— "Isso deve ser feito... para ressurreição do Reino Nasod...”

Foram as palavras que disse para mim mesmas antes de instalar o novo código: Code Battle Seraph.

Minha nova força mudou meu corpo e levou embora meu núcleo de emoções. Em prol de um bem maior, abdiquei de todos os sentimentos coletados em minha aventura desde que despertei. Reviver minha raça, os Nasod, era o mais importante.

Porém, aqueles com que este corpo conviveu continuaram a meu lado e me tratavam como antes, mesmo que não me lembrasse e não sentisse nada por eles. Era o que pensava, mas com o tempo eu percebi que uma emoção vinha se repetindo no meu peito. Uma estranha sensação quente e aconchegante.

Isso deveria ser impossível, eu não tenho mais o que os humanos chamam de emoções, mas aquela pessoa consegue realizar anomalias aos meus circuitos. Será que meu antigo núcleo de emoções se recusava a esquecê-lo?

O simples fato de poder estar ao seu lado me deixava estranhamente feliz, quando seu rosto era delineado por um sorriso, o meu peito aquecia e estranhamente tinha a sensação que tivesse algo batendo dentro de mim. Um nervosismo inexplicável não permitia que me mantivesse por muito tempo próxima daquele humano.

Certa noite eu acessei o banco de dados de Hamel, fiquei horas lendo sobre sentimentos humanos na biblioteca da capital. Os humanos pareciam criaturas tolas e superficiais, mas com os livros eu acabei me deparando com uma intrigante descoberta. Todos os sintomas descritos nas páginas conferiam, mas eu me recusava a acreditar que havia desenvolvido tal sentimento humano. Os Nasod eram diferentes, providos de conhecimento e lógica. Minha inteligência me disse para confrontá-lo.

Sai pelas ruas de Hamel em busca do causador dos distúrbios em meu circuito. O encontrei sentado no porto observando as estrelas, enquanto o barulho calmo das ondas ecoava suavemente. Minha inteligência não entendeu aquele ato ilógico, o que me deixou mais intrigada.

— Elsword!

Assim que eu o chamei o lorde cavaleiro virou levemente a cabeça ruiva para ver quem dizia seu nome, quando me reconheceu ele abriu um sorriso cativante.

— Eve, que surpresa você por aqui. Você quer ser minha companhia? – ele perguntou gentilmente, alinhando com aquele sorriso que tanto mexia comigo.

Novamente aquelas sensações, senti meu rosto corar só em imaginar passar algumas horas a sós com o ruivo. Aquele calor tomou conta do meu peito de novo, abaixei a cabeça envergonhada. Ele não poderia me ver assim. Mas… por que me importo? Não fazia sentido. Estava tendo pensamentos ilógicos que entravam em conflito com minha racionalidade, me impossibilitando de respondê-lo adequadamente.

Foi então que senti um breve toque nos meus cabelos, um delicado cafuné sobre a minha cabeça. Levantei meu rosto e um par de olhos rubros me fitava com gentiliza, esboçando aquele sorriso bondoso. Fiquei imóvel e sem reação, tinha algo batendo acelerado e descompassado no meu peito, será que era algo relativo a um coração humano? Aquele calor envolvia meu ser de tal forma que não poderia explicar logicamente.

— Mesmo que você não se lembre. Eu vou sempre querer ser seu amigo. – ele disse mantendo o rosto bem próximo ao meu.

Uma estranha sensação de felicidade envolveu meus circuitos, aquele calor se tornou algo aconchegante no meu peito. Toda aquela bagunça, eu percebi tudo, meus olhos se abriram com tamanha surpresa, eu entre abri meus lábios para poder falar e subi lentamente minha mão.

*SLAP*

— Insolente.

Pronunciei ao esbofetear o rosto de Elsword, virando de costas para ele logo em seguida. Era tudo culpa do cavaleiro ruivo, ele provocou isso em mim. Eu percebi agora, era verdade. Eu havia desenvolvido o sentimento que os humanos chamam de “amor”.