Niffie abraçou os seus joelhos cobertos pelo lençol que envolvia seu corpo para que pudesse apoiar sua bochecha neles enquanto observava Meridius vestindo suas roupas. Ela poderia se considerar infeliz por ter que ver tal corpo ser escondido por tantos tecidos, mas essa palavra já não fazia mais parte do seu vocabulário, pelo menos não agora.

Seu arcanjo pertencia a ela e nada poderia deixá-la infeliz. Nem mesmo a realidade que a esperava fora daquele quarto.

— Outro corpo foi encontrado com a sua essência.— Meridius falou de maneira sombria enquanto fechava os botões da sua camisa.— Dimitrius o encontrou.—

Niffie levantou sua cabeça, mesmo que não se considerasse como uma assassina, alguém podia estar controlando o seu corpo. E esse tipo de poder incluía mortes.

O arcanjo do paraíso parou o que estava fazendo para encontrar os olhos dela.

— Você estava com Lukan quando isso aconteceu. Na verdade, você não ficou sozinha em nenhum momento nesse dia.—
— Então minhas mãos não mataram ninguém?—
— Não nesse caso.—

Duas mortes haviam ocorrido e em ambas o cheiro de Niffie estava sobre o corpo das vitimas, saber que em um deles ela não era culpada, apenas fazia com que seu coração ficasse mais calmo. A angelical não se imaginava matando ninguém, muito menos conseguia imaginar alguém praticando vodoo para controlá-la e agir de tal maneira.

— Tudo esta tão bem escondido para que não exista respostas?— Niffie perguntou, pois Meridius ainda desconfiava de Victoria, mas nada apontava para ela. Simplesmente nada.
— Diane me falou algo intrigante quando a encontrei.— O arcanjo do paraíso se concentrou novamente em suas roupas.— Ela disse que a magia do demônio está evoluindo.—
— Como qualquer outra criação.— Ela murmuriou.
— Exatamente. Uma criação não tão perfeita como os poderes dos arcanjos, mas ainda assim inteligente para se igualar a nós.—
— O que você fara com Victoria agora?— Niffie perguntou já que não tinha nenhuma intenção de largar Meridius nas garras daquela loira invejosa.— Eu posso expulsá-la do castelo?—

Meridius sorriu.

— Isso seria interessante.— Ele falou.— Mas não queremos irritar a pessoa que talvez esteja controlando sua alma.—
— Não queremos? Isso é uma pena.—

O arcanjo do paraíso se virou em direção de Niffie e se moveu até que estivesse próximo o suficiente para que seus lábios tocassem a testa dela. Após beijá-la, Meridius segurou o rosto da angelical para que seus olhos claros encontrassem os dele.

— Eu prometo que a farei sofrer quando sua vida não estiver mais em risco.— O anjo falou e Niffie se sentiu um pouquinho feliz por tais palavras, mesmo que não fosse tão amadora da violência. No entanto, ela não podia esperar menos de um arcanjo enfurecido.— Hoje eu encontrarei Gaia para que os anciões fiquem cientes de que a ameaça deles não existe mais e depois eu farei tudo o que posso para me livrar dessa marca em seu pulso.—

— Eu ficarei com Ailee durante esse tempo, pois não desejo criar problemas.—
— Ótimo.— Meridius sussurrou.— Eu a quero longe de Victoria... Ou nós teremos uma briga para decidir quem irá matá-la.— O anjo brincou.

Niffie se afastou do seu arcanjo para se levantar e vestir suas roupas que estavam espalhadas ao redor da cama.

— Eu ouvi alguns boatos desagradáveis sobre Dimitrius.— Ela disse quando o silêncio caiu entre eles e também para evitar o momento em que ambos teriam que sair daquele quarto.
— Isso não é uma novidade—
— Eu sei. Os imortais sempre gostaram de falar coisas maldosas sobre ele.—
— Sobre ele e sobre todos também.— O arcanjo foi irônico.
— Eu ouvi que Dimitrius foi visto com Gaia e ela estava machucada.— Niffie falou exatamente o que Alyx disse no dia anterior.— A raça pura está dizendo que Dimitrius a machucou.—
— Ele pode odiá-la por ser uma informante dos anciões, mas não faria nada para machucar alguém tão inocente como ela.—
— Eu não consigo imaginar que Dimitrius faria algum mal a ela também, mas... Ele se tornou tão distante depois de Diane, Meridius. A diversão que existe nos olhos dele não é mais sincera, é apenas algo que faz parte do seu cotidiano.—
— Todos tem os seus próprios demonios, Niffie. E nós não podemos nos intrometer quando não existe um pedido de ajuda.—
— Eu não quero que Dimitrius se torne como Maximus.— Ela sussurrou.— Para Dimitrius não existira nenhuma Ellylan que salvará sua alma do pesadelo.—
— Ele não imagina a sorte que tem por não encontrar alguém como Ellylan.— O arcanjo murmuriou de forma sarcastica.
— Hey!— Niffie o repreendeu.— Ellylan já faz parte da família e carrega em seu ventre um futuro arcanjo.—
— Para alguma coisa aquela humana rebelde tinha que servir.—
— Meridius...—
— Ainda é muito cedo para julgar qualquer coisa sobre Dimitrius.— Meridius voltou para o assunto principal daquela conversa.— Ele era o mais próximo de Diane e tem o direito de sofrer por causa da traição dela.—

Niffie sabia disso, havia se passado apenas alguns meses desde o dia que Diane revelou a sua loucura e considerando o tempo de vida de todos eles, esses meses podiam ser comparados com apenas alguns dias. Ela tinha que entender isso, mesmo que fosse realmente triste saber que o antigo espirito de Dimitrius já não estava mais vivo.

Nos olhos do arcanjo da humanidade, Niffie podia ver um homem sem esperanças, as brincadeiras e sua bondade ainda podiam existir, mas a esperança já estava morta.

— Ele ficará bem, Niffie.— Meridius garantiu.— Dimitrius não irá cair. Maximus e eu não deixaremos que isso ocorra.—
— Eu sei.—

Niffie sorriu e tentou fazer sua mente entender que Dimitrius apenas estava agindo como qualquer outro arcanjo que acreditava que demonstração de emoções era algo perigoso.

— Vamos.— Meridius estendeu sua mão em direção dela.— Nós temos que encarar nossos demônios também.—