas baboseiras empoeiradas. As duas meninas – a loirinha de casaco azul e a morena gótica – parecem interessadas demais em estragar os livros para comprá-los. E a outra loira é toda cheia de mechas coloridas no cabelo, então provavelmente esse tipo de livro não combina com ela.

— Quem disse que aquela garota não lê Shakespeare?

— Eu disse.

Peeta rolou os olhos.

— Okay. — Guardou as mãos nos bolsos do casaco, sendo surpreendido pelo vento gélido que balançou as copas das árvores. — E você acha que ela tem dinheiro? A menina da câmera? Porque tipo, ela está tirando fotos dos livros e não comprando eles.

— Eu vi ela tirar uma carteira cheia de dinheiro do bolso do casaco — disse ele, balançando a cabeça. — Aposto minha camisa autografada do David Beckham que ela é uma filhinha mimada do papaizinho rico.

— Cato. Você nem é fã do David Beckham — observou Peeta.

— Mas se eu vendesse aquela camisa eu ia conseguir uma boa grana — explicou ele, dando de ombros. — A carteira está no bolso esquerdo. É só esbarrar nela e confundir acidentalmente as carteiras. É parecida com a sua, e quando ela notar, estaremos aprontando nos dias de jogos em Londres.

— Assim espero.

Um longo e reconfortante silêncio instalou-se entre os rapazes. A menina de casaco cinza ainda estava perto de seus amigos, a boina preta permitindo que Peeta pudesse ver somente o sorriso de dentes brancos. Eles eram bem diferentes, observou Peeta. A loura de casaco azul era a mais comportada, ou melhor, menos exaltada, e usava roupas grandes demais para ela. O rapaz ruivo que usava uma camisa laranja dos Lakers parecia ser o engraçadinho do grupo: apontava e ria de algumas capas e ria exageradamente alto (Peeta tinha 90% de certeza de que ele era americano, e ele odeia americanos). A menina baixinha que usava roupas pretas parecia odiar cada coisa que via, mas ora ou outra deixava escapar um sorriso. A garota de mechas coloridas parecia fazer o tempo todo ao lado do ruivinho, e, assim como ele, não tirava o sorriso de Eu estou aprontando do rosto. O último garoto, moreno desta vez, parecia ter tomado um vírus paralisante; ele quase nunca ria ou falava. Suas roupas logo o denunciaram: o suéter verde, a camisa social engomada e o terno de giz marrom faziam com que surgisse uma placa em neon em cima de sua cabeça, com os dizeres: Olá, eu sou um intelectual chato e não sei curtir a minha vida. Gostaria de debater comigo sobre o Teorema de Pitágoras? Ele não saia de perto da menina de boina preta, então Peeta deduziu que eles fossem namorados ou alguma coisa do tipo.

Bem, lhe dar com o namorado da sua vítima caso ele fosse apanhado não seria um grande problema, pelo menos.

— E você, Cato? Vai roubar a carteira de quem? — perguntou Peeta bem baixinho, ciente de que alguém poderia ouvi-los. — Porque eu não vou fazer isso sozinho de jeito nenhum.

Cato riu.

— Aquele nerd com óculos de armação vermelha que nós vimos sair daquela limusine preta. O que está perto daquela barraca da mulher gostosa que eu te falei mais cedo. Ele tem sotaque londrino. Que tipo de criatura vem de Londres até Cotswolds para uma feira de livros idiota?

— O que tem aparelho? — perguntou. Cato assentiu com um aceno e Peeta arregalou os olhos, duvidando da saúde mental de Cato por um breve momento. — Meu Deus, Cato. Ele tem cara de ser rico, tipo, muito rico. Daqueles que tem até o seu próprio agente no FBI. Imagine o que ele faz com você se for pego? Aliás... — Peeta espiou novamente o garoto, cercado por todos os lados de seguranças três vezes maiores que Cato. — Ele está cercado. Como você vai fazer isso? Usando a capa de invisibilidade do Harry Potter?

Com a visão lateral, Peeta conseguiu ver os lábios rachados de Cato por conta do frio se contraírem em um sorriso perverso.

— Se preocupe em cuidar apenas de sua fotógrafa, Mellark. Deixa que isso, amigo, eu resolvo.

(Xxxxx)

A menina fotógrafa havia, finalmente, se retirado de seu grupo. Agora ela se encontrava na barraca de uma senhora idosa com marcantes rugas de expressão. Peeta a observava de um poste antigo, estabelecendo uma distância segura entre os dois. Em momento algum a menina parecia ter percebido sua presença (Peeta havia tido o cuidado de procurar um lugar escondido, mas não suspeito); ele, por outro lado, analisava atentamente cada movimento dela: lendo sinopses dos livros, marcando em um caderninho de notas marrom aqueles que a interessava, soltando um gritinho entusiasmado de fã (que Peeta achou ridículo) assim que encontrou um livro velho e com aparência gasta.

Ela guardou sua câmera em uma capa de couro marrom e Peeta se espertou ciente de que o momento estava chegando.

Enquanto Peeta caminhava lentamente em direção à menina, ela agradecia à senhora idosa segurando os cinco livros grossos e de páginas amareladas em seus braços pequenos. Peeta sorriu brevemente quando ela aceitou o troco da senhora, guardando cuidadosamente na carteira só para depois jogá-la de qualquer modo em cima de sua pequena pilha de livros. Ela sorriu uma última vez e começou a caminhar na direção em que Peeta vinha.

A menina estava distraída demais para sequer olhar para frente — toda a sua concentração exigia em arranjar uma posição mais confortável para segurar sua compra. Essa vai ser fácil, pensou Peeta, segurando o sorriso malvado. Seus braços pareciam pequenos demais para o serviço, uma vez que ela impedia que os livros escorregassem para o chão de segundo a segundo. A leve ventania parecia também não ajudá-la muito, certas vezes impedindo sua visão, levando seus fios ondulados e marrons a taparem seus olhos. Estavam mais perto; talvez uns três metros de distância os separando. Peeta retirou sua carteira do bolso, pronto para a troca, e desviou o olhar para as casas de campo cobertas de plantas e flores. Um, dois, três...

O choque entre seus corpos fez a menina cair de costas no chão de pedra, enquanto Peeta apenas cambaleou brevemente para trás. Seu olhar encontrou imediatamente a menina, cuja saia subiu, deixando metades das coxas cobertas pela meia-calça preta a mostra. Seus livros estavam espalhados pelo seu tórax; sua boina havia voado para longe.

Peeta logo varreu a cena, a procura da carteira da menina jogada no chão sujo. Vendo a carteira cor de caramelo jogada ao lado dos joelhos, Peeta deixou a sua cair por cima dela, praticamente na parte final de seu plano. Quando Peeta inclinou-se para roubá-la, ele escutou um gemido baixinho vindo da menina.

Xingou baixinho, dando um passo apressado para mais perto da garota. Ela pressionava os olhos fechados, suas mãos cobertas pela luva azul desbotada massageando sua testa. Respirando fundo e inalando um cheiro agradável de violetas, Peeta ajoelhou-se ao seu lado.

— Você está bem? — perguntou, segurando uma de suas mãos enquanto passava a outra por suas costas, ajudando-a a se levantar. O tecido da luva parecia gasto, um objeto estranho para uma garota coberta de roupas caras. — Desculpe moça. Estava distraído e... — enrolou enquanto tirava a carteira de perto dos joelhos da menina com os pés.

Soltou a menina assim que sentiu a carteira cutucá-lo atrás dele. Enquanto, ainda de olhos fechados, a menina massageava a testa e emitia um ruído semelhante a uma pessoa prestes a vomitar, Peeta guardou rapidamente o objeto de couro no bolso do casaco.

— Tudo bem. — A menina murmurou, realmente prestes a vomitar. Peeta reprimiu a careta e a impediu assim que ela fez a menção de juntar seus livros.

— Deixa que eu pego pra você.

Enquanto Peeta catava os livros, viu com sua visão lateral que ela levantara com dificuldade. Ele teve que impedir o impulso de rolar os olhos quando leu o título dos livros. Noite de Reis, Sonho de Uma Noite de Verão e Romeu e Julieta, todos de William Shakespeare. Era quase tão provável quanto Cato e ele serem chamados de delinqüentes por adultos. Os outros dois eram Orgulho e Preconceito e Laranja Mecânica.

Quando Peeta terminou de juntar os livros, a menina fotógrafa estava de costas para ele, terminado de colocar a boina preta, que agora estava estampada de poeira e sujeira.

— Aqui está — disse Peeta, estendendo os livros para ela.

— Oh, obrigada.

Quando ela se virou para olhar para Peeta, ele prendeu a respiração. Ela era linda.

Sua boina estava mal colocada, deixando seu rosto à mostra pela primeira vez desde que Peeta a vira com os amigos. O rosto dela era pequeno e delicado, a pele quase tão branca quanto a dele, os cabelos ondulados pareciam formar uma cascata de chocolate em volta de seu rosto. Ela não tinha nenhuma espinha no rosto, como a maior parte dos adolescentes costuma ter, ou sardas; era um rosto limpo e sem imperfeições ao olho nu. O nariz era pequeno e arrebitado, os lábios eram um pouco cheios e rachados. Uma vaga lembrança de seu pai fazia Peeta lembrar-se de seus olhos cinza-chumbo. Os olhos dela pareciam dois diamantes cinza, brilhantes e raros.

Ela tomou os livros das mãos de Peeta, o trazendo de volta para a realidade, e os prendeu sem jeito contra ela.

— Mil perdões, moço! — disse ela, ofegante. — Eu não tinha te visto, eu juro por Deus. Os livros estavam tapando minha visão, e, mesmo quando isso não acontece, eu não costumo ser muito atenta com o caminho e... — Ela jogava uma enxurrada de palavras para Peeta, as bochechas coradas pelo esforço. Peeta sentia seu cérebro programado para deletar tudo o que ela dizia; ele odiava as pessoas tagarelando em seu ouvido.

— A culpa foi nossa — interrompeu Peeta, lançando um quase sorriso para a menina. — Também estava distraído.

Ela sorriu timidamente e colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha.

— Olha só! Eu já ia me esquecendo. — A menina estendeu as mãos, revelando o iPod branco de Peeta. Tecnicamente falando, não era dele, e sim de um garoto com um bom gosto musical que morava em Liverpool a quem Peeta havia roubado. Pela primeira vez, esse pensamento fez Peeta sentir-se envergonhado.

— Obrigado. — Pegou o iPod, guardando-o no outro bolso. De repente, uma onda de culpa totalmente inconveniente o invadiu, e Peeta disse algo que tinha certeza de que se arrependeria, mais cedo ou mais tarde:

— Você deixou sua carteira cair.

Ela arregalou os olhos e depois lançou a Peeta um sorriso culpado. Quando ela ia se abaixar para apanhar sua carteira, Peeta o fez mais rápido e entregou para ela.

— Aqui.

A menina sorriu novamente e depois os dois entraram em um silêncio constrangedor, apenas encarando um ao outro. Quando Peeta já ia tomar a iniciativa, dizendo algo simples e comum como: Qual é o seu nome?, um vulto de casaco azul passou por eles, arrastando Peeta junto a ele.

Cato corria como se sua vida dependesse disso — e se a vida de Cato realmente dependesse disso, queria dizer que a vida de Peeta também estava em perigo.

Quando Cato terminou de correr e se jogou atrás de um latão de lixo gigante, fez um gesto para que Peeta fizesse o mesmo. Peeta, sem entender praticamente nada do que estava acontecendo, agachou ao lado do amigo, sendo repreendido pelo mesmo quando pisou em uma latinha de refrigerante, fazendo um barulho um pouco alto. Cato levantou a cabeça, deixando apenas seus olhos à mostra — como se fazia em desenhos infantis ou de comédia. Peeta segurou a risada e se encolheu ainda mais quando o amigo se abaixou repentinamente.

— Eles foram por ali! — gritou uma voz masculina desconhecida e com sotaque escocês. — Vão! Atrás dos dois loirinhos. Agora! — Peeta sentiu um arrepio correr pela sua espinha com a autoridade da voz.

Os dois ficaram ali, encolhidos e com a respiração presa até que não escutassem mais os sons dos passos pesados e sentisse que estavam sozinhos — e seguros. Peeta encostou a cabeça na parede de tijolos vermelhos logo atrás de si, confuso e com raiva pelo o que viu e, ao mesmo tempo, aliviado porque acabou. Cato parecia ainda mais aliviado que Peeta — e com um sorriso um tanto... despreocupado. O garoto Mellark teve que segurar o impulso de jogar uma pedra na cabeça do amigo e parceiro de crime.

O sorriso de Cato sumiu assim que viu a expressão de puro ódio no rosto de Peeta.

— Cato Balchary — começou Peeta, lutando para não gritar com o amigo. — Mas que merda que você aprontou dessa vez?

Cato engoliu seco.

— Tudo bem. Você tinha 50% de razão quando me disse que não era para roubar aquele menino. Mas — Cato abriu um sorriso cruel. —, eu consegui roubar aquele idiota e nós podemos relaxar pelas próximas duas semanas. Bem, só tem um probleminha...

Peeta, que havia arranhado a mão para não dar um soco na cara de Cato, suspirou pesadamente.

— E qual é?

— Cara, a gente precisa sair da Inglaterra.


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Notas finais do capítulo

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