Com amor, com afeto. escrita por Naiana Mara


Capítulo 11
A valsa de Liechtenstein.




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Ponto de vista de America White

Acordei olhando para o teto e pensando em como a minha pacata vida tinha mudado de uma hora pra outra. Em menos de três meses eu tinha conseguido um trabalho num jornal badalado. O que foi maravilhoso porque o status é muito bom, mas não tanto assim se você nem pode revelar o que realmente faz nesse jornal.

Depois, tinha me envolvido com um cantor mundialmente famoso. Harvey Madley. Sem saber absolutamente nada sobre ele. Eu não sabia sua cor favorita, seus hobbies, suas pretensões e seus planos pro futuro. Nada, nadinha, nothing, niente, rien...

E eu estava com medo. Medo de me machucar com tudo isso. Afinal, eu não sabia o que me esperava nesse relacionamento, no mínimo, fajuto e forçado.

Gabe, vendo que eu não tinha levantado ainda correu pra minha cama, assim como todos os dias. Ele era meu despertador natural, digamos assim.

– Bom dia, White.

– Bom dia, Morales.

Ele estava sorrindo, mas parou de fazê-lo quando viu meu rosto. Ele sabia que eu estava preocupada. Como sempre.

– Nem vou perguntar se está bem. Sei que a resposta seria negativa.

Assenti, deitando a cabeça em seu colo.

– Nós já conversamos sobre isso, America. Agora que já aceitou, vá em frente. Quem sabe esse Harvey não é um total babaca como você pensa...

Dei de ombros. Eu não esperava nada daquele cara. Só iria esperar o dinheiro e que os jornalistas caíssem fora. Levantei, então da cama, decidida a levantar a cabeça e esquecer esses momentos de rainha do drama que não me deixavam descansar. Gabe também levantou e se dirigiu à sala.

Assim que ia começar a me arrumar, meu celular tocou e um número desconhecido brotou na tela. Apesar de sempre escutar um 'Não atenda esses números desconhecidos. Nunca se sabe quem é.' de minha irmã mais velha, Suzanah, atendi revirando os olhos ao ouvir a voz de quem era.

– Alô? America White? Aqui é Brad Hastings.

– Sim, lembro de você. É o empresário do tal Madley.

– Seu mais novo namorado. - Ele disse, dando uma risadinha, no mínimo, irritante.

– Sim. Por que está me ligando e como conseguiu meu número?

– Perguntas desnecessárias, Srta.White. Por que não me pergunta logo sobre o que realmente importa.

– Olha, pra mim importa saber como você conseguiu meu número, se quer saber.

Aposto que ele revirou os olhos depois disso.

– Hum... Eu tenho meus contatos, senhorita.

– Tudo bem. O que quer?

– Falar com você sobre o primeiro evento de que você e Harvey vão participar.

Franzi a testa.

– Evento?

– Sim. Para promover o casal.

– Eu não quero promover isso, Brian.

– É Brad.

– Que seja. Não quero isso. Não quero holofotes. Se quiser postar sobre nós, tudo bem. Mas, eu não sou obrigada a ficar com Harvey direto, sou?

– Não... Mas, seria tão bom, não acha? Vocês ganhariam proporções maiores, ganhariam mais dinheiro e publicidade e...

– Já disse que não quero publicidade. Quero o dinheiro, minhas entrevistas que você prometeu e minha paz de volta. Será que é tão difícil?

– Não, claro que não. Mas, você também tem que ajudar Harvey a sair dessa temporada de ataques à ele. Ele vem sofrendo muito com as manchetes dos jornais e eu quero mostrar que ele mudou. Por você.

Cocei a nuca, confusa.

– Como você quer que façamos isso? Não acha que perceberiam se forçássemos demais?

– Mas vocês seriam bons atores, aposto. Afinal, teria muita coisa em jogo.

Assenti, ainda meio que transtornada com tudo isso. Xinguei-me baixinho e pedi que ele me informasse qual seria esse primeiro evento, já que este seria inevitável.

– Baile de caridade da família real de Liechtenstein.

– Liechtenstein?

– Sim. É um pequeno principado que fica na Europa, entre a Áustria e a Suíça.

Liechtenstein... Tinha que pesquisar sobre esse local depois.

– Tudo... Tudo bem. Mas, você teria que especificar esse detalhe pra minha chefe e quero que Gabe vá comigo.

– Tudo bem. Tudo ótimo. O baile será no fim de semana que vem. Terá de ensaiar valsa com Harvey, mas...

– Peraí, que história é essa de valsa?

– No baile da Família Real sempre tem a valsa.

– Somos realmente obrigados a dançar isso?

– Sim.

Droga. Eu sabia que podia fazer qualquer coisa. Podia andar com uma melancia pendurada na cabeça enquanto falava todos os elementos químicos da Tabela Periódica. Podia cantar Where Have You Been da Rihanna num karaokê qualquer. Podia ouvir músicas ruins, lavar louça por uma semana, nadar pelada num lago em Antártida... As possibilidades eram tantas. Mas havia uma coisa, uma coisa terrível da qual eu morria de pavores desde a minha formatura do terceiro ano : A dança.

Não entrarei em detalhes, pois seria muita humilhação, mas se você quer saber, depois daquele incidente eu nunca mais quis dançar. Nunca. Mais.

Agora teria de dançar com um cara que conheci há mais ou menos uma semana e que já era meu namorado? Era só o que me faltava...

– Tudo bem. Eu danço isso. Mas, como vamos aprender?

– Ensaios.

– Não tenho tempo.

– Falarei com sua chefe.

Mas que porra de cara insistente...

Tudo bem. Beleza. Quando viajamos pra Liechtenstein?

– Quinta-feira. Espero você aqui amanhã pro primeiro ensaio. Bem cedinho. Mandarei o endereço do local do ensaio por mensagem.

– Ok, tenha um bom dia. - Disse, com a voz carregada de ironia.

– Você também.

E desligou. Me vesti e desci para a sala, vendo Gabe fritar alguns ovos.

– Gabe, faça suas malas. Quinta feira vamos pra Liechtenstein.

– Liech o que?

***

Ponto de vista de Harvey Madley

– Tem certeza que temos que dançar? Não sei se America dança e...

– Ah, deixe disso, Madley. Você é que tem que conduzir. E você sabe dançar valsa. Já dançou muitas vezes.

Brad estava tentando me convencer a levantar da cama. Segundo ele, naquele dia eu teria de ensaiar com America uma valsa para apresentar no baile da Família Real de Liechtenstein. Eu ainda não entendia o que nós dois tínhamos a ver com a Família Real, muito menos com esse baile, mas eu estava com tanto sono na noite anterior que apenas concordei com tudo que Brad me disse. Deu no que deu.

– Ainda não entendi o que eu e America temos a ver com esse baile.

Ele começou a rir, com um brilho maluco nos olhos. Ambição.

– A princesa o admira muito. E quer muito vê-lo lá.

– Hum... Tudo bem, mas White concordou com isso?

– Prontamente.

Eu ainda não sabia como ele tinha conseguido aquela proeza, mas se tratando de Brad podemos esperar absolutamente tudo.

– Então, tudo bem. Vamos.

///

Cinco minutos depois de sair de casa, estávamos no belo salão que Brad tinha alugado para ensaiarmos. America já estava lá. Usava uma calça jeans e uma camiseta com os dizeres : ' I love Paris, but I've never been there.' . Além disso, usava os mesmos óculos grandes da noite anterior.

Assim que desci do carro, ela reclamou por conta do atraso e depois de muitos xingamentos tanto meus quanto dela, entramos. Brad disse que deixaria nós dois a sós enquanto ele ia resolver algumas coisas sobre a viagem. Assim que ele saiu, o silêncio ficou evidente, até America desfazê-lo.

– Olha, se quer saber, não tenho o tempo todo. Vai começar a bailar ou quer que eu comece?

Comecei a rir e tomei a iniciativa. Andei até ela e toquei sua mão, que apesar do frio que fazia naquele dia estava bastante quente. Levei sua outra mão até o meu ombro, e coloquei minha mão livre em sua cintura. Estávamos próximos e ela estava muito nervosa, dava pra notar.

– Pois bem. A primeira coisa que deve memorizar é essa posição. Acha que já aprendeu?

Ela assentiu.

– Pode fazer?

Me separei dela que fez a mesma posição que eu tinha feito há alguns minutos.

– Pronto. Muito bem.

– Olha, se vai ficar falando coisas idiotas como : ' Muito bem. ', ou ' Olha como ela aprende rápido. ' juro que saio daqui correndo e deixo você falando sozinho.

– Mas você é muito petulante mesmo, não é? - Disse, sorrindo.

– Não gosto de caras que ficam enrolando, só isso.

– Ah, é?

– É.

Assim que ela falou isso. Puxei-a tão fortemente para meus braços que ela perdeu o fôlego por alguns instantes. Olhei em seus olhos castanhos e pensei em Meri. Era inevitável não pensar. Ela olhava intensamente pros meus olhos também.

– Hum... Tudo bem. Vamos começar?

Ela apenas assentiu enquanto eu colocava a música. Assim que começamos ela pisou no meu pé. Eu apenas sorri amarelo e continuamos, mas depois de três pisadas, resolvi parar.

– Desculpe. Eu sou mesmo um desastre, não? - Ela disse, sentando no chão do meu lado. A expressão meio triste mostrava o quando ela queria aprender, mesmo que não demonstrasse.

– Já dancei com piores, acredite.

Ela riu. E foi assim o dia todo. Pisadas, xingamentos e belos olhos castanhos me encarando o tempo todo.


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