Meu Melhor Amigo escrita por Jake J


Capítulo 16
Eu seria uma pessoa sorrindo mesmo tendo uma doença muito grave


Notas iniciais do capítulo

Helloo ^^Demorei de novo, né? Péssima pessoa eu, mas dessa vez tenho explicações plausíveis. Eu fiquei doente e ainda teve todo esse negócio de natal e tal, nem entrei no site. Mas aqui esta o capítulo, espero que gostem e comentem :)
Obs> A parte em itálico é um flashback, vai ficar meio óbvio, mas só pra avisar k



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Eu corro. Não sei se eles vão conseguir me alcançar, mas eu tento ser o mais rápido possível. Dobro na primeira rua à direita que encontro e entro em um beco. No beco, havia uma lata de lixo retangular imensa, com tamanho suficiente para que eu me esconda, e é isso que faço. Me agacho ao lado da lata de lixo e espero ouvir vozes.

–Ei! Eu vi ele entrando aqui!-um deles grita e posso ouvir as respirações ofegantes deles, assim como a minha.

–Onde está o filhinho da mamãe? Ela não está aqui pra te defender?-outro deles zomba. Eu penso em tentar surpreendê-los e correr pelo meio deles, mas com três deles não sei se conseguiria.

Eu sento no chão e já me preparo para o que vem em seguida. Eu não queria apanhar, mas eu era um garoto estranho em uma escola nova, não tinha amigos para me defender. Passo os braços ao redor dos joelhos e abaixo a cabeça, espero pelo pior. Ouço os passos. Eles se aproximam.

–Ei! Seus fedelhos! –grita alguém, provavelmente na entrada do beco. –A mãe de vocês já está atrás de vocês, seus idiotas.

Os passos cessam e sei que eles estão assustados. Provavelmente, é alguém mais velho. Eu levanto do meu esconderijo e identifico um garoto de olhos verdes, provavelmente com uns catorze anos, três anos mais velho que eu. Os meninos da minha sala que me perseguiam já estão saindo do beco, passando o mais distante possível do garoto mais velho e saem correndo.

O garoto some junto com eles e vou andando até a saída do beco. Olho na direção que eles foram e ainda consigo vê-lo correndo atrás dos garotos. Mas agora, outro menino de olhos verdes encontra-se logo na minha frente, ele podia ser um pouco mais velho que eu, mas tinha a minha altura e seus olhos também verdes eram destacados pelo cabelo loiro que brilhava à luz do sol.

–Você está bem? Eles fizeram alguma coisa com você? –ele pergunta e me perco um pouco no brilho dos olhos dele, tinham a cor das folhas novas na primavera. Ele era tão bonito, mais do que um dia eu poderia ser.

–Eles não fizeram nada. Graças ao... Seu irmão?-pergunto, afinal, olhos verdes desse tom não eram tão comuns.

–Sim, ele é meu irmão. Vimos o que eles estavam fazendo e resolvemos ajudar. Você é novo aqui?

–Me mudei semana passada, mas hoje foi meu primeiro dia na escola. –respondo e ele oferece a mão para um aperto.

–Meu nome é Eduardo. –ele diz e abre um sorriso que ilumina meu coração que a pouco estava em pânico.

–Prazer em te conhecer, Eduardo. Meu nome é Luke. –eu digo e aperto a sua mão. Sem mais nenhum prévio aviso, eu sabia que ele seria meu amigo aqui.

O terror se alastra em meu peito e eu já não sei se consigo mais gritar com Connor para avisar que seja mais rápido. O carro parece deslizar pelas ruas, em uma velocidade que, em outras ocasiões, eu consideraria totalmente irresponsáveis.

O sol acabou de nascer, mas seu brilho já é forte o suficiente para me revigorar da noite não dormida. Tomo mais um gole de café que comprei antes de entrar no carro e tento me acalmar. Minhas mãos param de tremer um pouco, mas meus pés ainda balançam inquietos.

–Vai dar tudo certo, Luke. Se acalme. –Connor fala e tenho vontade de gritar para dizer que eu estava tentando, mas não posso descontar nele.

–Eu sei. –digo apenas. Dale continua calado no banco de trás, como se a presença de Connor o incomodasse. Mas ao perceber meu pânico, ele põe sua mão sobre a minha e a aperta em sinal de encorajamento.

–Nós vamos conseguir. –ele fala e volta a sentar normalmente. Eu não respondo nada, ele disse tudo.

Os minutos parecem passar dolorosamente devagar e quando finalmente chegamos ao aeroporto meu relógio marca dez minutos para as seis. Saímos do carro e eu ando apressadamente até a entrada do aeroporto. Connor e Dale vêm logo atrás de mim. Vou até a recepção e espero por Connor.

–Com licença. Queremos saber se o voo 776 já partiu. –diz Connor e a recepcionista, que não passa de uma senhora com uns cinquenta anos, não parece muito feliz com o requerimento.

–Deixe-me conferir. –ela diz e vira o rosto para o monitor.

Meus dedos batem inquietos na bancada e Dale fica do meu lado. Ele veste uma camiseta vermelha, que deixa à mostra seus bíceps definidos. Seu cabeço está bagunçado e seu topete esta inclinado para cima, se partindo em alguns pontos. Ele parece ainda um pouco indisposto, mas olha para mim e seus olhos me passam a confiança que eu precisava.

–Sinto dizer, senhores, mas o voo 776 partiu há meia hora. –ela diz e meu coração parece partir em mil pedaços.

–Obrigado. –fala Connor e olha para mim. Eu não me movo, mas sinto meu rosto esquentar e sei que estou prestes a chorar. Mas não posso chorar, não aqui.

–Você vai comunicar a polícia? –pergunto e me obrigo a começar a andar.

–Sim, é necessário. Mas fará com que todo o meu trabalho seja em vão. E eles ainda terão que concretizar as provas para irem atrás dela, darei tudo que tenho para eles. –ele fala e parece um pouco triste. –Não vou conseguir me tornar perito ainda esse ano.

–Você vai conseguir outro caso logo. –eu falo. –Você é bom no que faz.

–Obrigado. –ele diz e saímos do aeroporto.

O caminho de volta é silencioso e voltamos com tranquilidade, apesar da tensão que esmaga minha mente. Connor dirige sem pressa, mas ainda rapidamente, e Dale observa os prédios pela janela, parecendo estar perdido em pensamentos. Eu apenas olho para frente e espero que eu chegue em casa.

Quando finalmente o percurso de volta acaba, eu saio do carro, mas cada passo parece pesar dez vezes mais. Eduardo se fora. Eu não o veria por um bom tempo. Eu precisava dele. Eu o amava. Eu não podia perdê-lo. Eu o perdi. Connor vai embora no carro e Dale apenas dá um sinal de que esta indo, meu coração aperta e preciso de alguém, sei que preciso.

–Dale!-grito e ele ouve. –Você pode ficar um pouco?

–É claro. –ele diz e o seu sorriso é a melhor coisa que eu vejo no dia.

Falo para minha mãe que depois podemos conversar, e que só queria ficar um pouco no quarto. Ela apenas acena da cozinha, entretida em alguma receita nova. Eu e Dale subimos a escada e entramos no meu quarto. Lilly não está por aqui, teria que falar para ela depois.

–Você acha que ele vai voltar?-eu pergunto quando já estou sentado na cadeira do computador. Dale senta na cama.

–Não sei. Ele disse que quando tudo estivesse certo, não é verdade? –ele tenta, mas não parece tão animado.

–Mas a mãe dele é uma foragida, as coisas não vão voltar a ser certas para ele. –eu falo e escrevo um email para Eduardo, eu só queria que ele respondesse e que esse buraco no meio de meu peito fechasse. Mas isso provavelmente não aconteceria tão cedo.

–Eu sei, Luke... –Dale fala e se deita na cama, seu olhar se perde no teto e ele parece pensativo.

–No que você está pensando?-eu pergunto e deito ao lado dele. Olho para o teto também, que não passa de um forro totalmente branco.

–Nada. Só estou sendo eu mesmo, egoísta. –ele diz.

–Você não é egoísta. Você tem me ajudado tanto. –eu falo e viro para olhá-lo diretamente. Nós estamos a alguns centímetros de distância, mas consigo sentir sua respiração, forte e rápida.

–Eu sou, Luke. –ele fala e se aproxima tanto que posso sentir o coração dele pulsando. Seus olhos azuis nunca pareceram tão claros. –Porque você está sofrendo tanto por causa do Eduardo e a única que consigo pensar é que você não está com ninguém agora.

Eu tinha certeza que amava Eduardo, e isso não é algo que passará algum dia. E também sabia que meus sentimentos por Dale eram mais fortes do que uma simples amizade, mas eu não podia negar a dor que eu sentia no momento; se eu ficasse com Dale agora, era como se eu tivesse mentindo para mim mesmo, como se eu não ligasse para o fato de que o Eduardo se foi, o que não passava perto da verdade.

–Você não precisa falar nada. –Dale diz. –Eu sei que só me quer aqui para ter companhia. Eu posso fazer isso. Eu sempre faço apenas isso, não é verdade?

–Me desculpa, Dale. Eu não queria fazer você sofrer. –falo e sento. Tudo era tão complicado.

–Eu que deveria falar desculpa. A culpa e minha.

–Não, não é. –digo. –Se a culpa fosse apenas sua, eu não teria retribuído o beijo naquele dia. A verdade é que você faz algo que eu desconheço dentro de mim. Um sentimento poderoso, Dale. Mas eu tenho reprimido-o, porque era o certo a se fazer. Mas agora, eu não sei. Quem sabe as coisas mudem com o tempo.

–Não pense nisso agora. Você não precisa. –ele fala e senta do meu lado. –Que tal sairmos amanhã? Você precisa esquecer um pouco de tudo isso.

–Acho que você tem razão. –eu falo meio desanimado.

–Eu estou indo agora. Mas amanhã, às seis da tarde eu passo pra te buscar e a gente esquece um pouco esses problemas.

–Tudo bem. –digo e ele se levanta.

Quando ele já está do lado de fora, eu me lembro de algo:

–Dale!-chamo e ele se vira. –Você vai me dizer o que falou para ele no dia do enterro?

–Vá amanhã e podemos conversar. –ele fala e se vai.

Eu me jogo na cama e observo o teto novamente. Eu não sabia se era certo eu ainda sentir algo por Dale, mesmo depois de tudo que eu já descobri que sinto pelo Eduardo, mas parando e pensando bem eu percebi que o certo pode não ser o que eu quero.

Todas as coisas antes do turbilhão de emoções que eu venho sofrendo nas últimas semanas eram as coisas certas. Eu era alguém comum. Estudava, me divertia, tinha amigos, pais que me adoravam. Agora, eu não estou perto de ser o mesmo. Apesar de meus pais terem “aceitado” o que eu me tornei, ainda não deixa que eles me tratem de forma diferente, porque eu sei que bem no fundo eles sentem verginha de mim, e esperam que eu sinta o mesmo. Mas eu não tenho vergonha, o Luke de antes teria, mas não o Luke atual.

Meus pais podem não ter reagido bem, mas o fato de eu ter assumido quem eu sou também teve seus pontos positivos. Porque chega a ser engraçado de como antes eu não tinha ninguém que gostava de mim, e em tão pouco tempo eu recebi duas pessoas que me amam a ponto de sofrerem por mim. Eu não queria ter duas pessoas e apesar de ter feito minha decisão, eu sei que posso mudá-la a qualquer momento, como eu estava nesse momento.

Eduardo se fora por tempo indeterminado, e mesmo voltando eu não saberia como nós ficaríamos porque ele já teria descoberto tudo que escondi dele. Dale estava aqui, sempre ao meu lado, me protegendo e me ajudando. Eu não iria sofrer pela perda desse amor por um bom tempo, porém não tem por que eu não tentar ser feliz mesmo com essa dor.

Eu seria uma pessoa sorrindo mesmo tendo uma doença muito grave, seria assim que me sentiria. Mas eu acho que já está na hora de eu descobrir o que eu realmente posso ser com o Dale, e eu sei que posso descobrir outro Luke, que sempre esteve se reprimindo perto dele, e ele está longe de ser o Luke certo.


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Notas finais do capítulo

Não sei o que acharam, mas não quer dizer que eu vou juntar o Dale e o Luke, tenho uns planos um puco diferentes, ou não haha O Eduardo é uma incógnita, mas tem data certa pra voltar, só esperem, vai voltar abalando kk Então é isso, até o próximo capítulo
PS: Pra quem já estava acompanhando, vou mudar o nome dos capítulos que deixei em inglês, porque é bom que no fim da história não fique um padrão diferente, avisados :)