O plano estava feito.

Era noite de terça-feira. Damon disse que estaria de folga.

Então eu e Caroline faríamos uma pequena visitinha no Boo, o restaurante em que ele trabalha.

Peguei um pouco de dinheiro das minhas economias e comprei uma peruca loira. Caroline me emprestou seu salto 15 e umas roupas bem provocativas.

Eu não gostei muito da última parte.

Era isso. Eu ia chegar lá, fazer umas perguntas da minha listinha para o barman e cair fora.

Damon não era da cidade e ficava quase impossível saber muitas coisas sobre ele.

Cheguei no restaurante e vi o tio dele, mas nem sinal do Damon.

Ótimo.

O ambiente era grande, mas realmente não era dos melhores.

Muitos homens barbudos, com olhos vermelhos de tão bêbados, cheiro de cigarros, mesas de sinuca, algumas mesas com homens jogando cartas, outros com dominó, mas mais para o fundo havia algumas pessoas comendo.

Caroline e eu resolvemos nos sentar e pedir apenas um suco de laranja para cada uma.

Depois que fizemos os pedidos perguntei a um garçom onde ficava o banheiro e coloquei meu plano em ação.

Quando me olhei no espelho do banheiro feminino quase não me reconheci.

Minha peruca não era tão bonita, mas servia pra alguma coisa. Eu estava com uma blusa bege, com formato de regata, mas era bem soltinha e eu colocava a barra por dentro da saia preta que era bem apertada e bem curta. Meu sapato, ou melhor, o sapato da Caroline era preto também, como uma botinha. Eu me sentia bonita mas realmente vulgar. Não fazia o meu estilo.

Fiz uma maquiagem bem chamativa e fui em direção ao balcão.

O barman era baixinho, com cabelos castanhos, olhos cor de mel e redondos.

Seus olhos imediatamente se direcionaram para meus seios e eu tentei não revirar o olhos.

Eu dei o sorriso mais sexy que consegui e me inclinei sobre o balcão para os meus seios ficarem ainda maiores.

— Como posso ajudar essa loira tão linda? Aceita uma bebida?

— Claro. — Dei uma piscadinha.

Eu peguei minha listinha e deixei por baixo do balcão para que ele não visse.

Minha mão estava suando bastante.

— Então...Aquele carinha ali, — Apontei para o tio de Damon. — É o dono do bar, né?

— Sim. — O homem colocou a bebida em minha frente

Ignorei a bebida e decidi continuar com minhas perguntas.

— Ele tem um sobrinho chamado Damon, certo? — Eu perguntava como quem não queria nada.

O barman não pareceu gostar muito do rumo que a conversa está tomando.

— Sim — Ele respondeu entre dentes. Seu sorriso sedutor não estava mais ali. E ainda assim decidi ignorar.

— Bom, eu conheço o Damon. As vezes ele costuma ser bem estranho. — Disse fazendo uma careta. — Sabe algo suspeito sobre ele? — Joguei meus cabelos falsos para o lado e passei a língua pelos lábios. Mas não adiantou muito.

— O que você quer aqui, delicinha? — Ele me lançou um olhar malicioso que me enojou. — Se você quiser me encontrar mais tarde, tudo bem. Mas com certeza nós não vamos falar sobre homens, vamos fazer coisas bem mais interessantes. — Ele enfatiza bem a palavra “fazer”.

Eu decidi beber um pouco do suco que ele colocou na minha frente tentando achar uma saída quando olhei para o lado e engasguei com o líquido na minha boca. Eu tentei disfarçar mas não conseguia parar de tossir.

Não tinha jeito, ele já tinha me visto.

Eu só esperava que eu não soubesse quem eu realmente era.

Comecei a andar em direção ao banheiro.

O barman ainda falava mas eu continuei andando até parar em frente o lavatório e molhar um pouco o rosto.

Mas quando eu levantei a cabeça e olhei no espelho, o Damon estava atrás de mim. No banheiro feminino!

É claro que ele tinha me reconhecido.

— Meu Deus! Você me assustou. — Eu disse com uma mão no coração, realmente assustada.

— O que você está fazendo aqui? — Ele disse com os olhos semicerrados. Oh-oh. Damon não parecia muito feliz.

— Nada demais. Vim com Caroline tomar e comer alguma coisa.

— E essa peruca ridícula faz parte do look que ela te indicou? — Damon parecia estar se esforçando para não rir.

Eu arranco a peruca com raiva.

— Isso não é da sua conta. — Me esforcei para falar enquanto me abaixava para tirar os sapatos, mas a listinha de perguntas que eu tinha colocado entre meios seios a caminho do banheiro, caiu.

Damon rapidamente se abaixou e pegou antes que eu conseguisse ficar em pé em apenas um salto alto.

Ele começou a ler e eu me sentia corar.

— Damon costuma ser agressivo? — Ele falava com um sorriso no rosto. E eu queria arrancá-lo. — Damon tem antecedentes criminais?

— Me dá isso, agora! — Eu tentava tirar o papel das mãos dele, mas ele ergueu o braço e eu não conseguia nem mesmo me equilibrar com um único pé calçado, quanto mais alcançar o papel.

E então ele soltou uma gargalhada.

— Damon tem alguma namorada? — ele disse e então olhou para mim. — Era só me perguntar, amor. — Ele levantou uma sobrancelha como se ele estivesse esperando que eu perguntasse.

E ele estava.

Fingi total desinteresse em fazer essa pergunta, mas ele me fitava profundamente. E ele não ia desistir.

— E a resposta é....? — Falei com voz de tédio.

Damon em um segundo estava muito próximo de mim. Seus lábios perto de minha orelha.

Então ele falou com uma voz extremamente sedutora:

— Não mais. Estou totalmente livre pra você.

—E quem disse que eu...

Antes de conseguir terminar minha frase, ele encostou seu rosto no meu, com sua barba por fazer me deixando com cócegas. E animada.

Damon rapidamente deixou um beijo no meu rosto e se dirigia a porta quando repentinamente parou.

— E a propósito, amor, belas pernas.

E saiu.

Tinha uma senhora que aparentava ter seus 55 anos, com alguns fios brancos de cabelo, parada do lado de fora do banheiro.

Ela parecia impressionada com a beleza do rapaz que acabara de sair do banheiro feminino. Eu não podia esperar menos.

— Minha querida, — ela disse com a voz suave. — Se você não quiser, eu quero. — E assim ela soltou uma risada muito engraçada que me fez rir com nervosismo e um pouco de vergonha.

E o pior de tudo é que eu me sentia muito atraída pelo Damon.

Eu me recusava a acreditar que o cara que eu tanto queria poderia ter tirado a vida do meu pai.

Eu ainda não tinha provas concretas, certo?

Mas isso ainda não acabou. Está bem longe disso.