Rede de Mentiras escrita por Gaby Molina


Capítulo 14
Capítulo 14 - Efeitos colaterais


Notas iniciais do capítulo

EU FUI NO SHOW DO FLETCHER, GENTE
Na verdade eu fui no show do Jake Bugg, hue. Lembro que na primeira vez que vi um vídeo do Jake no Youtube eu pensei "Eita. É o Fletcher". O que fez eu gostar mais do Jake, na verdade, porque alguns de vocês sabem do meu favoritismo espiritual pelo Kingston, apesar de vocês não parecerem gostar muito dele, haushaush Até a Brooke recebeu mais comentários positivos que o Fletcher. Mas enfim.
Assistam a uma entrevista do Jake - qualquer uma que vocês quiserem, sério - e vocês vão entender.
MAS GENTE, O SHOW FOI BRILHANTE, SDJOJLJVÇZLJFPID´jk~ SCRR
E O JAKE TAVA DE AMARELO
TIPO
WTF
FOI MUITO FODA

Me deixem mais feliz ainda e deixem um review, porque vocês tão muito preguiçosos. A fic tem, tipo, uns 70 leitores e 2 ou 3 comentam sempre. Tô até com saudade de responder review.

E sobre a música do capítulo... Geeeente, esse álbum novo da Taylor *0000000* Puta merda.



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He says "look up"

And your shoulders brush

No proof, one touch

You felt enough.

— You R In Love, Taylor Swift

Clarissa

Fletcher estava comendo um hambúrguer no quarto como se nada tivesse acontecido, e como se não fosse proibido comer no quarto. Pseudopunk idiota.

As palavras dele ainda retumbavam em minha cabeça, e ocupavam todo o espaço. Ele estava jogando comigo, não havia outra alternativa. Ele sabia que eu recuaria, então estava avançando. Era uma dança psicopatamente calculada em sua cabeça.

Mas então percebi. Eu acusara Fletcher de esperar que eu o apunhalasse pelas costas, mas eu estava fazendo exatamente a mesma coisa.

E então Fletcher se levantou e saiu do quarto.

Ethan

Encontrei Fletcher no corredor.

— Ei — chamei. Ele me encarou meio vagamente. — Viu a Elena?

— Não.

— Procurou?

— Não.

Ergui uma sobrancelha.

— Tá tudo bem?

Ele retribuiu o gesto.

— Por que estaria?

— Bem, eu vou procurar a sua melhor amiga, então.

— Boa, Blackery, faça com que eu me sinta pior — ele revirou os olhos. — Muito legal da sua parte.

— Fazer o quê? Sou um cara legal — sorri e continuei andando pelo corredor. Desci as escadas correndo, e encontrei Elena na cozinha. — Ei!

Ela me fitou, esboçando um sorriso.

— Olá.

Sentei-me ao lado dela.

— E então, como está nesta bela noite?

Ela deu de ombros, olhando algo atrás de mim.

— Bem, bem. Mas ele...? — ela apontou para Fletcher.

— Já desisti de entender.

— Ah. Ok. Você... Hmmm... Quer dar uma volta?

Fitei-a, um pouco surpreso, porém feliz.

— Claro!

Então saímos da casa e começamos a caminhar pelo jardim. Era uma noite agradável, com uma brisa leve que bagunçava um pouco o cabelo louro dela.

— Gosto de caminhar — comentei.

— É agradável — ela concordou.

— Faz com que este lugar pareça tão maior, sabe? — olhei para cima à procura de estrelas. — Como se não estivéssemos confinados num espaço tão mínimo. Né? — sem resposta.

Quando olhei para o lado, ela havia sumido. Soltei um palavrão e comecei a correr em direção à cerca mais próxima. Tinha de admitir, estava ficando um pouco bom nisso.

E lá estava ela, prester a atravessá-la. Eu a puxei para longe do muro, tentando proteger minha cara de seus tapas cegos.

— Pare! — pedi, já sem muita força. — Jezebel, pelo amor de Deus, você não pode tentar fugir daqui todo mês.

Jessie parou de se debater, mas eu não a soltei.

— Desde quando você virou o guarda-costas da Elena? — ela ergueu uma sobrancelha.

— Não virei. Ela não quer que eu me envolva. Mas não tem importância.

Ela bufou.

— Você não entende. Eu preciso encontrá-lo. Preciso dizer a ele...

— Quem?

— Preciso dizer que não foi minha culpa. Eu não queria estragar as coisas entre eles.

— Fletcher?

Ela revirou os olhos.

— Não, seu idiota. Por que eu fugiria daqui para pedir desculpas a Fletcher? Se toca.

Ela soava tão diferente de Elena que parecia sobrenatural.

—... Quando eu acordei e me vi naquele vestido... Eu pirei, tá? Você também teria pirado. Mas eu preciso dizer ao Gabriel que...

A ficha caiu depois de um minuto. Eu a segurei com mais força.

— Você estragou o dia do casamento dela.

Jessie suspirou, e notei que minhas palavras haviam soado acusatórias. Não fora de propósito. Pelo menos, não muito.

— Ela nunca te contou essa história? — Balancei a cabeça. — É, foi a primeira vez que eu apareci em três anos. Era para os remédios terem funcionado, suponho. Eu acordei sem saber onde estava, com um vestido branco longo e um véu, prestes a me casar com um desconhecido. Então eu fugi. Eu não entendia... Não entendia que tudo o que eu sou é um distúrbio.

Soltei-a. Não sabia se ela ia fugir, mas um sentimento de... Não, não pena. Compaixão. Um sentimento de compaixão brotou no fundo do meu ser, e eu imaginei como seria acordar de tempos em tempos em um ambiente hostil, com pessoas tentando te fazer desaparecer. Não conseguia imaginar.

— Quer que eu fale com a Elena sobre isso? — ofereci.

Ela franziu o cenho.

— Quer saber por que Elena não quer que você se envolva, Ethan? — ela fez uma pausa. — Porque eu destruo tudo o que toco. Gabriel, Fletcher, a faculdade de enfermagem... Ela provavelmente tem medo que eu destrua você também.

Fiquei em silêncio por um minuto, tentando processar a informação. Não sabia mais o que fazer.

— Jessie. Por favor, fique em Carmen Hallow essa noite. Por favor.

Jessie me encarou por um minuto. Ela não disse nada, mas eu a observei caminhar em direção à casa principal. Então a segui. Sentei-me ao seu lado no sofá.

— O que mais você quer? — ela ergueu uma sobrancelha.

— Só estou lhe fazendo companhia. Ninguém deveria ter de passar a noite sozinho.

Ela deixou escapar uma risada.

—... O que foi?

— O mais próximo que já passei de uma noite perto de alguém foi quando Fletcher bateu com uma panela na minha cabeça.

— Não me parece próximo o suficiente.

Ela estreitou os olhos azuis.

— Ela gosta de você, certo? Elena, digo.

— Hmmm... É complicado.

— Porque se ela não gostar, ela é retardada — ela deu de ombros.

— Uau. Obrigado, Jessie.

— Disponha, Blackery.

* * *

Jessie cochilou no sofá. Subi para pegar um cobertor e a cobri, por fim me deitando no outro sofá. Acordei cedo e fiquei observando-a por um momento, ainda me sentindo um pouco mal por não ter reconhecido Jessie de cara na noite anterior. Depois de algum tempo, o par celeste de olhos azuis se abriu. Sorri.

— Bom dia.

Ela franziu o cenho, cheirando o cobertor.

— Fletcher fez a coisa da panela de novo? Por que estou aqui?

— Elena — meu sorriso se estendeu. — Tive uma conversa coração-coração com a Jessie. Convenci-a a não fugir.

— Onde está Fletcher?

— Não tenho certeza.

Ela empurrou o cobertor, bufando.

— Blackery, eu falei para você não se meter nisso. Já basta Fletcher...

— Olha, tenho certeza de que Fletcher se importa muito com você, sério, mas no momento, com os pais dele e tal... Ele parece meio sobrecarregado.

— Ele te pediu para fazer isso? — Fiz que não com a cabeça. — Cacete, Ethan.

— Mas deu certo.

— Você não precisava ter feito isso.

— Elena — sorri. — A triste verdade é que você poderia cortar minha garganta, e com meu último suspiro eu pediria desculpas por sangrar na sua camiseta.

— Zumbi.

Senti as emoções se intensificando dentro de mim, mas tentei comprimi-las.

— O que, quer que eu te trate mal? Ou simplesmente um pouco menos bem? — revirei os olhos. — Escuta. Não estou fazendo joguinhos. Sempre fui bem sincero contigo. Gosto de você.

Ela suspirou.

— Não gosto que fique fazendo favores; não tenho como retribui-los.

— Um jantar e estamos quites.

— Está falando sério?

— Eu cozinho.

— Você já cozinha às vezes.

— Mas dessa vez deixe-me cozinhar para você.

— Um encontro na casa onde moramos é meio patético.

Fitei-a com a minha melhor cara de empolgação.

— Deixe-me convencê-la de que não é.

Ela me encarou por um longo minuto.

— Tá. Um jantar. Só isso.

Meu sorriso se estendeu.

— Te encontro às oito.

Elena

Eu já havia notado que Ethan era bonito, mas quando o vi de terno na cozinha naquela noite percebi o quanto. Seu sorriso largo e sincero apareceu ao me ver, e ele ajeitou rapidamente com os dedos o cabelo louro. Ele trocou o peso do corpo de um pé para o outro durante alguns segundos antes de me dar boa noite. Sentei-me enquanto ele servia o frango à parmegiana, por fim se sentando também.

— Eu rezo antes de comer — ele disse. — Não precisa se juntar a mim se não quiser.

Fiquei um pouco surpresa, mas disse que me juntaria a ele. Ethan entrelaçou nossas mãos na mesa e fechou os olhos. Fiz o mesmo.

— Senhor Pai Todo Poderoso, obrigado por esse dia abençoado e por essa refeição que nos é provida. Obrigado por essa garota incrível sentada em frente a mim, e lhe peço que eu não a entedie até a morte. É em nome de Jesus Cristo que lhe peço e lhe agradeço, amém.

— Amém.

Quando abri os olhos, não pude evitar sorrir.

—... Isso foi meio... informal.

Ele deu de ombros.

— Deus não se importa com a formalidade, Ele quer que sejamos sinceros com Ele. Que construamos um relacionamento de verdade. — ele corou um pouco. — Perdão, não sei se você...

— Não sei no que acredito — admiti. — Mas é um jeito legal de ver as coisas. Eu... posso comer agora?

Ele sorriu.

— Pode, claro.

Então cortei um pedaço da parmegiana e o pus na boca. Era muito bom. Disse isso a Ethan, que ficou feliz. Engajamos uma conversa sobre colegial onde tínhamos que adivinhar coisas um sobre o outro.

— Rei do baile — falei. — Certeza.

— Sua escola tinha bailes? Que coisa americana — ele pareceu surpreso. — A minha não tinha bailes, mas duvido que eu fosse ser eleito, já que era o nerd da aula de Literatura. E usava aparelho. Mas você foi rainha do baile.

Corei um pouco.

— Culpada.

Continuamos com o papo furado por mais um tempo. Era bacana, a conversa fluía. Por fim perguntei o que eu realmente queria saber:

— Sua família não vem visitar?

Ele baixou os olhos.

— Minha família... não se dá muito bem. Entre si.

— Eles não podem vir em dias separados?

— É meio complicado.

— Minha dupla personalidade largou meu noivo no altar. Eu entendo uma coisa ou duas sobre complicado.

— Justo. Acho que foi aí que me aproximei da religião. A família falha, mas Deus não.

— Você vai me chamar de herege se eu perguntar por que Deus deixa que as pessoas cheguem no estado em que estamos?

Ele riu.

— A Bíblia diz: "Não julgarás". Esses caras que acham que são melhores que os outros estão bem longe de cristãos. As pessoas chegam no estado que estamos porque Deus nos deu uma arma muito poderosa e destrutiva chamada livre arbítrio — ele me fitou. — A fonte de toda a desgraça humana. Mas também de toda a liberdade. E a verdade é que é na liberdade que as pessoas encontram o pecado. O motivo dos holocaustos e de todas as coisas horríveis é simplesmente que Deus te deu o poder de decidir o que fazer com a sua própria vida. E então ele também te deu a Bíblia, que é a visão dele de como você deveria viver a sua vida. Mas no fim, a escolha é sua. — ele corou novamente. — E não é nisso que eu imaginei que esse encontro daria.

— Você fica envergonhado falando disso.

— É que é bem pessoal. Não estou exatamente acostumado a pregar.

— O que acha que estaria fazendo no mundo lá fora?

Ele deu de ombros.

— Provavelmente, ainda dando aulas de taekwondo. Eu ensinava crianças — um sorriso escapou de seus lábios. — Eu gostava muito.

Toda vez que eu ouvia Ethan falar eu me perguntava como era possível alguém tão iluminado ter uma escuridão tão profunda quanto a que eu sabia que ele possuía dentro de si.

Ethan pôs o braço sobre a mesa e eu segurei sua mão. Ele sorriu e continuou contando sobre as aulas.

* * *

— Eu me diverti essa noite — disse Ethan, parado no batente da minha porta.

— Eu também — sorri.

— Boa noite, Elena.

— Boa noite, Ethan.

Ele sorriu uma última vez, me fitando por um momento, e começou a se afastar. Fechei a porta e olhei para o quarto.

— Cadê o Fletch?

Em resposta, Clarissa apenas deu de ombros. Revirei os olhos.

—... O que houve?

— Nada.

— Tá bom, não conta se não quiser — dei de ombros e me joguei em minha cama.

Percebi que estava inquieta. O silêncio estava me consumindo, e antes que percebesse já havia batido a porta do dormitório atrás de mim e corrido escada acima. Bati na porta e Ethan a abriu, já vestindo uma calça de moletom. Fingi não notar a seminudez.

— Ah, oi — ele esboçou um sorriso, mas parecia surpreso.

Sem pensar muito no assunto, eu me aproximei e o beijei nos lábios. Senti suas mãos em volta de minha cintura, e logo as minhas estavam em seu cabelo surpreendentemente macio. Quando abri os olhos, percebi que gostava da sensação do olhar dele em mim.

— Boa noite — falei.

— Boa noite.

E então corri de volta ao dormitório.

Fletcher

QUARTA-FEIRA, 00:01 A.M

Ainda estava acordado no telhado.

QUARTA-FEIRA, 00:02 A.M

Ela estava na minha cabeça.

QUARTA-FEIRA, 00:20 A.M

Pensei no lápis borrado dela. Sorri como um idiota.

QUARTA-FEIRA, 01:02 A.M

Tentei dormir de novo.

QUARTA-FEIRA, 01:18 A.M

Ela ainda estava na minha cabeça.

QUARTA-FEIRA, 01:56 A.M

Pensei nos lábios dela.

QUARTA-FEIRA, 02:12 A.M

O cansaço me tomava quase por completo, mas meus olhos se recusavam a se fechar.

QUARTA-FEIRA, 03:09 A.M

Sai da minha cabeça, porra.

QUARTA-FEIRA, 03:57 A.M

Ainda não conseguia dormir.

QUARTA-FEIRA, 04:37 A.M

Ela. Ela. Ela.

QUARTA-FEIRA, 05:02 A.M

Já se tornou tortura.

QUARTA-FEIRA, 05:58 A.M

Finalmente consegui adormecer.

QUARTA-FEIRA, 06:35 A.M

O sol bateu na minha cara e fui obrigado a acordar.


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Notas finais do capítulo

E sim, deixei o POV do Fletcher para o fim de propósito. Hue.