Taháinn - o Sacrifício escrita por Ryuuzaki


Capítulo 4
Parte final




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/51401/chapter/4

 

***

 

Sem ter mais nada para impedi-lo, o cavaleiro acabou por chegar à porta com certa rapidez. Já havia se esquecido da morte do irmão, não mais prestava atenção no estranho tom de cor das rochas. Tinha apenas o objeto em sua frente à sua cabeça. Era uma porta como qualquer outra, era feita de tabuas de madeiras verticais presas por duas largas barras de ferro horizontais pregadas firmemente, não apresentava marcas de uso e se mostrava nova, semelhante poderia ser encontrada em qualquer boa mercearia. No entanto o que estava à frente de Taháinn passava longe de ser um objeto ordinário.

 

O cavaleiro ficou observando por um tempo aquilo que, para ele, significava sua própria existência. Tremeu de excitação percebendo que finalmente sua empreitada havia terminado. Balançou a cabeça tentando afastar as gotas de suor e voltou-se para a porta, sorrindo.

 

Ó, Mãe Escuridão, alegra-te.

Tentou a maçaneta da porta. Mas, como ele imaginou, estava trancada. Não se abalou, não reclamou. Seu rosto exibia apenas o trunfo de alguém que dança sobre os corpos mortos de seus inimigos. Colocou a mão sobre a madeira e alisou aquelas tábuas como se fossem um filho que não tivera. Sorria carinhosamente enquanto sentia o toque áspero de onde tocava. Quando se satisfez com a sensação pulou para as barras de ferro e se divertiu com o toque frio do metal. Em seus devaneios não percebia, mas não devia estar sentindo tais informações táteis, pois usava pesadas luvas por baixo das manoplas. De súbito, como que lembrando de algo importante, baixou o braço e voltou a pegar a sua espada, que havia deixado encostada na parede cavernosa. Levantou a guarda Köulard até a altura dos olhos e como em um juramente, falou à sua deusa.

 

- Aqui estou eu. Triunfante e vitorioso. – gritou, em jubilo - Usei esta espada para matar meus inimigos e vim até aqui com o que restava de minhas forças. Matei meu Fäinnur, tomei a vida de meu irmão e de todos os homens que se opuseram a mim. – Fez uma pequena pausa na qual continuou olhando para a porta entre as bordas de sua espada – Peço que me aceite como seu filho. Eu Ta...- “Taháinn” ele pensara em dizer, mas não, já não era simplesmente Taháinn -... Tahulsvarn, o negro.

 

Ó, Mãe Escuridão, sorri-te.

 

 

E então Tahulsvarn olhou para seu sobrinho, sendo recebido por um par de olhos azuis. A criança acordara e agora estendia os bracinhos para ele, querendo tocar em sua armadura que reluzia em um verde pálido. Desconfiava que a deusa lhe enviasse aquele ultimo teste, mas já não sentia dificuldades em fazer o que deveria ser feito, não agora. Levou a lamina de sua espada até o pescoço do bebê e com um golpe rápido cortou sua diminuta garganta. Não houve choro, não houve gritos, ela apenas morreu, tendo sua vida levada embora pelo fio de Köulard, onde seu sangue se juntaria ao de muitos outros, deixando a lamina eternamente num vermelho desbotado.

 

O cavaleiro caído levou a criança para cima de sua cabeça, segurando-lhe pela camisa, e deitou o pescoço para trás. Deixou que o sangue e a força vital daquele infante escorressem para dentro de si e por meio disso para a Deusa. O liquido quente descia por sua boca causando formigamentos por onde passava e tamanho era seu fluxo que Tahulsvarn não conseguiu evitar que escorresse pelas suas bochechas e começassem a empapar sua camisa e armadura. Ficou alguns minutos ali, esperando que todo o fluido da criança se esvaísse e então quando percebeu que nada mais havia naquelas veias juvenis lançou o corpo contra o chão, descartando-o. Seguiu seu caminho sem pensar no que fizera ou ter um instante de pena do sobrinho que morrera por suas mãos.

 

Ó, Mãe Escuridão, abre-te.

 

Assim que um baque surdo anunciando que o morto atingira o solo se fez ouvir o trinco estalou e a porta se entreabriu, convidando o cavaleiro. Tahulsvarn sorriu triunfante e limpou o sangue que estava em seu queixo com as costas da manopla. Abriu a porta sem medo, sabendo o que ali lhe esperava. Dentro, nada podia ser visto apenas uma onipresente escuridão. Pensou em entrar, mas parou. Havia esquecido uma coisa. Havia mais um juramento a fazer. Virou-se para trás, em direção à boca da caverna que já não podia ser vista e então proclamou suas ultimas palavras antes de sair do conhecimento das pessoas comuns.

- Aqui fui criado e para aqui retornarei. Fiz parte desse povo mais a ele não mais pertenço. – falara calmamente, como alguém declarando algo, mas nas ultimas palavras sua voz se transformou em rancor e seus lábios se crisparam de ódio - Agora odeio essa terra amável e um dia a verei queimar.

 

E então, virando-se e entrando na escuridão,  Taháinn Tahulsvarn , como seria lembrado, saiu da história... Até o dia de seu retorno.

 

Ó, Mãe Escuridão, orgulha-te.

 

 

FIM

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

============================================================

Agradeço a todos que leram esta história e chegaram até este ultimo post, que enserra essa pequena saga de Taháinn. Ele irá aparecer em futuros escritos, mas não agora. Mas é um personagem forte e certamente voltará a mostrar suas caras. Futuramente esse cenario que criei e gostei, será palco de outras histórias. Mas talvez, TALVEZ, alguns nomes sejam trocados, em especial o segundo nome de Taháinn:

Tahulsvarn. Ele tem o Ta de taháinn, que tambem é uma parte de homem em alguma lingua nordia, o ul que vem do ill que significa mal em islandes e o svarn que significa negro na mesma lingua. As referencias são boas, mas não gostei muito da aparencia e certamente alguns vocês (embora eu não >.>) se embolem pra falar (se fala TA-rrus-varn). Mas talvez fique esse mesmo.

Vou citar as coisas que percebi/aprendi com essa fic.

1º: Consigo fazer bons nomes sem precisar do gerador aleatorio.
2º: Em batalhas, preciso falar um pouco mais sobre como alguem vê seu inimigo e suas proprias preocupações.
3º: Batalhas tem que ser um pouco mais dinamicas.
4º: Odorei esse tipo de escrita, mas é cansativo e demorado de sair.
5º Tenho que procurar mais metaforas e "poesia" para o texto, não é muito legal deixa-lo seco.


Bem, acho que é isso... E, como sugerido por Luiz dreamhope, na comunidade do Nyah, irei sugerir uma fic para quem quiser ler. O tema é o mesmo, fantasia medieval, só que ela é maior, BEM maior que a minha:

http://fanfiction.nyah.com.br/historia/23312/ELEMENTAL_-Chuusei_Kyuuki-



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Taháinn - o Sacrifício" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.