H.o.r.d.a. escrita por GrupoMindUp


Capítulo 6
Sympathy For The Devil


Notas iniciais do capítulo

Finalmente os saltadores surgem em batalha... O antipolítico Raul Lupine, uma espécie de herói as avessas, é jogado no cenário brasileiro juntamente com um adversário de grande poder igualmente ao seu. Uma batalha em diversas paisagens do mundo... Tudo acontecendo em poucos minutos! E um final surpreendente! Não há limites, não há explicações científicas... Tudo é somente um jogo!



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Saltando Para O Desconhecido!

Estramboticamente, e numa forma fora dos padrões dum saltador, assim pensara Raul Lupin ao ser forçosamente cuspido para outro lugar que não a sua amada pátria onde nascera, dera-se com outra cultura. Já havia estado no Brasil noutras oportunidades e testes que seus tios maternos, também seus mestres e saltadores experientes, haviam lho enviado para alçar níveis mais altos em seu dom: eis que o poder dum saltador tem muito de complexidades psíquicas e reúne em si níveis poderosos de concentração.

Como detritos, havia sido despejado pela força gravitacional que o impelira, dentro duma superficial poça de lama. A botina de boa costura francesa, ornada por fivelas de aço e anteriormente muito bem lustrada, agora se exibia empoeirada e coberta pela água suja. Raul resmungara qualquer coisa, certamente, um palavrão. Ou algo como “Que merda!”. Sacudiu o capuz negro de mangas longas e dera tapas pesados na calça de couro a limpar-se. Os cabelos eram levemente levados pela fraca corrente de vento e poucos fios desgrenhados da barba homérica se moviam.

Inicialmente, estava no mundo de seus pensamentos quando fôra cuspido dentre a realidade brasileira, outra cultura, de hábitos latinos, costumes diversos e peles coloridas (nação que se aceitava numa mistura bonita de se ver).

Logo, virara-se ao sentir da brisa fresca, e dera-se com a imensidão quase infinita do mar azul. Não era muito bom em francês, pois que fôra criado em Phentos, o mundo para onde fôra levado ainda criança, devido a sabedoria de seus tios ao encontrarem em Raul ainda criança, índices de que havia nascido com capacidade mental de sobra para a manipulação do tempo-espaço dentro do tempo presente. Assim sendo, seu idioma era oficialmente o pharrar (também conhecido como linguagem dos saltadores).

Erguera a cabeça para a beleza dum edifício e lera com atenção, ainda que tivesse de forçar a mandíbula para tal pronunciação e lera: “Sol de Ipanema”. Analisando a estrutura predial, imaginou que se tratava dum hotel de luxo, talvez houvesse acertado, talvez não, mas deu de ombros e se abandou a caminhar pelo calçadão ladrilhado em preto e branco. Não demorou muito e em sua mente acendera-se a lembrança de teclas de piano. Gaivotas cortavam o céu num azul profundo, quando ao sentar-se à beira mar, num pichado banco de pedra dos muitos ao longo daquela extensa calçada, se dedicara a meditação daquele forçoso teletransporte.

— Uma viagem forçada? Não compreendo!

E alisando a grande barba enegrecida, em estado meditativo, pensara mais, estava desconfiado. Tinha extremo domínio sobre suas técnicas, e nunca algo semelhante lho havia ocorrido. Os olhos centrados no mar, as ondas a enroscarem-se umas dentro das outras, a escuma a deitar-se sobre a areia como a Afrodite em formação. A brisa fresca, atrás, uma sociedade serena, porém, a vozearia dos ambulantes lhe causava algum desconforto, um incômodo difícil ao costume, até mesmo, do mais experiente monge.

Uma fagulha de sua concentração se movera em seu campo mental e, deixando o ar denso para trás, pouca fumaça enegrecida, como fôra descoberto há algum tempo atrás pela Ciência humana, ou seja, a energia escura clara às vistas do mais atencioso observador, Raul teletransportara-se.

Em menos que a fração divisória dum único segundo, numa velocidade que antecede até mesmo a contagem dos milésimos, Raul Lupin aparecera, cuspido d’algum portal tridimensional, sentado sobre um dos braços em riste do Cristo Redentor.

Donde estava, o coração acelerara de forma brusca, Raul não esperava o que via, apesar de saltador experiente, dominador de suas habilidades, nunca imaginara um dia aquele ângulo às suas vistas. Eis que a sua frente se estendia a maravilhosa, exuberante e fascinante Baía de Guanabara, a imagem que o Redentor parecia abraçar e no rosto petrificado da imagem (uma das sete maravilhas do mundo), um sorriso estático parecia existir, anônimo a toda ambulante criatura viva.

“Uau!”, pensara o saltador. Logo, murmurara:

— Que visão ducaralh#!

Mas seu momento turista logo chegara ao fim quando, uma explosão tomou conta da praia lá embaixo e os olhos de Raul, antes comovidos pela visão que o Rio de Janeiro lho presenteava de forma natural, visualizaram o responsável pelo caos presente. Ainda que longe, via-se um pontinho negro reluzente, caminhando à luz do dia, causando pavor a população, civis correndo, escondendo-se onde podiam, gritaria e mais explosões. A polícia militar atirando sem que esta ação surtisse efeito.

Colocando-se de pé sobre o braço estendido do Redentor pétreo, Raul Lupine, ostentando em sua face indolente características da própria preguiça que o acompanhava quotidianamente, exclamara com algum incômodo:

— Ah não! Então... Aquela voz em minha mente... Não fôra apenas uma peça a que pregara a minha imaginação!? “O regresso somente vos será permitido após a queda do adversário que de pé está a sua frente e blá, blá, blá!”.

“Pro cacete mano!”, pensara ainda mais fulo e agora, com muita raiva.

Um avião voava baixo por aquelas bandas, certamente, aterrissaria nalgum aeroporto local. Raul mentalizara-o ao vê-lo passar diante de seus olhos, as turbinas potentes da aeronave sacudiam em ondas sonoras o espaço aéreo ao redor. E então, saltara. Como ocorrera anteriormente aos olhos dum atencioso mendigo de Ipanema, sutis fios de fumaça negra foram expelidos deste ato causado pelo dom de Raul ao Saltar a seu intento, anteriormente, mentalizando a linha reta de seu ponto de chegada, eis que sempre, sempre funcionava assim, desde o começo. Cada saltador tinha a sua forma, segundo sua habilidade, de teletransportar-se.

Em frações menores que um segundo, lá estava, se equilibrando, vencendo a força do vento, a caminhar por uma das asas da aeronave. Uma criança atenta no interior da condução aérea vira quando, para ela, um estranho homem barbudo com visual estranho caminhava do lado de fora, e então, o pequeno se apavorou ao invés de se encantar. Chamando a mãe que dormia, com alguma euforia, a criança reservara a mulher, local na pequena janela quase oval da aeronave, mas, quando o ser adulto fôra procurar o motivo de tal desespero do filho, nada vira além de brancas nuvens.

Novamente Raul saltara.

Agora, não houvera um ponto de chegada sólido, eis que caía em queda-livre. Pássaros esvoaçavam ao bater de asas ao seu redor. Gaivotas, pardais, patos d’água e o saltador que continuava caindo. Antes de tocar o chão, num baque que certamente causaria a sua morte, pois a imortalidade não fazia parte de sua natureza, outro salto fôra dado e, mentalizando, aparecera, cuspido do nada, defronte ao causador de todo aquele caos. Não conhecia seu adversário, mas nos trajes do mesmo, reconhecera o símbolo dos saltadores banidos da cidade sagrada de Phentos. Mais conhecido entre os membros da Academia Real, como, Speranthos.

O que tinha diante de si não era mais um homem como qualquer outro que tenha visto, independente de raça, pelos países e mundos aos quais saltara até o momento presente de sua vida. Já fazia anos que aquela criatura havia sido corrompida por algum poder além de sua própria consciência. Mas uma coisa Raul constatou, eis que a energia que agora mantinha o adversário vivo era mais forte do que tudo contra o qual lutara até então. Da pele negra do adversário, cuja musculatura era definida em todos os detalhes, negativa essência se fazia ver a fluir. Num tom amarelado, assim como a cor de seus olhos. “Uma fera, pronta a dar o bote”, pensara Raul.

O olhar estático em dourados olhos sem vestígio de íris do adversário estava fixado em Raul quando este aparecera e ali permanecera, igual sentinela, a vigiá-lo. Nenhuma palavra havia sido proferida de seus lábios até então, quando, após uma terceira explosão, o homem negro movera a cabeça, admirando o mar, ignorando a presença de Raul e logo, sem hesitar, dissera em tom de ameaça:

— Eu o aconselho a não permanecer em meu caminho!

Raul apertara os lábios, seus olhos fixaram o adversário e puseram-se a vigiá-lo com atenção. Nada lhe escapava a visão. Os mínimos detalhes eram capturados, assim como uma impressora digital que copia o que lhe é programado.

Ao redor de ambos, vozes de desespero. A polícia de prontidão ao longe. Aos poucos o Exército ia chegando, formando barricadas ao redor. O Rio de Janeiro, naquele trecho da cidade, havia se tornado cenário de guerra. Helicópteros circulavam pelos espaços aéreos. Polícia, Aeronáutica, Redes de TV. No mar, frotas da Marinha começavam a ser formadas. Mas o adversário não parecia se importar com todo aquele “show”. Tampouco Raul, pois sabia que sua batalha poderia ser em qualquer lugar daquele mundo ou, fora dele.

— Porque está fazendo isto? — Perguntara Raul ao outro. E continuara antes que o mesmo respondesse. — Porque semear o caos ao invés da paz? Porque a necessidade de espalhar a dor e a desgraça quando se, agraciado com o poder que tem, poderia mudar o mundo? Torná-lo mais pacífico?

O outro, tendo sua atenção desviada por aquela cascata de perguntas, tornara sua expressão facial tomada por rudeza e com ódio em suas palavras, respondera:

— Porque qualquer realidade, seja ela qual for, não passa de um engano, minha criança. Tudo o que vê... — E então o adversário, ainda falando, abrira os braços como que gesticulando ao citar o mundo físico. — Tudo o que vê, não passa duma mentira muito bem estruturada pela fábula que é a existência de deuses, símbolos, enigmas existidos para confundir as raças e promover a Guerra. Eu sou o filho do caos, uma semente germinada da dor, aqui estou para cumprir ordens e, ao meu triunfo, dizimar mundos, com o poder prometido a mim!

— Isto de fato aconteceria. — Dissera Raul caminhando ao redor daquele que, por tais palavras malignas, fizera-se seu inimigo. Eis que o anti-político Raul Lupine poderia ser qualquer coisa segundo a sociedade; eis que seus modos não eram sociáveis, mas não tolerava a maldade. E isto, fôra muito para fazê-lo enxergar no outro um poderoso adversário a enfrentar até o fim. Fazia tempo que nenhum desafio do tipo havia lhe surgido, e este, “Está mais que apropriado”, assim pensara Raul.

O outro olhara firmemente nos olhos de Raul e se apresentara, como um soldado de batalha que se apresenta em campo a seu adversário:

— Chamo-me Véktor, mas a mim já fôra dados tantos nomes, que desconheço-me a origem. Eis que minh’alma não existe mais para este corpo. Sou algo além de tua capacidade mental, ó bravo saltador!

“Véktor”, pensara Raul. “Este nome não é-me estranho”, continuou em seus pensamentos ao passo que encontrara no rosto estático do inimigo um minúsculo sorriso. Friccionou uma das pernas para trás, estava pronto a tomar impulso quando o inimigo o agarrara por um dos braços e saltara ao desconhecido.

Embasbacados estavam todos os civis ali presentes. As forças armadas ficaram sem ação. A TV não sabia o que dizer a seus telespectadores. Mas o governo do Brasil decidira não baixar a guarda e, em todos estados e cidades, bairros e afins, enfim, todas as localidades, a proteção montara-se redobrada em poucos minutos.

[Central do Brasil / Estação Ferroviária – 11h30min]

Raul não compreendia ao certo donde vinham aquelas explosões surgidas somente perante a presença do inimigo. Assim como a quarta delas que acabava de ocorrer no local para onde, arrastado, fôra parar. “Uma estação ferroviária!”, Pensara com algum pavor, eis que não queria ver um massacre ocorrer naquele local.

E parecendo compreender isto na face de Raul, o outro que o havia levado até ali sabe-se lá por qual motivo, dissera com alguma alegria desmedida:

— Eu não sou Loki o deus da trapaça, mas amo ver a inocência sendo arrancada de rostos antes teatralizados com a felicidade ilusória!

Raul já não mais suportava aquele cinismo quando...

Véktor, em pequenos tapinhas a limpar seu capuz amarelo, sorrira e, saltara a deixar no ar a mesma energia escura que tinha como costume deixar Raul ao saltar. Tocando-a assim como quem faz-se tatear o vidro, Raul saltara a seguir o inimigo. Indo, assim, sem que antes houvesse meditação, para o mesmo ponto de chegada que Véktor, e esta, era uma das táticas ensinadas na Academia Real para treinamento de saltadores no mundo de Phentos, donde ambos haviam vindo para a realidade do planeta Terra, cuspidos, para o tempo presente da cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

Ambos, numa queda vertical, apareceram dentro dum dos trens em partida. Eis que aquela condução seguia à Japeri, mas ainda estava a passar por certa localidade chamada Praça da Bandeira, certo lugar próximo ao centro do Rio de Janeiro.

Em pavorosa, os passageiros gritavam. Oradores ali quotidianamente presentes que se encontravam a evocar seu deus, afirmavam serem os saltadores nada mais que demônios. E “talvez”, assim pensara Raul, não estivessem errados em relação à Véktor.

O vagão, apesar de longo era estreito por demais e estava um pouco cheio, mas ao travar daquela batalha, ambos os passageiros, adultos, adolescentes e crianças se espremiam contra as paredes da condução que ia a todo vapor.

— Eu o peço que dê fim agora no que está prestes a fazer! — Pedira Raul com sentimento de misericórdia, como um redentor que surge do nada para salvar desconhecidos. Seres alheios a seus intentos.

O outro o olhara com desdém, e dissera como resposta:

— Não se pode corrigir o que já fôra destinado, criança.

Dando-lhe as costas num ato de segundos, pois tinha este costume quando ficava irritado, Raul voltara-se contra aquele que por seus vis atos se tornara vilão e, num impulso e ação sem cálculos premeditados, arremessou-se de encontro com o adversário a empurrá-lo contra uma das portas do trem. Véktor chocara-se com violência contra a porta de aço e, enquanto media forças, de seus olhos amarelos, energia fluía em raios.

— Tu não tens capacidade de lidar com o impossível, criança! — Dissera o opressor, e continuara. — Isto não é um jogo.

Tomado por raiva e ainda segurando o inimigo, Raul o levantara pela gola do longo casaco a centímetros do chão e com força descomunal, o lançara em linha reta ao final daquele vagão. Teletransportando-se, ia, a cada um segundo, aparecendo próximo de Véktor, a socá-lo até que este, por sua vez, ainda no instante da queda, chocara-se contra a parede. Os passageiros gritavam enquanto espremiam-se contra as paredes geladas. Arrancando um dos suportes centrais de apoio da condução, Véktor se pôs a atacar Raul, enquanto que, possuído por seu desejo bélico, dizia:

— Tu não deverias ter feito o teu caminho às minhas vistas, pois o que te aguarda no futuro é o fim, juntamente com os teus cordeiros, ó messias!

Numa das investidas do inimigo, Raul segurara o ferro e, mais uma vez medindo forças, saltara. Agora, teletransportando o vilão junto consigo. Estas viagens eram mesmo maravilhosas, “um mistérios para a Ciência”, diria um místico qualquer desses muitos que povoam o mundo. Em menos que a fração de um milésimo, ambos apareceram em Nova Iorque. Estavam agora bem no meio da populosa Times Square, uma das localidades mais famosas da cidade. Táxis buzinavam numa sinfonia ensurdecedora. Pessoas em pânico buscando abrigo, proteção.

— Está nervoso Sr. Lupine? Vejo que escolhera um belo palco para o show. O senhor é mesmo uma desgraça! — E então Véktor gargalhava enquanto aplaudia o herói por tê-lo levado para tal lugar.

A famosa bifurcação nova-iorquina ofuscava os olhos de Raul. O sol do entardecer batendo de encontro com aquela centena de outdoors o estava quase cegando. O herói tinha as vistas frágeis demais, por isto, amava, como um vampiro dos Best-sellers de ficção, os encantos sórdidos da noite e toda sua exuberância em parceria com uma dourada e bela lua cheia. “Ele sabe meu nome?”, pensara o herói com espanto.

Aquele lugar lhe causava náuseas, se bem que seu estômago tinha grande apreço por empresas como Mcdonald’s, Bob’s, entre outros. E vendo a estes cartazes com deliciosas propagandas, seu estômago, de fato, roncara. Mas, pensara ele “Isto não é hora para sentir fome”. Enquanto pensava numa estratégia, Véktor caminhava normalmente como um transeunte pela larga rua pouco arborizada. E por onde passava, coisas explodiam.

Num impulso, novamente impensável, Raul aparecia, entre um salto e outro, sobre o teto dos automóveis ao longo da estrada. Ia, como um vulto, teletransportando-se. Aqui, ali, lá, cá. Aparecendo, com rapidez, nos cantos mais improváveis até que, agarrando o vilão pelas costas, saltara com mais intensidade, agora, havia mentalizado um ponto de chegada.

(...)

Em meio às geleiras do Alaska, em terreno plano, porém, não sólido, ambos digladiavam-se como dois galos numa rinha. Raul o socando e Véktor defendendo-se com assustadora experiência e rapidez. Um saltador, fosse ele quem fosse, era alguém de QI altamente elevado. Era necessário memorizar os pontos de chegada, e Raul possuía em sua mente, pontos turísticos e paisagens desérticas de todos os mundo os quais, em passadas épocas de treinamento estivera.

O frio lhes queimava a pele e gelava a espinha. Mas o combate lhos aquecia a alma, lha fazendo queimar como o cosmos a lhes inspirar a batalha. “Não posso desistir agora, não vou desistir agora”, pensava Raul com seus botões. A barba homérica congelando-se com rapidez. A saliva grudando-lhe nos lábios já ressecados.

Um bando de pingüins passeava ao redor e num flash de pensamento Raul chegara a recordar-se de seus jogos de luta favoritos para seu famoso console da Sony. “Pareço estar num dos cenários de Tekken”, pensara enquanto centrava os olhos nos golpes do inimigo. Véktor, revelando seus truques, acionara um dispositivo em suas luvas de couro que se tornara tangível a ponto de ficar invisível quando, vindos de algum outro plano a que foram teletransportados, Raul enxergara os causadores daquelas explosões. Eis que tratavam-se de dois tenebrosos e pequenos homúnculos: seres criados a partir da magia negra dominada por saltadores expulsos da Academia Real em Phentos.

— Então esse é o seu segredo! — Dissera Raul com deboche ao passo que o inimigo se distanciava, regressando num salto ligeiro, de volta para o Brasil. Aproveitando a energia que deixara a evolar a partir de seu salto, Raul, tocando-a novamente, o seguira.

“Dessa vez, não irá pôr em risco os civis”, pensara o herói francês com sua barba congelada e lábios secos.

E saltou ao encalço do adversário.

Quando regressaram, a cidade havia sido alterada. O que havia acontecido? Eis que Ipanema havia se transformado numa enorme selva obscura. As altas árvores, parecidas centenárias, porém, anteriormente não ali, tapavam o cimo com suas espalhafatosas folhas gigante a causar profunda treva e Raul, um tanto desnorteado, não compreendia como aquilo havia acontecido.

Véktor se movia por saltos velozes aqui e ali. Ora estava sobre um tronco apodrecido, ora sobre uma das frondosas copas nas mais altas árvores. Ora sobre o rochedo limoso, ora sobre automóveis cobertos pelo musgo e cogumelos azulados, venenosos, por aonde heras e trepadeiras iam tomando conta de tudo, como um rei tirano a que deseja possuir todo o ouro que vê.

— Véktor!!! — Gritou Raul saltando, entre um vácuo e outro de portais extra-dimensionais. E ainda com mais velocidade que o inimigo, saltava a alcançá-lo. Até que, agarrando-se às suas costas, o fez tombar do alto de um edifico pelo qual, verticalmente pelas paredes corriam, entre o ato de um teletransporte e outro.

Socos eram dados de encontro com o belo rosto negro daquele o qual se fizera seu vilão e, ainda mais enfurecido, Raul Lupine, cujos ingressos para o show vip do Guns N’ Roses se encontravam em seu bolso traseiro, teletransportava-se de segundo a segundo, em indivisíveis milésimos a aparecer aqui e ali, ao redor de Véktor, golpeando-o, enquanto a queda ainda durava.

Antes do baque em que espatifar-se-iam no chão, Raul segurara o adversário pela gola do casaco e saltara para outro lugar dentre o espaço-tempo do mundo onde estavam. Num impulso alucinante, apareceram, saídos do vácuo de um portal derivado ao dom que possuíam, sobre o teleférico o qual os cariocas têm o popular costume em chamar bondinho do Pão de Açúcar...

A estrutura presa à poderosos cabos de aço balançou-se, sacudia-se a cada força de impacto de cada um dos golpes dados por ambos. Estavam num ponto muito alto do Rio de Janeiro, um dos principais pontos turísticos da cidade maravilhosa. Num golpear continuo, Raul ferira o rosto do oponente cujo sangue azulado escorrera em supérfluas e grossas gotas.

— Veja o que fizestes, miserável. — Gritara o vilão com voz odiosa. Estava possuído pelo desejo em poder absoluto, desejava aniquilar a humanidade.

Com ar de deboche, um pequeno sorriso diabólico no rosto, enquanto desafiava Raul, olhando-o bem nos olhos, dissera, ao passo que se agachava a segurar firme entre os dedos, os cabos de aço de onde pendia o teleférico:

— E agora... O grande espetáculo!

Num salto de médio porte, o vilão teletransportara não somente a si mesmo como o de costume, mas também todo o teleférico. As pessoas tomadas pelo pavor, seus mortais corações dominados pelo medo! Véktor ria-se todo, parecido assombrado pela loucura que calçava os seus pés.

Caindo novamente, agora duma altura ainda maior, Raul desaparecera em pleno ar a reaparecer sobre o mar onde caíra num mergulho inesperado e profundo. As ondas imensas em crista a carregá-lo de encontro com a areia. Estava ensopado, bebera muita água salgada, os bolsos cheios de algas.

A praia de Ipanema, posto 9, estava lotada como sempre, mesmo próximo do entardecer, quando a noite, mansa, vinha chegando e a brisa antes agradável se transformava em algo frio e quase insuportável mesmo nos dias de calor.

A bandeira GLS flamulava com seu mastro improvisado cravado na areia, alguns homens abraçados aqui e ali, praticantes de surfe e vôlei, vendedores ambulantes aos enxames, crianças com seus pais, cachorros defecando na areia...

Raul fôra se erguendo vagarosamente.

Primeiro, apoiara as mãos no chão, de joelhos dobrados.

Logo, com pressa redobrada, se levantara de todo e sacudindo os cabelos de modo a secá-los, mesmo ali, perante os ávidos olhos dos humanos que, boquiabertos o admiravam, como se estivessem a ver algo inacreditável, o que, de fato, era verdade, eis que Raul saltara num sucessivo teletransporte e, alcançara Véktor que aterrissava com a grande estrutura vítrea entre aço e outros materiais que a constituíam, a impedi-lo de causar pânico além da conta. Dentro do bondinho arrancado pelo poder do vilão de seu costumeiro lugar, civis machucados gritavam num frenesi caótico sem fim.

O bondinho sobre a areia: uma imagem nada comum. Abandonando o teleférico, o vilão saltara, e fôra saltando entre um ponto e outro, Raul o perseguia em mesma velocidade, quase a alcançá-lo, mas, o poder do adversário estava além do seu.

— Seu filho da put#! Agora... Já... Chega! — Esbravejara Raul Lupine mostrando sua pior expressão. Sua face fôra tomada por outra personalidade. Seus olhos acenderam-se numa assustadora luminosidade vermelha.

O herói estava indo contra seus próprios limites. Eis que o teletransporte ocorria em menos que a fração milésima dum único segundo, algo quase impossível até mesmo para os saltadores mais experientes.

Aqueles que o criaram nunca, por mais experientes que fossem, conseguiram atingir o mesmo nível o qual Raul havia alcançado em sua atualidade e, projetando-se num salto inter-cósmico ainda mais veloz, eis que se projetara à frente do inimigo. Seus olhos vermelhos haviam sucumbido a íris que o dava a normalidade da visão, sua face fôra tomada por assombroso aspecto.

Ao caminhar, seu corpo ondulava, como se estivesse em seu limite, quebrando as barreiras da realidade. Seu corpo vibrava freneticamente. Raul, na verdade, enquanto a visão do inimigo incapaz de acompanhar o seu progresso o via parado, estava era saltando de forma tão veloz, que o tempo e a realidade do planeta Terra não conseguiam acompanhar o seu ritmo sônico.

De repente, mais uma das explosões causadas pelos pequenos vassalos de Véktor, eis que o teleférico explodira com seus passageiros ainda dentro, incluindo idosos e crianças. No rádio e na TV, jornais de plantão anunciavam a tragédia e o país aonde naquele mundo foram parar ambos os forasteiros alcunhados herói e vilão pela mídia segundo o status a que vinham traçando em relação a seus atos. A nação fôra tomada por grande comoção em tristeza absoluta. Tampouco a polícia, o exército que se encontrava nas ruas, conseguiram surtir efeito a interferir na batalha entre aquelas duas supostas criaturas dotadas de super-poderes.

Correndo em saltos simultâneos muito velozes os quais o vilão não podia enxergar, portanto, estava ficando confuso, Raul Lupine agarrara seu adversário pelo pescoço com extrema força, os dedos fortes cravando-se na carne do inimigo.

— Meu fim também será o seu fim! — Gritara em ódio o vilão, a face tomada pela ambição e o caos a fazer brilhar os seus olhos.

Quando então, fôra lançado contra a estrutura dum edifício por Véktor que, com um simples tapa, repelira seu ataque. Erguendo-se, Raul dera-se com outros supostos seres dotados com algum tipo de super-poderes, quando, na verdade, sempre acreditou que somente existiam, para fora do pensamento de normalidade dos seres humanos, apenas os saltadores. Mas agora não, via que estava errado, pois a sua esquerda, uma guerreira com ares de caçadora, cujos olhos brilhavam numa espécie de raios esmeraldinos, confrontava-se com um demônio cuja foice feita de ossos era assustadora. Logo, ao voltar seus olhos ao inimigo, percebera que a selva crescia ainda mais em torno da cidade, abafando-a, mas suas raízes grossas e rechonchudas, tinham algum limite, pois que não se uniam aos grãos de areia da praia onde havia ocorrido a explosão.

Em sucessivos saltos, cada vez mais rápido que o permitido por seu limite mental em mentalizar uma base entre as passagens cósmicas para a sua locomoção tempo-espacial, Raul socara o estômago do inimigo, e a este golpear, como tinha o costume estranho em nomear seus ataques, chamou-o “Heavy Metal Thunder”, assim lembrando-se dum sônico hit do Saxon, banda a que tinha predileção.

A cada certeiro golpear em socos e chutes com grande potência, força descomunal a que fôra crescendo em seu corpo, através do caminho por suas veias a que fazia seu sangue a ferver em raiva, sua fúria quase selvagem, a boca a derramar a baba incontrolável, estando o herói num estado de quase coma, gritara com sua grossa, porém, rouquenha voz quando, num golpe de peso num dos ombros do adversário:

— “Paranoid” — E logo depois, um chute na barriga — “Back in Black!”.

Com esta potente e inesperada seqüência de golpes, Véktor sentindo cada impacto contra o seu corpo, cuspindo seu azulado sangue, quase aos vômitos, caíra ajoelhado aos pés de Raul que, sem misericórdia, continuara em seus ataques. Chutava-o ao repetir das palavras que nomeavam cada um de seus ataques.

Em saltos tão rápidos quanto o poder de visão do mais atento observador, Raul aparecera próximo dos vassalos do inimigo e os abatera com golpes precisos. Assim como a luz, ou mais rápido que ela, reaparecera diante do inimigo caído que se erguia, saltando em escape, mas Raul o impedira, novamente, em raios de fúria que emanavam indômitos de seus olhos, projetara-se mais uma vez à frente do vilão, desta vez, com um sorriso nos lábios, como se, em sua mudez, quisesse dizer “Eu sou o vencedor!”.

— Aonde pensa que vai... Porco? — Dissera Raul, o corpo ainda em estado de saltos sônicos, embora parado, vibrando em absoluta velocidade, indo contra os princípios da Ciência e pondo abaixo as suas teorias em relação ao tempo-espaço. Raul já começava a cintilar, seu corpo estava assumindo o aspecto d’algo nuclear. A velocidade exercida sobre a matéria que era sua carne, começava a queimar, a pele começava a se tornar escura, fumaça evolava aos ares como o mais nobre éter.

Limpando sua roupa, com arrogância expressa em sua face, os olhos brilhando em maldade, Véktor dissera:

— Quanta petulância para um símio mal evoluído como você e os seus! Porque é, afinal de contas, que deseja tanto salvar estas criaturas mortais? Veja você mesmo ao seu redor... São incapazes de defender-se. Os fracos são como ervas parasitárias neste e noutros mundos, devemos, nós, que somos abençoados com este poder, dominá-los, escravizá-los... Porque o deus destes tolos não pode contra nós! Somos mais do que a desprezível crença aplicada neste mundo. — E aproximando-se de Raul que acendia em luz em plena noite que já vinha se arrastando dentre a penumbra que crescia com o fim da tarde, continuara, em seu tom de seriedade e, trapaceador, como o deus nórdico da mentira, a dizer — Una-te a mim e seremos únicos deuses para este monte de carnes, estes seres vazios esperançosos na existência duma mentira divina.

— Jamais! — Disse Raul numa quase resposta, porque estava quase fora de si, sua consciência começava a ser possuída por algo que não conseguia controlar.

Véktor percebera que perdia tempo, e que não conseguira alcançar seu intento através da persuasão. Logo, saltara para o combate e, medindo forças com o outro, ao passo que Raul com seus dedos entre os do adversário, impelia-o para trás, ao mesmo tempo em que o vilão praticava o mesmo ato.

O calor emanado de Raul a queimar as luvas do vilão. A carne do herói começava a assumir outro aspecto. Estava numa espécie de processo de mutação. Mas suas características pessoais continuavam as mesmas. Com força aplicada em dobro sobre o inimigo, Raul quebrara o braço direito do adversário, torcendo-o de seu corpo até arrancá-lo no que Véktor emitira igual elefante em leito de morte, o seu último grito. Que dor o vilão sentira no ato sem misericórdia de seu oponente.

O sangue azul a jorrar para todos os lados, caindo sobre Raul que ardia em chamas a logo evaporar. Um odor horrível tomara conta do lugar. Nenhum banhista se encontrava mais pelas praias do Rio. Todos estavam extremamente apavorados, embora, alguns repórteres ainda se encontrassem, mesmo que em pânico, em meio às ruas. A noite já tomando seu lugar naquele hemisfério.

Entre seus milésimos de segundo, Raul pensara o quase impossível, tido como proibição pelos saltadores. Mas teria de ser assim, ou então, dificilmente conseguiria dar um fim no inimigo. Logo, começara a dar início a sua estratégia. Eis que poderia morrer ao aplicá-la, porém, era sua única saída... Em múltiplos saltos, estando a cada lampejo do pensamento aqui e ali, a girar num veloz salto ao redor do inimigo, socava-o, com tanta força, que o dom de saltar do vilão fôra anulado. Eis que se encontrava numa espécie da gaiola invisível, criada pela força de locomoção tempo-espacial exercida por Raul que queimava como um pequeno sol.

Ao redor do adversário o herói criara uma espécie de tornado cujo qual o ocultara da visão dos civis que, amedrontados, escondidos entre os automóveis dominados pelo musgo da floresta que sobre a cidade havia crescido, nada mais puderam enxergar além dum redemoinho de grande poder, um turbilhão de fogo crescente. E dentro deste remoinho, Raul saltava ainda mais rápido, cada vez atingindo mais velocidade. De todos os estados daquele mundo, era vista a coluna de fogo que tocava, para além das nuvens, o negror do espaço onde dormitam os astros e seus enigmas.

E escalando sua coluna de fogo a girar numa freqüência além de qualquer pensamento científico a que se possa fazer de tal ocorrência, Raul subira, carregando o vilão já desmaiado ao espaço. O ar começava a faltar para ambos, como se houvessem mergulhado no mais profundo dos abismos onde dorme o leviatã dos contos bíblicos e lendas do mundo dos homens. Raul escalava seu turbilhão de fogo como se subisse a mais alta de todas as escadarias. Seu trajeto era quase eterno, e lá se ia ele, como um anjo que resolve deixar um mundo pestilento para trás a alçar o caminho ao Paraíso.

Deixando a atmosfera terrestre para trás, tivera que desempenhar sua estratégia ao limite de sua força, pois a gravidade no espaço era esmagadora, e necessitava de que seu turbilhão fosse capaz de se manter.

Numa parada brusca, fôra sugado por vácuos espaciais e, aproveitando da física espacial pouco compreendida pelos homens da Ciência, Raul, mentalizando aquilo o que via a sua frente, prendendo a respiração desde minutos atrás como o mais experiente nadador, saltara novamente.

Reaparecera sobre um meteorito de médio porte que estava sendo arrastado para dentro do sol. A grande bola de fogo que ardia nuclear como a si mesmo, eis que mais e mais o herói acendia-se, agora, irradiando luz como uma estrela em crescimento. Segurando o corpo desmaiado do vilão, fizera pouca força e, aproveitando da gravidade, lançara-o sem piedade em direção ao sol. Véktor fôra disparado feito uma bala e antes que atingisse, sequer, a metade do caminho, explodira feito uma bomba de carne a desaparecer para sempre! Antes que presenciasse o fim do adversário, eis que Raul já havia saltado outra vez e, caindo dentre a atmosfera terrestre, sem mais forças, fôra detectado pelo radar da Marinha francesa. Algo não identificado caía do céu. (...)

Às margens do Senna, levantara-se como que saído dum sono profundo. Seus trajes haviam desaparecido e estava completamente nu. Uma senhora que passava arregalara seus olhos ao vê-lo neste estado e logo correra a comunicar um guarda local. Mas quando voltara, o homem nu havia desaparecido como num piscar de olhos. Certamente, o guarda julgara caduca aquela velha mulher e dera de ombros. Os relógios marcavam onze horas e cinqüenta e nove minutos (PM).

Antes que os ponteiros pudessem badalar meia noite, o senhor Raul Lupine já se encontrava bem no alto da torre Eiffel a tocar seu violino. Eis que estava nas alturas, como uma estrela orna a ponta dum pinheiro natalino. E com maestria, o som encantador que fluía do instrumento delicado era nada mais que a poderosa e contagiante: “Sympathy For The Devil”. A noite francesa era majestosa!


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Notas finais do capítulo

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http://mindup6.webnode.com

Página oficial do escritor:
http://realidadeabstrata.wordpress.com



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