Cinco da manhã, o alarme toca, é difícil se acostumar com essa rotina, sem sua mãe pra te levantar da cama, eu vivo em uma condição onde sou eu por mim e dane-se o resto, mas cada desejo gera uma consequência certo? E a liberdade que eu tanto almejei me cobra esses esforços diários. Eu sou o Gabriel, nada de Biel ou Gabi, apenas Gabriel. Grosso? Talvez. Poucos amigos? Definitivamente sim. Vagabundo? Diga-me você. Sonhador? Meu segundo nome. Eu completei 16 anos há 6 meses, e o meu sonho se realizou ao mesmo tempo. Deixei minha casa e meu conforto no norte dos EUA pra viver o que estava escrito nas estrelas pra mim, eu sou um cara que se alimenta dos prazeres da vida, e ficar em casa até os 18 anos certamente não está na minha lista.

Hoje foi meu terceiro dia de aula naquela droga de escola, cada vez que eu me lembro que falta só mais um ano pra eu largar isso tudo, já me sinto mais leve, a minha vida é comum demais, qualquer um que me olhe diz que sou apenas mais um babaca que entope a cara de bebida quando chega em casa, dirigindo uma caminhonete velha e basicamente eu sou isso mesmo, o estranho é que hoje aconteceu uma coisa diferente, chegou uma garota estranha na minha sala, brilhante demais, "nariz por cima" demais, com aquele sotaque fresco de patricinha que faz compras na 5th Avenue.Não me importei, nunca fui de valorizar garotas, vivo na base do "Como,não nego, valorizo se merecer", mas até hoje nenhuma dessas vadias me provou que vale a pena tocar o meu coração de verdade. Sempre fui aquele idiota calado no fundão, só tinha um lugar livre na sala, adivinhem aonde o professor mandou ela sentar? É, vocês já sabem a resposta. Sentou do meu lado,ajeitou a bolsa que tinha muitos chaveiros com lembranças de Nova York e me disse:

- E aí? Eu sou a Katarina! Pode me chamar de Kat, tanto faz, você também é novato? O ar por aqui tá meio pesado né.

Eu, como sempre sincero, respondi:

- Tô com cara de novato, guria? Deixa eu terminar a droga dessa atividade e vazar logo daqui.

Ela me olhou com uma cara de "Sério que você falou assim comigo?", dane-se ela, hoje era dia de sair com o Tyson, meu único amigo naquela budega, o plano era encher a cara de porre e ler algumas Playboys, nada de mais.

Na hora da saída, lembrei que tinha um documento à receber na secretaria da escola, fui correndo pra não me atrasar com o cara, ele odeia atrasos tanto quantoeu, saí na correria da mesma forma, acabei tropeçando na "Novata gostosinha porém fresca de Nova York", era assim que eu definia ela. Mas tinha algo diferente, eu nunca tinha visto aquilo em uma pessoa, ela não tinha brilho nos olhos. Isso parece algo um tanto quanto gay ou quase romântico? É, mas não era a intenção. Ao olhar para o pulso dela, percebi várias marcas, meu primeiro impulso foi "Fã da Demi?" e comecei a rir. Ela franziu a expressão e pegou seu carro, um Mustang 1975, bem conservado. Qual o problema dessa menina? Uma hora ardente como o fogo e na outra fria como a alvorada matinal que acontece aqui? Eu disse?

- Qual é a tua hein? Tá achando que só por ser novata vai ter vida fácil aqui? É só mais uma vadia louca como todas essas outras? Até mais.

- Eu posso ser a dor que você não desejaria nem ao seu pior inimigo.

Depois disso, ficou um clima de filme no ar, bem macabro por sinal, uma garoa fina começou a cair perto dos pinheiros que cercavam o colégio e gralhas começaram a cantar, como em um Réquiem sinistro. Qual seria a intenção dela ao me dizer aquilo? Eu nem sabia seu nome e ela me ameaçara de tal forma que fez minha nuca arrepiar.