“When you're talkin to yourself, and nobody's home...”*

A melodia narrava seus passos silenciosos por entre aquela noite chuvosa, o vento frio que mais parecia capaz de congelar as almas dos desprotegidos. Suspirou. Observou o céu repleto de nuvens escuras. Como havia chegado ali? Percebera agora, que estava distraído demais para saber onde estava indo. Olhou atrás de si, não conhecia aquele caminho também. Decidiu seguir em frente, o resultado dificilmente mudaria. Naquela cidade calma, tão tarde da noite, mal se via carros, tampouco pessoas na rua. “Melhor assim.” pensou consigo mesmo. A chuva parecia mais forte, contudo, não se preocupava em carregar um guarda-chuva.

Ao se aproximar de uma pequena loja de conveniências foi que enfim sua atenção foi tomada: A pele como porcelana. Olhos castanhos, grandes e brilhantes, cabelos longos, alaranjados. Já a havia encontrado algumas vezes e sempre, sem exceções ela lhe roubava o olhar. No entanto, não a conhecia, sequer sabia seu nome. Ela esperava que a chuva passasse. O fato de estar sozinha a uma hora daquelas, não o surpreendia, todas as vezes que a viu, a garota parecia desconhecer, ou ao menos, ignorar qualquer perigo ao seu redor. “Ou é muito descuidada ou muito corajosa.” pensou outra vez. Ela o viu. Sorriu gentilmente, como se fossem velhos conhecidos, e então distraiu-se voltando-se para o celular em suas delicadas mãos.

Apesar de observa-la ser sempre um momento inexplicavelmente pacifico, ele decidiu seguir seu caminho, como de costume sem trocarem uma palavra sequer.

~*~*~*

Apesar de passar das 22:30h, seu corpo parecia ignorar esse fato. Ela estava agitada e já não podia relutar. Levantou-se e foi direto até a cozinha. Para sua surpresa, no entanto, ela não tinha nada de seu gosto, queria um lanche. Teria que sair em busca disso. Trocou a roupa e apressou-se temendo não achar mais nenhuma loja aberta. A noite estava fria e ao olhar o céu, notou que logo cairia uma tremenda tempestade. “Não é meu dia de sorte!” pensou suspirando em seguida.

Comprovando sua teoria, aparentemente nenhuma loja próxima á sua casa estava aberta. Continuou seu caminho, afinal uma vez colocado uma coisa na cabeça, não voltaria atrás tão fácil. As ruas estavam desertas, como de se esperar naquele horário numa cidade tão pouco agitada. Viu enfim uma pequena loja, ainda aberta, respirou aliviada.

Primeiramente pensou em comprar ingredientes para uma de suas receitas, mas mudou de idéia. Optou por cookies e suco. Queria chegar em casa antes que a chuva caísse. No entanto, antes que terminasse de pagar por suas compras, as primeiras gotas de chuva precipitaram-se. Sem saída, resolveu esperar que a chuva passasse, ao menos, a frente do lugar era coberta, não se molharia.

Sentiu seu celular vibrar. Era um SMS de sua amiga.

“Acordada?”

Era comum para elas trocar mensagens até mesmo tão tarde.

“Sim!!” Respondeu.

“Insonia?”

“Bom, sim e não...”

“Como assim?”

“É que eu estava me sentindo um pouco agitada, e precisei sair para comprar alguma coisa! ”

“Ahh, já está em casa, então?”

“Não necessariamente.”

“Ah não me diga que ainda está fora, uma hora dessas! E está chovendo! Se eu não pegar no seu pé você continua fazendo essas coisas perigosas!”

“Ah não é bem assim, eu não tive outra escolha! E começou a chover antes que eu conseguisse sair da loja!”

Foi então que teve uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada. Olhou em sua volta, não havia ninguém por perto, além da chuva ter piorado. Sentiu um pequeno frio na barriga, não costumava se assustar facilmente, mas naquelas circunstancias era inevitável. Terminou de enviar a mensagem e teve outra vez a mesma sensação.

Estava um pouco assustada, mas também sem muita escolha. Dessa vez no entanto quando voltou seus olhos, encontrou os cor de esmeralda. A figura encharcada pela chuva, sua pele pálida em contraste com os cabelos negros, não a assustavam.

Já haviam se encontrado assim algumas vezes, apesar de nunca terem trocado uma palavra. Sorriu para ele, na verdade, tinha vontade de conhecê-lo, ele a intrigava. Aquele olhar, misterioso e até melancólico o fazia ainda mais interessante. Mas antes que ela pudesse pensar em começar uma conversa com o rapaz, seu celular vibrou outra vez, sua amiga havia lhe respondido.

“Arrg, onde você tá? Vou ai te buscar!”

“Sério?? Não vai te atrapalhar? Eu posso esperar a chuva passar.”

“Eu estou sem sono mesmo, e também parece que essa chuva não vai passar tão cedo. Eu não posso deixar você ai né?”

“Awwn, Tatsuki-chan, você é tão boazinha! :]”

“É, eu sei! ;]”

Foi então que resolveu voltar a observar o rapaz, que contudo, já não estava mais lá. Suspirou. Mandou mais uma mensagem dizendo onde estava e decidiu esperar por sua amiga.