Além do que se vê escrita por Laís Leite


Capítulo 13
Capítulo 12 - Rotina


Notas iniciais do capítulo

Amores, como prometido, mais um capítulo e bem mais rápido. Não posso garantir que o próximo será tão rápido, mas vai ter pra vocês lerem sim! Coloquei uma música diferente do que costumo colocar, espero que não me julguem por isso, é só pra vocês entrarem no clima hahahah
Espero que gostem!



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PDV – Giulia

Semanas depois...

Sexta, fim de tarde.

Por que eu ainda estou na frente desse livro idiota? Não consigo entender mais nada. Minha cabeça não está no lugar certo. Vou sair para correr, é a melhor coisa a se fazer.

Vesti um top e uma legging, calcei meus tênis, coloquei os fones de ouvido, saí para a pracinha perto da minha casa. Ouvi umas buzinas e cantadas vulgares durante minha corrida.

O que custa respeitar uma mulher na rua? – refleti, irritada.

Minhas semanas se resumiam em faculdade, estudo, sair com Victor e sexo.

Era maçante.

No meu curso – o qual eu tenho sérias dúvidas sobre ficar ou não –, eu tinha me enturmado, tinha alguns bons colegas, mas... Faltava alguma coisa.

Aumentei o volume do som que vinha dos meus fones. Minha playlist personalizada com minhas favoritas do Arctic Monkeys, afinal, se eu ouvisse Chico Buarque naquele estado de confusão, iria cancelar minha matrícula em Direito na UFC e fazer uma no curso de Economia da mesma universidade. Iria matar meus pais, mas o que posso fazer? Só estou no direito por pura conveniência – tenho família conhecida na área, tanto aqui no Ceará como fora.

Arabella’s got a ‘70s head, but she’s a modern lover – it’s an exploration, she’s made of outer space…

Alex, sua voz me acalma – especialmente quando se trata dessa música, a minha música. Parei minha corrida rapidamente só para colocá-la no repetir, então, vi o nome de uma das minhas músicas favoritas do Chico, cujo nome é “não existe pecado ao sul do Equador”.

Chico fazendo músicas sugestivas before it was cool.

Vamos fazer um pecado safado debaixo do meu cobertor.

A voz do Chico cantando essa frase tão explícita me lembrou o quanto minha vida amorosa estava decadente: sem nenhum pretendente na faculdade, tendo um caso com meu ex-professor de física que era casado...

Caralho, me ajuda, playlist geral. Vai ser você agora. – pensei comigo mesma.

Cliquei no botão aleatório, e Ana Carolina começou a ressoar na minha cabeça.

A filha da puta tinha uma voz incrível.

*

PDV – Augusto

–Dr. Augusto, o senhor já pode chamar sua próxima testemunha.

Augusto, como odeio esse nome, por que meu pai teve que me dar logo o segundo nome dele? Quanto narcisismo!

–Meretíssima, gostaria de chamar o Sr. Carlos Eduardo, vizinho da minha cliente e que presenciou todo o ocorrido. – Após fazer todas as perguntas pertinentes, cedi a testemunha à promotoria. – A testemunha é sua, Dr. Hugo.

Sentei-me enquanto a testemunha era interrogada. Sexta feira, quase seis da tarde e eu preso em audiência. Não foi pra isso que virei advogado, não estudei por tantos anos para ficar preso no Fórum até o último segundo do expediente. Quero folga, quero beber, quero sexo.

Sexo, nem me lembro quando foi a última vez que fiz isso. Esse trabalho estava realmente acabando com minha vida.

Ok, Gus. Sexta-feira, Fortaleza, hoje você merece uma cerveja em algum pub da cidade...

–A testemunha já pode se retirar, seção encerrada e adiada para a próxima segunda-feira, impreterivelmente às 10:00h.

Ótimo, pensei tanto em cerveja e sexo que não ouvi nada do que a testemunha disse. – Refleti enquanto cumprimentava o promotor e me retirava da sala de audiências.

Final de semana, perfeito. Era minha chance de fazer tudo aquilo que estava me fazendo falta nos últimos meses. Ouvi tanto falar das mulheres do Ceará, me mudei de Minas Gerais pra cá e até agora não tive o prazer de comprovar o que dizem.

Peguei o celular no bolso e desci a lista até o número do João e disquei, ele atendeu no quarto toque:

–Fala velho, Happy Hour no Sherlock’s Pub agora com a galera do escritório, topa?

–Tô dentro, chego lá em meia hora.

Guardei o celular no bolso e peguei as chaves do meu Ford branco enquanto me aproximava do carro, presente que eu mesmo me dei após passar no Exame de Ordem ainda no último ano de faculdade.

Entrei no carro, tirei o paletó e o joguei no banco de trás junto com a pasta de trabalho, afrouxei o nó da gravata, conferi meu visual no retrovisor, ajeitei o cabelo e a barba, e deixei o estacionamento do Fórum.

No som do carro tocava Do I Wanna Know, do Arctic Monkeys, e só mesmo os britânicos liderados por Alex Turner pra me acalmarem no trânsito caótico da capital cearense. Se havia algo que destoava de todo aquele paraíso, essa coisa era o trânsito horrível.

*

PDV – Giulia

Quando voltei da corrida, falei com umas amigas. Eu precisava sair, espairecer. Mandei uma mensagem para Victor, dizendo que não ia sair com ele. E que ele se esquecesse de mim pelo fim de semana.

Não queria saber ele. Passou o tesão, saciou a libido... Cansei.

Nem respondi a mensagem desaforada dele. Desnecessário que eu perdesse meu tempo com ele.

Me arrumei, coloquei um salto alto, um vestido preto, curto e justo, e uma amiga minha veio me buscar em casa, com outras três.

Imagina com as Amigas - Bruninho e Davi

O carro tocava os tipos de música que não me eram comuns, como sertanejo universitário e funk. Sempre fui uma ferrenha fã de MPB e rock nacional.

No entanto, dessa vez, eu realmente não estava me importando. Éramos cinco, um carro, uma quantidade razoável de álcool – exceto para a motorista –, muitas fotos, muita fofoca e muita risada.

Eu era, finalmente, uma menina normal de dezoito anos, curtindo a recente maioridade com as amigas. Era só isso que queria.

Uma noite livre de Victor.

Nosso “relacionamento” era, no mínimo, ridículo. Não preciso de migalhas, nem de homem comprometido. Só preciso focar em mim mesma, no que quero, e o resto, eu ajeito depois.

Chegamos num pub da cidade, o Sherlock’s.

Era um local agradável, mas era só o “esquenta”. Iriamos para uma boate perto dali depois.

Ali sim era um bom divertimento: cerveja importada, rock de todo tipo, uma puta decoração linda em madeira e posters de bandas como The Beatles, Pink Floyd e todo o resto.

Era muito lindo.

Começamos com um belo balde de Budweiser gelada, nevada. A coisa mais linda e deliciosa. Meu fígado parecia desejar metabolizar álcool. Não houve nenhuma boa bebedeira depois que entrei na faculdade.

*

PDV – Augusto

Demorei pouco mais de uma hora pra chegar no pub, e encontro João dando em cima de uma das garçonetes, uma baixinha ruiva de pernas grossas e bunda grande, enquanto outros dois rapazes, Pedro e André, discutiam as predições pros jogos do Campeonato Cearense que acabara de começar.

–Moça bonita, já conseguiu o telefone? – perguntei após cumprimentar todos e enquanto me sentava próximo a João.

–Ainda não, só tava garantindo o nosso bom atendimento. – Ao contrário de mim, João já tinha conhecido várias garotas desde que chegamos juntos ao Ceará. O plano era se juntar a Pedro e André em uma sociedade de advogados.

Sempre invejei o tato que João tinha quando se tratava de conquistar mulheres, e, pelo olhar da garçonete, parecia que ele tinha conseguido mais uma vítima pro seu abate pessoal.

Não cheguei a me apresentar. Augusto, Gus, please, advogado, 23 anos, 1,70m, pele branca, cabelo desgrenhado e barba. Provavelmente o oposto do objeto de fantasia de 90% das mulheres.

–Mais alguma coisa, cavalheiros? – Perguntou a garçonete ruiva enquanto depositava um balde com gelo e algumas Budweiser. Ela estampava um enorme sorriso no rosto e pude ler o nome Mariana na tag em seu peito. Belos peitos, diga-se de passagem.

*

PDV – Giulia

–Então – uma das meninas, a Olívia, uma branquinha, baixinha do cabelo castanho-escuro, disse, entre muitas risadas e muitas cervejas. –, ele me ligou muito bêbado, querendo ir me ver, às três da manhã!

Choramos de rir.

–Mas, Olívia – começou Letícia, uma morena clara, alta e magra, aluna da arquitetura, além de motorista. –, por que você atendeu ao telefone? E o que você disse?

–Amiga, eu sou aluna da engenharia. Eu não tava dormindo porque era época de prova... Eu disse que ele fosse à merda, que não voltava nem morta pra ele.

Continuamos a beber e a rir. Saudades de sair assim, só com amigas, só para curtir...

–Mas meninas, nós ainda vamos sair para dançar, né? – perguntou Vitória, outra branquinha alta com cabelos negros, aluna de jornalismo, a gordinha mais simpática que se podia conhecer.

–Claro que vamos! – respondeu Juliana, uma aluna da administração, baixinha, gordinha, dos cabelos negros e ondulados. – Não vim só pela cerveja...

–Mentira! – Falei. – Vai dizer que uma bud gelada não é amor? Claro que é!

–É – começou Ju. –, mas eu também queria achar alguém pra ficar essa noite, sabe? Não queria voltar sozinha.

Zombamos um pouco de Juliana, a respeito do romantismo ingênuo dela.

–Ju, não vou mentir. – comecei. – Eu estava num relacionamento, se é que posso chamar aquilo disso. Não queira um relacionamento achando que tudo vai simplificar sua vida, porque não vai. Vai só complicar. Eu achava que queria só sexo com o cara, mas nem isso quero mais. Sem contar que ele é comprometido. Vai curtir tua vida, amiga. É o melhor que a gente faz.

*

PDV – Augusto

–Gus, olha aquela mesa. – João apontou para uma mesa com cinco lindas mulheres, quatro morenas e uma loira. – Vai me dizer que você vai ficar aí parado? Fortaleza é um paraíso, e você tá pior que um padre. Tem padre fodendo, e você aí, nem isso.

Revirei os olhos.

–Você sabe que não resisto a uma loirinha. Aquela ali não me escapa.

Ótimo. Mais uma para o abate pessoal dele, e eu parecendo que tenho um voto de castidade. Good job, moron!

A loira saiu junto com uma das amigas morenas em direção ao banheiro.

–Não fica parado aí, idiota, vem comigo. – João disse para mim.

Fomos andando atrás delas duas, mas, por alguma razão, a morena deu meia volta e passou por nós, ignorando-nos.

–Vai atrás da sua vítima, João. Você não precisa mais de um wingman.

Como a morena, dei meia volta e voltei para a mesa.

Quando a loira saiu do banheiro, antes de João abordá-la, pude ver o motivo pelo qual ele ficou tão interessado nela.

Ela era muito gostosa – pernas grossas, bunda redonda, cintura fina. Não tinha peitos grandes, mas tudo bem. O resto dela compensava. Um rostinho de princesinha, mas parecia ser uma safada dentro do quarto.

Meu olhar cruzou com o dela.

Puta que pariu, se ela me olhasse assim enquanto me chupasse... Porra Gus! Seu amigo tá indo atrás dela e você fica fantasiando?

Ah, foda-se. Não é como se eles fossem casar.

João chegou perto dela.

Será que ela vai ficar com ele?

*

PDV – Giulia

–Olá. – falou um cara do lado de fora do banheiro, com um sorriso no rosto. Virei o rosto e continuei andando. – Loirinha, é com você que eu quero falar mesmo. – ele tinha um sotaque diferente. Não identifiquei exatamente de onde.

Ele segurou meu braço delicadamente, me trazendo em direção a ele.

–Olá. – respondi, um tanto seca.

–Tudo bem?

Ele tinha um sorriso bonito, mas ele não era meu tipo. Para piorar, eu não queria ficar com ninguém.

–Tudo sim, minhas amigas estão me esperando. Até.

Saí andando. Não estava com paciência pra cara nenhum.

Cheguei na minha mesa, e Juliana diz:

–Porra, Giulia! Você sem querer ninguém, e o cara vai pra você? Maldade!

Demos risada de seu drama.

–Meninas, vamos logo sair daqui pra dançar, e arranjar um cara pra Ju, antes que ela endoide!

Pagamos a conta, e fomos para a boate.

Dancei como se não fosse passar o dia seguinte na correria, resolvendo várias coisas. Quando se é membro de um Centro Acadêmico que é bem ativo, e você tem conhecidos na área de direito, precisa ajudar a organizar a Semana do Direito.

Naquela noite, eu não era membro do CA, não era universitária, nem amiga, nem filha, nem irmã, nem nada.

Me joguei na pista de dança como nunca.

Eu era apenas uma jovem mulher que começara a viver.

*

PDV – Augusto

Quando João chegou à mesa, começamos a fazer piada com ele.

–Não acredito que aquela loirinha me dispensou.

–Vai ver ela tinha namorado. – comentei.

–Isso não impede ninguém, Gus. Pior que ela tinha uma cara de ser muito foda na cama, puta que pariu.

–Não dá pra ganhar todas. – comentou André.

–É verdade, amigo. Relaxa aí e bebe mais. Tá precisando. – Pedro completou.

*

Nossa noite continuou baseada em coisas de trabalho, futebol e mulheres até perto das três da manhã. Pedro e André já haviam se retiraram pouco tempo depois, e, quando eu e João decidimos fazer o mesmo, pedimos a conta que nos foi entregue por uma Mariana ostentando um olhar diferente, um misto de raiva e decepção.

Abri a conta e um papel caiu no meu colo: saio em 15 minutos, quer me esperar e conversar um pouco, beber alguma coisa? – Era de Mariana, a nossa garçonete que flertou com João a noite inteira.

Pagamos a conta, me despedi de João e fiquei no balcão com uma última Bud esperando Mariana encerrar seu expediente.

Mariana me levou a um barzinho não tão distante, pedimos mais algumas Buds e conversamos um pouco, descobri que ela fazia Arquitetura na UFC. Nos beijamos e ela se convidou para conhecer meu apartamento.

Entramos no carro e comecei a dirigir, conversamos pouco no caminho, ela parecia chateada e eu não estava muito afim de ouvir lamentação, não em uma noite de puro sexo casual.

Chegamos em meu apartamento, e as cenas seguintes não merecem ser sequer mencionadas.

Betty Frígida me proporcionou a pior relação sexual da minha vida.

Minha libido continuava intacta.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Hahahah, quero a opinião de vocês!



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