Já estava mais relaxada após secar meu cabelo e sentir aquele vento quente preencher o frio que eu sentia, tanto por fora, quanto por dentro. Acho que não devia ter dito tudo aquilo pro meus pais, me senti arrependida, mais estou sem coragem de ligar, então vasculhei minhas coisas, e resolvi ler o livro que minha mãe havia me dado, no meu aniversário, se chamava "O grito do Tigre", um título não muito chamativo pra mim, mais que de qualquer forma, me deixava curiosa. Comecei a ler, nada empolgada, mais resolvi continuar.

"Então tudo escureceu, e só se ouviu... O grito do Tigre". Nossa, havia lido o livro todo, já passava das duas da manhã, e eu estava morrendo de fome, desci rapidamente as escadas, e fui para a cozinha, abri a geladeira, e não encontrei nada que me agradasse no momento, então preparei rapidamente, dois pacotes de macarrão instantâneo, liguei a TV da sala, e fiquei assistindo séries, até acabar de comer, então subi pro banheiro, escovei os dentes, e fui dormir, pensando na história do tigre. Foi quando sonhei novamente, com meu irmão:

"–Olha M.J., está chovendo lá fora! - fala Daniel.

–Eu sei, eu sei, não é legal? - pergunto o abraçando.

–Sim! Será que aqui é como no céu?

–Acho que não Dandan, lá é perfeito...

–Mais pode ser, porquê lá também chove né?

–Na verdade, é de lá que vem a chuva.

–Eu quero ir pra lá então! - exclama animado.

–Todos queremos...

–Pois assim como chove aqui, lá é feita a chuva..."

Ãh, acordo assustada com lágrimas nos olhos, "TEC TEC", que barulhos seriam esses, me pergunto; "TEC", vinham da janela, vou até lá descalça, e abro, sendo atingida por uma pedra, e não estava chovendo:

–Ei, me desculpe, te acordei? - pergunta André, que está cheio de pedras nas mãos.

–Não, não, já estava acordada... - minto.

–Que bom, quer sair comigo? - diz cara de pau, enquanto joga as pedras no chão.

–Não sei se posso... - olhei o relógio, eram nove e meia da manhã. - Minha tia avó vem pra cá toda manhã... Preciso sempre estar aqui quando ela vem.

–Seria uma senhora de cabelos curtos grisalhos? - ele pergunta.

–Sim, é. - eu respondo desconfiada.

–Bom, ela acabou de sair daqui... - ele diz fingindo estar sem jeito.

–Você ficou espionando a minha casa? - falo boquiaberta.

–Eu não diria espionando, pois afinal, não sou um psicopata... Talvez só esperando você sair. - ele diz olhando pra mim com esperança. - E aí, topa?

–Tá tudo bem psicopata... Onde vamos? - pergunto.

–Surpresa! - ele exclama.

–Como assim? Nada disso! - digo indignada.

–Surpresas, são surpresas Maria Júlia... - ele diz provocando.

–Psicopata! - respondo fechando a janela.

Normalmente, não ligava muito para roupas, mais agora, estava surtando! Tomei um banho rápido, coloquei uma calça preta, o All Star surrado, e uma blusa de manga cumprida de lã, amarela. Ainda bem que não estava frio.

Quando chego lá fora, André me espera em cima de uma moto:

–O que é isso? - pergunto sem pensar.

–Uma moto! - ele diz num tom sarcástico. enquanto eu o fuzilo com os olhos. - E olha só você, tão linda... - diz sem tirar os olhos de mim.

–Você também. - falo sem graça, mais não estava mentindo, ele usava calça jeans, e uma blusa preta.

–Vamos? - diz me entregando um capacete.

–Ok. - falo subindo na moto, já com o capacete.

–Ops, esqueceu de prender. - ele diz se virando e prendendo meu capacete, enquanto eu não tirava os olhos dele.

–Desculpa. - digo, e ele aperta os olhos, querendo dizer para eu não me preocupar.

Então a moto sai, fazendo aquele barulho alto, e eu me seguro em sua cintura, cada vez mais forte, era a primeira vez que eu andava de moto.