Eu estava no carro, indo em direção à nossa nova casa, em uma cidadezinha com aparência antiga. Precisamos nos mudar, já que a transferência pra cá é uma ótima oportunidade para o meu pai. Minha mãe também está bastante animada... Até demais.

Olhando pela janela do banco de trás do carro, consegui ver uma floresta ao lado da estrada. Arvores, flores, algumas montanhas e o céu azul, não posso negar que é uma paisagem realmente bonita. Eu provavelmente não conseguiria ver o céu assim, se fosse em nosso apartamento, cuja única visão eram prédios e mais prédios.

– Estou tão animada! - Gritou minha mãe, no banco da frente, enquanto seu sorriso era incrivelmente aberto.

– Eu sempre quis morar em um lugar assim. Paz e tranquilidade... - Disse meu pai, enquanto dirigia.

– Nick, você vai adorar morar aqui. Todos são tão simpáticos! - Minha mãe falou. É incrível como ela está sempre tão feliz.

Coloquei meus fones de ouvido e comecei a ouvir algumas musicas na rádio. A musica parecia se misturar a paisagem e tornavam o clima muito melhor. Estava tendo alguns devaneios, quando tive a impressão de ter visto uma casa dentre as árvores.

– Hã? - Murmurei enquanto tentava olhar melhor, mas o carro estava muito rápido. - Pai, a gente já chegou na cidade?

– Não, filho. Mas ta quase lá. - Respondeu.

Continuei pensando naquilo. Me lembrei de alguns filmes de terror que eu assistia, onde haviam casas perto de florestas... Bom, vou tentar saber sobre isso mais tarde.
Pouco tempo depois, chegamos na cidade. As casas eram como eu esperava, possuindo seu ar de lugar que resiste ao tempo. Estacionamos perto da nossa nova casa.

– Lar doce lar. - Disse minha mãe, com seu tom animado de sempre. - Vamos lá, pessoal! Vamos explorar! - Ela parece um personagem de desenho animado infantil.

Meu pai pegou as malas no carro e eu o ajudei a leva-las até dentro da casa.

– Pronto, filho. Vá dar uma olhada na cidade, sua mãe e eu arrumamos tudo por aqui. - Ele disse com um sorriso esperançoso.

– Então ta... - Respondi, meio desconfiado. - Me empresta dinheiro? Quero comprar um hambúrguer.

– Mas já? Tudo bem, toma. - Ele disse, pegando uma certa quantia na carteira e me dando.

– Valeu! - Agradeci.

Fui andando e olhando as casas vizinhas, não estava com tanta fome, só não queria andar por aí desprevenido. A rua é limpa, o bairro parece ser um lugar calmo e receptivo. Olhei meu celular, o sinal estava fraco, mas existia. Coloquei meus fones, guardei o celular no bolso do casaco e fui andando por ai, levemente distraído.

Dei uma volta por aí, quando em uma esquina, esbarrei em uma garota e acabei derrubando um livro que ela estava carregando.

– Ah, foi mal. - Eu disse, meio sem graça enquanto a ajudava a pegar o livro que caíra no chão. - Aqui está. - Devolvi a ela rapidamente.

– Tudo bem. - Falou a garota de cabelos castanhos e curtos pelo ombro, enquanto abaixava seu rosto e escondia o título de seu livro abraçando-o, mas achei ter visto a palavra "mistério" em algum lugar.

– Eu me chamo Nicolas, sou novo na cidade. - Me apresentei, nervoso.

Ficamos em silêncio durante um tempo, ela parecia estar pensando em alguma coisa, mas não parecia com pressa, ou ocupada. Aparentava ter idade entre 14 à 16

– Você gosta de ler sobre mistérios? - Falei, tentando quebrar o gelo.

– Gosto. Você também? - Respondeu ela, timidamente e ainda com a cabeça baixa, tendo seus olhos cobertos pela franja.

– Claro! Gosto de criar teorias pra passar o tempo, imaginar histórias e mundos diferentes. É algo que eu faço muito.

A menina se calou por um tempo. Depois olhou em meus olhos, pude ver que seus olhos tinham uma cor estranhamente violeta. Sua pele era branca e nela havia suaves sardas.

– Eu também gosto. Acho que você vai gostar daqui, já que gosta de mistérios... - Ela disse com um sorriso misterioso. Se virou e saiu correndo, fitei-a com os olhos até ela virar em um cruzamento e sumir do meu campo de visão. Percebi que ela não disse o nome dela, mas olhei a hora no celular e vi que já estava meio tarde. Voltei pra casa e não conseguia parar de pensar nos olhos violetas daquela garota.