- Sasuke! Onde raios você está com a cabeça hoje?! – ouço Karin indagar, mas não lhe dou atenção. Minha mente viaja para duas esmeraldas cintilantes. Para um sorriso leve e alegre. Para fios em um tom exoticamente rosado. Para uma voz infantil, porém doce.

- Ele deve estar pensando na Haruno. – acho que dessa vez foi Suiguetsu quem falara. E não posso discordar dele. De fato, tenho pensando muito em Sakura nos últimos dias.

- Não seja idiota, Suiguetsu! Por que o Sasuke pensaria naquela sonsa?! – é impressão minha ou a voz de Karin parece estar bem mais enjoativa hoje?

- Só você não vê que e-

- Calem-se! – mando, interrompendo Suiguetsu que recomeçara a falar. Levanto-me de meu lugar e começo a sair da caverna. – Vou dar uma volta.

Ainda ouço Karin reclamar sobre algo, antes que começasse a pular entre as árvores. Meus pensamentos me traem, levando-me para uma zona perigosa. Levando-me para perto de um sentimento idiota. Eu não posso sentir saudades de ninguém. Nem da vila, nem de Kakashi, nem de Naruto, nem de... Sakura.

Já me afundei em minha própria escuridão e sei que não posso mais sair desse poço profundo. Sei que não tenho mais saída. Não tenho mais opção. Não tenho maissalvação.

Então, por que diabos continuo lembrando de Sakura e do seu “eu te amo”?

Paro de correr e olho para o lado, atento a um som suspeito. Penso ter ouvido alguns passos a minha direita e decido descer para vasculhar o lugar.

- Sasuke... – petrifico em meu lugar ao ouvir sua voz. Isso só podia ser alguma ilusão. Como ela conseguiu me encontrar?

- Vamos te levar de volta, Uchiha. – não reconheço a voz da segunda pessoa, mas acredito que seja um ANBU.

- Deixe-me a sós com ele, por favor. – a voz de Sakura preenche o local, novamente.

Viro-me apenas quando vejo dois homens mascarados passarem por mim. Sakura está muito bonita. Seus cabelos cresceram consideravelmente e seu corpo ficou bem modelado. Não lembra em nada aquela magrela de antes.

- Como me achou? – pergunto em um tom baixo, pois tenho medo de falhar se aumentar seu volume.

- Tenho te procurado há muito tempo. – sua voz é firme. Ela não desvia seus olhos dos meus por nenhum segundo.

- Eu não vou voltar. Eu sou um traidor, Sakura. – falo com um tom meio amargo, logo sinto o sabor em minha boca.

- Pra mim você não é, Sasuke. – vejo seus olhos começarem a marejarem. – Eu te esperei por todo esse tempo.

- Você não precisava esperar. – murmuro, mesmo que internamente estivesse feliz ao ouvir isso.

- Mas, eu quis. – ela dá um passo para frente, diminuindo nossa distância. – Eu quis, pois achei que conseguiria te salvar.

- Me salvar? – meu tom sai quase que sarcástico. Ela não pode estar falando sério.

- Sasuke, eu nunca desisti de você. Nem por um segundo. Nem que todos me dissessem que era bobagem vir atrás de você. Nem que o mundo inteiro conspirasse contra mim. Nem que eu precisasse dar minha vida por você. – duas lágrimas escorrem por sua bochecha e eu observo suas trilhas. – Sasuke, eu continuo te amando.

- Não sei porque está me dizendo tudo isso. – desvio meu olhar do dela e encaro o chão. Ele parece realmente mais interessante agora.

- PORQUE EU TE AMO E ESTOU CANSADA DE SUSTENTAR ESSE AMOR SOZINHA! – ela grita e eu me assusto, arregalando meus olhos levemente. – Porque eu não aguento mais te ver afundando em sua própria vingança, sendo engolido por essa escuridão sem fundamento, afastando-se de to-

- Ela não é sem fundamento. Você não sabe nada sobre mim. – corto-a com uma certa raiva em minha voz. Como pensei, ela continua a mesma irritante e que não mede suas palavras.

- É sem fundamento, sim! Porque você se acha o senhor sabe tudo, mas não tem certeza do que houve naquele dia! Porque você se acha melhor que todo mundo, mas na verdade é um covarde! – as lágrimas já escorrem com força por seu rosto e suas palavras me atingem de uma forma que não deveria. Cerro meus punhos e fecho meus olhos, tentando ignorar o que ela diz.

- Você não sabe de nada! – exclamo com uma irritação palpável. Sakura não tem o direito de falar sobre uma dor que ela não conhece!

- Não sei de nada? Sasuke, eu te conheço melhor que você mesmo! – ela está a milímetros de distância de mim. Nossos rostos estão quase encostados. – Por favor, me deixe tesalvar.

- Eu não tenho maissalvação, Sakura. – tento me afastar, mas ela segura minha blusa com força.

Você não vai me salvar?

pois a salvação é o que eu preciso

Eu apenas quero estar ao seu lado

Você não vai me salvar?

eu não quero ficar

Apenas vagando através desse mar da vida

- Por favor... – nossos lábios estão se aproximando ainda mais e isso é muito ruim. Não consigo mexer nenhum de meus músculos e então, instintivamente, fecho meus olhos. – Eu ainda te amo...

É tudo o que eu ouço antes de sentir seus lábios serem pressionados contra os meus. Os dela são tão macios e quentes e os meus tão frios. Um contraste enorme, mas Sakura não parece se importar. Levo meus braços para sua cintura e puxo-a para mais perto. Seu aperto em minha blusa se intensifica. Nosso beijo é calmo e lento, bem diferente de nós dois. Bem diferente de nossa história.

O ar nos falta e eu a vejo se distanciando lentamente. Um sorriso bobo brinca em seus lábios e isso me lembra de quanto éramos crianças.

- Vai me deixar tesalvar? – ela repete a pergunta e eu sorrio de canto. Pego um de seus fios rosados e Sakura me observa, esperançosa.

- Você é a minha salvação,Sakura.