O Desejo Do Anjo escrita por Miranda Jackson


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Então, aqui estou eu, novamente. Espero que gostem de algo da história. É apenas um capítulo, muito meloso e filosófico, mas acho que está interessante.É uma das minhas versões da morte. Nunca se sabe o que há para o além, então vocês podem não concordar com as minhas ideias, mas peço respeito.Boa leitura!!!!

Capítulo betado por Say - Nyah!Conference



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Quando havia a palavra "morte", muitas perguntas e questões eram levantadas sobre esse assunto. Mas aquela que mais se perguntava era: "O que há depois da morte?".

Ninguém poderia responder. Haveria inferno ou paraíso? Era assustador o pensamento de todos os pecados da vida.

Aqueles que cometerem erros eram direcionados ao mundo de Satanás?

xXx

Os hospitais de New York eram movimentados. Pessoas que desperdiçavam a sua vida em acidentes e problemas que estragavam a vida de outras pessoas.

Multidões de médicos andavam atarefados, correndo de um lado ao outro, com papeis ou macas nas mãos. Era uma anarquia a maneira de como eles conviviam entre si.

Sentado numa das cadeiras sujas daquele cenário, estava um homem alto e corpulento. Aguardava à hora para que fosse atendido e na expectação, vagueava em pensamentos obscuros em busca de futuras respostas.

Sr. Bellow.

Quando o seu nome foi anunciado sobre os altfalantes presentes na sala de espera, pegou numa pequena trela agarrada a um cão de grande porte. A sua desorientação ao andar indicava que não possuía o sentido da visão que lhe fora dado à nascença, assim como a todos os humanos, ou a quase todos.

O cão bege, que o puxava e guiava por meio dos indivíduos abarrotados, levou-o a uma pequena sala de enfermaria. Lá dentro, um senhor de idade já avançada, o aguardava pacientemente, ajudando-o a sentar-se na cadeira.

Palavras não foram precisas serem trocadas para o homem de olhos verdes perceber o quanto a sua vida estaria limitada, muito mais que naquele momento. O câncer avançava de maneira rápida e apenas a cirurgia o poderia salvar. Mas, para ele, de nada mais valia viver. Não podia ver o mundo e as maravilhas que o ser humano destruía. Viveria para sempre em um mundo fechado e escuro sendo a solidão a sua futura amante. Preferia que a cirurgia corresse mal, mas o seu médico não o permitiria. Era demasiado apaixonado pela vida.

– Bryan, eu sei o que sente, - disse o doutor, pressentindo a alma conformada e abandonada do seu paciente - mas a vida continua. Poderá arranjar uma esposa, viver numa grande casa. Para quê desistir agora?

– Para quê continuar a viver, se nada poderei ver? - o tom sério da sua voz foi o suficiente para que não voltasse a ser incomodado com conselhos filosóficos. Deus o desamparou à muito.

xXx

Não demorou para voltar a estar deitado na sala onde lhe tinham retirado metade da sua vida. Pessoas à sua volta conversavam e mexiam nos instrumentos que perfurariam a pele de Bryan para lhe retirar o tumor do intestino.

O que uma vida de bebedeira não fazia. pensou ele a rir.

O efeito da morfina tornava-se visível à medida que os seus olhos sem utilidade se fechavam. Era pouco provável que os voltasse a abrir, porque ia sentindo o seu coração falhar aos poucos. Só desejava que falhasse logo, de maneira rápida, indolor.

xXx

O tempo sempre passava de uma maneira rapidamente assustadora. A cada segundo que passava, mais a morte se aproximava e isso levava o povo a tentar viver a sua vida o máximo que pudesse, aproveitando-se dos cinco sentidos que lhe foram dados, como uma benção pela vida.

O tempo era tão rápido como um comboio a alta velocidade.

Os únicos sons ouvidos eram os murmúrios de quem estava ao seu lado. Bryan não sabia onde se encontrava. Não sentia nada, nem sequer seu corpo. Os movimentos do seu corpo eram controlados pelo cérebro. Sentiu os seus pés no chão, enquanto sozinho se erguia.

Estranho. Falou uma voz na sua mente. Não me sinto, mas estou a andar.

Estando cego, nada era visível à sua volta e como sempre obrigou-se a ir pelos sons. Não muito longe, conseguia ouvir o latido do seu cão guia. Como ninguém o empurrou para a cama, mesmo com o som de vozes e uma constante máquina a fazer barulho, andou, coordenado pelo cérebro, até o latido do seu animal.

A medida que andava, foi percebendo que nada parecida haver em sua volta. Nenhum obstáculo. Ao dar por si, percebeu pelo som que o ladrar tinha ficado para trás. Tentou rodar o seu corpo em volta, mas pela cegueira, os seus movimentos não eram equilibrados. Conseguiu ouvir uma risada suave atrás de si quando seus joelhos tocaram o chão.

– Calma, camarada - a mesma voz suave falou aproximada dele. A mulher - julgou pela fala afeminada - pegou num dos seus braços e sentou-o numa cadeira.

– Quem é você? - perguntou descontraidamente. A voz da mulher o intrigava de uma forma estranha. Era quase...mágica.

– Uma pergunta pertinente, porém cada segundo tem uma resposta e ainda não é tempo de responder.

Manipuladora. pensou Bryan. Só uma pessoa com um grande ego poderia formar uma frase tão perfeita, mas tão tenebrosa ao mesmo tempo.

– E quando será? - resmungou, tentando ouvir de onde a voz estava. Esta voz impregnava tanto sua mente quanto seu coração.

– As perguntas feitas a mim não serão respondidas. Tudo a seu tempo, meu amado soldado.

– Eu não sou um soldado.

– Foste em vida, mesmo que ela não te tenha dado a chance de perceber.

– Como o sabe?

– Eu sei tudo a seu respeito. Desde o seu nascimento à sua morte.

As palavras eram cada vez mais intrigantes. Parecia que ambos jogavam um jogo de frases. Como era possível saber sobre a sua morte, se ainda estava vivo?

Como se os seus pensamentos fossem ouvidos, a mulher deu uma risada delicada, antes de responder à pergunta que não fora feita:

– Você está morto.

Agora a certeza viera com mais afinco. Ela era insana. Como estaria morto se havia vozes à sua volta?

– Bem, sabe...eu acho que ainda estou no hospital, não em um pandemônio - respondeu com desacato, mas a mulher não se enfureceu. Sempre soube lidar com estas situações.

– É normal na primeira vez. Demora tempo até a pessoa verdadeiramente se aperceber que está morta...

– Só percebe quando está no inferno? - perguntou em tom de brincadeira. Só esperava que fosse o primeiro de abril e aquilo uma piada de mau gosto.

– Inferno? Meu amante, não existe inferno. Apenas aqueles que pecaram e os que nada fizeram.

– Sabe, eu tenho um vida, não quero ficar no hospital por muito tempo, ao ares daqui fazem mal...

– A sua vida se foi - insistiu ela. Era difícil de o convencer. - O seu destino está agora nas mãos de Deus...

– Não me venha com essa história de Deus! - o tom de voz que Bryan usou fora bruto e sabia que não era maneira de falar com uma senhora, mas deixara de acreditar em tolices à muitos anos. - Deus abandonou meio mundo. Deus não existe!

– Existe enquanto ainda se acredita nEle...

– Antes de mais, responda logo quem é você, não venha com essas coisas de tempo.

Um silêncio tomou conta daquele local. Não era constrangedor, confortável ou incomodativo. Era apenas o silencio e, estranhamente, o homem não ouviu o som da sua respiração...ele não respirava.

– Eu tenho muitos nomes. Tantos foram os que o que o Homem me deu. Talvez me conheça por ceifeira, mas sou um dos anjos que guia os homens ao seu verdadeiro lugar onde pertence.

Bryan fechou os olhos cegos, tentando perceber todo o ruído. O seu cão já não ladrava e percebia a passagem de pessoas à sua volta. A sua cegueira aguçara sua audição. Ouvia coisas tão pequenas e insignificantes para os outros, mas para ele era uma razão de sobrevivência, era um balsamo. Ouviu a voz do seu médico idoso. Pouca coisa era perceptível, até perceber apenas um sussurro: "ele morreu...". Não sabia se era sobre ele que se referia, mas algo na voz da mulher o fazia acreditar.

Não percebia se ela falava algo. A sua mente ainda estava em transe. Não que estivesse triste por estar morto, ele sentia-se...aliviado.

– Como eu morri? - não foi a instantaneidade do entendimento da situação que a pegou desprevenida. Foi o tom calmo a sua voz. Era normal eles chorarem e suplicarem por viver, mas ele não. Homem curioso.

– Um ataque cardíaco. Não perceberam a tempo o que aconteceu e foi tarde demais.

– Entendo. – a voz dele foi distante. Ele concordava com ela, mas não naqueles termos. Morreu tarde demais.

Percebeu pelo som dos movimentos, que o anjo se sentara a seu lado. Pegou na sua mão forte e o contato provocou "pele de galinha" a Bryan. A pele dela era tão suave, era como nuvens.

– A vida continua. Não tem de ter medo do que acontecerá a seguir. Todos passaram por isso.

– Estarei seguro? - a sua fala tremeu mais que pretendia. Ele não estava com medo, apenas se sentia incerto.

– Estará entregue a Deus...

– Então, nada irá mudar.

– Como assim? - perguntou ela, desentendida.

– Você pode olhar para mim, mas eu não posso olhar para você. Há mais de cinco anos que tudo o que eu faço põe em causa a minha sobrevivência, tudo por culpa Dele. Tenho 30 anos e parece que tudo o que eu faço vai acabar de um momento para o outro. Sinto-me preso a um cão e abandonado por todos.

– Tudo acontece por uma razão...

– Qual?

Novamente, o silêncio reinou entre eles. O anjo não tinha como responder, mesmo que desse as respostas à milênios.

– Afinal, o que há depois disto? Irei viver no hospital? - perguntou ele, mudando de assunto ao ver o constrangimento que causou. Sentia-se impaciente e queria acabar aquela conversa, mas a mulher não iria facilitar. Disso ele tinha a certeza.

– Eu não guio apenas os homens. Eu sou julgadora, ou seja, apenas eu sei o destino daqui em diante. Para isso eu irei conceder-lhe um desejo, apenas um.

– O que quer dizer com isso?

– Pode pedir o que quiser. Apenas não pode voltar à vida, terá de continuar. São as escolhas que fazem as pessoas suas vítimas. E eu serei o seu destino - o seu tom foi sedutor, mas profissional. De certa maneira isso chamou a atenção de Bryan para o anjo. Haveria um truque na manga?

– Posso pedir o que quiser?

– Sim, mas não pode recuar. Encare como um jogo de tabuleiro. Para ganhar algo, tem de avançar. Se voltar para trás, algo irá perder.

– Como saberei o que pedir?

– Todos o sabem. Há sempre algo que desejam e isso é o que querem. Distingue os que têm alma, dos que não têm.

Bryan pouco tinha que pensar. Ele sabia o que queria, não era preciso colocar muitas coisas de lado, pois pouco ele tinha.

– Eu desejo...poder voltar a ver... - o anjo sorriu vitoriosamente. Sabia que seria isso, pois nada mais poderia ser.

Ela aproximou o seu rosto ao dele. Os seus cabelos negros pareciam espetados em qualquer direção e estavam invisíveis para que ninguém os incomodasse. Levou os seus lábios suaves aos olhos verdes, fechando as pálpebras e os beijando suavemente.

O homem pensou que iria sentir uma dor terrível, mas apenas os lábios delas, ao tocarem nos seus olhos, lhe parecia ser uma brincadeira de mau gosto.

Lento e temoroso, o seu cérebro abriu as brilhantes orbitas verdes. Uma grande luz chocou contra suas pupilas e foi obrigado a tentar se proteger daquela imensidão. Um gemido de dor foi libertado quando tentou voltar a olhar à sua volta. Os olhos pareciam arder em chamas quentes. Precisava de água para acalmar a ardência, mas antes de voltar a falar, algo molhado encharcou o seu rosto poderoso. Insistente, após estar mais calmo, abriu as pálpebras e finalmente consegui ver algo.

Não olhou para a bata dos enfermeiros, nem a cor das paredes brancas. As pessoas que corriam por ali não lhe chamaram a atenção. Ele apenas dirigiu o olhar ao anjo a seu lado.

Era tão...bela. Angelical. Os seus cabelos eram loiros, mas estavam apanhados numa trança que desciam pelas suas costas esbeltas. Os seus olhos castanhos o encararam profundamente, enquanto o seu olhar descia pelo corpo. Ela não usava um daqueles vestidos antigos ou estava nua. A camisola preta realçava os firmes e sedutores seios. A calça de couro mostrava as delicadas pernas bem formadas. Poderia-se juntar todas as atrizes mais bonitas do cinema, e nem assim seria uma beleza próxima à dela.

Após desfrutar da sua visão, lembrou-se, por fim, das consequências do desejo.

– Então...sou uma pessoa boa ou má? - perguntou, brincalhão.

– Isso...ainda está para averiguar - e com isso, o anjo beijou-o.

No inicio estava demasiado chocado para corresponder. Ela era um anjo a beijar um morto. Mas o transe passou e colocou as suas mãos sobre as coxas definidas. Os lábios pareciam encaixar-se profundamente, assim como as mãos bobas que por ali passavam. Bryan percebeu que não era o único a estar animado, quando sentiu um formigueiro por entre as pernas. As línguas dos amantes logo exploravam as bocas, apagando todos os sons em volta deles.

Sem nenhum precisar de respirar, sendo que a mulher é imortal e o homem está morto, poderia ficar ali afastados, mas um trovão soou pela mentes dos dois, obrigando a afastarem-se.

O silêncio se fez, mas pouco durou ao ser interrompido pela voz suave do anjo.

– Vem.

– Aonde?

– Ao destino. Há vida depois da morte.

xXx

Quando os seus pés finalmente sentiram a terra, o seu estômago parecia querer voltar a levar a comida por onde entrou.

Uma grande claridade se fez à sua frente e a única coisa que sentia era a mão do anjo entrelaçada na sua.

Há sua volta estavam vários anjos, mas ao contrário da mulher, eles tinham asas bem grandes. Uns tinham asas pretas, outros asas brancas. Como um cenário de fundo, havia uma pouco de música. Não era como as que os mortais inventavam. Era algo totalmente diferente. Era mágico.

Ao seu lado estava um rio brilhante. Azul puro. Sentiu-se ser puxado pela amante sobre umas escadas. Ao olhar em frente, não soube contar quantas havia. Eram milhares delas e a seu lado outras se moviam para cima e para baixo.

Bryan dirigiu o seu olhar à mulher. Já não estava uma mulher humana. Tinha asas enormes, maiores das que tinha visto. Eram brancas que contrastavam com o seu vestido prateado enfeitado com diamantes. Os seus cabelos loiros estavam agora soltos e caiam lisos em cascatas pelos ombros e costas. Tinha uma tiara brilhante na testa.

– Já agora, eu sou a Meredith - falou ela, rindo sobre o ar surpreso dele.

Os dois subiram para umas escadas movediças até chegaram ao topo de um grande monte. Há sua volta, milhares de animais habitavam, desde borboletas a leões. Descendo, em frente, havia um caminho de relva fresca. Parecia não ter fim.

– É aqui - anunciou ela.

– Como?

– Este é o teu destino.

– Uma...estrada? - perguntou. Parecia uma brincadeira de mau gosto. Sempre pensou que haveria duas portas, uma para o céu, outra para o inferno. Mas agora, ali, estava apenas uma estrada sem fim.

– Ela te levará ao lugar a que pertences.

– Você falou que sabia.

– Sabia onde começava, não onde acabava. Ninguém sabe, apenas este caminho. Daí que se chama a Estrada da Incerteza.

– Como eu sei aonde eu vou?

– Só tem de seguir o caminho. Quem não deve, nada tem a temer. - Meredith aproximou-se dele e, delicadamente, o beijou, colocando uma pulseira de ouro na sua mão. - Boa sorte.

Bryan fechou os olhos, agora com visão, mas ao os abrir, ela já lá não se encontrava. Era apenas ele e o seu destino, frente a frente.


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Notas finais do capítulo

Anarquia - desorganização.Expectação - esperar.Enfim, não ficou algo muito legal, eu sei, mas eu espero alguns comentários e uma ou duas recomendações, ahahaha.Espero que gostem!