Jake parou de andar quando chegou em frente ao muro que tinha em frente a nossa escola.

— Então, Spencer. Eu queria te dizer que...

— Espera — interrompi — Tem mesmo que ser aqui?

— Eu não entendi — respondeu Jake forçando um sorriso.

— Ahn, é que eu queria mesmo que fosse em um lugar mais reservado. Tem uma pracinha há duas ruas daqui. Pensei, que lá seria melhor...

— É, eu sei qual é! Minha casa é ali perto! — ele disse todo alegrinho

No caminho da pracinha nós não nos falamos, mas não era um silêncio desconfortável. Era um silêncio delicioso porque ele estava ao meu lado. Ao chegarmos na praça joguei a minha mochila no pé de uma árvore para que servisse de encosto para minhas costas.

— Senta — pedi a ele — Então, o que você tem a me perguntar, querido?

— Querido?! — indagou ele

— Ah, perdão. É apenas o modo de falar.

— Não! — ele falou afobado — Pode me chamar como você quiser

— Ok, viado.

Nós rimos bastante durante um tempo, até que eu me levantei para sentar em um banco sem encosto com uma perna de cada lado.

— Algum problema? — indagou Jake

— Nenhum, é que nunca se sabe se alguém mijou no pé da árvore — respondi rindo

— Bem notado — falou ele — Spencer, eu queria te agradecer por me ajudar no meu primeiro dia, sabe?! Eu estava com medo de ficar deslocado e tal, mas vocês me acolheram como amigo

— Sem problemas — respondi medindo com os olhos os músculos do peitoral enorme que ele tinha

— Mas eu não quero que você faça isso por obrigação, ou apenas por dó de mim

— O que? — interrompi — Não! Você está louco! Eu gostei mesmo de você. De verdade.

— Gostou? — perguntou ele e mordeu os lábios. Agora foi a vez dele corar como uma maça

Jake se sentou no mesmo banco, do mesmo jeito que eu estava, só que ele estava de frente pra mim. Jake quebrou o silêncio quando finalmente disparou:

— Ah, Spencer, desculpa, mas, cara...como assim? Você é gay?!

— Ninguém nunca te explicou a definição de "manja rola"? — provoquei

Jake olhou pro céu e riu.

— Spencer, eu não estou falando disso — e então começou a procurar as palavras — É que, você...você não tem medo? Medo de, sei lá, alguém te agredir ou de sofrer preconceito?

Gargalhei.

— Não, moço. Eu não tenho medo disso. Creio que não tenho medo de nada — respondi — Mas, não entendi o que te aflige nisso.

— Nada — respondeu Jake rapidamente — É que eu,...Esquece!

Estava claro que Jake tinha alguma ferida em relação a tudo isso. O certo seria que eu deixasse como estava, mas a empatia com ele foi crescendo em meu peito.

— Ei, Jake — falei baixinho enquanto me aproximava mais dele — O que tá pegando?

— Eu não quero falar disso — respondeu ele se afastando. Droga!

— Jake, não é que eu seja muito corajoso, — prossegui — mas é que não adianta guardar o que sentimos. Você não acha?

— Pode até ser, mas eu tenho medo. Sabe, parece que as pessoas tentam matar os seus sonhos a cada dia.

Jake já estava com os olhos vermelhos, mas lutava para não chorar na minha frente.

— E você acha que o mesmo não acontece comigo?! — perguntei olhando-o firme nos olhos — Olha, eu tenho sonho de passar em 1º lugar no vestibular, mas eu sou o único que acredita em mim. Eu sonho nos campeonatos de volley, mas o caminho é longo. Eu sonho em me destacar no esporte com a Barbara, mas o preço disso tudo é alto. Tudo requer esforços, mas não é por isso que eu desisto

Ele levantou a cabeça e me olhou fundo nos olhos.

— Você não tem nenhum sonho com o seu namorado? — ele perguntou

— Só se for o Invi, né!

— Invi? — indagou sem entender

— O Invisível — debochei fazendo ele rir... e como era sublime vê-lo sorrir

— Palhaço... — ele falou enquanto esfregava os olhos para espantar as lágrimas.

— Não tenho sonhos com namorado porque não tenho um namorado.

Jake se aproximou de mim. Ele se aproximou tanto que eu conseguia sentir seu perfume e o calor de seu corpo

— Eu não acredito que você não tenha namorado. Você é tão...bonito

Corei

— Você também é. — repliquei enquanto eu também me aproximava — Eu sei que é muito cedo, mas, você já se interessou por alguma menina da escola?

— Pode se dizer que sim — respondeu coçando o queixo.

— Ahn? — eu sorria incrédulo para ele, mas eu senti meu coração estilhaçando — Quem é?

— Aí eu não posso dizer, cara. — Jake falava de um jeito preguiçoso e extremamente sedutor — Só posso te dizer que é do nosso grupinho...

Mil coisas se passaram na minha cabeça, e milhões em meu coração. O que eu estava pensando? Eu tinha acabado de conhecer o moleque e já tinha me levado pelos encantos dele. Porra, ele nem era gay!

— É a Lana? — pergutei

— Você quer mesmo saber? — perguntou ele enquanto tirava uns pelinhos do meu casaco

— Não! — respondi enquanto sentia os dedos dele brincarem pela minha barriga, fazendo que eu me sentisse quente ao toque

Jake deu uma gargalhada e se levantou, não para sair do banco, mas para se sentar no meu colo. Ele estava rindo e fazia isso com inocência, como se eu fosse irmão dele, mas meu sentimento era outro.

— Jake, levanta por favor! — pedi enquanto eu olhava direto no brilho do olhar dele

Eu estava com receio que ele sentisse o volume que crescia fervorosamente entre minhas pernas. Até hoje não sei o que se passou na minha cabeça, mas eu o peguei pela cintura para encacha-lo bem onde eu queria e roubei-lhe um selinho intenso e um pouco demorado.

— Ah, Meu Deus, Jake, me desculpa — falei afastando-o de mim com um empurrão tão forte que o joguei na grama — Eu sei que você não é gay, eu só...Ah, eu não sei o que me deu.

— Spencer... — ele falava em voz baixa e com o olhar de uma criança assustada — Por que você fez isso?

— Desculpa — gritei e saí correndo para pegar minha mochila e ir para casa.

Que porra foi essa?! Eu estraguei tudo!