Ponto de vista da Autora.

A sexta-feira passou sem mais delongas e acontecimentos importantes. Depois do que ocorreu no jardim, America voltou para o quarto e buscou alguma maneira de se entreter, enquanto Gabe costurava e dava os últimos retoques no vestido dela, e no paletó dele. O que achou foi um exemplar de 'Orgulho e Preconceito' na pequena mala que levara para Liechtenstein. Abriu em uma página qualquer e sorriu ao ver que Lizzy Bennet e o famoso e querido Sr.Darcy estavam numa conversa importantíssima quase no desfecho da história

" - Querida, adorável Elizabeth, quanto lhe devo! Ensinou-me uma lição, muito dura, a princípio, mas muito vantajosa.Por suas mãos recebi a humilhação que devia. Aproximei-me de você sem duvidar de que seria aceito. Sua recusa me mostrou como eram insuficientes minhas pretensões de agradar uma mulher digna de ser agradada. "

Era incrível o jeito simples e apaixonado de Darcy, que após ter-se apaixonado, esqueceu o orgulho que há muito habitava em seu coração e finalmente conseguiu amar com justiça e lealdade.

" Lizzy é tão sortuda... " , pensou America, " Eu daria tudo para ter um Darcy ao meu lado. Tudo. "

Estava tão absorta em seus pensamentos, que não tinha percebido que falara-os em voz alta. Gabe sorriu, ainda costurando um paletó.

– Você tem um do seu lado, mas não o valoriza, assim como Lizzy fez no começo do livro. Acredito, Srta. America, que não demorará muito até que você consiga ver o cara legal que Harvey é, e eu espero, meu amor, que não seja tarde demais.

A garota revirou os olhos e voltou-se novamente para o livro, enquanto Gabe terminava de dar os últimos retoques nas roupas. A verdade, porém, America sabia muito bem. Ela nunca poderia ter nada com Harvey. Nunca gostaria dele. Em hipótese alguma. Nunca. Never. Jamais. Mai. Ela poderia dizer isso em todas as línguas do universo, menos na do coração. Nessa, ela já sabia. Estava perdida.

***

Á noite, America e Gabe resolveram sair para explorar a maravilhosa cidade de Vaduz. A cidade em questão não era tão agitada quanto Londres e seus exagerados Pubs, mas eles gostaram da calmaria de alguns barzinhos e resolveram ficar em um. Pediram algumas bebidas quentes, pois o clima de Liechtenstein era tipicamente europeu. Frio e seco. Ficaram conversando por alguns minutos, até que eles perceberam uma família chegando. Claro que não se importaram, a princípio, mas America começou a perceber que a garota mais nova, filha do casal provavelmente, olhava fixamente para ela, sorrindo. Ela ficou meio desconcertada e virou-se para Gabe, avisando-o do acontecido. Este apenas sorriu e pediu para que ela agisse normalmente, pois a garotinha estava vindo até eles.

– O-olá. - Disse, baixinho em Alemão.

America e Gabe ficaram horrorizados e assustados. Não sabiam o que fazer. Gabe, então pegou o celular no bolso, falando em inglês um simples : " Espere só até o Google tradutor carregar. " A menina não entendeu absolutamente nada, mas apenas sorriu, demonstrando paciência. Gabe abriu a aba e pediu para traduzir um " Olá, como vai você? ", do Inglês para o Alemão. Assim que o fez, tentou pronunciar as palavras, mas a garota apenas sorriu, respondendo. Ele correu novamente para o tradutor, e pediu para a menina repetir o que tinha dito. A cena estava ficando cada vez mais cômica, e teria ficado assim por muito tempo, se um garoto de olhos verdes que sabe falar alemão fluentemente não tivesse aparecido.

– Hallo, kleines Mädchen. Okay? Das sind Amerika und Gabe. Möchten Sie etwas zu ihnen sagen? - ( Olá, garotinha. Tudo bem? Esses são America e Gabe. Quer dizer algo a eles? )

A garotinha sorriu e abraçou Harvey fortemente. Disse à ele que era sua fã e que a única coisa que tinha a dizer é que amava o casal e que " Shippava Harverica. " Depois disso, deu um abraço em America e sorriu para Gabe, deixando-os sozinhos na mesa.

– Pode, pelo amor de Deus dizer o que ela disse? Nunca fiquei tão confuso na minha vida inteira. E você, meu Deus, é um príncipe mesmo. Gato, inteligente e rico. America, por favor, faça com que esse namoro vire realidade.

Harvey gargalhou e America apenas revirou os olhos.

– O que ela disse, afinal.

– Ela disse que viu você e veio aqui porque é minha fã e aprova nosso relacionamento. Ela disse que " Shippa Harverica. " - Ele disse, fazendo aspas com as mãos.

– O que diabos é Shippar e... Harverica? - America disse, confusa.

Os garotos também não faziam ideia do que aquilo se tratava, mas o Santo Google é claro, ajudou.

– Verbo, utilizado quando você gosta de um casal. - Gabe disse, rindo enquanto lia. - Harverica desse ser a junção do nome de vocês. Que perfeito.

America ficou vermelha instantaneamente e Harvey sorriu, dizendo que já estava tarde e que deveriam ir logo para o castelo, senão notariam a ausência deles. Os demais concordaram e se dirigiram ao castelo.

***

De : h.m@hotmail.com

Para : meri_stratfort@hotmail.com

Coluna Correio do Amor

Assunto : Sim, eu sei falar Alemão.

Querida Srta./Sra. Stratfort,

Sim, eu sei falar alemão. Aliás, fluentemente. Assim como falo a língua do P também. Ah, fala sério. Não consigo falar nem inglês direito, alemão então... Mas, enfim, como anda sua vidinha pacata de jornalista de meia tigela de um jornal de circulação nacional? Tudo belê? Fiquei sabendo das suas supostas férias, e olha, tenho que confessar, que eu nunca te imaginei de férias. É sério. Na minha imaginação você é uma daquelas que vive louca e especialmente para o trabalho. No break. Never. Mas, agora tenho consciência do contrário.

Tenho que admitir, Stratfort, sinto falta das suas palavras exageradas acerca do amor. Ele tem sido desleal comigo. Devo admitir. Acho que estou gostando de uma garota. Sei lá. Pode ser só passageiro. Talvez eu me convença do contrário depois.

Enfim, esse é um e-mail curto. Só pra fingir que não estou com saudade. Só pra dizer que não penso em você. Só pra não sentir tua serenidade e esperar que um dia eu não consiga te ver. Se você retirar os " Nãos" desse último parágrafo terá a mais plena verdade. Fazer o que? Não gosto de ser explícito.

Com saudades,

– H.