New World escrita por Dawn_Love, Stefany01


Capítulo 3
Um novo amigo? Um novo rival?


Notas iniciais do capítulo

Bem, terceiro cap sem atrasar! Estou tão feliz por isso~
Cap escrito por Dawn_Love e betado/readaptado por Stefany_Zanoni.
Espero que gostem e tenham uma boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/513971/chapter/3

Dimitri POV

Dormimos na casa de Hideko como um bando de intrusos. Ignoramos o fato de que ela só ofereceu tal coisa por educação e aproveitamos. Apesar da casa ser quente nesta noite fria, não consegui aproveitar tal gostosura. Havia um belo ser produzindo sons semelhantes a um porco. Era Luna, jogada como um boneco de pano sobre a cama, roncando uma torturante melodia. Joguei meu travesseiro nela, tentando parar com essa tortura, mas foi em vão.

Fechei meus olhos tentando ignorar, e por sorte, consegui. Mas não tive sorte. Sonhei. O galo cantando me avisava que era quase de manhã. Finalmente adormeci, desta vez, sem sonhos.

Caminho sem ter um rumo certo. Meus pelos se arrepiam com o contato de uma leve brisa congelante. O frio domina o ambiente, fazendo com que eu me encolha. E como se não fosse pouca coisa, estava nublado. Não enxergava um palmo a frente de meu rosto. Continuei seguindo em linha reta, até, finalmente, encontrar algo. Era uma porta vermelha, grande, com leves detalhes dourados. As paredes de pedra me lembravam os castelos de jogos. Sem pensar, entrei. Já estava tudo lindamente ferrado mesmo, por que não arriscar então?

Wooow, parecia até um sonho! A decoração vermelha e preta me encantava. Tudo tinha um leve ar macabro, mas ainda assim, belo. Nas estantes de livros, próximos a parede da lareira, um livro em especial brilhava. Sua capa branca possuía desenhos de correntes quebradas e um pequeno relevo na capa. A curiosidade me consumia, forçando meu corpo se mover para perto do tal. Tento tocá-lo, mas uma voz me chama.

— Dimitri, venha logo. — chamava uma voz feminina, leve e sedutora. Quero encontrá-la. Se a dona da voz for tão linda quanto o som emitido de seus lábios, quero realmente encontrá-la.

Giro, olhando ao redor, procurando a dona da voz. A decoração da sala havia mudado. Um longo sorriso surgiu em meu rosto, vendo tantos pertences valiosos. Joias, espadas de ouro formando um X acima da lareira, quadros de uma bela moça de longos cabelos dourados e uma escada com um longo tapete vermelho.

Volto meu olhar para o livro, mas já não estava mais ali. Estou começando a ficar com medo disso. Melhor sair daqui...

Tarde demais. Não existia mais uma porta. Somente uma parede. Isso realmente me surpreendeu.

Melhor, então, subir as escadas. E assim fiz, sentindo-me um rei sobre os tapetes vermelhos.

Fui interrompido no meio do caminho. Eram os verdadeiros donos da casa, suponho. A moça era bela, com olhos dourados, assim como seus cabelos. Seu olhar de desejo me possuía. Ela era ainda mais linda que nos quadros. Seu longo vestido branco deixava suas pernas (que não eram nada feias) à mostra, e a única parte tapada era sua metade superior — mangas longas e gola alta. Já o homem não me chamava atenção. Para falar a verdade, sua pele e roupas eram tão claras que meus olhos arderam. Seu cabelo não foi diferente. Extremamente claro, com a parte da mais longa, dava um ar levemente afeminado a ele, mesmo com tanta ‘masculinidade’ exalando do próprio. Seus ombros largos e corpo aparentemente sarado me faziam parecer um moleque magrelo... Mas eu era, então não ligo. Ele usava um sobretudo branco com uma calça social de mesma cor.

As luzes se apagam, mas ainda vejo-os. Mas só eles. Isso é estranho, mas fico feliz por ainda poder admirar a beleza dela. Seus lábios vermelhos estavam molhados. Sua língua lambia o sangue que escorria pelo canto de sua boca. Ela sorriu, mostrando suas presas afiadas. Sinto um arrepio em minha espinha. Ela é estranha...

Aos poucos, sinto como se eles estivessem se afastando. O que está acontecendo? Estou confuso e levemente assustado, creio. Afinal, meu corpo está em alerta. Mesmo assim, corro atrás deles, mesmo não sentindo meu corpo sair do lugar. Era como se eu estivesse andando em... nada.

Ela se aproxima de mim, mudando seu rosto belo e angelical para algo demoníaco. Seus dentes longos estavam ainda mais afiados, enquanto sua pele se enrugou. Seus olhos esbugalhados me fitavam com desejo sanguinário. Gritei como uma gazela assustada, provocando assim — creio eu —, uma mordida em meu inocente pescoço.

Abro os olhos. Luna estava com os olhos em mim, demonstrando aparente medo e preocupação. Olho para meu braço. Estava suando frio, com os pelos arrepiados.

— O que houve? — a preocupação em sua voz era visível. Ela é um doce.

— Nada. — neguei com a cabeça, sorrindo. — Só um pesadelo, acho.

— Estão prontas crianças? — em tom brincalhão, Miko cantarolou.

— Estamos capitão! — Luna se levantou sorridente, com uma feição pura. Seu jeito infantil me encanta. Ela colocou a mão na testa e começou a marchar. Rindo, a segui. Essas duas alegram meu dia, mesmo depois de um sonho como esse...

Olhei no relógio. Era bem cedo. 7 horas, mais ou menos.

“Muito obrigada pela hospedagem,” Miko escrevia em um papel. “Infelizmente tivemos que partir cedo. Deixo alguns pilas como agradecimento”. Ela era gentil e madura. Sinto meu coração acelerar ao mesmo tempo que minhas bochechas começam a queimar. Vejo que Luna me olha sorridente. Desvio o olhar, escondendo o rosto.

— Vamos? — chamei olhando para cima, tentando me acalmar. Sinto Luna puxar meu braço. Elas estavam sorrindo, como se não estivéssemos indo nos jogar para uma possível morte. Nós somos... hm... idiotas. Não. Loucos se encaixa melhor.

Saímos.

— Vai ser a primeira vez que vamos lutar sem ser contra nós mesmos, né? — Luna correu a nossa frente, girando. Ela usava um vestido branco com leves babados em baixo. Um short de mesma cor, colado e um cinto de tecido preto. Com o pé, ela para de girar, nos encarando sorridente. Estava... fofa.

— Creio que sim. — pensativa, Miko colocou a mão direita no queixo, olhando para o nada. — Vocês estão muito briguentos! — brincou, colocando a mão na cintura, como se fosse uma mãe dando bronca. Sentindo-me uma criança sapeca, ri. Vejo que Luna teve a mesma reação.

Caminhamos brincando, despreocupados com o que poderia acontecer. E assim, chegamos no castelo. As portas vermelhas eram como em meu sonho. Estava mais nítido, o que deixava ainda mais bonito. Uma sensação ruim corre pelo meu corpo. Odeio isso.

Luna nos olhou, esperando uma confirmação. Sorrio para ela, assentindo com a cabeça. Ela volta o olhar para a porta, empurrando. Minha visão foi bela. Ao fundo da sala, havia duas escadas subindo, uma de casa lado. Na parede direita havia uma estante com livros e espadas acima, enfeitando a parede. Ao lado da estante, vejo uma poltrona em frente a uma lareira apagada. Já na parede esquerda, vejo quadros do casal de meu sonho. Um longo tapete vermelho que seguia da entrada até as escadas em uma linha reta, dividindo-se em 2, seguindo cada lado em uma escada. Quero uma casa assim.

— O que é belo, deve ser admirado. — Miko caminha para frente do quadro, observando-o.

Luna foi em direção a lareira e eu a segui. A estante de livros me chama atenção. Desvio meu caminho, parando em frente a ela. Espanto-me ao ver a capa de alguns livros. Eram feitos de pele e presos com uma corda preta! Isso é cruel! Sinto uma leve ânsia, mas tento me controlar. Reparo um pequeno livro branco, com correntes desenhadas em sua capa. Era um livro velho, então a capa estava desgastada, assim como suas páginas. Comecei a folhear. “Pego”, estava escrito. Sinto correntes passarem por meus braços. Tento soltar o livro, apavorado. Isso me assustou! O livro não saia de minhas mãos. Entrei em pânico dentro de mim. Por fora, somente suava frio e tremia.

— Dimitri? — com um tom claro de confusão em sua voz, Luna me chama. Não consigo responder, estava me choque. Lágrimas borram minha visão. Estava com tanto medo que não me controlava.

Ouço Miko gritando meu nome enquanto corria para perto de mim. Olho para o livro, deixando as lagrimas escorrerem. Um... UM SORRISO? Meu Deus, me proteja. Um sorriso se abria na capa do livro. Por um momento, sinto meu corpo imóvel. Caí de joelhos, enfim sucumbindo ao medo. Meu corpo se move sem meu comando...?! Quero gritar por socorro, mas não consigo. Só abraço o livro contra minha vontade, e aos poucos sinto uma dor indescritível. O livro estava entrando em meu corpo. Já não controlava sequer minha feição. Por dentro, estava em pânico, como uma criança inocente ao ser sequestrada e abusada. Por fora, estava imóvel como uma estátua, frio como um assassino e calmo como as folhas de uma arvore sendo levada pelo suave vento.

A última coisa que ouvi foi meu nome na voz das meninas, desesperadas e confusas.

Meu corpo começa a queimar por dentro de uma forma que jamais senti. Doía. Ouço uma voz ecoar em minha mente. Que doce voz. Espere... parece a voz do meu sonho, se não me engano...

Mate-as, dizia. Devo estar ficando louco, só pode. Tento forçar a volta ao controle de meu corpo, mas foi em vão. Mate-as, repetia. Sinto meu corpo se mover. Aliviei-me. Será que voltei ao controle?

— Te invoco, gladii Inferni... — sussurei sem querer. Estava enganado. Sinto-me um robô.

Esticando o braço, repito. Gladii Inferni... sinto algo pesado surgir em minhas mãos. Era uma bela espada, até. Como o nome propõe, é uma espada do inferno. Almas correm por dentro de seu cabo, produzindo um som de choro. Isso me perturbava. Seus clamores e medos eram ainda piores. Consumiam meu corpo, mesmo que só em minha mente.

Seja lá o que está em mim, usou MEUS OLHOS para admirar Luna de cima a baixo. Me sinto mal. Seu rosto está triste, como já esperava. Mas mesmo assim isso me deixa triste. Mais um movimento. Isso está me incomodando já. Com suavidade, sinto minhas mãos subirem, levantando a espada. Em seguida, descerem, apontando a espada para frente, ao mesmo tempo que a mão sem a espada se aproxima de meu rosto e um dos pés — do mesmo lado que não possuía a espada — se afasta para trás, me colocando em posição de combate.

Vejo, mais que sinto, as investidas de esgrima. E vejo quando Miko empurra Luna, tomando o golpe em seu lugar. Meu sangue gelou, mas por sorte, pegou de raspão em sua bochecha, retirando somente um leve rastro de sangue escorrendo do ferimento

— O QUE PENSA QUE ESTA FAZENDO? — Luna gritava, cerrando o cenho. Perdão...

— Olhe de novo, Luna. — tentou acalmar a amiga. — Os olhos dele estão sem vida. — bela observação, Miko. Imagino como está meu rosto agora...

Morra. — MINHA voz disse. Isso é cruel! Eu nunca fiz mal para seja lá o que for que está dentro de mim! Um longo sorriso psicopata surgiu em meu rosto. Ou melhor, nesta casca que antes era meu corpo. A casca volta a atacar. Eu não quero isso! Não quero atacar ninguém! — CORRA! — consegui gritar. Sinto uma profunda dor em meu peito. Correntes surgem em meu braço. Era como se estivesse prendendo minha alma. Cenas de meu passado surgem em minha mente. Mortes e mais mortes, mas eu, sempre eu, não tinha forçar o suficiente para salvar. Fecho meus olhos, segurando o choro.

— Elas são destinadas ao prêmio final. O que você tanto deseja... — abro meus olhos, somente vendo ela. Já não era mais o castelo. Era eu e ela, num lugar úmido, frio e escuro. Lembranças passavam sem cessar, em pequenos fragmentos que flutuavam por ali. Era deveras interessante. Que tipo de dimensão será essa?

Fito a jovem moça. Ela usava roupas claras, num tom de leve rosa e lilás. Parecia uma boneca com feições inocentes. Era encantador, mesmo com um local horrível como cenário. Seus olhos puxados eram verdes como as folhas das arvores ao dançar com o vento. Seus leves cabelos dourados eram curtos, na altura do rosto. Ela era como um anjo, mas suas orelhas de gato não paravam de se mexer. Isso me irrita. Me alivia não ver nenhuma cauda balançando! Algo rosa claro começou a sair do cabo, envolvendo o báculo sem tocá-lo. Apesar de bonito, isso não me deixou muito confortável. Ela, pelo jeito, era uma maga. Vou virar um inccubus, ‘tá mais raro hoje em dia. Onde olho tem um mago! Volto a olhar o tal enfeite. Ele parou em volta do cristal, sem tocar. Lembrava uma rosa aberta, só que com poucas pétalas. Era encantador, apesar de tudo. Ela pulou, sentando-se no báculo, como se fosse uma velha bruxa em sua vassoura.

Seu rosto inocente foi tomado por um sorriso macabro. Isso me arrepiou...

— Você é fraco. — ela disse em tom provocativo, conseguindo o que queria. — E você sabe disso, não é? — em parte, ela tem razão. Mas não vou mais ser assim! Vejo-a se aproximando, passando a mão em meu rosto, recebendo em troca um jato de cuspe bem mirado em sua bela face. Meu desejo foi cumprido. Sua raiva era visível. Soltei uma leve risada. — Olhe isso. — ela pegou um dos cristais flutuando. Nele se passava a cena de Luna e Miko correndo, desviando de meus golpes. Meu sangue gelou quando vi. — A vida delas está em minhas mãos, idiota. — recebo um tapa no rosto como retribuição de minha educação imensa. Doeu, mas nem ligo. Minha raiva é maior que tudo isso.

— Quem é você? — quero matar essa vadia!

— Pensei que não ia perguntar. — seu tom me irrita, apesar da doce voz. Era uma típica patricinha, vadia. Ela se afastou, ainda voando sobre o báculo. — Chamo-me Clara. Sou as páginas do livro que você leu. — ela piscou para mim, linda, porém ainda uma vadia.

— E o que raios você quer afinal?! — estava me irritando com essa carinha fofa.

— Vingança. — pausou, séria. — Matarei a filha de quem me aprisionou nesse inferno! — sua fofa face virou um demônio, praticamente. Ela é louca?

Aos poucos, o cenário foi se apagando, voltando ao castelo. “Aprecie o show”, ouvi suave. Finalmente, fora daquele inferno! Tentei me mexer, mas não foi dessa vez. Droga...

Apesar da falta de controle sobre o corpo, ainda sentia suas dores. Valeu mesmo, Clara. Na próxima feche o pacote completo, poxa! Dor não é agradável, ainda mais se for os arranhões da Miko, de novo. O QUE raios ela tem contra mim, afinal?

— Numa hora dessas e fazendo piada? — essa puta não sai da minha mente não? — Pela ofensa, serei ainda mais gentil com sua amiguinha. Primeiro Luna ou Miko...? Hm... Miko é bela... mas cabelos loiros ficam melhores em mim, então... — a cada palavra, sua voz ficava ainda mais suave. — Adeus~ — cantarolou.

— Quem é que te prendeu aqui? — Tentei mudar de assunto.

— Bela jogada. — droga... — Já ouviu falar da lenda sobre a criação deste mundo?

— Você não me respondeu. — Reparei alguns fios de cabelos loiros saindo por de trás da porta. Pelo tom, devem ser de Miko! “Obrigado~”, cantarolou a voz de Clara. Vejo minhas mãos puxando os cabelos, cortando-os com a espada. Miko, me perdoe... Olho para ver seu estado atual e um grande peso cai de minhas costas. Era um boneco. Bela jogada, Miko.

— Esperta. Parabéns~ — cantarolou, antes de voltar a falar comigo. — No início, com os humanos, havia um cientista. — sua voz (agora mais forte) estava séria. — Seu nome era Alivar. — minha visão voltou a se escurecer, levando-me de volta para o espaço paralelo, em minha própria mente. Clara estava a olhar para o teto, ainda flutuando em seu báculo. — Ele era louco, tentava criar almas. — realmente, loucura. Reparo em sua feição. Estava triste, pela primeira vez. Sua voz exalava carinho e dor. — Seu objetivo era alcançar a alma mais pura e perfeita para, enfim, sacrificá-la, tentando invocar os deuses da lua e do sol. — ela desceu do báculo, fitando-me. Finalmente ela começou a caminhar em minha direção. Gelei, afinal, nunca vi alguém tão fria e calma, ao mesmo tempo que linda e (aparentemente) inocente. Apavorado e encantado. Assim que me sinto... — E assim eu nasci. Ou melhor, fui criada. Era pura e inocente, como uma criança... — pausou. — Não. Até mais do que uma criança! — um leve sorriso escapou de seus lábios, sendo rapidamente repreendido. Diferente de antes, esse pequeno sorriso não levava um desejo de morte. Era tão puro e inocente que chegava a ser quase angelical. Esse pequeno me encantou ao ponto de meu coração disparar, fazendo-me corar. — Era como um Deus! — Todo o encanto se acabou. Novamente com uma feição cruel. Isso não combina com a aparência dela. Não mesmo. — Ofendida com tal coisa, a Deusa do Sol, Flora, me prendeu dentro deste livro, escrevendo em minha pele os mais terríveis encantamentos usados no mundo. — marcas de escritas e costuras foram aparecendo em seu corpo, ao mesmo tempo que sua pele clara se tornava apodrecida e suja. Será que posso ler? — Não. Não pode ler... Bem, ela matou meu pai, manchando-me de sangue, e assim, terminando de corromper minha alma. Acompanho a história deste planeta desde então. Até mesmo sua destruição e a extinção dos humanos! — sorriu vitoriosa. Suas marcas sumiram, voltando ao que era antes.

— Por que está me contando isto?

— Porque você perguntou, dãããr. — debochou, beijando meu rosto. — Mentira. Acho que gostei de você. — sorriu travessa. — E como agrado, matarei sua amiguinha Luna, enquanto torturo Miko com suas lembranças. — desgraçada! Ela voltou a se afastar, virando as costas para mim. Meu desejo é de matá-la agora! Cortar seu pescoço, ou talvez um tiro nas costas. Não sei. As correntes me apertam ainda mais. Havia me esquecido delas, droga!

— O QUE VOCÊ QUER EM TROCA? — gritei como um último apelo. Que Deus proteja as meninas e a mim também.

— Em troca? — ela se vira, encarando-me curiosa. Consegui! — Você mal conheceu elas. Surpreende-me que queira protegê-las. — pausou pensativa. — Me dê um corpo. Eu preciso de um corpo. Este já está ficando desgastado e não possui nenhuma habilidade com espadas.

— Desgastado? Eu sou jovem! — isso foi ofensivo! Somente tenho 17 anos nas costas. Me pergunto agora, qual a idade das meninas?

— Um corpo não aguenta duas almas por muito tempo. Veja, ele está caindo parte da pele. — Novamente imagens passaram por minha mente. O que ela dizia parecia ser verdade. Mas não sinto a dor... Estranho. — Aprecie seus os últimos momentos de Luna. — gelei com tais palavras. Não, a Luna não... minha visão clareia, voltando ao castelo. Luna estava caída, tremendo. Vejo o suor escorrendo pelo canto de seu rosto, enquanto seus olhos imploravam piedade.

— LUNA! – Um alívio. Era a voz de Miko, vindo por trás de mim. Em seguida sinto um peso em minhas costas. Graças à Deusa Flora! Erro o golpe, evitando a morte de Luna. Obrigado Miko... Sinto meu rosto queimar. Miko é demais. Não aguento o peso e caio, levando Miko comigo. — Por que você está fazendo isso, Dimitri? — ela se levantou, me encarando. Doeu, tanto a queda, quanto seu olhar. — Ou seja lá o que você for.

Sinto um liquido quente correr por meu rosto. Estava chorando. Eu não quero matá-las. São minhas primeiras e únicas amigas, apesar do que eu fiz. Elas me perdoaram, mesmo eu sendo um idiota. Vivam, por favor!

— Cor...ra... — Gracías... Droga, perdi o controle de meu corpo novamente. Meu corpo tenta se levantar, pelo o que senti, mas Luna se jogou sobre mim, pressionando um pano sobre meu rosto. O cheiro forte de clorofórmio... “vingança”, ouvi por último, perdendo meus sentidos. Luna, sua...

Quando acordo, estava de volta ao controle de meu corpo. Mas estava sozinho em uma sala pequena, além de amarrado, pra variar. Eu sou o que? Aquela bola presa na perna dos detentos? Estou sempre amarrado. Que droga...

— Meninas! — chamei animado. Elas abriram a porta, me encarando.

— Dimitri? — Miko se aproximou, desconfiada. Sinto que ela está pronta para me atacar.

— Sim, sou eu. — sorrio docemente.

— Como posso saber se não é aquela coisa que estava te controlando? — Luna se aproximou, parando atrás de Miko. Dói ver o medo que causei a elas.

— Olhe bem em meus olhos. Eu tenho cara de ser um livro louco? — tentei apelar para um olhar amigável. Elas ficaram ainda mais confusas — Quem estava me controlando era a droga de um livro. — expliquei. — Ou melhor, uma alma presa no livro. Clara, se não me engano. — elas se olharam. Estou ferrado...

— Vamos acreditar em você, — sorri aliviado. Luna continuou — dessa vez, vamos. Mas tente algo que você já sabe... — retirou um pedaço de pano do bolso, com um sorriso travesso. Sua...

— O que vocês descobriram? — Além de não poder mexer nos livros, completei em mente.

— O castelo está vazio, pelo o que vimos até agora. — explicou Miko. — Possui muitas armadilhas, além de moradores da cidade presos em diversos lugares do castelo.

— Pelo o que um deles gritava aos prantos, os donos são vampiros. — eu já imaginava, Luna...

— Eles têm uma sala especial para o dia, mas de noite, vagam pelos corredores do castelo. — alertou Miko.

— Vamos pra casa da Hideko? Voltamos a noite, para, enfim, encontrar os donos. — apelou Luna, com um tom de medo em sua voz.

— Acho uma ideia ruim, afinal, de noite eles podem nos perseguir até mesmo fora do castelo. — provoquei. — De dia os vampiros são mais fracos, além de odiarem luz. — ela me olhou emburrada, me tirando um sorriso vitorioso. Infantil, ela me mostrou a língua, sendo assim, ignorada.

Conversamos mais um pouco. Contei sobre Clara, o que chamou muito a atenção de Luna. Ela parecia se sentir culpada por algo, mas não sei. Ainda conversamos, fomos explorar o castelo, mas não conseguimos grandes coisas.

Dei a ideia de nos separarmos, que foi aceita após muito pensarem. Miko ficou com o subsolo, Luna com o térreo e eu com os andares mais altos.

Segui explorando de quarto em quarto, encontrando alguns presos, trilhas de sangue e alguns corpos imóveis. Em alguns quartos haviam vampiros dormindo em caixões. Isso me assustou, mas continuei seguindo. Eles eram, aparentemente, divididos em classes. Interessante isso. Os caixões mais simples não continham enfeites, além de um material fraco. Os outros eram mais belos. Detalhes pratas, além de correntes que, creio eu, pertenciam às suas vítimas. Muitas rosas vermelhas enfeitavam o castelo.

Reparei em dois caixões, diferentes de todos. Eram pretos, com detalhes dourados. Detalhes, estes, feitos com ouro. O quarto em que se encontravam era grande, bem decorado, com quadros e tapetes vermelhos, além de um mini bar em uma das paredes. Tentei abrir o caixão, curioso. Assustei com o som de algo se movendo. Havia acionado algo, abrindo uma passagem pelo bar.

Gelei ao imaginar o que poderia ter ali, mas a curiosidade me controlava. Entrei pela passagem. Tinha um pequeno corredor. Abafei o grito ao ver uma trilha de sangue. Continuei avançando. Vejo alguns vampiros devorando uma mulher. A sala era vermelha, mas não por ter sido pintada (com tinta) desta cor. Estava banhado em sangue. A fome incontrolável deles me paralisava. Sinto um frio suor escorrer pelo meu rosto. Estava tremendo! Eu ou as meninas poderíamos ser os próximos... Tentei voltar de costas, sem tirar os olhos deles.

Creio que acordei com o pé esquerdo. Minha incrível sorte me ajudou muito. Caí, chamando suas atenções. O desejo deles sobre mim exalava por todo corpo de cada um deles. Levantei às pressas, correndo como louco. Nenhum vampiro vai me comer! Não superei um livro idiota à toa.

Lembro que Luna estava no térreo. Eu imploro. Que ela tenha achado um bom esconderijo...

Corro, gritando seu nome. Se eles me pegassem, seria um massacre! Quando a encontro, estranho o silencio. Eles haviam parado de me seguir?

Agora era somente eu e Luna, sozinhos... Ela estava confusa e curiosa, ao mesmo tempo que levemente assustada.

— Achou algo? — perguntou. Oh, estou muito bem, senhorita Luna, obrigado por perguntar!

— Nada, só um bando de vampiros num quarto banhado a sangue querendo comer minha bunda. — disse sorridente, controlando para não voar no pescoço dela.

— Nhá, quase nada! — afirmou rindo. Seu olhar não saia de trás de mim. — Vamos avisar a Miko. — ela desviou o olhar, segurando a risada. Olho para trás. Havia um espelho... minhas calças estavam vermelhas, sujas de sangue... Foi quando cai? Creio que sim. Sinto meu rosto corar.

Em silêncio, seguimos até o subsolo. O clima tenso me incomodava. Como era de se esperar, Miko estava lendo.

— Miko! Miko! — chamava Luna animada. Sentei-me longe, somente observando elas conversando sobre o ocorrido. Contei sobre o quarto, mas fui levemente ignorado. Piadas e mais piadas sobre minha maldita frase. “Cuidado, os vampiros ainda devem estar querendo sua bunda”, brincava Miko. Chamei atenção para o que era importante, cortando as brincadeiras.

Decidimos voltar para o quarto vermelho. Apesar de com medo, não vou deixá-las sozinhas. Miko, no caminho, nos contava sobre o que encontrou nos livros.

Rapidamente chegamos ao quarto, anda aberto. Não quero entrar, mas... elas já estavam seguindo pelo corredor. Me apressei e as segui. Que droga!

No centro da sala — agora sem corpo — estava um casal. Uma lenta música começa, vindo de fora.

— Sejam bem vindos. — a bela loira nos agraciou com sua doce voz. Dona do castelo, creio. Quadros com suas fotos estavam na entrada.

O homem Se aproximou de Miko, que sequer pensou em recuar ou algo assim!

— Que bela jovem temos aqui. — seu sorriso galã claramente encantava ela. — Chamo-me Sephiroth, e a senhorita?

— Miko. — estava toda sorridente. Oh, que bela jovem, pensei em tom de deboche. Que ódio! Sinto o sangue subir à cabeça.

— Me dá a honra de uma dança? — ele convidou, abaixando-se como reverência, pegando sua mão e beijando. Ainda corto a cabeça dele! — És uma bela moça.

— Será um prazer. — e, não sei por qual motivos, começaram a dançar, grudados e beeeeem lentamente. Os braços de Sephroth em volta do corpo de Miko me irritavam ainda mais, mas nem tive tempo para pensar nisso direito. Fui interrompido de meus pensamentos. Uma mão toca meus cabelos com suavidade. Olho corando. Era a rainha, se aproximando.

— Você é interessante até. — sua mão desceu para meu rosto, arrepiando alguns fios de meu corpo. Era fria como gelo. Seu toque era calmo, gostoso. Sua mão deslizou sobre meu rosto, parando no queixo. — Vamos brincar? — seu olhar me dominava. Que ousada. Gostei dela!

Sigo suas mãos com os olhos. Ela segura minhas mãos, me fazendo corar um pouco mais. Sinto um impacto que nos fez soltar as mãos um do outro. Era Luna que havia nos dado um tapa. Isso DOEU, sabia?

— Ninguém vai brincar aqui, vadia. — Sentia seu ódio a distância. Ela poderia nos matar com o olhar! Faíscas saiam de seus olhos, praticamente.

— Oh, parece que alguém está com ciúmes. Que feio! Como pode ter ciúmes de mim, Elizabeth? — perguntou cinicamente, mexendo nos cabelos de Luna. — Os homens gostam de cabelos longos, sabia? Você sequer tem chance contra mim, querida.

Sem querer, voltei minha atenção para Miko. O “rei” estava cm um sorriso ainda mais cínico que o da mulher nos lábios, acompanhado de um olhar de desejo. Suas mãos percorriam o corpo de Miko como se fosse seu, um objeto raro e valioso que só ele podia tocar. Meus pelos se arrepiaram, e estreitei os olhos com a ira que senti daquilo, uma ira inexplicável, que tentei controlar cerrando os dentes.

Mas Miko estava sorridente. Quase radiante. Seus lábios rosados continham um sorriso tão travesso que me perguntei se ela reconhecia a seriedade da situação, pois, além disso, seus olhos pareciam devorar cada parte daquele tal... Sephiroth. Ainda dançavam, mas a música acabava, e tão logo pararam no lugar, seus lábios se encontraram, e eu encarei furioso enquanto os lábios nojentos daquele rei estúpido desciam ao pescoço de Miko.

Mas não posso mentir minha satisfação ao ver aquelas garras malditas afundando no pescoço daquele mesmo “rei”. Apesar de eu não ter tido muito tempo pensando nisso, porque logo sinto alguém empurrando minha cabeça, deixando meu pescoço livre.

— Eles são vampiros. — alertou a gueparda com um tom descontraído.

Havia esquecido. Mas agora é tarde. Senti uma leve dor com a perfuração em minha pele, mas estranhamente foi só isso. Nenhuma transformação ocorrera, nada mudava em meu corpo. E de repente um grito quase me deixou surdo.

— Seu sangue! — ela caiu de joelhos. — É puro veneno!

Luna cortou a cabeça de Beth, o sangue da morta-viva respingando pelo chão.

— Primeiro, seu cabelo é CURTO se comparado ao meu antes dessa bagunça. — frisou friamente, os olhos faiscando com raiva. — Segundo, sangue de homem morto, baby.

— Sangue de homem morto? — perguntei confuso, encarando a maior, que limpava um filete que lhe escorria o rosto.

— Hideko colocou em nossas bebidas ontem. Ela me contou na cozinha sobre isso, de madrugada. — explicou dando de ombros, voltando às feições doces de sempre.

— Sorte sua, Dimitri. Bem, esses não são os reis. — riu Miko de maneira quase debochada. — De acordo com o livro que eu estava lendo, alguns vampiros da família se vestem como os reis para enganar ameaças pequenas. Eles são de classe baixa.

— Por que você dançou com ele? — Luna perguntou de repente, e eu já havia até me esquecido disso...

— Porque ele era fraco e lindo, então não tinha perigo algum. — riu-se em resposta, os olhos divertidos.

— Falo nada. Isso foi PERIGOSO! — reclamei frustrado. Ora essa! E se fossem os reis de verdade? Ela estaria morta!

— Dimi, sabe por que não eram os reis? — respondeu revirando os olhos. Que infantil, responder com uma pergunta. — Quanto mais forte, melhores são os sentidos. Um simples “classe baixa” não sente o cheiro de sangue de homem morto.

— Dimi? — murmura Luna levemente corada, e tive de concordar que o apelido era... Vergonhoso, apesar de fofo. — E como você sabia?

— Vocês estão FEDENDO! Homem já tem um odor forte, agora... Quando morto... Argh! — exclamou fazendo careta de nojo, e tive vontade de rir de sua expressão.

Mas alguém nos interrompeu.

— Chega disso. — disse, não muito alto nem muito baixo, aparecendo na porta. O cabelo era branco como o de Sephiroth, apesar de sua pele ser levemente morena comparada às dos outros vampiros. Notei alguns piercings e brincos, além de uma orelha pontuda, que me fez arquear uma sobrancelha. A roupa parecia estranhamente desleixada, apesar de simples, com calça rasgada branca e preta, e uma blusa preta com capuz. Olho para Miko, que o observava com um sorriso travesso que me fez odiar o cara na mesma hora. — Eu levo vocês aos meus pais, mas parem de infectar minha casa! Homens mortos fedem, sabia?

— Ora, ora. O filho do rei nos deu sua graça. — cantarolou Miko fazendo uma reverência e forçando nossas cabeças para baixo também, muito à contra gosto meu.

— Não precisa disso. — contrapôs aquele estranho, tomando a mão de Miko e a beijando. É de família, essa ousadia?!

— Quem é você? — Luna perguntou, com olhos brilhantes. Qual é a desse cara?

— Riku, madame. — ele agora beijou a mão de Luna, fazendo-a corar. Estranhamente, pensei ter ouvido um bufar vindo da Miko.

— O filho bastardo. Filho de um vampiro com uma dragoa, certo? — como Miko descobre isso? — Bem, é o que diz nesse livro. — ela mostrou um exemplar encadernado que estava escondido em suas vestes. No cinto de tecido, para ser mais exato.

— Oh, o livro que escrevi. — ele pareceu surpreso ao encará-la. — Me levaram ele há anos, tentando esconder do povo a verdade.

— Então você é confiável, suponho? — não, eu não confio nesse cara!

— Sim. Venha, vou levar vocês para onde meus pais estão. Sinto o cheiro deles a distância... — sorriu levemente, já recuperado do momento de “fraqueza”.

O seguimos até encontrar uma saída por trás do castelo. O tempo todo, estive disposto a protegê-las se necessário — não queria fazer nada uma outra vez —, mas logo que passamos por onde Riku nos guiava, encontramos os reis. Eles estavam sentados em uma pequena mesa, tomando um líquido vermelho, parecendo estranhamente atentos para pessoas “relaxando”. Como prova, a rainha nos olhou e se aproximou mais rápido do que eu conseguia ver.

— Sangue de homem morto, hum? Interessante. — comentou me analisando dos pés à cabeça.

Antes que percebesse, o rei já estava próximo às meninas. Riku permanecia em pé, sorrindo, e eu quis socá-lo por isso.

— Hm... Perigosas, hein? — ele lambeu o pescoço de Luna. O que...? — Mas isso não me afeta. Afinal, sangue de dragão te deixa bem mais forte... — provocou sorrindo para Riku, claramente irritando-o.

— Desgraçado... — Riku resmunga abaixando a cabeça. Sua fúria é visível até mesmo para um cego! Grandes asas negras com degradê branco da metade para baixo surgem. Riku, choroso, levanta a cabeça e começa a se... Transformar?! Em questão de segundos, ele se torna um gigantesco dragão prateado.

Provocativo, Sephiroth beija Miko, deslizando uma unha em sua bochecha enquanto falava calmamente, como se seu filho não estivesse voando pra cima dele!

— Eu sou bem melhor que o falso, não?

E Riku simplesmente... O devorou, sem deixar rastros. Uma única bocada e adeus vampiro filho da puta. Fácil assim.

— Falta uma. — Miko aponta sorrindo, antes de se virar para o dragão. — E sim, você era melhor. — alisou a barriga de Riku, que aos poucos voltou à forma normal. — Melhor com a vingança?

— Sim, acho. Obrigado por não tê-lo atacado, e desculpa pelo beijo. Se isso lhe recompensa... — ele se aproximou da orelha dela, e pude ver que cochichava algo, apesar de não conseguir ouvir. Estreitei os olhos, piorando ainda mais a visão quando o vi lhe dar uma mordidinha leve na ponta da orelha dela.

— Que palhaçada é essa?! — exclamo irritado, me aproximando deles. — Ainda tem uma, sabia?!

— Tarde demais. — a voz doce de Elizabeth ecoa pela sala. Ela estava com uma espada que, antes, enfeitava as paredes. Tento me mover, mas fui lento demais, e só consigo ver sangue voando.

— HIDEKO?! — gritou Luna com a voz aguda em aflição. Espere, o que?

— Eu quero... — ela falava com a voz fraca, sangue escorrendo de seus lábios enquanto se pronunciava. — Viajar com você...

Luna deixou escapar um grito lamentoso e a abraçou forte. Finalmente reagindo, corri até elas, empurrando Elizabeth.

— Obrigada... Luna... — Hideko continua, fraca, e a beija antes de desmaiar.

— Ignis Dei contestor vos. — Luna de repente se ergueu e pôs dois dedos sobre meus lábios. Seu rosto molhado em lágrimas.

— Luna? — chamei sem saber o que fazer.

— Já perdi muitas pessoas nessa porcaria de mundo... Eu cuido disso! — ela baixou seu rosto, deixando as lágrimas escorrerem livremente. — Sanctus Deo si voxiferus vox si illa nos Deus to clamo si Luciferus clementire a Deus te voxianto. — sua voz era bela, flutuando entre nós. Leve e doce, calma e acolhedora, mas sem perder a força e coragem. Um vento forte gira ao seu redor, e aos poucos ela começa a flutuar no centro daquele redemoinho. — Sanctus Deo si voxifera tulentiam. — suas roupas começam a mudar e seu cabelo torna-se tão negro que seu brilho se azula. Um belo kimono surge em seu corpo, peça por peça. — Nos Deo to vox si ille Luciferus clementire a Deus te voxianto ferrus to. — primeiro o kimono leve, preto com delicadas flores brancas. Depois um obi prateado, e por último um laço prendendo o cabelo mais ou menos na metade, deixando a franja lateral levemente solta, caindo sobre seu busto. Bonita. Mas quando Luna volta ao chão, um frio sorriso toma seus lábios corados. Em sua mão direita surge uma luz, um fogo negro. — Sua alma é até bonita. Será que é forte também? — seu tom de voz era intimidador.

Aos poucos, ela foi fechando a mão, e vi com espanto Elizabeth se contorcer e gritar como se em grande dor, caindo no chão trêmula.

— Luna, calma. — Miko segura o ombro dela, que ainda encarava de olhos fixos a figura no chão.

— Calma? CALMA? Você viu o que ela fez?! — berrou Luna em resposta, apertando os olhos para Miko.

— Vi, mas calma. Não se torne algo tão podre quanto ela. — sacudiu a cabeça.

— Tudo bem... — Luna suspira abrindo as mãos aos poucos. Elizabeth suava, fraca, e sangue saía de sua boca, mesmo sem ninguém tê-la tocado um fio de cabelo. Luna então, se encolhe apavorada. — Desculpa mãe! Desculpa!

— Mãe? — ambos, eu e Miko, perguntamos confusos.

— Sim, mãe. Algum problema? — uma bela jovem aparece atrás de mim, assustando-me a ponto de me fazer pular, enquanto Miko se curvava respeitosa. Dessa vez, a imitei sem ser forçado.

— Flora, deusa do Sol e da Vida. É uma honra te ver. — Miko diz, arrumando sua postura com um pequeno sorriso.

— Miko, creio. Educada como imaginava. Uma verdadeira princesa da tribo dos guepardos.

— Obrigada. — seu sorriso se tornou um pouco maior, e pude ver sua felicidade sincera naquele gesto que nem chegava a mostrar os dentes.

— Princesa? — indaguei porém, curioso. Luna, perto da gente, continuava apavorada.

— É um elogio, somente. — Miko respondeu, ficando levemente tensa de repente. Apesar de como respondera, seu sorriso continuava impresso em minha mente.

— E você, — Flora virou-se para Luna — o que acha que ‘tá fazendo? — seu tom de voz chegava a ser assustador, de tão severo.

— Tremendo de medo...? — respondeu receosa a garota.

— Eu não te ensinei a atuar para ser tão amadora! Antes disso você deveria ter arregalado os olhos, gritado e entrado em desespero! — ambas começaram a rir após isso, enquanto Flora ajudava Luna a se levantar.

— Na próxima eu faço melhor. — prometeu Luna sorrindo alegremente.

— Bem, por que me chamou?

— Ela. — Luna apontou para Hideko, ainda jogada no chão. — Ela deu a vida dela para me salvar. Por favor, mãe, use a vida de Elizabeth, que só causou o mal e a morte para suas criações, e salve Hideko, que é uma boa garota e me salvou.

— ... Bons argumentos. Bem, irei fazer isso, mas só dessa vez, ok?

— Certo! — Luna abriu um sorriso extremo.

— E você, — olhou, dessa vez, para Riku — cuide bem delas, entendeu?

— Pode deixar, madame. — respondeu beijando a mão da Deusa.

Flora fez uma leve dança, tirando o fogo negro de dentro de Elizabeth e um fogo branco forte do peito de Hideko. Ambas as chamas dançaram entre si, o contraste cegante por alguns minutos, antes de se tornarem uma só, clara e mais forte que antes.

— Garota forte. Conseguiu purificar a alma de um vampiro... — continuou a dança enquanto falava, deixando a chama, enfim, descansar em paz dentro de Hideko, que acordou em seguida sem nenhum ferimento.

— Hideko! — Luna exclamou correndo e se jogando sobre a jovem caída.

— Luna. — sorriu doce sem nem reclamar do peso, apesar de que esse provavelmente teria lhe machucado antes de ser recuperada.

— Fico feliz que esteja bem. — comentou Miko ajudando ambas a se levantar.

— Obrigado pela ajuda. — me juntei ao grupo.

— É um prazer conhecê-la, e desculpe pelo o que minha família fez. Toda a riqueza do reino agora será do povo, como forma de perdão. — prometeu Riku curvando-se.

Após nosso momento de emoção, notei que Flora havia desaparecido em algum instante que despercebera. Fiquei triste por não poder falar melhor com ela, mas logo sorri quando recebemos a proposta de sermos guiados pelo castelo, onde libertamos o povo e intimidamos os vampiros com a cabeça da rainha.

Foi decidido, então, que Riku seria o novo rei, afinal a outra filha havia sumido. Hideko nos deixou dormir em sua casa novamente, mas nem deu, pois, tamanha a alegria, houve uma festa na cidade durante a noite, e passamos boa parte dela despertos.

Ao raiar do sol, a cabeça de Elizabeth podia ser encontrada pendurada na porta do castelo, como um lembrete vivo do que ela representava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, duvidas, sugestões, ideias, etc são sempre bem vindas.
Deixe um comentário (ou não) e façam uma escritora feliz~
Para quem não conhece a musica que Luna cantou, é Voxifera, do grupo Era.
Espero que tenham gostado. E avisando, talvez não poste na data certa semana que vem, afinal, meu PC resolveu... Brincar de queimar.