Nico’s P.O.V

Depois que Leo disse aquilo, eu praticamente o atropelei quando disparei para a cabine das crianças. Anna e Tobias não estavam por perto.

– Bia! – Virei o beliche com um braço só. Ele caiu com um estrondo. Virei a cama de Tobias, mas ela foi de encontro à parede. Antes de cair no chão com um estrondo maior ainda, havia batido na mesinha de cabeceira, quebrando-a... Corri até o banheiro, quase arrancando a porta das dobradiças. Nada. Bia não estava em lugar nenhum.

Caí de joelhos no meio das camas semi-destruídas e comecei a soluçar. Abracei os joelhos.

O que aconteceu com ela?

– Anna... E... Tobias.

Leo chegou perto de mim. Ele olhou com espanto para a bagunça e suspirou.

– Anna está com Jason. Ela não conseguiu dormir por causa do frio. Tobias foi para a cabine de Percy e Annabeth. Foi para os dois que ele pediu ajuda. Annabeth me avisou e pediu para que eu avisasse vocês...

Foi o preço... Ele me tirou Bia em troca de Thalia.

Ouvi uma risada em minha mente. E Leo pareceu ter ouvido também, já que cambaleou.

Você acha mesmo que eu cobraria algo tão pequeno, filho de Hades? Vocês são realmente patéticos!

Acabei falando alto demais.

– Você! Onde você está? O que fez com Bia?!

Leo me olhou como se eu estivesse louco.

Saia da cabine de sua criança e verá...

Saí feito um doido da cabine. Thalia e os outros estavam do lado de fora. Pareciam ver algo pela amurada.

– Nico! – Virei. Anna e Tobias corriam em minha direção. EU me abaixei e as crianças correram para me abraçar.

– Graças aos deuses! Estão bem? – Abracei as crianças com força e acariciei os cabelos louros e sedosos de Anna...

– A Bia sumiu! A gente tem que achar ela! – Anna começou a chorar.

– Shh...Andrà tutto bene, bambina mia. Vai dar tudo certo, minha pequena... Io sono qui ora. Eu estou aqui agora...

Anna se acalmou aos poucos. Fiquei aliviado ao saber que Tobias e Anna estavam em segurança. Deixei que aquele abraço durasse mais cinco minutos.

– Agora... Vão para um lugar seguro. E, dessa vez é sério! Vocês não vão sair daqui! Isso não é um pedido! Prometo que voltarei com Bia! Não me façam ter de trancar vocês, ok?

Os dois baixaram as cabeças.

– Ok...

– Bom mesmo... Para a minha cabine! E nada de sair de lá!

Não faça nada às minhas crianças!

Eu as protegerei. Tem a minha palavra, filho de Hades.

Juntei-me aos outros na amurada...

– O que houve agora?

Thalia chegou ao meu lado e apontou para baixo. Um grande dragão branco nos observava...

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Realmente... Era magnífico demais para descrever em uma só palavra. Quando nos viu, o dragão silvou baixinho e aproximou-se um pouco mais do navio.

– Pegamos as armas? – Perguntou Travis.

– Não. – Annabeth se aproximou da amurada. – Por dois motivos. Ele pode estar com Bia. E também pode ser pacífico. Eu disse que ele não atacaria de cara...

Travis bufou baixinho enquanto o dragão se aproximou mais.

– Saudações, meio-sangues! Finalmente chegaram! Passaram por um teste realmente importante. Saibam que foram salvos no momento em que o filho de Hades me fez a promessa.

– Espere! – Gritei. – Você disse que quando Percy abrisse mão dos poderes, você nos salvaria!

– Eu menti. Foi necessário para que você fizesse o último sacrifício. Disse que faria qualquer coisa para que sua amada ficasse segura. – Ele aproximou o focinho do meu rosto e seu hálito me atingiu como uma brisa gelada. – Você realmente a ama... Vocês alimentam um amor incondicional um pelo outro que eu nunca vi igual... Exceto com o filho de Poseidon e a filha de Atena.

– Veio nos levar até a pedra?

– Sim. E não... A pedra não está em minha posse. Desçam até minha caverna que eu lhes contarei. E também vim fazer algo... Ou melhor, vim pegar alguém.

– Você vai fazer o que agora? – Perguntei.

Sem responder minha pergunta, o dragão branco silvou mais uma vez e me agarrou com sua enorme e poderosamente forte pata... Não sufoquei. Ele não permitiu que eu sufocasse.

– Não! Nico! – Thalia tentou se aproximar, mas o dragão a afastou usando a cauda. – Não... Ele não... Por quê?

– Ele deve ir. Tem uma dívida a cumprir.

Antes que qualquer um corresse em minha direção, o dragão levantou voo. E se afastou velozmente do navio. Thalia ainda gritava meu nome.

Voávamos em uma velocidade incrivelmente absurda. O dragão pousou em frente à uma grande abertura no chão.

– Essa é a sua caverna?

Ele me colocou no chão.

– É... Eles chegarão aqui em meia hora. É necessário que você esteja pronto.

O dragão me olhou. Eu desci a escadaria de gelo primeiro. E devagar. Com medo de escorregar. Podia ouvir a respiração e os passos ruidosos do dragão atrás de mim.

Escorreguei em um degrau e quase caí de cara, mas o dragão me segurou.

– Obrigado.

Ele soltou um silvo que mais pareceu uma risada.

– Você lembra os filhotes que acabam de sair do ovo. Os primeiros passos no gelo nunca foram primeiros passos sem os tombos.

– Caiu em seus primeiros passos?

– Todos nós caímos nos primeiros passos. E continuamos caindo mesmo depois de adultos. A determinação para levantar cabe a nós mesmos para achar...

– Nossa... Agora entendi o que a Annie quis dizer ao falar que você é sábio.

– Me acha sábio, filho de Hades?

Assenti. O dragão emitiu um pequeno ruído. Ele aproximou o focinho do meu corpo e deu um leve empurrãozinho.

– Continue caminhando. Se escorregar, não te deixarei cair.

– Afinal, você é amigo ou inimigo?

– Serei seu amigo se quiser me ter como amigo. Se quiser me ter como inimigo, não viverá para pensar nisso...

– Eu não duvido disso... – Quase escorreguei, mas mantive o equilíbrio. – Eu vou morrer?

O dragão silvou baixinho.

– Não. Eu não mataria você. Ainda tem um grande caminho à percorrer. Não gosto de assistir ao sofrimento humano. Muitos dragões de minha espécie morreram com isso. Apenas eu e meu irmão estamos vivos.

– Seu irmão? Onde ele está?

– Enlouqueceu diante da guerra, morte e crime. Ele me roubou a pedra branca e a guarda. Disse-me que nenhum humano vai tocar a pedra e sair com vida, porque os seres humanos não merecem mais o presente dos deuses. Matará qualquer um que tentar se aproximar. E é isso que cobrarei de você.

– Que eu pegue a pedra?

– Mas não em sua forma... Quero que sacrifique sua humanidade até que a pedra branca seja recuperada...

– Mas... O que acontece comigo?

Notei que havia terminado de descer as escadas. Me vi em uma grande sala. Feita de gelo e cristal. Não era frio lá. Era quente e confortável. Tinha uma lareira onde crepitava um fogo branco, uma grande poltrona de couro e um sofá gigantesco.

Fui até a poltrona e tive a mais perfeita surpresa de minha vida.

– BIA!

A garotinha na poltrona correu para meus braços. Usava um vestidinho de inverno azul-gelo. Estava realmente linda.

– Nico! O dragão disse que você viria!

– O que aconteceu?

– Eu estava indo ver você na cabine, mas escorreguei quando estava no deque. Aí eu ia cair, mas o dragão me salvou. Ele me trouxe aqui e me deu chocolate quente! E me ensinou a fazer cookies! Toma. Prova um.

Ela me deu um cookie de chocolate, que tinha um cheiro maravilhoso. Provei um pedaço. Era delicioso, tanto que devorei o resto do biscoito.

Olhei para o dragão.

– Obrigado. Por salvá-la...

– É uma criança corajosa a sua, filho de Hades... Realmente corajosa. Mas agora está na hora. Aceitará o que farei com você?

– Eu disse que faria qualquer coisa. E prometi.

– Muito bem. Criança, afaste-se. O espaço vai ficar apertado.

O dragão soltou uma baforada gelada em meu rosto.

A primeira coisa que senti foi que estava crescendo. E muito. Senti um calor infernal me queimar por dentro. Toquei meu braço. Eu estava muito quente. Olhei para meu braço. Escamas negras percorriam meu corpo, que ainda crescia conforme eu sentia minha forma mudar.

Gritei, ou pelo som que ouvi, rugi.

– Está feito.

Cambaleei em minha nova forma. Estava andando sobre... Quatro patas? Me sentia maior que o chalé de Afrodite! E olha que não é pequeno! Acho que o meu tamanho cobria o deque do Argo II!

– Interessante... Nico di Ângelo, você tem a fúria e a força do Dragão Negro.

Quando tentei falar, o que emiti foi um silvo.

Não consegue falar... Só saberá se comunicar através de sua mente.

O que você fez comigo?

Olhe você mesmo.

Olhei para um espelho e saltei, surpreso, o que fez o chão tremer levemente.

Diante do que eu via refletido no espelho, soube o tamanho da promessa que fiz.

Não era Nico di Ângelo, o filho de Hades que me encarava no espelho.

Era um grande dragão negro.

(http://www.papeldeparede.etc.br/wallpapers/dragao--negro_6486_1024x768.jpg)