Meu Melhor Amigo escrita por Jake J


Capítulo 5
Ele não está mentindo


Notas iniciais do capítulo

Outro capítulo *--* Brasil venceu então acho que estão felizes, mas como eu não estou torcendo pro Brasil (pra quem quiser saber, estou torcendo pra Alemanha hue)... Espero que gostem.



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Meu coração parece querer explodir a cada passo mais próximo da minha casa. Não tenho ideia de como entrarei ou o que falarei, mas sinto que preciso falar com eles, afinal, eles são a minha família. O máximo que poderia acontecer é eu ser expulso de casa (e isso já o ruim o bastantes), mas eu tinha que encará-los e falar a verdade.

Ao passar pelo portão sinto como se estivesse andando para o meu próprio túmulo. Minhas mãos estão escondidas em algum lugar dentro dos meus bolsos, minha testa parece esquentar a cada segundo e sua bastante. Tudo parece tão errado, como se aqui já não fosse a minha casa, como se não fosse o meu lar desde sempre.

Eu toco a campanhia e espero os segundos que parecem se estender por horas. O mundo parece congelar quando a maçaneta se mexe e a vontade de correr dali assola minha mente. Não posso fugir, eu precisava resolver aquilo, agora. Eu sorrio ao ver minha mãe na porta. Seu cabelo ruivo estava um pouco molhado como se ela tivesse acabado de sair do banho, seus olhos parecem brilhar ao me ver e ela não precisa dizer anda.

Eu pulo nos braços dela para um forte abarço e choro. Não me importo com mais ninguém naquele momento. Ela também estava chorando e apertava as minhas costas com tanta força que poderia doer, se eu não estivesse tão feliz por ela estar feliz em me ver. Toda a ansiedade e nervosismo que me abalavam alguns segundos atrás evaporaram e eu já não me importava em enfrentar o meu pai, a minha mãe estava aqui, do eu lado.

–Eu... Por apenas um segundo... –ela tenta, mas a emoção não deixa e ela começa a soluçar. –Por um segundo, eu pensei que não fosse mais voltar.

–Eu não pensei nisso nem por um momento. –digo e ela fecha a porta atrás de mim, como se tivesse medo que eu resolva sair correndo novamente.

–Você precisa conversar com o seu pai. –ela fala e eu abaixo um pouco a cabeça, parece que o medo ainda não foi totalmente embora.

–Eu sei. –falo e ela me abraça novamente.

–Eu vou estar lá, do seu lado. Eu e a sua irmã. –ela diz e eu me sinto bem mais seguro.

Andamos em direção à sala e sento no sofá. Minha mãe sobe as escadas, provavelmente para chamá-los. Minhas mãos tremem um pouco e o frio parece fazer minhas pernas, que não criam corajem para se mexer, congelarem. Os passos na escada ecoam pela sala nas minhas costas e eu não consigo virar. Minha cabeça abaixa e a única coisa que consigo ver são os sapatos do meu pai quando ele senta na minha frente.

–Luke?-ele pergunta, meu coração dispara ao ouvir o som da voz dele. Não sei se conseguirei, eu quero fugir nesse momento. Porém minha mãe senta do eu lado esquerdo e Lilly do direito, eu não estava sozinho.

–Sim?-tento falar seguramente, mas mina voz sai como a de um gato assustado.

–Wayne veio aqui para me falar uma coisa. –Wayne era o nome do pai do Eduardo, meu pai o conhecia desde a faculdade. Ele parece calmo, mas sinto como se ele fosse uma bomba-relógio, pronta a explodir assim que o tempo acabasse, ou, nesse caso, assim que eu admitisse a verdade.

–O que ele disse?-pergunto um pouco melhor dessa vez, ganhando confiança, mas ainda não consigo olhar para ele, meus olhos continuam fixos nos seus sapatos.

–Ele disse que você... –sua voz falha, como se a próxima frase fosse dolorosa demais para ser dita. A voz dele não é insegura, mas firme, e eu já não sei o que ele pode fazer. –Que você pode ser gay.

As palavras não podem sair com mais desgosto através da boca dele, como se fossem ácido e ele só precisasse cuspi-las. Eu não sei o que devo dizer; meu silêncio só consentirá as dúvidas dele e eu não quero só consentir, eu preciso dizer o que eu sinto. Eu abro a boca, mas as palavras simplesmente se seguram na minha garganta e eu não consigo pronunciá-las. Eu preciso falar. Eu preciso.

–Ele não está mentindo. –digo. Minha cabeça parece girar e suor escorre pelo meu rosto para então eu ouvir a resposta dele.

–Você não é meu filho. –seria mais fácil ele ter enfiado uma faca no meu coração, ou quem sabe uma faca seria menos dolorosa do que essa frase pronunciada na boca dele. –Não pode ser.

Eu não choro, não respiro, não faço nada. Lilly levanta e eu olho diretamente para ela. Sua expressão é de completa indignação, como se fosse ela não tivesse tempo pra ficar ouvindo aquilo.

–Se é isso que você tem a dizer, então você também não é meu pai! –ela praticamente grita. –Porque se você não sabe, ser homossexual não muda quem ele é. Ele é o mesmo, o mesmo idiota e engraçado Luke que eu conheço. Agora, renegar um filho só por ele não ser o que você quer que ele seja, não parece humano! Eu não te conheço pai, parece que eu não te conheço!

Ela anda rapidamente para subir as escadas e começa a chorar no meio do caminho. Mina mãe segura minhas duas mãos fortemente, ela não suportaria a ideia de me ver ir embora de novo. Eu, pela primeira vez naquela noite, olho para o meu pai. Ele parece ter envelhecido uns dez anos e suas mãos seguram a poltrona fortemente, como se ele não decidisse se o que estava sentindo era raiva ou medo.

–Eu vou deixar você pensar mais um pouco, David. –minha mãe diz e me puxa para fora do sofá. –Só mais um pouco.

Enquanto ela me conduz para a escada, a frase do meu pai ecoa na minha mente: “Você não é meu filho.”. “Você não é meu filho.”. “Você não é meu filho.”. Eu não aguento, minha cabeça gira como se as minhas pernas tivessem perdido sua segurança, e quando já estávamos quase no fim da escada, minha mãe larga a minha mão e eu caio.

Tudo não passa de uma confusão de borrões. A cada batida uma explosão de dor preenche cada parte do meu corpo e eu não consigo contar quantas vezes eu bato as minhas costas. Em certo momento minha cabeça bate na ponta do corrimão e sinto uma dor excruciante na parte posterior da cabeça. Por sorte, a escada não é tão grande e não perco a consciência. Mas não demora muito para eu sentir o sangue escorrendo pelo chão.

–Luke!-minha mãe grita e desce a escada correndo. Ouço outra correria vinda lá de cima e vejo que Lilly já chegou também. Olho para o lado e vejo meu pai parado, sem expressão, como se ele tivesse perdido a razão de viver.

–Eu estou bem. –tento dizer, mas não é verdade. A dor é enorme e eu começo a sentir tonteiras pela perda de sangue.

–Vamos te levar para o hospital. –minha mãe fala calmamente. –David!

–Eu... Eu não consigo. –ele diz e seus olhos não se mexem, ele fita o chão e seu corpo todo parece tremer.

–Lilly, cuide do seu irmão. –minha mãe diz e Lilly põe a mão na ferida para segurar o sangue.

Minha mãe anda na direção do meu pai e fica logo na frente dele. Meu pai parece sentir mais dor do que eu, quando ela lhe dá um tapa que ecoa pela casa.

–Ele é seu filho! E está sangrando ali na sua frente, agora, levanta daí e vá pegar o carro. –meu pai fica vermelho e levanta. Eu não estou com raiva dele, nem magoado. Ele só não esperava por tudo isso, mas também precisava de um aviso desses pra perceber como ele estava agindo, porque esse não era o pai que eu conhecia.

–Ele vai cair na real. –fala Lilly do meu lado. Eu sento e o mundo parece girar mais rápido, mas eu continuo firme.

–Me desculpem. –falo. –Isso tudo é culpa minha.

–Não. Você só nos contou quem você é. Mentir para nós seria pior. –fala Lilly e minha mãe me ajuda a levantar.

–Vamos. Conversaremos quando você estiver melhor. –ela fala e sorri docilmente.

***

Hospitais não eram os melhores lugares do mundo para se passar o tempo, muito menos a noite. Mas lá estava eu, com a cabeça toda enfaixada sentado em uma poltrona, esperando a alta do médico. A queda não fora tão grave, poderia ter sido pior, então eu só precisei de um curativo para parar o sangramento e um remédio para as dores que eu iria sentir por mais alguns dias.

–Ele está aqui. –fala Lilly entrando no quarto.

–Quem?-pergunto.

–Eduardo. –ela responde e sinto uma pontada de nervosismo.

–Como ele soube?-ela faz cara de inocente e eu me irrito um pouco. –Você não deveria ter feito isso. Papai ainda está aí?

–Papai está aqui na frente, mas ele ainda não o viu. Ele quer entrar, mas depois que eu contei o que aconteceu... Ele disse que vai esperar lá fora. –ela responde e eu relaxo um pouco. –Me desculpa. Eu senti que ele precisava saber.

Ela sai do quarto e os minutos parecem horas, passando cada vez mais devagar. E quando eu penso que vou ficar doido ali, minha mãe entra e diz que eu já posso ir pra casa. Levanto aliviado e vou caminhando para fora daquele lugar muito ruim para se passar uma noite. Meu pai estava sentado na frente do quarto e levanta quando nós passamos por ele, mas não fala nada.

Os corredores se estendem e parecem nunca acabar. Quando finalmente achamos a porta para sai, minha respiração fica um pouco irregular e as minhas pernas não parecem estarem tão fortes. Se Eduardo estivesse ali e eu meu pai o visse... Eu não sabia o que esse encontro proporcionaria para nós.

Ao passar pela porta, meu coração parece parar por alguns segundos e voltam em um ritmo acelerado. Eduardo está encostado na parede da frente do hospital. Ele nos vê e anda na nossa direção. Cada passo dele é uma batida mais forte do meu coração. Seus olhos parecem confiantes e seu cabelo loiro está arrumado, o fazendo parecer lindo aos meus olhos.

–Boa noite. –ele diz quando nos alcança, seus olhos estão fixos em mim e ele sorri. Minha família toda está de frente para ele e eu percebo o quão corajoso ele é. Mas ao perceber em que situação nós estávamos, eu já me perguntava se aquilo era corajem ou estupidez.

–Boa noite. –meu pai fala e eu sinto um arrepio na espinha, porque ele tinha que falar?

–Eu preciso conversar com vocês. –fala Eduardo.


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Notas finais do capítulo

Eai? O que acharam? Estou muito feliz hoje porque comprei meu livro nº 70 :3 (Sim, eu tenho 70 livros huehue). Mas espero comentários para aumentar a felicidade *--*