"I heard your voice through a photograph

I thought it up it brought up the past

Once you know you can never go back

I've gotta take it on the other side"

P.O.V. Annabeth

Cidade nova, Inferno novo, vida nova. É exatamente assim que eu me sinto. Depois que meu pai morreu eu e a minha mãe meio que ficamos “sem Norte” então decidimos mudar, recomeçar. Eu morava em são Francisco antes do acidente acontecer e eu demorei um pouco para processar. No começo tudo parecia uma ilusão, eu sentia que meu pai iria entrar pela porta do meu quarto, passar os dedos pelos meus cabelos e me acordar delicadamente com um sorriso carinhoso no rosto como fazia quando eu tinha 9 anos e não queria ir à escola. Mas conforme o tempo passava eu percebia que tudo não passava das ilusões de uma garota desesperada pelo o amor do pai que nunca voltaria.

Minha mãe se tornou apenas uma visitante em casa porque vivia constantemente fora tentando ignorar a dor da perda. E aqui estou eu, morando em uma casa bem maior do que o necessário para a moradia de somente duas pessoas, com um despertador do diabo apitando para que eu possa acordar logo para conhecer meu novo inferno ou muito conhecido pelos pais como “escola”. Arrastei-me para a beirada da cama e consegui desligar o som agudo que fez com que eu perdesse completamente o sono. Peguei meu celular e olhei na tela: 7:30. As aulas começavam às 8:00.

Me levantei e pela primeira vez observei atentamente meu quarto. Ele tinha paredes pretas cercadas com algumas luzinhas amarelas, a parede onde fica minha cama que também é preta é completamente coberta de cartazes de bandas de rock, tem uma guitarra vermelha encostada na porta do closet que é da mesma cor, uma TV na parede oposta à cama e a porta do banheiro ao lado da televisão.

Decidi fazer com que meus pés se mexessem e me dirigi ao banheiro e me despi tomando um banho quente e lento, e não me importava com o horário, eu não me importava com mais nada. Terminei e me enrolei em uma toalha e fui ao closet e segui o critério de moda que adquiri após à morte do meu pai: vesti a primeira roupa que apareceu na minha frente que consistia em um vans preto, uma blusa preta e por cima um moletom da mesma cor escrito “I Woke up Like This” (N/A:Significado: Acordei assim), uma calça da mesma cor do resto do visual porém com cruzes douradas. Botei uma luva sem dedos na mão direita, meu ray-ban indispensável preto e minha mochila, fiz uma make e deixei meus cabelos soltos. Desci e como sempre minha mãe não estava lá. Peguei meu skate ao lado da porta e saí.

Vi a ladeira da minha rua e sorri. Taquei meu skate no chão e pulei em cima do mesmo enquanto ia pegando a velocidade na descida. Abri o braço e gritei uma gargalhada entrecortada. Aquilo era maravilhoso. Eu sentia os ventos açoitarem delicadamente meu cabelo, passar por entre meus dedos e a adrenalina percorrendo todo meu corpo. Eu não conhecia muito bem NY e na verdade nem queria, eu só queria saber como ir a escola e voltar pra casa, sem mais delongas. É o primeiro dia, o dia ansiado por todas as putas que queriam divulgar o tamanho dos seus silicones aos garotos fúteis que se deixavam levar pelas curvas artificiais daquelas garotas, mas comigo com certeza não é assim. Aquele era só mais um dia em que teria que aguentar piadinhas sem graça por causa do meu visual, nada mais. Na verdade eu nem quero que seja algo a mais, essa é minha vida, eu quero que ela continue sendo a merda que é. Não aguento mais mudanças.

Passei ao Starbucks que tinha ali perto e tomei um cappuccino calmamente. Terminei de beber, paguei e voltei a ir em direção do Inferno.

Vi que estava me aproximando de um grande complexo que consistia em um grande prédio cercado de áreas abertas e prédios e foi ai que percebi que aquela era minha nova escola: Goode High School. Tinha um corrimão na escada que ia para um enorme gramado na frente do prédio pintado de verde com cinza e ali vi a oportunidade perfeita e peguei velocidade, flexionei os joelhos e dei um impulso pra cima subindo no corrimão e fazendo um 50/50 e caindo perfeitamente no chão com um Hardflip. Porém não havia ninguém ali, já eram 8:45 todos deviam estar nas aulas. Me dirigi calmamente para a secretaria e encontrei uma mulher olhando distraída para a tela de um computador. Pigarreei.

–Olá? Eu sou a aluna nova vim pegar o meu horário.

–Ah! Tome. Eu acho melhor você se apressar, os professores são meio... rígidos quando o assunto é horário.- disse me entregando um papelzinho com meus horários e salas.

–Ok! Valeu tia.

Olhei meu papel e segui andando em cima do meu skate distraidamente pelo corredor. Vi minha primeira aula: matemática, sala A67.

Quando levantei os olhos para as portas a fim de achar a sala onde eu devia estar já era tarde de mais, senti meu corpo se chocar com o de um menino que olhava distraído para o celular e que também andava de skate. Nos desequilibramos e eu cai pra trás e ele por cima mim institivamente coloquei as mãos no seu abdômen para tentar segurá-lo mesmo sabendo que era fraca para fazê-lo e por sorte ele conseguiu colocar os braços cada um de um lado da minha cabeça sustentando seu peso antes que caísse totalmente sobre mim. Nossas respirações estavam ofegantes e seu rosto estava a centímetros do meu. Nesse exato momento o destino decidiu brincar comigo e o sinal tocou, fazendo com que uma avalanche de pessoas tomasse conta dos corredores. Percebi que minhas mãos estavam por baixo de sua camisa fazendo surgir alguns comentários maliciosos por parte dos alunos. Tirei-as rapidamente de lá.

Ele se levantou e me ajudou. Peguei nossos skates no chão e entreguei o dele ao mesmo. Ele me olhava de cima a baixo com os olhos arregalados e pude ouvi-lo murmurar um “Wow” e pude perceber que eu disse a mesma coisa, mas eu não tinha culpa.

Ele era lindo. Cabelos pretos e rebeldes, olhos verdes e agitados como uma maré, músculos definidos, uma blusa do Red Hot sem mangas, jaqueta de couro, calça jeans rasgada e all stars cano médio preto.

Simplesmente me virei, subi no skate e saí correndo dali. As pessoas me olhavam como se eu fosse uma alienígena, mas eu ignorava e simplesmente pegava mais velocidade levando alguns chingamentos, mas continuei até encontrar a sala da minha segunda aula já que havia perdido a primeira. História, sala B2. Acho que eu havia demorado mais do que imaginei pois quando bati à porta da classe o professor já havia começado a dar aula.

–Olá. Vejo que está atrasada.

–Muito obrigada, mas eu já tenho um relógio, não preciso de outro.- disse arrancando risadas da turma mesmo que não fosse algo totalmente intencional.

–Mas não é o que parece. Você deve ser a aluna nova não é mesmo? Venha até a frente e se apresente.

Revirei os olhos.

– Meu nome é Annabeth Chase. Eu tenho 17 anos e vim de São Francisco. Posso me sentar?

– Qual o motivo de você ter vindo até NY, Annabeth?

–Você costuma ser enxerido assim mesmo ou é só porque eu sou novata? Lamento em lhe informar, professor, mas eu não posse te dar essa resposta.

–Skate maneiro. Trouxe pra sentar em cima e brincar de boneca?- me perguntou um garoto idiota no fundo da sala que também tinha um.

Não respondi, simplesmente coloquei meu skate no chão e fiz um Kickflip recebendo alguns olhares admirados de garotos e de gozação das meninas.

–Pensa bem antes de falar de mim idiota, pois pelo que eu estou vendo você só deve seguir em linha reto por 2 metros antes de cair então faz um favor pra humanidade? Cala a droga da sua boca!- disse lhe lançando um sorrisinho cínico.

Olhei a sala e me dirigi para o único lugar que era ao lado do menino que havia trombado no corredor. Ele olhava para o chão impedindo que eu olhasse seu olhos. Antes que eu pudesse dar um passo fui nterrompida por mais uma pergunta idiota.

–Você não acha que essa sua calça tá meio apertadinha não?- disse uma menina ruiva com um a roupa 5 tamanhos menores do que o certo e rindo junto com suas “fiéis” seguidoras.

–É o meu pinto.

Vi os meninos contorcendo-se de tanto rir e as meninas me encarando estupefadas. Segui meu caminho e sentei ao lado do moreno. Olhei o professor que me olhava claramente segurando a risada.

–Continue por favor. Estou mega interessada em saber o que você tem a dizer sobre “Os Três Grandes”.- disse vendo que era isso que estava escrito atrás do mesmo.

O professor adquiriu novamente a expressão séria e voltou a explicar o “seja-lá-o-quê” que ele estava explicando.

–Essa foi engraçada.- disse o garoto que era minha dupla, porém sem demonstrar nenhum esboço de sorriso no rosto e olhando atentamente para frente.

–Obrigada. Me desculpe pelo tombo hoje mais cedo. Eu estava meio distraída.

Ele me encarou e eu me perdi por um tempo naquela imensidão verde.

–Tudo bem.- disse simplesmente.

O resto da aula passou normalmente e tediosamente assim como todas as aulas seguintes. Na hora do almoço segui distraída para a cantina e trombei com outra pessoa.

–Ah Meus Deuses! Me desculpa, eu estou meio distraída hoje.- eu disse.

–De boa.

Encarei a pessoa com a qual tinha trombado. Era uma menina punk com um cabelo levemente arrepiado. Ela me olhou e sorriu.

–Você é Annabeth , certo? Fiquei sabendo sobre você e Percy no corredor e sobre o que você falou na aula de História.

–A notícia corre rápido aqui hein?

–Você nem acredita no quanto.- disse soltando uma gargalhada. Ela estendeu a mão.- Sou Thalia, Thalia Grace.

–Annabeth, Annabeth Chase.- disse apertando sua mão.

–Acho que gostarei bastante de você Annabeth.- disse me olhando de cima a baixo.

Eu ri.

–Espero que sim.

–Quer se sentar comigo e meus colegas? Ou já marcou com alguém?

–Não, eu adoraria!

–Siga-me Annabeth. Estamos chegando ao inferno.- disse sorrindo abertamente. Naquele momento eu senti que seriamos grandes amigas.