O reino congelado escrita por Sayu


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Está meio grandinha, mas é uma oneshot. Espero que gostem o/



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Era uma vez um reino congelado, onde tudo era feito de neve e gelo. Era tão lindo que se assemelhava a um sonho. Mas tão inóspito que apenas uma pessoa vivia ali. Uma princesinha e seus pequenos súditos feitos de neve. Eram como duendes que trabalhavam dia e noite em prol da princesa.

Ela morava em um castelo feito inteiramente de gelo que como um iglu, era quente por dentro e a mantinha segura das grandes nevascas. Mas ele era constantemente danificado, por isso seus ajudantes tinham que trabalhar duro.

– Muito frio. – a princesa se queixava.

– Nós estamos colocando o máximo de lenha que podemos. Mas é realmente difícil encontrar madeira por aqui. – os ajudantes falavam, tentando agradar a princesa.

– Não é isso que estou falando. – a garota suspirou. – Na verdade, acho que não precisam mais trazer lenha, já está bom.

– Certo, princesa. – falou, fazendo uma reverência. – Mas o que houve? Parece triste. – Tina perguntou. Tina era a ajudante que coordenava tudo e muitas vezes era um ombro amigo para a princesa.

– Alguma vez estive feliz? Eu não lembro mais. Se sim, faz muito tempo... Nem lembro mais como é sorrir.

– Princesa, não fique assim. Podemos costurar um novo vestido pra você! Vamos até a cidade vizinha comprar linha lilás e dourada hoje mesmo! Sei como ama essas cores.

– Não, não é isso. Eu já tenho muitos vestidos. Nenhum deles me fez sorrir.

Tina apenas deu uma última reverência e saiu do quarto, cabisbaixa. A princesa não queria deixar Tina triste, mas naquele momento estava em uma depressão tão profunda que não conseguia se importar mais com os outros. Só queria... Desaparecer. A princesa suspirou, deitando em sua gigantesca cama.

Tudo no castelo era tão luxuoso, mas aquilo não importava para ela. Não tinha ninguém para mostrar aquilo. E mesmo que mante-se seus cabelos brancos totalmente arrumados e penteados, não tinha ninguém que queria que visse aquilo. Era tudo tão vazio, sua própria existência era vazia. Por que ela governava um mundo de gelo que não tinha ninguém? Era tolice.

A princesinha era muito bela. Tinha olhos que eram de um azul tão claro que eram quase transparentes. Não era muito alta e tinha um aspecto infantil que faria alguém facilmente confundi-la com uma criança. E sempre usava um vestido lilás longo e cheio de rendas, com detalhes de diamantes e ouro. Também havia muitos laços e detalhes que foram feitos um a um tudo a mão.

Mas a princesa não gostava de olhar para o espelho. Ela podia ser bonita, mas de que adiantava? Ser bonita ali não servia para nada, era tão inútil como ter dinheiro no meio de um deserto. Na verdade, ela só queria ser amada. Lembrava-se de quando seu pai e sua mãe viviam lá, era um lugar feliz. Mesmo quando estava muito frio, ainda era quente. Mas agora, ali podia estar tão quente, mas continuava frio.

Um barulho muito forte interrompeu os pensamentos da princesa. Era estranho, aquele reino de gelo era sempre tão silencioso. Rapidamente correu até a porta, mas foi parada pelos ajudantes.

– Espere princesa! Pode ser perigoso!

A princesa ignorou os avisos, pegou seu casaco e correu para fora do lugar, procurando a origem do barulho. Estava nevando realmente forte e era muito difícil de ver algo. Mas ali! Tinha alguém ali! Uma sombra vinha em sua direção enquanto cambaleava, parecia estar ferido. Atrás dessa pessoa, havia algo que pegava fogo.

– Ei! – a princesa gritou. – Pare de se mexer se está ferido!

– E-Explodir... – a pessoa balbuciou. – C-Corra...

– O que? Não estou conseguindo entender. – a garota perguntou, se aproximando.

– Não chegue perto! Vai explodir! – finalmente já podia ver o rosto da pessoa e ouvir sua voz com mais lucidez.

Sem poder ter tempo de pensar em nada, a pessoa pulou em cima da princesa e os dois caíram na neve fofa. Logo algo explodiu muito perto dos dois. A princesa estava em choque, não sabia o que estava acontecendo, mas aquela pessoa a protegeu... Assim que viu direito, era um garoto, ele estava desmaiado e havia sangue escorrendo de um corte em sua testa.

A princesa o afastou gentilmente para que pudesse se levantar. Assim que se ajoelhou perto do garoto, notou melhor sua face. Era um garoto ruivo, seu rosto era cheio de sardas e parecia ter uns quinze, no máximo dezesseis anos.

– Princesa, você está bem?! – os ajudantes chegaram correndo.

– Levem esse garoto até o palácio, ele está ferido. – a princesa pediu.

Os ajudantes obedeceram imediatamente. Assim que chegaram ao castelo, pediu que deixasse o garoto em sua cama para que descansasse. A princesa não tinha nenhum conhecimento do que fazer com uma pessoa ferida, mas limpou seu ferimento e depois colocou um band-aid cor de rosa que tinha em seu armário. “Será que ele vai ficar bem?”, esse foi o último pensamento antes da princesa adormecer.

Assim que a princesa acordou viu o garoto a encarando com seus grandes olhos castanho. Parecia estar olhando para algo totalmente inesperado, talvez a olhasse com certa curiosidade ou até admiração. Como quando alguém olha para um animal raro.

– Sua pele é tão branca. – o garoto falou, sem se importar com a estranheza do momento.

– Acho que sua pele que é muito corada. – a princesa replicou.

– Ah, desculpe, mas se importa de me contar quem é você? Minha cabeça ainda dói muito... Mas lembro-me de estar caindo do meu avião nas planícies congeladas...

– É exatamente onde você está agora. Essa é minha casa, eu sou a princesa dessas planícies. Na verdade, é muita ousadia da sua parte chamar isso de planícies, isso é um reino, o meu reino.

– O reino onde moro é próximo daqui... Mas nunca imaginei que alguém morasse nesse local.

– Como? As pessoas não sabem que eu sou a princesa daqui?

– Ah... Não sei, eu não sou muito informado, então não posso falar muito.

– De qualquer forma, como espera voltar para seu reino? Está ferido, eu vi, sua perna estava mancando naquela hora... E estamos na época de nevascas, é quase impossível que você consiga chegar até seu reino.

– Se importa que eu fique mais um pouco aqui? Sei que estou me aproveitando de sua boa vontade, mas não tenho pra onde ir.

– Como representante do reino congelado, eu aceito que fique aqui o tempo que for necessário.

– Muito obrigada. – ele sorriu. E naquela hora, seu sorriso pareceu muito aconchegante.

O tempo passou rápido, rápido até demais. Porque agora a princesa tinha alguém para conversar. O garoto gostava de fazer brincadeiras e também era um ótimo cozinheiro. Logo fez amizade com os ajudantes, antes que notasse já estavam trocando receitas. O garoto ensinou a princesa como fazer aviões de papel e a princesa ensinou o garoto como fazer um boneco de neve.

Mas tudo havia um fim e a perna do garoto se curou. Mas a princesa não queria que ele fosse embora. Ela não gostava de como aquilo iria terminar, ela simplesmente começava a se tornar alguém muito obscuro ao pensar sobre isso. Alguém que ela não queria ser...

– Precisa mesmo ir embora? – ela perguntou enquanto via o garoto arrumar algumas coisas.

– Sim, eu sinto muito por isso. Mas eu posso voltar pra te visitar.

– Não.

– Hum?

– Não volte. Se for pra não ficar, então é melhor que nem volte. As pessoas estão sempre fazendo isso comigo. Sempre falam que vão voltar e nunca voltam. Ninguém volta... Todos me deixam só.

– Ei, eu não vou fazer isso.

– Vai! E... Eu não quero que você vá embora... Nunca. Ajudantes... Prendam-no.

Novamente, os ajudantes não hesitaram em obedecer a princesa. O garoto foi levado até o porão e trancado lá. Ele não gritou e nem pediu para que fosse tirado de lá, ele apenas sentou e aguardou. Porque de alguma forma sabia que a princesa não era má.

A princesa encostou o ouvido na porta que fechava o porão. “Será que ele me odeia? Não acho difícil, eu estou me odiando agora”, a princesa pensou enquanto deixava algumas lágrimas caírem.

– Eu sempre estive me perguntando por que eu tive que ficar só... – a princesa falou. – Eu nunca fui ruim, sempre cuidei do reino com amor, eu limpava o castelo todo o dia, contava histórias para os ajudantes antes de dormir e também estudei geografia, português, literatura... Então por que eu tive que carregar esse fardo?

– Sabe... Dizem que Deus dá os fardos mais difíceis para as pessoas mais fortes. E se quer saber, eu acho que você é realmente forte. Qualquer um ficaria um pouco desequilibrado com essa situação, isso é normal. Se você quer ser realmente bondosa, deve entender que para sermos bons de verdade devemos ser bons mesmo que não recebamos nada em troca.

–... Você não pode mesmo ficar?

– Sinto muito. Mas é complicado. Eu tenho minha família, meus amigos, tenho muita coisa fora daqui. Eu também não quero que ninguém fique preocupado comigo, na verdade, já devem estar. Pelo menos quero poder ver a cara deles quando souberem que estou bem. – ele riu. – Por favor, me tire daqui. Eu sei que você não é ruim, eu soube desde o momento que te vi. Soube que era mais forte que eu.

A princesa abriu a porta sem falar nada e o garoto apenas sorriu e a abraçou. Os dois passaram muito tempo daquele jeito e a princesa guardava em sua memória como aquele abraço era quente e aconchegante e como ela queria que aquilo pudesse durar para sempre.

– Eu preciso ir agora... Ainda não quer que eu volte?

– Eu odeio despedidas... Mas não me importaria de passar por essas de novo. E de poder sorrir com você mais vezes.

O garoto pegou suas coisas e depois saiu do castelo. De alguma forma, o céu não parecia tão nublado e o clima não era tão frio... E dentro do castelo, a princesa suspirou:

“Está frio... Quando será que ficará quente de novo?”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Se gostaram, comentem e favoritem (:



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