Capitulo I:

Tobias 10 anos depois.

Já iam fazer 10 anos que morava naquele lugar. Os primeiros dias foram complicados, ele lembrava. Tentava fugir a todo custo, queria voltar para sua casa, sua cidade, não importasse o custo. Até chegou a andar alguns quilômetros em uma dessas tentativas de fuga quando tinha 11 anos, mas então escureceu e ele se perdeu. Pouco tempo depois de ter sentado na estrada, cansado e com fome, luzes de carro cegaram seus olhos e dois homens vestidos com fardas militares pretas o levantaram e o acompanharam até o carro. Ele sabia que isso acabaria acontecendo. Eles nunca desistem, nunca. Deixou-se levar simplesmente. Os dosi soldados não falaram nada daquela vez, apenas balançaram a cabeça enquanto manobravam o carro e davam meia volta. Ele ganhou um sanduíche de peru do soldado no banco do carona e voltaram até em casa. Ao chegar, David o esperava na porta, com uma cara nada amigável. Ele balançou a cabeça como um pai decepcionado. Perguntou porque ele tentava tanto fugir. Aquela era a quarta vez que fazia isso e ele mesmo já tinha chegado a conclusão que não consiguiria ir tão longe. Mas não custa tentar.O soldado de David havia dito que ele tinha conseguido se afastar por 4km antes que percebessem seu sumiço. Então, 4 virou seu número da sorte e seu apelido.

Aquela noite o deixaram de castigo e logo no outro dia o treino começou. Luta. Não se surpreendia. Não ia mais fugir, já tinha aprendido a lição. Mas um dia iria ir embora. Com certeza.Então simplesmente começou a fingir que se importava em lutar, mas até que acabou gostando. Ele já não era mais o mesmo garoto que chegou ali. Tinha crescido muito, estava forte agora,com os cabelos cortados rente como todos os soldados, os treinos ao ar livre o deixaram bronzeado também.

Ele já estava acostumado aquela casa.

Terminou seu café da manhã e botou o pote de cereal e o copo de suco na pia. Era sábado da preguiça, então estavam todos espalhados pela casa fazendo nada ou dando um passeio lá fora.

Na sala estavam a maioria dos seus amigos. Zeke e seu irmão mais novo, Uriah, jogavam videogame na televisão enorme. Totalmente concentrados. Clarisse, uma garota de cabelos pretos compridos e ondulados e olhos tão escuros que chegavam a ser pretos que fazia o estilo meio punk com roupas pretas e mechas verdes no cabelo, estava sentadas com as pernas em cima do sofá cobertas por uma malha ao lado de Marlene, que conversava com ela as vezes enquanto assistia aos garotos jogando. Shauna e sua irmã Lynn pareciam bem entediadas sentadas no chão perto das garotas jogando um jogo com os dedos, daquele que ganha quem apertar o dedão do outro primeiro.

–Ei, não vão fazer nada ?-pergunto quando me sento ao lado de Zeke e tento atrapalha-lo no jogo.

Clarisse me olha com uma sobrancelha levantada.

–hoje é sábado da preguiça. Esqueceu, cabeção? Não vamos fazer nada mesmo.

–Vocês são muito chatos.-bufo.

–Valeu aí, amigo.-disse Shauna.

–Shauna, lembra do que eu falei sobre nosso amigo Quatro aqui?-pergunta Clarisse.

–O que?depende.

–Que ele é irritante pra cacete.-diz e me atira uma almofada na cabeça.

–Autch.-reclamo.-Você é tão educada, dear.

é uma péssima imitação dela, eu sei, mas ela sempre chama as pessoas de 'dear'. E eu recebo um dedo do meio como resposta.

–Legal. Valeu.

Desisto de falar por um tempo. Meia hora depois, eu já estou cansado de todo esse tédio mútuo. Abro a boca para falar, mas antes que eu consiga falar alguma coisa a campainha toca.