Honra.

De repente, tudo ao seu redor dizia respeito à honra.

Havia perdido praticamente todas as pessoas que amava. Primeiro, Lyanna fora levada, depois seu pai... E Brandon. Todos perdidos para o Rei Louco. Agora, teria que lutar pela única coisa que restara - a honra.

A honra dos Stark, a honra de Robert... A honra dos Tully.

Sentado sob a Árvore de Coração, na floresta sagrada de Correrio, pensava sobre o que significava para ele ser Senhor de Winterfell, quando sempre esteve acostumado a ideia de que jamais o seria. Afinal, era o segundo filho e Winterfell pertenceria ao seu irmão: Brandon, o primeiro filho, o mais vivo, sorridente, mais forte e bonito.

Eddard Stark fechou os olhos e fez uma oração aos seus deuses antes de levantar-se e caminhar ao encontro de sua futura família.

Mais uma coisa que iria herdar de Brandon: O casamento com Catelyn Tully. Teria mesmo que construir uma vida em cima dos restos deixados pelo seu irmão?

“Ela é bem bonita”, Robert havia lhe dito na noite anterior. “Além do mais, casando-se com ela, você trará, definitivamente, as terras fluviais para nossa causa.

Realmente, precisavam de todo os homens que pudessem conseguir para marchar sobre Aerys. Garantir o apoio de Correrio era fundamental... E, ela era realmente linda. Com seus olhos que mais pareciam um dia ensolarado de verão e seus cabelos vermelhos esparramando-se sobre os ombros brancos como leite... Tão diferente de Ashara…

Seria possível a Eddard vir a amar Catelyn facilmente? Eela? Era sabido o quanto amava Brandon. Poderia vir a lhe amar, ou teria que viver para sempre às migalhas de um amor que não era seu?

Quando partilhou suas dúvidas com Robert, ele riu. Disse que para isso, existiam as amantes. Se o que o Senhor de Winterfell desejava, era amor, não seria difícil encontrá-lo fora do matrimonio. Foi engraçado ouvir esse discurso de seu amigo, quando sabia profundamente que a Robert, somente o amor de Lyanna interessava... E eles iriam trazê-la de volta.

O castelo estava agitado, pessoas indo e vindo, providenciando o necessário para a celebração do dia seguinte. Atravessou o salão e o corredor até encontrar a porta da pequena sala onde as mulheres costumavam se reunir para bordar. Naquele dia, porém, esperava que não houvesse tantas criadas. Casar-se com uma mulher que mal ouvira a voz, não era um pensamento que lhe agradava, por isso, havia pedido um momento a sós com sua futura esposa, para conversarem um pouco. Seu sogro lhe sorriu e, pela honra dos Starks, permitiu.

Eddard parou à porta e teve a visão de uma mesa montada para o chá. Uma criada terminava de colocar sobre o tampo, um bule fumegante, quando ergueu os olhos e o enxergou.

- Lorde Stark - e ela fez uma mesura - Entre.

Por um momento esperou que seu pai ou mesmo Brandon aparecessem ao seu lado. Ainda não estava acostumado a ouvir seu nome precedido do termo “lorde”.

Então ele ouviu o farfalhar de panos vindo do canto da sala. Ao entrar percebeu que Catelyn já o estava esperando.

- Lady Catelyn - ele curvou a cabeça em um suave aceno - perdoe-me o atraso...

- Não se preocupe, Lorde Eddard - ela aproximou-se com um pequeno sorriso - Lorde Robert informou que estava na floresta sagrada. Entendo e respeito sua fé.

Mas não a tomará como sua, pensou Eddard.

- Venha - ela o tomou pela mão, deixando-o um pouco retraído - Pedi para que preparassem um chá para nós.

Catelyn Tully era uma mulher intrigante para ele. Certamente deveria ainda estar de luto por Brandon, o que era visível em seus olhos úmidos, mas ainda assim emanava vigor em sua delicadeza e cordialidade. Fora educada para ser uma senhora. Todas as suas ações diziam isso… mas havia algo, uma energia contida por sua máscara de polidez.

Ela ergueu os olhos para ele e sorriu. E ele quis beijá-la, deslizar os dedos pelos seus cabelos...

Estou perdido.

Catelyn trocou um olhar com a criada, que se retirou discretamente. Sentaram-se um em frente ao outro, com a mesa entre eles. Havia tanto que ele queria dizer, mas as palavras simplesmente não saíam...

- Espero que goste desse bolo de mel, aprendi a prepará-lo. - Catelyn dizia enquanto servia uma fatia do bolo amarelado.

- Estou certo de que está delicioso - ele pegou prato que lhe era oferecido e depositou na mesa, antes de saboreá-lo, ergueu os olhos - Catelyn - ela o olhou com ternura - Sei o quanto amava Brandon e que era com ele que sonhava...

Não queria iniciar sua conversa assim. Não queria parecer fraco ou inseguro, embora fosse exatamente assim que estivesse se sentindo. Havia dúvidas e o receio de não conseguir fazer o que era certo. Percebeu quando os olhos de Catelyn ficaram úmidos, por traz de seu rosto de porcelana, uma respiração mais profunda levantou seu colo. Antes que ele pudesse continuar, ela ergueu-se indo sentar-se no banco ao lado de Eddard e tomando-lhe as mãos entre as suas.

- Nós dois amávamos Brandon e não temos culpa pelo que lhe aconteceu...

Estava sendo patético. Sabia disso. Não podia dividir todas as suas angústias com Robbert, pois ele riria e não daria importância. Jon já tinha problemas demais com seu casamento arranjado ás pressas. Queria tanto poder confiar em Catelyn. Desejava que ela fosse mais do que uma esposa para enfeitar sua mesa e aquecer sua cama. Queria que ela entendesse e não o julgasse. Só queria lhe dizer que estava disposto e que toda sua força era para defender o nome Stark, Winterfell, seus amigos e a família que construiriam.

- Eu não fui criado para ser o Senhor de Winterfell... E eu não sou como meu irmão. Eu só quero que você saiba, que há muitas diferenças...

- Você é um Stark, legítimo Senhor de Winterfell, tão filho daquelas muralhas quanto Brandon e tenho certeza que ele abençoará nosso casamento. Eu não espero que seja igual ao seu irmão. Não nos conhecemos, Lord Eddard, mas quero conhecê-lo... e ser sua companheira. Você é o Senhor de Winterfell, sei de sua força. É justo, honrado, bom... Eu serei sua senhora e estarei ao seu lado - ela corou - E lhe darei filhos...

Eddard não pode sustentar o olhar diante dela. Parecia tão fácil, quando ela apertou sua mão, delicadamente, porém decidida. Parecia tão fácil impedí-la de se levantar, segurando seu braço e inclinando para beijar-lhe a face corada.

Desconcertada, ela levantou-se com suas saias dançando ao redor e foi para seu lugar, pegando imediatamente a xícara e bebericando o chá.

- Por favor, Lord Eddard... Experimente o bolo.

- Sim, minha senhora.

E era realmente delicioso.

*-*-*-*-*

Robert deixara-se dominar pelo vinho saboroso servido por Hoster Tully aos seus convidados. Insistira em beber ao casamento de “seus irmão e pai”. Também seria no dia seguinte o casamento entre Jon Arryn e Lysa Tully. Devido a situação do reino, foi melhor que os dois casamentos fossem realizados no mesmo dia. Arranjos feitos para a guerra que se aproximava... O inverno estava para chegar.

Estava sentado no chão do quarto destinado à Jon Arryn, segurando a taça como se estivesse analisando o líquido.

- Lysa parece um pouco histérica... Dizem que chora desde hoje cedo. - deu um gole generoso - Eu a acho um pouco estranha.

Eddard encarou Robert. Sabia que o amigo já estava bêbado e não imaginava qual seria a reação de Jon.

- Eu entendo que ela não queira casar-se com um velho. - Arryn disse simplesmente.

- É um homem honrado, Jon. Ela deve estar orgulhosa de ser sua esposa...

Uma risada debochada interrompeu o discurso do lobo silencioso.

- Ned, você está tranquilo desse jeito, porque é a Catelyn que vai para Winterfell. - Robert soluçou devido a bebida - Há momentos em que ela parece um raio de sol iluminando o salão...

Antes que Robert terminasse sua frase, Eddard deu um suspiro impaciente que não passou despercebido a Jon Arryn:

- Não está tão tranquilo, não é Ned? O que te aflige, meu filho?

Eddard olhou para o copo em suas mãos. Tanto vinho... Era melhor ir para a cama.

- Catelyn - esperou que algum dos dois amigos interferisem, mas como nenhum deles o fez, prosseguiu - Ela é mesmo esse raio de sol... E eu...

- Sua esposa lhe agrada - Robert fez um gesto impaciente - Que mal há nisso?

- Ned?

Jon o olhava daquela maneira profunda. Autoridade e ternura se misturavam ali e o jovem lobo silencioso deu uma golada em seu vinho, fazendo com que uma fina linha vermelha escorresse por sua barba.

- Catelyn era de Brandon. Ela amava meu irmão... Ele duelou por ela e eu tenho - respirou impaciente - esse encanto por ela... E se nada tivesse acontecido? E se eles tivessem se casado? Eu desejaria a esposa do meu irmão. Jon, o que seria de mim?

Robert levantou-se exaltado.

- Mas aconteceu! Lyanna não está aqui, seu irmão e seu pai também não! Apesar disso, devemos fazer o que é certo!

- Eu não disse que não farei o que é o certo! - o cenho de Eddard estava franzido, fúria contida em suas palavras - Eu só...

- Se desejasse a esposa de seu irmão, Eddard, você faria o certo e vestiria o negro.

Sim, o negro da Muralha. Jon Arryn tinha a razão, como sempre.

Após aquele diálogo, pediu licença e retirou-se para o quarto. Havia se despido sem cuidado e caído na cama de penas. Antes de deixar o sono lhe engolfar, deixou seu pensamento vagar até Ashara Dayne, e suas entranhas torceram-se. Não havia dito a ninguém, mas quase o tinha feito momentos atrás. Então ficou feliz por ter-se mantido calado. Seria um último segredo que partilhara com seu irmão.

**

“Seu olhar tem buscado um alvo constantemente, não é Ned?” - Brandon havia lhe assustado durante o torneio - “Ela é linda e vem de uma boa família…”

Tímido, Ned apenas havia pedido para seu irmão não mais tocar naquele assunto. Porém, ao cair da noite, ele articulou uma dança entre os jovens. Uma dança que transformou-se em duas… três… sob o olhar de aprovação do Senhor seu Pai e do irmão da donzela - Arthur Dayne… secretamente ídolo de Ned Stark.

Ashara também era de sorriso fácil. Parecia realmente encantada em desfrutar seu tempo ao lado de Ned Stark. Então as danças transformaram-se em uma conversa desajeitada a princípio, ele falando sobre Winterfell, ela sobre o mar de Dorne. A conversa transformou-se em mãos dadas, em passos apressados por um corredor escuro de Harrenhall… uma porta fechada e os dois sozinhos em uma sala vazia.

Ashara soltou a mão dele, e baixou os olhos, sorrindo:

- Perdi o juízo.

- Perdemos, os dois - Ned falou, também sorrindo.

Ela virou-se para ele novamente.

- Permita-me… - ele começou.

- Sim. - ela não deixou que ele continuasse.

Então ele deu um passo adiante e a beijou. Afundou seus dedos nos cabelos negros dela… Os lábios tão macios abrindo-se para recebê-lo em um beijo suave, que aos poucos foi ganhando urgência. Quando deu por si, Ashara já estava sentada sobre uma mesa, o vestido levantado até suas coxas, suas pernas abertas para que Ned pudesse acomodar-se entre elas.

Parecia tão natural escorregar os lábios pelo pescoço e colo dela… Sentir os dedos finos embrenhando-se por seus cabelos… porém, quando estava prestes a desnudar-lhe os seios um alerta percorreu os dois corpos e ambos pararam ofegantes.

- Receio estar a ponto de ir longe demais - Ned disse levantando os olhos para ela.

- Sim. - ela estava com a respiração pesada.

- Perdoe-me se a ofendi…

- Não. - ela finalmente o encarou, estava corada - Dei-lhe permissão, não foi?

Ned encostou-se também na mesa, ao lado dela.

- Eu preciso ir - antes que ele pudesse ajudá-la, Ashara já havia descido da mesa e arrumava seu vestido, havia nervosismo em sua voz - Espero... Espero não ter-lhe deixando uma má impressão. Até breve, Eddard Stark.

Ela virou-se parar sair, mas ele segurou sua mão, fazendo com que ela se voltasse novamente. Parecia tão envergonhada...

- Ashara? Teme o frio?

- Não o compreendo… - ela o olhou intrigada.

- Você… Tem medo do frio?

- Não costumo temer muitas coisas meu senhor… apenas não estou acostumada ao frio.

- Então, gostaria de conhecer Winterfell? É bem diferente de Dorne…

- Eu ficaria encantada.

- E morar em Winterfell?

Ela o olhou surpresa.

- Precisarei me manter aquecida…

- Você terá um homem disposto a isso… - Ele beijou-lhe a mão - Permita-me cortejá-la, Ashara Dayne…

- Pensei que já o estivesse fazendo, Eddard Stark. - ambos riram - Aguardo sua conversa com o Senhor meu Pai…

Ela soltou sua mão e antes de atravessar a porta, lançou-lhe mais um sorriso.

Ned permitiu-se ficar mais um tempo sozinho, deixando aquela sensação boa espalhar-se por seu corpo. Não sabia se era amor (afinal, é possível amar alguém em um primeiro contato?), mas não tinha dúvidas que Ashara Dayne lhe era especial… Nunca havia se sentido tão confortável com alguém, que não de seu convívio diário, antes.

Ao sair, cruzou caminho com um Barristan Selmy em uma expressão fechada. Cumprimentou-lhe com um aceno, desejando que ele não tivesse visto Ashara sair pela mesma porta.

**

O mundo tinha dado uma volta absurda desde aquele dia de falsa primavera. Tudo tinha acontecido e não puderar falar com seu pai para mediar a aliança com a casa Dayne… O que Ashara pensaria dele neste momento? Que brincara com ela? Que Eddard Stark não tinha honra em suas palavras?

Importava? Não sabia, pois o dia seguinte amanheceria e ele desposaria uma Tully.

Ashara, de olhos violetas e cabelos negros como uma noite de primavera… Catelyn de cabelos vermelhos e olhos azuis como o céu de verão… E entre elas, estava ele, de olhos cinzas como um longo inverno...

Eddard sentia-se perdido diante de tantos sentimentos que afloraram ao se deparar com a figura encantadora de Catelyn… Temia estar sendo tão libertino quanto Robert… Temia tanto e tantas coisas... Deixou-se levar pelos sonhos, sabendo ser a última vez em que dormiria sozinho. A partir desta noite, sua cama seria aquecida por Catelyn e seus cabelos flamejantes.

A noite correu rápida e o dia de seu casamento amanheceu com uma brisa suave. Havia nuvens no céu, que não eram prenúncio de chuva, somente um teto esbranquiçado que protegia o mundo do calor do verão.

Sua cabeça ainda rodava um pouco devido ao vinho da noite anterior. Eddard fez seu desjejum enquanto os criados traziam a água quente para o banho. Era o momento de iniciar a preparação para a cerimônia.

Tudo tinha acontecido... Muitas coisas ainda estavam para acontecer.

*-*-*-*-*

Havia música e sorrisos ecoando pelo grande salão de Correrio. Nesse momento, sua esposa dançava com um Robert Baratheon que a cada minuto lhe lançava, um olhar orgulhoso. Ao seu lado, via o quanto Jon Arryn estava esforçando-se para receber um sorriso de Lysa, mimando-a enquanto lhe oferecia um pedaço de torta de pombo. Observava a cena tão distraído que não percebeu o fim da canção, quando Robbert trouxe pela mão, uma Catelyn corada e de olhos brilhantes.

Eddard sorriu para o amigo e tomou a mão de Catelyn, beijando-a e ajudando a mulher a sentar ao seu lado.

- Cansada?

- Um pouco - ela disse ainda ofegante - Mas, podemos dançar novamente depois?

- Não sou um bom dançarino, minha senhora. Vinho?

Ela acenou com a cabeça afirmando. Ele tomou a taça nas mão e a inclinou em direção a Catelyn, que fechou os olhos permitindo que o vinho lhe escorresse pelos lábios. Sua garganta subia e descia no movimento de engolir e Eddard estava encantado por sua pele leitosa.

Sim, estava realmente perdido..

A cerimônia fora lenta e tediosa. O septão dizia seu discurso com fervor, porém, de forma arrastada. Os deuses antigos não precisavam de tanta formalidade e cerimônias. Mas era costume e respeitava a fé de sua esposa. Dois casamentos, os votos foram mais longos as palavras do septão também. Pareciam ter passado anos até que, finalmente, pode retirar o manto azul e carmim dos ombros de Catelyn e colocar sobre eles suas cores cinzentas, brancas e frias que não combinavam com a vida em seus olhos azuis e cabelos vermelhos. Por fim, com um beijo suave em seus lábios e Catelyn Tully, agora pertencia á casa Stark.

Mais uma canção alegre e lá estavam os olhos de Catelyn Stark sobre si, implorando por uma dança. Eddard rendeu-se e levantou-se estendendo-lhe a mão. Percebeu que Jon fazia o mesmo com Lysa, que o seguiu, não tão empolgada quanto a irmã.

No meio do salão os casais se posicionavam e a dança teve início. Eddard não estava muito adepto à celebrações e danças, mas naquele dia tudo era diferente. Dançou, bebeu e esqueceu-se por um momento da honra e da vingança.

Ao encontrar sua dama novamente durante a dança, beijou-lhe a face e lhe deu um pequeno sorriso. Apesar de estar gostando do banquete, começava a sentir o cansaço apoderar de seu corpo. O fim da música levou os dois para seus lugares na mesa, onde comeram do mesmo prato e novamente beberam do mesmo cálice. Era esse o costume simbolizando a vida que dividiram a partir dali. Marido e mulher e assim seria enquanto vivessem.

Robert bebia e sorria, cantava junto as canções que conhecia. Tão confiante... Tudo será como o planejado, dissera-lhe. Expulsariam o louco do Trono de Ferro e Lyanna seria uma rainha.

Observava seu amigo dançando, alto, forte, com seus cabelos negros como a noite cerrada. Era vivo e atento, um guerreiro ávido por batalhas. Sentiu o bocejo de Catelyn quando ela inclinou a cabeça para seu ombro, imediatamente, levou o braço para segurar suas costas de forma protetora, no momento em que Robbert virou-se para vê-los.

- A credito que já chegou o momento de deixar os casados as sós! Para a cama com eles!

A voz de Robert ecoou pelo salão, vozes acompanharam com entusiasmo, e Eddard sentiu Catelyn enrijecer junto ao seu corpo. Não gostava daquele costume, mas não podia simplesmente rejeitá-lo. Tomou a mão dela entre as suas e beijou-lhe a palma tranquilizando-a. embora ele mesmo estivesse nervoso.

Naquele mesmo instante retiraram Catelyn do seu lado e sentiu-se puxado por mãos femininas. Olhou para o lado e viu que faziam o mesmo ao casal Arryn. Percebeu que Jon corava, enquanto Robbert cuidava de conduzir Lysa até a porta. Havia confidenciado a Eddard que não conseguiria despir Catelyn, não poderia desrespeitar a esposa de seu melhor amigo.

Vozes femininas e risinhos histéricos ao redor de si enquanto atravessavam o corredor, suas roupas ficando pelo caminho. Sentiu uma mão percorrendo seu peito e viu que pertencia a uma prima de sua esposa, que lhe lançava um olhar lascivo.

Já estavam perto da porta do quarto quando ouviu a voz de Lord Dustin um pouco à frente:

- Eddard! Os seios de sua esposa me fazem desejar nunca ter desmamado!

Risos seguiram o comentário. Achou grosseiro, mas, ainda assim, isso fez crescer sua expectativa. O caminho não acabava nunca... Tentou enxergá-la, mas não conseguia. Quanto a Jon e Lysa, sabia que haviam seguido por outro corredor.

Atravessou o umbral e viu que muitos dos seus amigos estavam ali, colocando Catelyn sobre a grande cama de dossel. A prima lasciva empurrou-o e caiu sentado na beirada do colchão. Observou quando aquela multidão saía do quarto e fechava a porta.

O sliêncio do quarto engoliu o casal, enquanto vozes ainda gritavam do outro lado da porta. Eddard olhou para o lado e viu Catelyn deitada, meio coberta com uma manta. Olhos assustados que aos poucos iam se acalmando.

- Catelyn...

- Cat - Ela interrompeu e ele inclinou a cabeça sem compreender, diante do sorriso tímido dela - Minha família me chama de Cat.

Ele pegou uma ponta do cobertor e jogou sobre sua cintura. Se aproximou, deitando-se ao seu lado, sem tocá-la. Não queria assustá-la, mas estava pronto, somente de olhá-la

- Minha família me chama de Ned.

Cat ficou de lado para observar melhor o rosto dele. Ela era tão bela...

Ela pertence a Brandon.

De repente, a imagem de seu irmão, que havia ficado fora de sua mente durante todo o dia assombrou-lhe como um fantasma, e seu corpo esfriou. Isto deve ter transparecido em seu olhar, pois ela o olhou com preocupação e levou a mão ao seu rosto.

- Ned?

As vozes do lado de fora do quarto estavam irritando-o.

- Queria mandar eles calarem essas malditas bocas.

Ela riu.

- Faça isso e eles gritarão ainda mais.

Sentia que ela aproximava o corpo do seu, tremia um pouco. Estava ansiosa… Desejava-o? Pensaria em Brandon?

Ele tocou sua face com delicadeza, inclinou-se e a beijou, as mãos dela deslizando para seu pescoço. Tão linda, e quente...

Os Starks vieram do frio.

Ele a queria, tanto que não sabia descrever , mas não conseguia estar plenamente relaxado. Tanta coisa acontecendo ao redor deles.Queria que tudo fosse diferente, que não estivessem naquela situação iminente, que não precisasse ir para a guerra no dia seguinte. Mas se nada estivesse acontecendo, não seria ele ali, e sim Brandon...

Tão macia e quente... E pequena sob suas mãos e lábios. Queria dizer-lhe que não desejava que sentisse dor, mas temia parecer fraco, porque Robbert dizia que homens não falam, mas agem. Deveria ser mais fácil, era sua esposa e estava entregue a ele de uma forma tão suave... Por que era mais fácil com prostitutas e camponesas?

Todavia, quando ficou sobre ela e a tomou para si, uma certeza apoderou-se dele. Catelyn Stark pertencia a Eddard Stark. Mortos não possuem nada. Ela era sua e não de Brandon. Sua como Winterfell. Sua, como aquela maldita guerra.

Refreou-se ao sentir o corpo sob o seu enrijecer, parando para acariciá-la e beijá-la mais uma vez. Afundou o rosto no pescoço alvo dela e sentiu os braços delicados ao redor de si, quando permitiu que sua semente invadisse o corpo de sua esposa. Nunca deixava que isso acontecesse com as mulheres com quem havia se deitado. Para além de seu sangue nobre, havia honra em não gerar bastardos.

Quando levantou seu rosto, percebeu que ela tinha os olhos fechados e a respiração ofegante. Inclinou-se e depositou um beijo suave em seus lábios.

Estava tão cansado e sentia que ela também estava. Sem uma palavra, rolou para o lado e a puxou para juno dele. Sentiu os cabelos vermelhos espalhados por seu ombro e o braço dela tocar sua cintura. Suas respirações se acalmando enquanto o sono os engolia.

*-*-*-*-*

A janela estava aberta, por isso o sol incomodou seu sono. Piscou algumas vezes antes de realmente abrir os olhos. Quando o fez teve a visão do telhado cinza e alto. Sentiu falta de algo, não havia peso em seu peito e virou-se para o lado procurando sua esposa.

Ela estava deitada, de lado, com as costas viradas para ele. O lençol cobrindo apenas metade de seu corpo. Os cabelos longos espalhados pelo travesseiro.

Aproximou-se e deslisou a mão calejada pela lateral do corpo dela, que não despertou. Mexeu-se para mais perto dela e começou a beijar-lhe o ombro, subindo para o pescoço e afundando o nariz no perfume dos cabelos dela.

Catelyn mexeu-se vagarosa, virando-se para ele. Confusão em seus olhos sonolentos. Eddard não deu tempo para questões e avançou para os lábios dela. Um momento de dúvida onde ela não reagiu, para logo depois corresponder ao marido, virando-se completamente de frente para ele, que envolveu sua cintura com os braços.

Ele percebeu que não havia dado a devida atenção a sua esposa na noite anterior. Sabia não ter sido grosseiro, mas ainda assim deveria compensá-la. Desceu as mãos por suas curvas e a tocou. Pelo susto, Cat desgrudou os lábios e o encarou para logo após fechar os olhos enquanto ele avançava para seu pescoço.

Diga meu nome... diga meu nome...

Por fim, sentiu o corpo dela tremer e convulsionar, os braços apertando-o para depois cairem frouxos e, após alguns segundos, empurrar delicadamente o seu rosto para encará-la.

Sorriu para ele, os olhos brilhando e o rosto corado. Ela buscou os lábios dele para um beijo desesperado, expondo-se para que ele pudesse prosseguir. Lord Dustin tinha razão... Os seios de Cat deveriam receber toda a sua atenção.

*-*-*-*

Ainda estavam nus sob os lençóis quando as criadas vieram trazer o desjejum e a água para o banho. Ned tinha de se preparar pois partiria com o exército naquela tarde.

- Sinto não ser eu a levá-la para Winterfell - ele disse fazendo carinho em seus cabelos

- Eu sei. Mas não sinta tanto.

- Quando tudo isso acabar - não ousava falar da guerra - haverá uma escolta. Confie em Sor Rodrick, ele a defenderá com sua própria vida - de repente, sua voz soava como a de um senhor - deixei ordens. Mestre Ludwing e Septã Mordaine Winterfell estará pronto para a chegada de sua senhora.

Ele soltou-se do abraço dela com delicadeza e sentou-se na cama.

- Preciso me preparar, e você deve comer algo.

Cat acenou afirmativamente. Antes que ele levantasse ela segurou sua mão . Ned a encarou.

- Prometa. Prometa que voltará para mim... Vivo. Não me casei para ser viúva.

Já foi viúva antes de ter se casado.

- Prometo. - Ele disse e depois a beijou.

A honra dos Starks diz que eles sempre devem cumprir suas promessas.