Spell: Access (The NEXT) escrita por Jazz Crown, The Next


Capítulo 4
Spell: Blood


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Trago para vocês o próximo capítulo, um pouco antecipado. Boa leitura!



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Cidade de Everfrost, dias atuais

A luz do sol passava por entre as persianas, projetando sombras verticais que formavam listras de sombra pelo carpete, como se fossem grades de uma prisão. Eu encarava Patricia, que aguardava em silêncio por uma resposta minha. Confiava na garota o bastante para dizê-la qualquer coisa, mas me preocupava em como ela compreenderia aquele dom, o Spell. Era bem capaz que ela pensasse que eu estaria brincando com ela, ou algo do tipo. Mas, por outro lado, ela poderia ser a pessoa certa a me ajudar, caso eu a contasse, já que era cega e controlável. Passava a mão na testa novamente, secando uma gota de suor que gelava minha face.

– Bom... não sei se você acreditaria. Não é algo fácil de engolir de uma vez.

– Abel, já engoli um pacote com drogas e joias uma vez. Em outra, engoli peças de uma arma e até um explosivo portátil. Já engoli outras coisas também, e muito maiores. Diga logo a merda que você tem a dizer. - Aquelas palavras nunca eram associáveis com sua aparência frágil e inocente de boneca, que agora brincava com uma das almofadas.

Levanto-me e vou de encontro a uma estante do consultório. Tateio a parte mais alta, retirando alguns livros de psicologia e psicanálise da frente, até encontrar um fundo falso. Abro o mesmo e de lá retiro um pequeno caderno de anotações, trancado com cadeado, como um diário. Tiro de dentro do meu bolso o molho de chaves e, com uma delas, abro o bloquinho, fazendo um “click”. Sento-me novamente na poltrona e começo a folheá-lo.

–"O Spell é uma forma avançada de controle mental, herdado pelo sangue ou despertado misteriosamente durante o decorrer da vida do usuário. Seu funcionamento consiste na pronúncia ou emissão de sinais que ultrapassam a barreira lógica da mente, através de canais mais sensíveis chamados de Pontes. O que se sabe é que sempre que uma pessoa descobre sua capacidade de utilizar o Spell, o usa para mudar drasticamente a história onde vive."

A garota parecia raciocinar por um tempo, tentando interligar aquilo que acabara de ouvir com o que possivelmente teria acontecido comigo na madrugada passada. Patricia era muito inteligente para a idade, chegando a ser surpreendente. Ela se parecia muito comigo e com Angelo, quando éramos jovens.

– Seria algo como hipnose e sugestão? - Ela finalmente respondia, como se procurasse os meus olhos.

– Muito mais do que isso. Apesar de utilizar o mesmo conceito, há uma diferença notável entre os dois. - Olhava, reflexivamente para a porta, para ver se havia alguém além de nós ouvindo, me preocupando desnecessariamente, já que as paredes dos consultórios eram isolantes de som. Voltava a fitar a garota. - A hipnose trabalha utilizando Pontes existentes, que são poucas e, geralmente alocadas em locais pré-definidos, limitando o acesso dos comandos. Já o Spell cria Pontes novas, podendo posicioná-las na região que o usuário desejar, atingindo memórias, sistema motor, emoções, sentidos... qualquer região. - Notei que ao pronunciar "memórias", a garota havia ficado apreensiva. Talvez pelo seu trauma antigo.

– Então você pode fazer da pessoa sua marionete... desde que apenas diga o seu comando? Foi assim que você conquistou a secretária? - Patricia sorria maleficamente.

– Conquistei a Clarice por ter um bom ponto de vista. - Rebatia o comentário da garota, em seguida pausava e retomava um aspecto sério. -Não exatamente. Os comandos são muito mais complexos do que você imagina. Preciso pronunciá-los num tom perfeito e no tempo perfeito, além de também necessitar de contato visual e auditivo, o que o torna menos eficaz em cegos e surdos. - Como o Angelo. - Como você. Há também um fator que eu andei observando, que é a sensibilidade mental. Há pessoas que são mais sensíveis à criação de pontes do que outras, além de já terem mais pontes naturais por genética ou saúde mental. Logo, algumas pessoas são mais fáceis de manipular do que outras, como, por exemplo, aquelas com a saúde mental debilitada, que geralmente se deitam aí onde você está nesse exato momento.

– Então é assim que você chega a essas conclusões, Abel? Brincando de marionete com seus pacientes? Parece divertido. - A garota realmente sorria, ameaçando gargalhar. Não esperava uma reação desse tipo. - De alguma forma você se parece com meu irmão.

– Se seu irmão for um maníaco possessivo, com ambição de poder e domínio, talvez sejamos realmente parecidos. Me apresente a ele qualquer dia.

– Mais cedo do que você imagina, Abel. Vocês se dariam muito bem, pena que ele se mudou para a Alemanha há algum tempo. Então quer dizer que você forçou um homem a cometer suicídio com algumas palavras, ditas num tom adequado e na hora certa, encarando-o nos olhos? Acho que seria mais fácil acreditar que você ganhou dele na mão. - Patricia sorria para mim, como se tudo aquilo fosse normal.

– Com um pouco mais de estudo, eu poderia ser capaz de exprimir comandos com apenas gestos, ou talvez até sem a necessidade da fala ou contato visual. Isso tornaria os Spells úteis demais, ou perigosos demais.

Ela sentou-se, deixando a almofada de lado e procurou pela minha mão, deixando a dela sobre a minha. Seus dedos eram pequenos e frágeis e neles haviam alguns anéis, dentre eles, um de ferro escuro com um rubi enorme no centro, possivelmente o brasão dos Cavaleiros do Sangue Escarlate.

– Acredite, o pior já passou. E você irá se recuperar muito mais rápido, já que é mais forte que eu.

– Patricia, não venha com essa. Sou um professor de história e psicanalista. Você é uma criminosa que bebe sangue no café e mastiga fetos no almoço. Se você teve pesadelos depois de matar alguém, imagine pelo que eu irei passar.

– Mas essa é a questão, Abel. Professor... Psicanalista... bla, bla, blah... - Repetia a garota, ironizando minha fala - Algumas pessoas nasceram pra matar e manipular e, para mim, você foi abençoado com essa capacidade. Lembre-se, eu vivo entre assassinos. Conheço-os bem.

E se ela realmente estivesse certa? E se aquele ódio que eu havia sentido na noite passada fosse mais do que um simples efeito adverso do Spell. E não nego que me divirto igualmente manipulando minhas "marionetes" na clínica e dando sessões particulares para Clarice no apartamento, geralmente sem roupas. O gosto pela morte naquele beco havia sido como uma bebida forte, que ferveu meu sangue. Mas no dia seguinte trouxe uma ressaca pior que qualquer outra e sem data para acabar. Aprendi na prática que o sangue é a pior bebida de todas.

– Ah, claro, já que Abel matou Caim. - Digo, levantando-me da poltrona e ajudando a garota a se levantar do divã. - A sessão está encerrada por hoje, Patricia, espero que tenha gostado. Deixe-me levá-la até a saída.

– Como desejar, Dexter Demetrius. - Respondia rindo baixo, cruzando nossos braços e apoiando-se em sua pequena bengala. Ela sabia que as palavras dela haviam mexido com minha cabeça, como se fossem Spell, mas as minhas não tinham nem mesmo a incomodado. Patricia pode vir a ser um problema. Ou minha melhor aliada.


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Notas finais do capítulo

É isso aí! Espero que tenham gostado. Não deixem de avaliar, criticar ou opinar, é importante para o desenvolvimento de qualquer boa história. Até o próximo capítulo.



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