– Esqueça Sofia... Nunca encontraremos um vestido no meio da sua bagunça!

– Me ajuda, mãe! Devo ter algum vestido, talvez eu apenas não lembre onde está.

– Não é melhor ir à cidade e comprar um novo? – perguntou a mãe.

– Mãe... Não temos tanto dinheiro para ficar esbanjando por aí! Eu tenho certeza que deve ter algum vestido por aqui.

– Minha filha, mesmo que encontremos algum vestido, você acha mesmo que ele será bom para um baile? É muito melhor comprar um novo... – pediu novamente.

– Mas mãe...

– Veja bem, eu tenho algumas economias. Guardo elas em meus potes na cozinha – cochichou. – Deixe que eu te empreste um bom dinheiro. Não é todo dia que você vai em um baile de formatura.

– Tem certeza, mamãe?

– Absoluta.

A Sra. Carter correu até a cozinha e voltou para o quarto da filha com um punhado de dinheiro em suas mãos. Após agradecer, Sofia seguiu até a cidade, em busca de algo que lhe servisse. Enquanto caminhava, uma enorme alegria tomava conta dela. Iria para o baile, mesmo depois de achar que jamais colocaria os pés no salão de festas. O motivo principal em achar isso, foi o fato de ninguém a ter convidado. Esperou Miguel por dias, semanas... Até que ele finalmente tomou coragem para chamá-la. Ela pensou, afinal, que melhores amigos conseguem se suportar por duas horas em meio a um amontoado de pessoas coloridas e alegres.

E Sofia andou por todas as lojas da cidade, chegou um momento onde ela seria capaz de comprar qualquer coisa. Mas parecia uma tarefa impossível, pois nada a agradava. Será que ela queria impressionar alguém e não percebia isso?

Até que uma ideia fez-se parecer a mais ideal. Ela tinha plena certeza que Lydia conseguiria ajudá-la. Aliás, em Narem, tudo era possível. Deu meia-volta e seguiu para a estrada, imaginando como seria o seu vestido. Chegando em Narem, a garota logo procurou pela rainha, que lhe atendeu tão bem como das tantas outras vezes. Sofia explicou minuciosamente a sua situação, dizendo a ela sobre como o baile era importante, e sobre como ela não conseguiu encontrar algo agradável para usar.

Lydia chamou os duendes, que se animaram em saber que confeccionariam uma roupa nova depois de tanto tempo. Chamou também os centauros, que questionaram Sofia para descobrir como ela queria suas vestes. E convidou também os unicórnios, que dariam um toque final de beleza no vestido com sua magia. Sammy, que estava em Narem por um tempo, correu para pegar com os bichos-da-seda tecido suficiente para o traje do baile. Enquanto Lydia e os centauros executavam seus trabalhos de magia na seda, os duendes cantavam animados enquanto faziam lindas botas, sua especialidade:

Ah, sim! Que saudade de uma boa confecção!

Ah, não! Pode crer, isso não uma mentira, não!

Depois de longos minutos de trabalho, as vestes e as botas estavam quase prontas. Os unicórnios acrescentaram só um pouco mais de brilho, e finalmente, a garota já podia experimentar seu lindo traje. Adentrou em um “biombo” improvisado e trocou-se. Quando saiu, os seres de Narem pareciam mais maravilhados do que quando ganharam a guerra:

Sofia encontrava-se em um belo vestido, que chegava até seus joelhos. Era verde-marinho, e possuía rendas nas baias. Tinha um pouco de brilho artesanal, mas não chegava a ser nada exagerado, estava na medida certa. As suas botas eram da cor do vestido. Eram bem felpudas, e extremamente confortáveis. A garota ainda ganhou uma linda pulseira decorada com flores que mudavam de cor.

– A menina palha está tão linda... – exclamou um duende.

– Está realmente muito bela, Sofia! – disse Lydia.

– Obrigada – disse sem jeito.

Lydia embrulhou o vestido para a garota, que voltou para casa. Ao chegar, a mãe estava na sala. Mostrou-lhe o que tinha conseguido, com a desculpa que havia comprado na cidade.

– Esse vestido é lindo demais para ser vendido na cidade! Você teve sorte em encontrar algo tão belo assim...

Sofia foi até a cozinha com a desculpa de querer um pouco de água. E depois de vasculhar os armários, encontrou um pote vazio, onde depositou o dinheiro que sua mão lhe dera. Aliás, não havia precisado dele, e não era certo pegar algo que lhe foi dado com tanto carinho para gastar com outra coisa. Agora, o que ela mais queria, era que chegasse logo a bendita noite do baile.

**

Miguel bateu à porta, e quem o recebeu foi Sofia. Sua visão não poderia ter sido melhor. Além de sua bela veste, a garota havia preso os cabelos cacheados em um belo rabo de cavalo. E mesmo sem nenhuma maquiagem no rosto, ela estava radiante.

– Oi.

– Oi – respondeu ele.

– Você até que está bem para um graveto – disse ela.

– Até que você está bem para uma palha! – retrucou. – Mas esse terno ficou horrível em mim. Mesmo comprando um enorme, ainda assim dá pra ver meus tornozelos...

– Se você parasse de crescer um pouco! Aliás, bem que você poderia me dar um pouco da sua altura!

– Então, vamos?

– Vamos.

Os dois foram a pé para a festa. Até porque nenhum dos dois dirigia ou tinham os pais disponíveis para levá-los. Tudo corria bem, não fosse pelo surgimento inesperado de certo alguém.

– Olha só. Os dois pombinhos indo juntos para o baile de formatura! – berrou Oliver.

– Nos deixe em paz, Oliver! – pediu Sofia.

– Cale a boca, sua demente!

– Veja só como fala com ela! – devolveu Miguel.

– Não adianta implorar por nada! Somos cinco contra um, você não têm chance. Jones, segure a garota!

Uma garota enorme, uma verdadeira brutamontes, segurou Sofia pelos braços. Enquanto um dos amigos de Oliver segurou Miguel.

– Deixe ela em paz, Oliver!

– Não se preocupe, meu jovem apaixonado... O meu acerto de contas é com você! Chegou a hora de pagar tudo o que me deve.