A verdade foi dita. Finalmente, tudo tinha acabado. Eu não teria conseguido segurar aquilo só para mim por tanto tempo, e acabou que deu nisso. Agora Rose sabia que o namoro perfeito dela com Scorpius Malfoy não era tão perfeito assim; agora ela sabia que nós havíamos nos beijado no baile de inverno, e que todo aquele ato feito sem pensar, tinha terminado com a virgindade de sua querida prima sendo concebida ao seu amado namorado. Pode parecer que eu sou a errada na história; eu posso até ser a errada na história, mas se passaram três meses desde o ocorrido e eu não me senti culpada em nenhum segundo sequer. Eu fui injusta com Rose?Talvez, mas ela teve o que mereceu. Sempre na família ela foi a mais idolatrada e elogiada por ser inteligente e habilidosa, e enquanto a mim? Bem, eu fico com o que é considerado “resto”. Eu não conseguiria contar nos dedos todas as vezes que mamãe e papai disseram “Você deveria ser mais como a sua prima. Ela é monitora, sempre faz o dever de casa e tem ótimas notas. Tente melhorar, querida”. Era sempre ELA, por que agora não poderia ser a minha vez de ter o que sempre quis? Me lembro exatamente como foi a minha chegada a Hogwarts. Todas aquelas coisas novas, pessoas novas... mas tinha uma em especial. Scorpius Malfoy. Ele era alguns anos mais velho do que eu, mas isso não importava. Quando o vi, senti aquilo que as pessoas chamam de “paixão à primeira vista” ou algo assim, e pude notar que ele seria o namorado perfeito pra mim. Além do fato de ele ser extremamente gostoso e bonito, era notável o modo com que ele tratava as pessoas; ele era diferente. Os Malfoy não tem uma fama muito boa, mas, definitivamente, Scorpius poderia mudar tudo aquilo. Foi aí que a ficha caiu: Não era muito bom pra ser verdade¿” Pois aí está a resposta: ela. De novo. Era evidente que a srta. Perfeita teria como o namorado o Sr. Perfeito.

Depois de cinco anos observando secretamente o garoto que eu sempre quis, percebi que havia algo errado. Scorpius não amava Lily. Ele fingia para poder ter privilégios especiais na monitoria para os seus amigos do time de Quadribol. Tudo estava mais claro do que água. Era esse o motivo pra que ele fizesse uma expressão de estar chupando limão enquanto a beijava em público; o motivo de sempre que estar com ela, seus “amigos” zombassem e começassem a ofendê-la. E ele não a defendia. Não queira saber como fiquei ciente de tudo isso, tenho alguns amigos que gostam de xeretar na vida dos outros, e no fim acabam descobrindo realmente tudo. Bem, não “tudo”. Quando descobri a grande farsa do casalzinho perfeito de Hogwarts, comecei a pensar num jeito de usar isso à meu favor. Uma grifinória e um sonserino. Uma mestiça e um sangue-puro. Eles tinham gostos diferentes, amigos diferentes, casas diferentes, tudo diferente. Ela gostava dele, ele não. Eu só precisava saber o que eu e ele tínhamos em comum. Era óbvio. Por mais que Rose fosse a melhor nas matérias praticadas em sala, eu era melhor nas práticas, assim como Quadribol. E Scorpius também. Tudo se encaixava perfeitamente, eu fingi uma torção no pé para que ele pudesse passar um tempo comigo ao me ajudar com o gelo, e foi aí que começou. Nós viramos amigos. Melhores amigos, aliás, eu contava tudo pra ele, e ele pra mim. Até o dia do baile. Rose ficou nervosa com algumas coisas que deram errado na decoração, e acabou descontando em mim. Scorpius, como meu melhor amigo, interviu e me defendeu. A chamou de “estressada”. Depois disso, só me lembro de pessoas gritando e botando pilha na discussão que acabara de acontecer. Pra finalizar, Rose lhe deu um tapa no rosto. Minha reação não foi das melhores, não só porque eu o amava em segredo, mas também porque ele era meu amigo. Acabei tomando frente de Scorpius e a empurrei contra a mesa onde estavam os comes e bebes da festa. Não posso dizer que tudo acabou bem, certo? Errado. Foi uma das melhores noites da minha vida. Eu finalmente tinha descontado minha raiva de todos aqueles anos acumulados na princesinha da família, e, pra finalizar, Scorpius tinha algo a me dizer.

“Lils, preciso de você. Me encontre na Sala Precisa daqui cinco minutos.” saiu praticamente como um sussurro, o que, afinal, já havia me deixado com uma ideia do iria acontecer dali pra frente.

Eu não estava errada. Acabou que eu perdi minha virgindade com Scorpius Malfoy, o namorado da minha prima.

Agora, três meses depois, eu resolvi contar a ela o que eu e seu namorado tínhamos feito por suas costas. Ela chorou, quase me bateu, quebrou um vidro de perfumes, e, pra terminar, disse que ligaria para os meus pais e contaria que eu dormi com o inimigo. Foi engraçado ver Rose dizendo esse tipo de coisa, levando em consideração que ele é, hm, ou era, o namorado dela.

Bem, eu estava feliz por poder ter me livrado desse cansaço que era guardar um segredo desse. Eu tive uma chance de magoa-la, e finalmente consegui. Merecia uma comemoração, não é¿ Minutos depois de revelar à Rose, mandei um primeiranista levar um recado para Scorpius vir até o meu quarto depois das dez.

Eu não parava de checar o relógio. Eram exatas nove horas e quarenta e cinco minutos, quando ouvi três batidas na minha porta. É claro que eu esperava por Scorpius, mas me surpreendi quando tive a visão de uma garota ruiva, com os cabelos desgrenhados e as vestes amassadas em minha frente. Por incrível que pareça, era Rose.

“Mas que diabos você tá fazendo desse jeito¿” perguntei confusa, examinando-a de cima a baixo.

“Relaxa, priminhaa!” ela não perguntou se podia entrar ou não, como era de costume, simplesmente passou por mim, empurrando a porta e se jogando em minha cama. Eu podia reconhecer o cheiro que estava praticamente impregnado em sua roupa. Bebida.

“Você andou bebendo?” Rose Weasley era a ultima pessoa que eu poderia imaginar bêbada por aí. Me aproximei e sentei-me na cama, tentando chegar mais perto dela e sentir melhor seu cheiro, para tentar reconhecer se ao menos ela ainda estava sóbria o suficiente pra voltar para o seu dormitório e dormir. Ela estava precisando. “Agora não é uma boa hora pra você ficar aqui, ok?” disse séria. “Eu vou me encontrar com um amigo e...” não pude concluir minha frase. Antes que eu começasse a deixar o som sair de minha boca, Rose a tampou com sua mão – que cheirava a álcool – e me fez ficar calada. Foi então que começou:

“Não me venha com essas merdas que você sempre diz, Potter” ela riu “Eu tô cansada de ser toda certinha, será que se eu começar a ser como você o Scorpius vai querer transar comigo também?” Rose tirou a mão de minha boca e jogou o corpo pra trás, fazendo-a cair novamente em minha cama, porém, agora com os pés no meu colo. “Eu sempre percebi que ele preferia as ruivas!” Do que ela estava falando? A cor do cabelo dela era mais ruiva que o do meu! “Eu não te culpo por isso, Lils” ela negava com a cabeça de forma desajeitada, deixando transparecer sinais fortes de que teria uma ressaca no dia seguinte “Você é mais bonita. Não se importa pro que as pessoas dizem... Deve ser por isso que ele escolheu transar com você. Porque você é fácil e não se prende à ninguém que queira compromisso.” ela riu novamente “E ele não quer!” sua risada ecoou pelo meu quarto inteiro, e eu já estava começando a sentir que iria chorar. Ela estava bêbada, falando besteiras, mas estava certa. Mesmo demonstrando querer algo mais comigo quando nos tornávamos amigos, ele nunca foi fiel a Rose. Por que comigo seria diferente? Era isso que ela pensava de mim. Eu era só mais uma vagabunda típica que costuma roubar o namorado das amigas. Nesse caso, primas.

“Você me surpreendeu, Lils” seus pés se mexiam inquietamente sobre minhas pernas, eu podia sentir que ela não estava bem “Eu sempre te achei uma vadia, mas NUNCA pensei que fosse chegar ao ponto de querer o namorado da garota que te considerava melhor amiga” minha respiração parou. Eu havia escutado direito? Melhor amiga? Rose me considerava melhor amiga dela? Com certeza essa parte era apenas bobagens ditas pelo efeito da bebida. “Pode não acreditar, ‘prima’” Rose falou com a voz sobressaltada “mas eu não tenho amigos aqui. Não! Só tenho o Scorpius e você” sua risada novamente chegou aos meus ouvidos, só que agora com menos humor e mais sinceridade.

Em todo esse tempo, eu notava as pequenas coisas para conseguir derrubá-la, enquanto ela estava só tentando ser minha melhor amiga. Posso dizer que não é uma das melhores sensações. Seu coração bate forte, suas mãos tremem, seu corpo fica gelado ao extremo... e sabe qual é o pior? Sua consciência.

Rose não demorou muito pra tomar forças e se levantar da minha cama, ela até que foi rápida.

Mais uma vez: ela saiu por cima. Mesmo bêbada e sem o garoto que tanto queria.

“Só pra constar, Lils” ela se apoiou em minha cômoda e tornou o olhar para mim, que ainda estava sentada e tentando não chorar “Ficar com o Scorpius não te faz melhor do que eu.” ela piscou algumas vezes e se dirigiu à porta. “Ele vai te largar e voltar pra mim, como ele faz com todas as garotas que são usadas pra satisfazer suas vontades sexuais.” e, depois de me fazer sentir um lixo outra vez, ela saiu mancando do meu quarto.

Minha vontade certamente foi de fazer como ela e me jogar na cama, só que nessa versão, eu iria chorar até meus olhos ficarem ressecados. Esse era o planejado. O que mais eu podia fazer? A traição já havia sido feita, e eu não podia consertar isso. Mas é claro que..

“Recebi seu recado” meus pensamentos foram totalmente interrompidos ao ver Scorpius encostado em minha porta entreaberta, com aquele sorriso encantador que só ele sabia como fazer. Foi aí que eu me toquei. Não havia absolutamente NADA a ser feito. Se já estávamos errados, por que não errar um pouco mais?

Dei um pulo da cama e me direcionei à ele, parando apenas alguns metros de distância. Ficamos nos encarando calados por alguns minutos. Foi aí que eu quebrei o silêncio:

“Pensei que você nunca viria” cheguei meu corpo mais perto do dele e mordi o lábio inferior. Scorpius sabia que era um sinal. Quando se tratava de nós dois, tudo tinha um significado. E esse podia ser considerado o sinal de partida para que nós dois pudéssemos começar a nos envolver um pouco mais do que deveríamos.

Sem nem hesitar, Scorpius puxou-me pela cintura e selou nossos lábios com fervor, começando um beijo intenso, porém confortante. Era estranho o jeito como tudo parecia desaparecer quando eu estava nos braços dele. Todas as coisas ruins, todos os pensamentos negativos. Tudo. Scorpius era como um porto seguro pra mim. E eu não podia perde-lo.

“Venha” falei ofegante entre o beijo. Do mesmo modo como ele me segurava pela cintura, eu o segurava pela nuca. A concentração em nossos lábios se tornava cada vez mais perigosa; cada vez mais ousada e insinuante. O guiei até minha cama – a mesma cama que alguns minutos atrás, Rose estava deitada me culpando por ter perdido o namorado. Mas isso não importava mais, o que importava agora é que eu tinha Scorpius do meu lado, e nada mudaria isso.

Nossos corpos se deitaram em conjunto, um do lado do outro. Suas mãos percorriam pela minha cintura. Ele conhecia cada parte do meu corpo, cada fraqueza, e a cada ponto que eu me sentia mais intima. Talvez fosse por isso que nos dávamos tão bem juntos. Ele me conhecia como ninguém, e isso era recíproco. Amá-lo era como se sentir livre de todos os problemas; amá-lo era como sentir que sempre teria alguém para te ajudar nos momentos mais difíceis e nos mais fáceis de se conviver. Eu não teria palavras para descrever o quanto eu amo Scorpius Hyperion Malfoy e como ele fazia eu me sentir bem comigo mesma.

A cada segundo eu podia sentir a paixão que ele tinha dentro de si, podia sentir que ele era perfeito pra mim. Foi então quando deitei minha cabeça para Scorp distribuir beijos pelo meu pescoço, em um dos travesseiros em que Rose acabara de deitar, que pude sentir o cheiro do álcool. Agora era ali que estava impregnado o cheiro que a lembraria das palavras cruéis de minha prima.

“Scorpius.” sussurrei com dificuldade. Era extremamente difícil tentar não se sentir atraída por Scorpius Malfoy. Ele não tinha escutado. Ou então, fingido que não. “Scorpius.” repeti, porém com mais firmeza.

“Eu fiz algo errado?” ele parecia confuso. Scorp se afastou, mas ainda com as mãos em minha cintura. “Desculpe.”

Respirei fundo.

“Eu não quero ser usada” agora eu não poderia mais segurar. Sem eu perceber, aos poucos, pequenas lágrimas se formavam e, logo caíram sobre minha pele.

“Do que você está falando, Lily?” ele parecia ainda mais confuso, tanto é que se soltou de minha cintura. Era isso, não era? Lily estava certa. Ele iria me largar.

“Eu andei pensando, e...” limpei algumas lágrimas e virei meu rosto para encara-lo. Scorpius era tão lindo... Eu podia sentir meu coração fazendo força pra sair do peito. “Nós não devemos mais nos encontrar, Scorp. Não assim.” ajeitei o cabelo e me levantei da cama. Rose adoraria me ver nessa situação. Sua prima fracassada dando um fora em seu ex-namorado galinha. Ótimo.

Scorpius deu um salto da cama e foi até onde eu estava. Ele simplesmente ficou parado me olhando. Mesma situação de quando ele acabara de chegar.

“Eu não estou usando você, Lily.” ele se aproximou e tocou meu ombro. “Eu nunca faria isso com você.”

“Mesmo?” disse com as lágrimas caindo sobre o rosto “Porque você já ficou com praticamente todas as garotas dessa escola, e Rose... Ah! Rose. Ela provavelmente vai te odiar pela eternidade se você continuar falando comigo.” relaxei os ombros e suspirei. Era difícil dizer tudo aquilo para ele. Scorpius acima de tudo, era meu amigo.

“Não importa com quantas garotas eu fiquei.” Scorp entortou a cabeça para poder olhar diretamente meu rosto. “Eu só quero uma. E posso te garantir que não é uma chamada Rose Weasley.”

“Uau.” ri sem humor “Você acha que eu realmente vou acreditar, Scorpius?” falei decidida. Eu não podia aturar mais ser usada, por mais que eu o amasse. “Você.” apontei o dedo em seu peito “Dorme com uma garota a cada noite escondido da sua namorada, e quer que eu” o empurrei com o dedo até a beira de minha cama “acredite que você conseguiria ficar só com uma? Que grande piada!” deixei mais lágrimas caírem e esforcei a voz para que pudesse continuar “Eu amo você, Scorpius Malfoy. Eu não pediria para que você parasse de insistir se não fosse realmente necessário e importante pra mim!”

Naquele momento, eu não conseguia mais ver o rosto de Scorpius. Eu o olhava nos olhos. A única coisa que eu conseguia enxergar era o reflexo da aflição que ele estava sentindo. Aquele olhar não era comum, eu nunca tinha o visto assim. Nunca.

“Agora você vai me ouvir, Potter.” a voz dele era firme. Tão firme quanto a minha. Ele pegou meu dedo e o abaixou. “Desde que eu comecei em Hogwarts, eu namorei com a sua prima. Eu nunca a amei. Talvez até gostei dela, mas não chegou a um ponto que eu pudesse realmente me sentir apaixonado. Foi aí que, estranhamente do nada, a prima dela que eu nunca havia ouvido falar, machucou o pé e me apanhou como enfermeiro de emergência. Eu deveria ter aproveito a chance e a levado para o meu quarto. Então, nós dois poderíamos ter tido uma relação um tanto... mais peculiar do que a que amigos costumam ter.” ele balançou a cabeça de uma forma adorável e eu não consegui conter um sorriso. Aparentemente, isso o levou a continuar. “À partir daí, eu conheci uma garota incrivelmente maravilhosa que pudesse me entender em todas as situações que eu precisei. Você é essa garota, Lily. Eu nunca usaria você. De todas as garotas que eu fiquei nessa escola... Com certeza a mais especial foi você. Pode parecer clichê falar dessa maneira, mas é o que eu sinto. Não quero que pense que eu só estou com você por diversão, não é bem assim que funciona. Eu busco ficar com uma garota por semana pra não poder me prender e acabar me apaixonando. Paixão leva ao amor, e amor é sinônimo de dor. Eu nunca pensei que isso tudo teria um lado positivo.” eu não saberia o que sentir depois de escutar tudo o que ele tinha dito. Era informação demais pra absorver. Uma parte de mim queria gravar tudo e mandar pro quarto de Rose pela manhã, já a outra, queria apenas beija-lo pela eternidade e fazer com que esse momento durasse pra sempre.

“Isso quer dizer que você está apaixonado por mim, uh?” disse de uma forma convencida e erguendo a sobrancelha. As lágrimas já não eram mais pela Rose, mas sim por Scorpius, no lado bom da coisa.

“Eu preciso responder, Potter?” ele revirou os olhos e fingiu indignação. Como eu disse, isso me parecia com um sinal. E nós erámos nós. Lily Potter e Scorpius Malfoy. Nunca deveríamos negar um sinal, ainda mais depois dessas palavras que me quase me fizeram pular em cima dele.

Sorri e o abracei pela cintura. Devido à altura gigantesca de Scorpius, eu sempre tinha a desvantagem de só poder abraça-lo pela cintura.

“Eu acho que te amo, Lily.” Scorp abaixou a cabeça. Eu podia sentir que ele estava me observando, mas, ao invés de puxa-lo pra outro beijo, apenas encostei minha cabeça em seu peito. Era magnífica a sensação de tê-lo ali comigo. Ele era meu. Eu sentia.

Depois de alguns minutos, eu e Scorpius ficamos deitados na minha cama. Rose já não me incomodava mais, agora eu o tinha pra poder substituir o cheiro álcool com a seu perfume confortante e extremamente cheiroso.

Não fizemos muito naquela noite. Apenas ficamos deitados, eu na frente e ele me abraçando por trás. Sentir um perto do outro, a presença, o cheiro, o amor... tudo era especial quando se tratava de nós dois. Eu sabia desde o começo que erámos perfeitos um pro outro. Eu sabia. Sorri.

“Eu te amo, Scorpius.”