Abdication escrita por oakenshield


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

O penúltimo capítulo finalmente chegou! Me perdoem pela demora, a faculdade estava ocupando todo o meu tempo, mas pretendo terminar as duas fics ainda nas férias. Obrigada pela compreensão. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/514685/chapter/37

Valentina espera dentro do carro com Jessica de forma impaciente. Ela bate com os dedos no volante e a loira suspira do seu lado.  

— Não seja assim. 

Ela a encara. 

— Desesperada – Jessica completa. - Você não é assim. Tenha calma. 

Assim que termina de falar isso, uma caminhonete preta chega ao terreno baldio. Uma loira já na faixa dos seus cinquenta anos desce da parte de trás. Suas roupas são simples: um jeans surrado e uma camisa gola V branca. Há um leão dourado no seu pingente no pescoço.  

— De onde você tirou isso? - ela rosna. 

Veronica Herzog sorri. 

 - Lindo, não é mesmo? Roubei de você, querida irmã. 

Valentina respira fundo. As lembranças daquele pingente a atingiram como uma onda forte.  

Vinte anos atrás, o jovem Kurt Archiberz, filho do rei Caine e da rainha Giulietta, casou-se com Harriet. Dessa forma, assumiu o trono. Com o objetivo de conhecer o reino, ele e a esposa saíram da capital com sua corte decididos a conhecer cada canto do país Frömming.  

Quando chegaram em Meurer, Kurt mostrou que a viagem não era apenas para conhecimento do território, mas para estar ciente do poderio de cada região. Dessa forma, estando na maior cidade do Norte, a maior produtora de armas do país, ele não podia deixar de conhecer a fábrica de artilharia pesada, onde Valentina trabalhava. 

Eles tinham quase a mesma idade. Ele era um pouco mais velho. Harriet não se interessava por armas, fazia campanhas em prol da paz mundial e outras coisas. Por isso apenas Kurt vinha as visitas na fábrica. Muitas visitas. E ele sempre fez questão de ser recepcionado pela jovem Valentina, a qual o ruivo dizia que era muito astuta, pois não se dobrava a todas as suas vontades por ser rei, mas respondia tudo que ele questionava com sinceridade. 

— Acho irônico Harriet fazer campanhas sobre o pacifismo enquanto há uma fábrica de armas em cada cidade principal de cada estado no nosso país - ela respondeu quando ele a questionou sobre o assunto. 

O tempo das visitas passou rápido. Foram apenas algums semanas, pois Kurt visitava as cidades menores e voltava para a "capital do norte" pela noite, mas eles criaram uma grande intimidade. Estava na hora de Kurt partir. Em sua última noite em Meurer, Kurt ficou curioso sobre as doenças que atingiam a cidade e pediu para Valentina levá-lo ao laboratório, pois ela mencionou que lá trabalhava sua irmã e seu namorado. 

Callum e Veronica recepcionaram o rei ao lado de Valentina, mostraram os laboratórios e onde era estudado exaustivamente uma solução mais definitiva para o vírus que atingia a população. 

— Seu namorado parece ser uma boa pessoa – Kurt comentou quando eles deixavam o laboratório. Já estava escurecendo e ele dispensou os guardas e fez questão de deixá-la em casa. 

— Ele é - ela respondeu com voz baixa. Gostava de Callum, um cara inteligente, loiro e com olhos azuis, com um futuro promissor e de família abastada. Não sabia o que ele tinha visto nela: baixa, cabelos escuros na altura dos ombros, magricela e pálida, enquanto seus olhos pareciam o vazio de um buraco negro. Nunca viu muita graça em si mesma, não sabia o que os homens viam. Callum e, logo em seguida, Kurt. 

— Você não parece muito animada – o ruivo comenta. 

— É aqui – ela falou, apontando para a casa. 

— Você o ama? - ele ignorou o fato de que eles já haviam chegado e ela precisava entrar antes que sua mãe a visse ali. Ela a mataria. 

— Você ama a sua esposa? - ela devolve a pergunta. 

Ele respira fundo. 

— Não podemos ir pra outro lugar? 

Ela se lembra então de uma cabana que ela e sua irmã Veronica tinham achado algum tempo atrás logo perto do lago. Eles caminharam em silêncio até lá. Era perto.  

— Vai responder minha pergunta? - ele insistiu. 

— Você primeiro. 

Ele respira fundo. 

— Eu achei que amava. Tinha certeza disso. Mas descobri algumas coisas e... - ele não continuou. 

— Que coisas? 

Ele não respondeu. 

— Desculpe – ela pede. - Sei que é pessoal. Não deveria estar me metendo. 

— Não é isso – ele sorri, desajeitado. - Harriet está grávida. 

Valentina fica surpresa. Eles ainda não haviam anunciado ao mundo a vinda do herdeiro. Ela era a primeira a saber. 

— Só que... - ele respira fundo. - Eu confio em você, Valentina, por mais que só tenha passado quatro semanas desde que vim para Meurer e que estamos nos vendo. É por isso que vou te contar essas coisas e espero que você não conte para mais ninguém. 

Ela assente. 

— Eu descobri que ela namorava meu irmão antes de nos casarmos. Em casamentos arranjados, é natural que a gente conheça e esteja com outras pessoas até no dia anterior do casamento, mas... meu irmão - Kurt suspira. 

— Deve ter sido difícil. 

— Como eu posso confiar que esse filho é meu? - ele parece em conflito. - Eu vou assumir uma criança que não é minha pra não criar escândalo? 

Ele parece que vai desabar a qualquer momento, por isso Valentina toca o seu rosto em um ato de instinto. 

— Você é o rei do país mais importante, grande e rico do nosso continente. Tem obrigações com o seu povo e vai se mostrar um ótimo líder. E ótimos líderes precisam de herdeiros para manter o seu ideal quando partirem. 

Ele levanta os olhos e a encara. 

— Por que eu não a conheci antes? - Valentina não sabia se Kurt falava dela ou de Harriet, mas antes que pudesse pensar, ele e a beijou. 

E a única noite que eles passaram juntos resultou, nove meses depois, em Melanie. 

Naquela noite, Kurt entregou a Valentina um colar com um pingente de um leão dourado. 

— Provavelmente nunca mais vamos nos ver – ele disse aquela noite –, mas eu quero que se lembre de mim. 

Ela sorri para ele, ambos ainda sem roupa. 

— Kurt Archiberz, eu jamais vou te esquecer. 

A lembrança se dissolve em segundos. Veronica está parada na sua frente com uma porta levantada no chão. Um esconderijo subterrâneo. 

— Você quer salvar a sua filha ou não? 

+++ 

Quase quatro meses depois de ir para a casa de Vincent, Melanie mal consegue ficar de pé. A barriga pesa. Pelo menos, o Senhor de Meurer deixava Andrew visitá-la. Ela jamais perguntou sobre Josh, pois sabia que Vincent a monitorava. Além disso, escutava burburinhos pela casa e ficou sabendo que após a noite na cabana, ele havia sido enviado para batalha no front sem retorno definido.  

— Eu quero que você seja o padrinho, Drew – ela convida, sorrindo. - Você e Bea.  

Ele abre um grande sorriso. 

— Eu aceito com grande prazer. 

Ele para de sorrir e a encara. 

— E pela parte do pai? 

Ela para de sorrir também. Sabia que deveria ser Josh ali escolhendo os padrinhos por parte do pai, não Vincent. 

— Ele disse que queria um casal de amigos, não sei quem são. Um duque e uma duquesa, algo assim. 

Drew suspira. 

— Sinto muito por você. 

Ela sorri tristemente. 

— Está tudo bem. 

Kimberly desce as escadas e começa suas provocações, como sempre. Chamando Melanie de vagabunda e coisas do tipo. Ela já nem liga mais, mas Andrew parece ofendido e defende a amiga. 

— Se está se sentindo incomodado, pode se retirar da minha casa – Kimberly fala, sorrindo – Isso aqui costumava ser uma casa de família, não uma zona onde circula prostitutas e quem as paga. 

Com tanta incomodação, Melanie sente sua bolsa estourar. Ela não sabia o sexo do bebê, preferiu que fosse surpresa. Drew a conduziu até o carro e o motorista de Vincent os levou ao hospital. A dor era insuportável. Melanie olhava para o céu, já era noite, a lua grande e cheia a acalmava em meio ao turbilhão de agulhadas que sentia. 

Por algum motivo que ela desconhecia, Vincent solicitou que o parto fosse por cesariana. Dessa forma, Melanie foi sedada. Após o parto, ela pode segurar seu bebê nos braços. Uma menina. 

— Luna – ela sussurrou, lembrando da lua que a acalmou a caminho do hospital. Dentro do quarto, ela viu Vincent. Ele sorria com lágrimas nos olhos. O sedativo parecia forte demais para ela resistir acordada, então passou o bebê para a enfermeira. Ao olhar para o vidro fora da sala de parto, viu Drew sorrir pra ela. Seus olhos lacrimejavam de cansaço. Por um momento, viu Josh, mas sabia que era uma ilusão. Ele estava há meses no front, sequer sabia que ela esperava um filho, muito menos que era dele. 

+++ 

Melanie acorda com seus ombros sendo sacudidos. 

— Vamos – sua mãe sussurra em seu ouvido. 

— Pra onde? - ela sussurra de volta. 

— Estamos partindo. 

Ela olha para os lados. 

— E Luna? 

— Veronica está indo buscá-la. 

— Veronica Herzog? - Melanie questiona, surpresa. Desde o episódio com a cabana, nunca mais tinha a visto ou falado com ela. 

— Vamos – Valentina a força ficar de pé. Por causa da cesariana, Melanie mal consegue andar. Assim, Valentina chama um dos homens com ela para carregar a filha no colo. 

Os corredores parecem não ter fim. Ela ainda está sonolenta, mas não deixa de se sentir ansiosa por finalmente estar escapando de Vincent. 

Chegando lá fora, o homem a coloca dentro de um jipe e volta para o hospital. Sua mãe vai para o volante. 

— De onde você conhece Veronica Herzog? - Melanie pergunta. 

— Ela é minha irmã. 

A morena respira fundo. 

— Tantas mentiras... - então ela se lembra. - E Derek? Ele ainda está na casa de Vincent. 

— Nós também iremos resgatá-lo. Por enquanto, a prioridade é você, Mellie. 

— Por quê? Por que eu estava grávida? 

Veronica suspira. 

— Também. 

— Que outras mentiras você me esconde? 

Antes que possa contar, eles escutam um barulho de tiro. Momentos depois, o homem que trouxe Melanie para o carro e mais outro arrastam Veronica para outro jipe, sangue escorrendo de sua perna esquerda. 

— Ele sabia – ela berra para Valentina. - Ele sabia que viríamos. 

— Vamos – o homem grita, ligando o carro. - Eles estão vindo. Não temos chance. 

— E minha filha? - Melanie de repente desperta. - Eu não vou partir sem Luna. 

— Nós voltaremos por ela – Valentina garante. 

Melanie dá risada. 

— Eu não vou sem minha filha. 

Ela pousa a mão na maçaneta, mas Valentina tranca o carro e na parte de trás não tem como destrancar. Malditos jipes militares. 

— Nós voltaremos, Melanie. Eu te prometo. 

— Eu não acredito em uma palavra do que você diz. 

Outro tiro. Valentina pisa no acelerador e segue o outro jipe enquanto Melanie se desfaz em lágrimas no banco de trás. 

+++ 

Quando chegam no abrigo subterrâneo, Melanie é levada para a sala de controle. Lá, tem uma surpresa. Há vários rostos conhecidos: Andrew, Heather, Matthew, Savannah e até Hillary. 

— O que todo mundo faz aqui? 

Andrew se aproxima dela. 

— Nós somos recrutas Apátridas, Melanie.  

Ela franze a testa. 

— Rebeldes como Veronica? 

— Eu cuido do abrigo – a loira fala. - Sua mãe recruta os jovens em potencial para o nosso grupo. 

Ela olha para a mãe, os olhos magoados. 

— O seu pai me passou essa tarefa – Valentina conta. - Anos atrás. Apenas uma noite e você nasceu. Nunca mais nos vimos ou nos falamos, mas anos depois, chegou um holograma e... 

Ela pegou o aparelho em seu bolso. 

— Está na hora da verdade, Melanie. Isso é o que você buscava saber a vida toda. 

Sempre soube que Callum, pai de Derek, não era seu pai, mas nunca buscou saber quem era seu verdadeiro pai. Para ela, não importava. Para ela, ele havia a abandonado. 

Mas quando vê o homem no holograma, ela entende. 

— Vale... - um homem de cabelos e barba ruiva fala. Ele veste um terno preto muito elegante. Seus olhos tem um tom de verde tão escuro que parecem negros, mas é possível ver o brilho em meio ao desespero. - Ele vai me matar. Eu sei que vai. Ele descobriu que a menina é dele, que eu assumi como se fosse minha, assim como você me aconselhou. Eu amo essa menina, Vale. É minha filha. 

Apenas uma lágrima escorre pelo olho direito do ruivo. 

— E ele vai me matar – ele respira fundo e olha profundamente para a câmera. - Me vingue. 

Um estrondo na porta e o holograma é desfeito. Melanie encara a data no fim do holograma. É o dia do assassinato do rei Kurt. 

— Meu pai, ele... 

Melanie não consegue continuar. 

— Seu pai era o rei.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E esse flashback meus amigosssssss
O que acharam?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Abdication" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.