Algumas vilas eram conhecidas por certas atividades especificas. Casinos, torneios... Blue* era conhecida pelas corridas de carros.

A tarde era marcada pelos preparativos e enquanto a maioria dos habitantes se deslocava para a carnificina outros levavam os seus melhores carros e iam competir na esperança de ganhar um bom dinheiro.

O campeão das corridas até agora era o chefe supremo, seguido do chefe de Blue e em terceiro lugar o braço esquerdo do chefe da vila.

O som dos motores misturava-se com os gritos dos que assistiam extasiados, e ao longe, quase imperceptível, o som de disparos.

Quatro carros encontravam-se na linha da frente. Um Audi verde metalizado, um Peugeot preto, um Ford azul e por fim, o mais luxuoso, um Lamborghini vermelho.

Uma rapariga dirige-se ao meio da pista com duas bandeiras brancas nas mãos. Ao baixar das bandeiras os carros arrancam.

O público estava em euforia e os condutores sentiam a adrenalina a correr pelas suas veias tal como óleo corria pelo motor.

Entre o público destacava-se uma mulher. Não pela roupa ou aspeto, a sua atitude face ao que a rodeava era totalmente diferente do resto dos "loucos" lá presentes. Observava o Lamborghini com atenção e a testa franzida. Era a última volta e ele ia em segundo lugar atrás do Ford.

No último minuto o carro vermelho coloca-se ao lado do azul e num segundo de respiração contida é o Lamborghini que corta a meta.

O público explode em aplausos e os carros param com o guinchar dos pneus.

Os condutores saem dos carros. Dois dele a jogar injurias pela derrota e o condutor do Ford literalmente furioso. Aproxima-se do carro vermelho pronto a arranjar briga.

– Sai do carro sua vaca!

A porta abre-se. Uma rapariga sai lá de dentro com um sorriso estampado no rosto.

– Fizeste batota!

Ignorando-o totalmente, a rapariga dirige-se para o homem que trazia um envelope volumoso cheio de dinheiro.

O furioso coloca a mão no ombro da rapariga e vira-a para si.

– Esse dinheiro é meu!

– Tira a mão.

– Porquê? Bates-me?

– Mato-te.

O homem solta uma gargalhada.

– Não sabes quem eu sou pois não seu monte de lixo?

A mulher que estava no público aparece ao pé deles.

– Analie, o que estás a fazer?

Ao ouvir o nome referido o homem recolhe a mão e encolhe-se.

– Vocês...vocês são a dupla S.A.?

– Nós não somos uma dupla. Eu trabalho sozinha. - Responde a mulher com desprezo.

– Que malvada Syrena. - Analie encosta-se à mulher.

Analie e Syrena eram os braços esquerdo e direito do chefe de Blue. Com personalidades totalmente diferentes, faziam a dupla mais letal da Zona Obscura.

– Se já tens o teu estúpido dinheiro vamos embora. O chefe está fulo contigo. - Repreende Syrena.

– Devias ficar feliz por mim. Ganhei outra vez.

– Como se isso me importasse.

– Não podes vencer-me nas corridas.

– Eu sou invencível. - Syrena começa a puxar uma arma de dentro do casaco.

– Sim, sim. Essa tatuagem diz tudo.

Syrena era conhecida por ter o kanji do "espírito" tatuado na cara. Era o seu símbolo de força, a prova de nunca ter perdido uma luta.

– Queres boleia? - Convida Analie entrando no carro.

– Não preciso.

Analie sorri. Fecha a porta e arranca guardando o envelope no bolso interior do colete que trazia.

A pista começa a dispersar e a ir cada um para a sua vida, afinal naquela cidade a noite ainda era uma criança.

*Azul