— Você está quieto! — disse Barbara enquanto nós trilhávamos o mesmo caminho de sempre para ir à escola — É sobre Jake?

— Velho, e se ele já tiver o resultado da prova?

Barbara riu

— Calma, Spencer, não é assim de uma hora para outra que o resultado sai.

— E por que você acha que eles não corrigiriam na hora?

— Querido, mesmo que corrigissem, você acha que a transferência seria dada do dia pra noite? — tentou me tranquilizar

— Não sei! — respondi

— Spencer, por que você nunca desiste? — perguntou ela

— Você tá brincando, né?

— Tô falando sérião! Na moral, não tem mais o que fazer.

— Você acha que ele não sente mais nada por mim? — perguntei

— Se sente só ele sabe, mas eu acho difícil ele voltar para você.

Talvez em algumas situações o amor não seja o suficiente

— Eu não sei se eu consigo continuar desse jeito

— Pra que sofrer, Spencer? Virão outros!

Quando entramos na sala vi que Lana e Madson estavam abraçadas a Jake, e outros alunos estavam ao seu redor — principalmente umas meninas galinhazinhas

— O que é isso? — perguntou Barbara

Me aproximei deles para entender aquela cena. Lana estava com os olhos molhados

— Nós vamos sentir saudade, Jake! — disse Lana chorosa

— O que está acontecendo? — perguntei

— Ele conseguiu a bolsa! — disse Madson

Jake olhou para mim e sorriu. Algumas lágrimas caíram em meu rosto. Abracei Jake com força

— Você tá chorando? — perguntou ele ao pé de meu ouvido

Tombei minha cabeça em seu ombro. Naquele momento parecia que todo aquele orgulho tinha sumido pelo medo de perdê-lo

— Por favor, Jake, não vai! — pedi

Jake retribuiu o meu abraço. Novamente senti meu corpo em chamas, sentia labaredas ardentes dentro de mim.

— Para de chorar, Spencer! Assim vai ser melhor pra nós dois! — respondeu ele

— Jake, por favor, me escuta! Eu te amo, não quero que você fique longe de mim falei.

Jake afastou apenas o seu rosto para que ele pudesse me ver melhor. O timbre doce de Jake voltou:

— Spencer, a gente pode conversar lá em casa se você quiser — disse ele fazendo meu coração rodopiar de alegria

Nós nos afastamos quando percebemos que a professora Yasmin estava entrando na sala.

— Não desista de mim — sussurrei para ele

— Bom dia alunos! — cumprimentou Yasmin

Eu sempre amo as aulas de Yasmin, mas hoje era impossível prestar atenção em qualquer coisa que ela dizia. Jake estava sentado ao meu lado e com uma ótima aparência, tal como era no começo do ano. Eu sabia que eu ainda teria de convencê-lo a ficar na escola e fazê-lo crer que eu realmente o amava, e tudo mais, mas a esperança e a fé tinham tomado conta do meu peito. Até que então um pensamento invadiu minha cabeça: A mãe de Jake se chamava Sandra, sua tia se chamava Rosa...e a outra seria???

Já comecei a rir imaginando qual seria o nome da outra tia de Jake

— Jake, qual é o nome da sua outra tia? — perguntei em meio a risadas

Jake sorriu

— Não vou te falar, você vai zoar! — respondeu ele naquele timbre doce de menino do interior

Gargalhei

— Meu Deus, eu não acredito nisso! — falei

— Para de rir! — disse Jake, mas ele mesmo não estava conseguindo controlar seu sorriso

— Que ridículo! Qual o problema da sua vó de colocar esses nomes nas filhas dela? — perguntei — Não preciso nem falar que ela escutava muito Sidney Magal, né?

Que comédia

— Não debocha minha vó! Minha vó deu a luz a trigêmeas, então fez uma homenagem a ele, ele tava em todas as paradas naquela época — explicou Jake

— Ela é bonita, seus cabelos muito negros, e o seu corpo faz meu corpo delirar — cantarolei debochando — Quando ela dança todo mundo se agita, e o povo grita o seu nome sem parar!

— É a cigana Sandra Rosa Madalena, é a mulher com quem vivo a sonhar — completou ele também cantando

Caímos na gargalhada. Era tão bom voltar a estar "de boa" com Jake, antes eu estava pensando que eu iria sentir saudade dele para sempre. Lembrei-me que minha mãe, aos seus 7 anos, tinha vontade de se casar com o Sidney Magal, então eu não posso zoar muito.

— Jake, — chamei — você é muito lindo! — falei

Jake riu

— Spencer, nós ainda não voltamos! — avisou ele

Sorri ai perceber que ele disse "ainda"

— Eu sei, mas eu só quero que você saiba que pra mim você é o cara mais lindo do mundo.

— Para, Spence

— Você sabe que eu te amo! — afirmei

Jake mordeu seu beiço

— Em casa a gente conversa — disse ele

— Hoje?

— Claro, mas é para CONVERSAR, Spencer! Já estou te avisando logo de cara que não estou te dando nenhuma garantia.

As aulas seguiram, o lanche começou e terminou, mais aulas, até que finalmente a última aula do dia acabou.

— Graças! — disse Madson — Já não aguentava mais!

Coloquei minha mochila em meus ombros

— Spencer, você pode falar comigo um minutinho? Lá na pracinha — perguntou Jake

Olhei para as meninas e sorri

— Tenho umas condições — respondi fazendo doce

Jake franziu as sobrancelhas, sem entender direito

— Tipo?

Puxei-o para bem perto de mim, tão perto que nossos lábios quase se roçavam. Segurei sua mão.

— Eu não ando se não for de mãos dadas! — falei impondo minha condição

Jake corou e olhou para as meninas sem jeito

— Não força! — respondeu ele

— Estou falando sério — repliquei com malícia

Jake entrelaçou os seus dedos nos meus, fazendo meu coração disparar

— Vamos! — disse ele envergonhado

Dei uma piscadinha para as garotas e saímos. Eu me sentia tão seguro andando ao lado de Jake, e me senti tão feliz ao chegar naquela pracinha onde eu roubei um beijo dele pela primeira vez. Quando sentei naquele banco em que eu tinha dado uns pegas no Jake pela primeira vez percebi que ele estava pirografado. Sorri

— Você que fez isso? — perguntei apontando para o desenho de um coração com "Jake + Spencer" inscrito no banco

Jake corou novamente

— Desculpa, — disse ele — isso foi logo depois que a gente começou a ter algo mais sério

— Eu adorei. — falei me sentando no banco — Senta! — pedi

Jake se sentou no banco, mas um pouco distante de mim.

— Você pode sentar no meu colo se quiser — falei

Jake riu

— Safado! — disse Jake, mas continuou onde estava — Spence, eu só quero entender exatamente o que está acontecendo entre a gente, posso?

— Não é tão difícil! — respondi — Eu só te amo — falei envergonhado

— Tenta me entender, Spencer! Como que eu vou ter certeza que você me ama mesmo?

Sorri

— Bem, isso você só vai ver com o tempo, mas, poxa, mesmo sabendo que você não queria mais nada comigo eu terminei com o Vinícius, isso merece um crédito — exigi

Jake se calou por um tempo, seu rosto expressava o quão pensativo ele estava

— Quer saber, antes só eu falava em sonhos e sonhos que eu tinha com você, mas eu nunca te perguntei se era isso que você queria, ou quais eram os seus sonhos... — disse ele como se sentisse culpado

— Não, Não! — gritei — Com absoluta certeza eu realmente quero muito muito muito mesmo me casar com você, e eu também quero cuidar e educar os nossos filhos, mas isso me assusta um pouco

— Não entendi

— Jake, somos tão jovens! Eu realmente tenho certeza que eu quero isso, mas não é tão simples assim chegar lá. Primeiro que eu quero muito ganhar uma bolsa em uma faculdade que eu gosto, para que eu possa trabalhar no futuro e juntar bastante dinheiro para nossos filhos, mas e se algo der errado no meio do caminho? Tipo, não é algo que eu possa te prometer

— Você sabe que minha família é rica, né? — perguntou ele

— Sim, mas eu não estou me casando com sua família, logo não quero e não vou viver do dinheiro dela

Jake me deu um abraço

— Relaxa, príncipe! — disse ele me abraçando forte — Você sabe que nós podemos fazer qualquer coisa que quisermos.

Pode soar estranho dois garotos de 15 anos pensando em ser pais. Tem garotos dessa idade que sonham com ingressos para shows de rock, com um jogo novo, e alguns em perder a virgindade, mas o meu sonho de ter um filho vem de muito tempo atrás.

— Jake, eu te amo mesmo, acredita!

— É o que você mais tem dito nos últimos tempos — brincou ele

— E você?...Nada? — perguntei

Jake tirou seu casaco para amarrar na cintura. Jake era tãããão lindo...

— Eu nunca deixei de te amar, Spence. Quem desistiu de tudo foi você — respondeu

Abri um sorriso que foi de orelha a orelha

— Então nós estamos namorando? — perguntei

— Eu não fui pedido em namoro — brincou Jake

— Jura? — falei erguendo uma sobrancelha — Poxa, que pena.

Jake sabia ler o que se passava em meu olhar

— O que exatamente você está pensando? — perguntou ele

— Bem, você me chamou para ir a sua casa, não?! Pois então, vou lá para jantar — avisei — Eu vou pra casa e mais a noite eu volto

— O que você tá tramando, Spencer?

Dei uma gargalhada

— Você vai ver, talvez antes do jantar

— Se você quiser ir pro meu quarto depois da janta você vai ser a sobremesa — disse Jake com maldade

Me aproximei como se fosse beija-lo, mas quando Jake tentou me beijar eu me afastei e sai correndo

— Até à noite! — gritei