Sol e Lua escrita por Aislyn


Capítulo 1
Impassível




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Ele estava caminhando sem um rumo certo, sabia bem qual caminho tomar, porém, resolveu apenas ficar à margem e observar. Mesmo em um local tão humilde mantinha a fleuma. Caminhava como se em nuvens pisasse, a fronte erguida, o orgulho para ele era como a lâmina de sua espada. Olhos tristes o fitavam, dignos de pena, alguns o olhavam com certa devoção – a maioria crianças que um dia almejavam se tornarem também um Shinigami. Mas, ele não retribuía um olhar sequer, seguia como se nada estivesse em seu caminho.
O que mais se esperar de alguém como ele? Indiferença era algo que certos distritos de Rukongai já estavam acostumados, só não se acostumavam àquela agitação toda. Há horas só viam shinigamis – a maioria soldados rasos – correndo de um lado a outro, em busca dos invasores que certamente não faziam tanta questão de se esconderem. Alguns arriscavam pensar que os ryoka realmente representavam grande ameaça para Seireitei, senão, um Taichou jamais estaria percorrendo os distritos.
Uma grande explosão se deu, bem próxima de onde ele estava. Sentiu a reiatsu de alguns shinigamis, como também a de um dos ryokas. Preferiu correr, para ele, qualquer invasor que tramasse contra a Soul Society deveria sentir o poder de sua Zanpakutou. A cena era atípica, dois fukutaichous estavam caídos junto a seus homens, um deles, Iba Tetsuzaemon, ainda estava consciente.

- Taichou, nós sentimos muito...

- Saia daqui e chame o Yonbantai, estes homens precisam de cuidados!

O fukutaichou reverenciou e apesar dos ferimentos, saiu rapidamente. Agora ele podia prestar mais atenção em quem estava à sua frente. Um dos Bount encarava-o com o sorriso de um lunático, enquanto apertava o pescoço de uma jovem pobre a quem estava quase sufocando. Os olhos arregalados dela pareciam suplicar para que ele a salvasse.

- Solte-a – disse suavemente.

- Estou me divertindo – respondeu o Bount em meio a risos forçados. – Então, não tenho motivos para isto!

- Eu nunca falo duas vezes a mesma coisa... – Desta vez sua voz soou grave. Franziu o cenho e fuzilou o inimigo com o olhar. – Isto é somente entre você e eu.

- E você é quem? – O Bount o provocou, apertou ainda mais o pescoço da vítima, fazendo-a sangrar.

- Você não precisa saber... – Ele desembainhou a Zanpakutou tranquilamente. – Agora faça o que mandei!

Não havia mais ninguém ali, todos os residentes haviam fugido e provavelmente aquela jovem não tivera a mesma sorte. O Bount continuou a torturá-la, até que ela começava a perder os sentidos. Quando Byakuya elevou a espada, como um raio, alguém surgiu atrás do Bount e o repreendeu:

- Mabashi, já chega! O Kariya-sama quer que todos se reúnam agora!

- Então... Realmente as informações de que um Shinigami está junto aos Bount são verídicas. – Colocou Byakuya com desprezo no olhar.

- Ichinose... Você sempre atrapalhando a minha diversão. Que seja!

Mabashi lançou a jovem para o alto com sua força descomunal e em segundos sumiu dali junto ao outro. Byakuya num ímpeto, saltou com agilidade e tomou a jovem em seus braços. Antes de desmaiar, ela olhou para seu salvador e com a voz fraca, sussurrou:

- Obrigada...

Ele não sabia o que fazer, sem socorro imediato, ela pereceria. Não poderia deixar um ser vivente naquele estado, já que não tinha ninguém ali e aparentemente os Shinigamis caídos estavam em melhor estado que a jovem, ele a levou para o Seireitei. Com certeza não era comum conduzir estranhos para lá, alguns poderiam tomar aquilo como a quebra de uma regra e isto deixava Byakuya inquieto. Promessas...

- Ela vai ficar bem... – Disse Hanatarou timidamente. – Não podemos removê-la para o centro de recuperação, irão fazer muitas perguntas. Se ela descansar por alguns dias, logo seu corpo estará restabelecido.

- Saa...

Byakuya murmurou algo incompreensível, parecia fazer pouco caso do que Hanatarou disse e deu as costas. O nanaseki tomou aquilo como um “dispensado” e saiu de cabeça baixa. Não ficou magoado, afinal, todos já estavam acostumados com a forma que Byakuya lidava com qualquer um.
A noite já se fazia presente quando a jovem acordou, uma brisa suave tocava o seu rosto. Lentamente movia a cabeça para os lados e seus olhos tentavam identificar o local em que estava. Tudo o que sabia era que não estava em Rukongai, ao menos, não no distrito em que morava. Aquele travesseiro macio, lençóis de seda e o cobertor quente. Podia sentir também o aroma de incenso no ar. Ao livrar-se das cobertas, reparou que estava trajando um kimono fino, que mesclava tons de rosa e bordados dourados... Nem em seus sonhos via-se envergando um traje daqueles. Pela primeira vez tinha a sensação de estar em um lar de verdade. Ouviu alguns ruídos lá fora, logo pode discernir a voz de dois homens.

- Kuchiki-taichou... Não esperava isto do senhor.

- Nem sempre preciso fazer o que esperam de mim – ele fez uma pausa. – Agora vá, Abarai! Cuide do bantai durante a minha breve ausência... Espero que fique alerta a qualquer ação dos ryoka e amanhã quero um relatório de todas as ações ao fim da tarde.

- Hai!

Renji assentiu e saiu dali. Seu taichou estava estranho, não o encarou com a firmeza de sempre. Dentre todos os fukutaichous, ele era o que tinha o superior mais difícil de lidar. Afinal de contas, precisava manter viva a promessa que fez para si mesmo de um dia superá-lo, porém, ficava o mais longe possível de Byakuya nas horas vagas e agradecia aos céus por ele ter resolvido ficar na Casa Kuchiki aquele dia.
A jovem pensou em se levantar, tomou um susto quando olhou para frente e se viu diante de um shinigami tão belo e distinto. Ela elevou a cabeça com certa dificuldade, aquele rosto era a última lembrança que possuia antes de estar ali. Não tinha palavras, o olhar dele a intimidava, quando pensou em dizer algo, ele próprio quebrou o silêncio:

- Pelo que vejo você está melhor... Se for assim mesmo, já pode ir embora.

Byakuya ignorou as recomendações de Yamada Hanatarou, mostrava-se um homem frio e arrogante, não parecia se importar muito com quem era ou a história daquela jovem. Ela ficou um pouco surpresa, mas também, não tinha grandes esperanças que em Seireitei a tratariam como se fosse alguém de valor. Tomando fôlego, com a ajuda das mãos para impulsionar-se, ela levantou-se. Em segundos, foi acometida por uma tontura e perdeu o equilíbrio. Byakuya a segurou e meneou a cabeça. Ela enlaçou o pescoço dele com os braços para sentir-se mais segura e seu olhar se chocou com o dele. Um pouco confusa, desviou o olhar e se desvencilhou dos braços do shinigami. Com dificuldade, manteve-se em pé e caminhou até uma das saídas daquele quarto, segurando-se na porta.

- Você nem sabe para onde está indo. – Ele colocou-se na frente dela. – Acha mesmo que consegue encontrar a saída sozinha?

- Nem sei mesmo... A única certeza que tenho é que quero ficar bem longe deste lugar. Por que me trouxe aqui? – Ela o encarou, seu olhar era desafiador. – Vocês sentem prazer em nos humilhar, quantas vezes vi shinigamis chutando e maltratando pessoas dos distritos pobres de Rukongai para que saíssem de seu caminho. Agora, aponte a saída para que eu possa ir embora em paz, shinigami!

- Exijo respeito quando for se dirigir à minha pessoa. Sou um taichou e...

- E, nada! Posso estar em Seireitei, mas a sua autoridade não faz diferença, pelo menos, não para mim – rebateu ela quase aos gritos.

- Yare... Yare... – Alguém como Ukitake Juushirou certamente não se surpreendia com qualquer coisa, porém, a cena era bastante incomum. – É bom saber que você não tem o controle de tudo, Kuchiki-san. – O taichou do Juusanbantai disfarçou a sua ironia por detrás de um tom de voz amável.

- Hunft! – Byakuya preferiu não comentar. – E então, o que o traz aqui?

- Nada muito importante. – Ukitake não deu atenção a Byakuya, preferiu aproximar-se da garota. – E qual o seu nome, minha jovem?

Aquele Shinigami parecia ser mais simpático que o outro e pelo que pudera observar, o dono da casa tinha respeito por ele, apesar de terem o mesmo posto, julgando-se pelas vestes. Ela sentiu-se à vontade com ele.

- Meu nome é Myazaki Aiko... Prazer em conhecê-lo.

- Ukitake Juushirou – ele abanou com uma expressão amigável no rosto. - Taichou do Juusanbantai.

Aiko não estava agüentando-se em pé e Ukitake reparou aquilo. O que fez foi segurá-la pelo braço e a levar até o futon que estava disposto para ela.

- Descanse, Myazaki... Se o Kuchiki-san a trouxe, deve ter sido para o seu bem – aconselhou ele gentilmente. – Tenho a certeza de que você será tratada da melhor forma.

Byakuya saiu dali e foi esperar Ukitake em outro cômodo. Aiko sorriu para o taichou e segurou em sua mão:

- Arigatou, Ukitake-sama... Você é diferente dos outros.

Ele retribuiu o sorriso e foi até Byakuya, este estava atrás de uma mesa em seu escritório particular, sentado enquanto lia alguns papéis.

- Kuchiki-san... Ultimamente a vida aqui por aqui está me parecendo um círculo.

- Por qual motivo diz isto? – Perguntou Byakuya sem muito interesse, continuava examinando os papéis.

- Algumas histórias começam a se repetir, nada demais, eu acho...

- Não diga besteiras! – Cortou Byakuya. – Afinal, o que veio fazer aqui, bisbilhotar?

- Talvez – respondeu Ukitake com malícia no olhar. – Ouvi um oficial do Centro Médico comentar isto em segredo com Unohana-san, sem querer, é claro. – Enfatizou. – Então, vim averiguar se está tudo bem.

- Sei como cuidar de minha casa, então...

- Já estou indo – falou ele desanimado. – Dê lembranças à Aiko-san.

- Desgraçado... – Sussurrou Byakuya após Ukitake sair. – Está começando a ficar senil.

O sol da manhã começava a entrar timidamente pela janela do quarto em que Aiko estava dormindo, logo, seus raios benfazejos tocavam o rosto dela. Lentamente a jovem abriu os olhos, pensava em espreguiçar-se, contudo as dores em seu corpo já gritavam antes que pudesse tentar. Eram sete horas quando um empregado entrou após bater à porta que estava entreaberta, trazia o café da manhã.

- Não precisava disto tudo – comentou ao ver coisas que jamais havia comido antes. – Obrigada.

Seu café com certeza lhe daria as forças que estava precisando para sair dali. Era constituído de uma sopa de pasta de soja, chamada Missoshiru, o tradicional gohan regado com shoyo, Tamagoyaki, um salmão grelhado chamado Shake, servindo junto a um molho de ostras com gergelim. Para beber, lhe foi servido um chá verde.
Não agüentou comer tudo, estava satisfeita e sentia-se melhor, apesar das dores. Adorou o Shake, provavelmente não comeria mais aquilo no lugar em que morava. Depois que o empregado pegou a bandeja e saiu do quarto, ela começou a tossir e uma golfada de sangue manchou o lençol branco, neste momento, o taichou apareceu.

- Seu corpo ainda está fraco – observou ele, de certa forma aquilo lhe trazia recordações tristes. – Não faça esforço algum.

- Sua voz é estranha, assim como seu olhar, sempre disperso – reparou Aiko. – Ao falar, parece que não liga para quem está ao seu redor e seu rosto não exprime emoção alguma. No entanto, consigo sentir que sua preocupação é verdadeira. Muitos aqui devem pensar que não existe nada em seu interior... É isto o que quer que eles pensem, não é mesmo, senhor? – Ela tossiu mais uma vez.

- Pense o que quiser... Se quiser mesmo saber o que penso... – Ele hesitou, contudo, continuou firme. – Quero que se recupere logo para que possa ir embora. Num momento como este, não preciso de mais um fardo.

A jovem magoou-se, deixou escapar uma lágrima e abaixou a cabeça. Novamente começou a tossir sangue, desta vez, sem parar. Byakuya nada disse e saiu dali rapidamente. Em menos de dez minutos, lá estava Yamada Hanatarou novamente.

- Aiko-san... Vou precisar fazer um tratamento um pouco doloroso. Não sei ao certo o que o ryoka fez com você, porém, precisarei curá-la internamente já que localizei uma lesão. Depois disto, você não irá mais tossir desta forma.

- Você sabe de onde eu venho? - Indagou ela com um ar de tristeza.

- Para mim, não importa. Meus poderes são para curar o próximo, seja ele quem for. – O garoto falou docemente, com destreza, pegou o braço dela e aplicou uma injeção. – Agora quero que se deite, logo irá dormir com a anestesia que apliquei e quando acordar, tudo terá acabado.

O tratamento foi um sucesso, um pouco demorado, exigiu muita dedicação por parte do jovem oficial. Quase um dia depois, Aiko despertou. Sentia-se tonta e com um gosto amargo na língua, porém, levantou-se.

- Me sinto melhor... Está mais do que na hora de sair daqui! – Falou para si mesma assim que arrumou o futon.

Ela caminhou pela casa, precisava de alguém que a conduzisse até a saída de Seireitei. No quarto ao lado, novamente encontrou Hanatarou, desta vez, cuidava de outra enferma.

- Aiko-San! Que bom vê-la acordada – disse Hanatarou em tom baixo. – Pode pegar aquela bacia de água e me ajudar a limpar o sangue sobre ela? Não se preocupe, pois já cuidei dos ferimentos.

- Como você fechou os ferimentos dela sem deixar qualquer cicatriz? – Perguntou Aiko enquanto embebia alguns panos de algodão na água quente.

- Ah... Usando minha zanpakutou. A Hisagomaru absorve os ferimentos e os fecha. Costumo usá-la conforme a gravidade dos ferimentos – explicou ele sem muitos detalhes.

- Compreendo – falou enquanto limpava o sangue que restava no peito da jovem e em seu rosto. – E quem é ela?

- Esta é Kuchiki Rukia, irmã do Kuchiki-taichou... Um dos ryoka também a feriu.

- Ela é linda – admirou Aiko. – Sei que irá se recuperar.

- O Kuchiki-taichou chegou a tempo de salvá-la, se não o tivesse feito, aconteceria o pior. Ele ficou um bom tempo aqui, mas saiu assim que um mensageiro lhe trouxe um recado e nada disse.

- Qual o primeiro nome dele? – Perguntou interessada.

- Byakuya – sussurrou Hanatarou.

- Hum... Kuchiki Byakuya é um bom homem, pena que seja tão duro.

- Hai... – Concordou Hanatarou, já havia terminado de curar a shinigami. – Agora tenho que ir até o Centro Médico, estamos com muitos feridos para tratar. Será que você poderia cuidar dela?

- Posso sim, Hanatarou-san. Obrigada por tudo.

Ele assentiu e após algumas recomendações, saiu dali. Aiko verificou se Rukia estava bem e levantou-se um pouco. Havia um espelho naquele quarto e ela foi até ele. Estava com olheiras profundas e os cabelos desgrenhados, por sorte, encontrou uma escova e poderia dar um jeito naquilo, ainda mais quando encontrou seu prendedor de cabelo ao lado do travesseiro em que dormira. O reflexo era de uma jovem bonita, pele branca, olhos verdes e os cabelos castanhos reluzentes, que iam até a cintura. Seus lábios, normalmente róseos, ainda estavam pálidos. Tinha um belo corpo, repleto de curvas e costumava escondê-lo. Não era muito alta, beirando os 1,70cm, distribuídos em 55 kg.
Após pentear os cabelos e prendê-los, averiguou a temperatura de Rukia, que estava ainda um pouco febril, porém, não tanto quanto antes. O remédio dado por Hanatarou começava a fazer efeito. Naquele instante, ouviu passos e quando se virou... Uma surpresa. Byakuya estava ali, a haori maculada por sangue, havia ferimentos em seus dois ombros. Involuntariamente, Aiko foi até ele e o ajudou a sentar-se.

- O que aconteceu? – Perguntou preocupada.

- Nada demais – simplesmente o respondeu. – Onde está Yamada Hanatarou?

- Foi tratar outros enfermos – respondeu Aiko. – Não se preocupe, o ajudei com a Kuchiki-san e continuo cuidando dela, que está sedada e possivelmente dormirá até amanhã.

- Ótimo – ele levantou-se e olhou para Rukia.

Aiko esperou Byakuya sair do cômodo e foi até a cozinha aquecer água. Feito isto, ela conversou com uma velha empregada da família e conseguiu alguns panos limpos e como já imaginava qual era o quarto dele, foi até lá. Sem se importar com o que aconteceria, Aiko entrou.

- O que faz aqui? Não lhe dei permissão para andar pela casa.

Ele fora pego de surpresa, estava apenas com a hakama cobrindo parte do seu corpo, o que deixava os ferimentos visíveis. Ela não se deixou abater pela estupidez do taichou, colocou o recipiente com água no chão e umedeceu dois panos. Sem que ele pudesse reagir, Aiko pôs os panos sobre os ombros dele e começou a limpar os ferimentos delicadamente. Aquilo ardia, no entanto, ele não expressou dor e ficou calado até ela terminar os curativos.

- Isto não paga a minha dívida, eu sei... Mas, por favor, deixe que eu cuide da sua irmã. Assim, ao menos poderei retribuir o que esta casa fez por mim.

- Não há necessidade disto – ele a fitou por segundos. – Seu lugar não é aqui.

- Kuchiki-sama... – Ela pousou a sua mão direita sobre a mão de Byakuya que estava apoiada no braço da cadeira. – Por favor.

Byakuya sentiu algo estranho quando ela o tocou. Sua mão era macia, um toque suave e quente. Há anos uma mulher não o tocava, jamais permitira isto. Ele não conseguia encará-la, mas também, não conseguiu negar um pedido tão sincero e não sabia bem o motivo.

- Está bem... Fique com Rukia – falou ele após suspirar. – Agora, me deixe sozinho.

- Muito obrigada, Kuchiki-sama.

Ela saiu dali apressada e sorridente. Ficou acordada o tempo todo, encostada em uma parede ao lado de fora do quarto de Rukia. A lua estava em fase crescente, incrivelmente o céu estrelado parecia mais belo em Seireitei. Talvez, fosse isto mesmo. No local em que morava, enxergava tantas coisas ruins ao seu redor, até mesmo o céu era triste e apagado. Não queria voltar-se contra o mundo ao qual pertencia, todavia, também não gostava da idéia de acordar daquele sonho. Estava usando um kimono de tons pastéis, era bastante confortável e diferente das suas roupas velhas e surradas. Havia feito três refeições naquele dia, quando só estava acostumada a uma única refeição e ainda compartilhada com aqueles que assim como ela, também não possuíam família.

- Talvez, eu não pertença àquele mundo também.

Tentou espantar a sua tristeza de alguma forma, porém, sem sucesso. Chorar poderia ser o único jeito de livrar-se de tudo de ruim que assolava o seu coração.

- Nii-sama, é você?

Uma voz rouca veio do quarto, não conhecia ainda a voz de Rukia, mas sabia que era ela. Entrou com cuidado no lugar e acendeu a luz para não assustá-la:

- Kuchiki Rukia... Estou cuidando de você – Aiko respondeu em voz baixa. – Me chamo Myazaki Aiko e estou aqui para ajudá-la no que precisar.

Aiko aproximou-se e se acomodou em uma almofada vermelha ao lado da garota. Seu sorriso era gentil, de certa forma, Rukia sentiu-se bem:

- Humm... Estou com um pouco de sede, acho que já posso levantar para buscar um copo de água.

- Sinto muito, mas você deve ficar repousando por um bom tempo. Eu vou buscar água... Só um instante.

Aiko foi até a cozinha, em uma jarra de cristal encontrou água e serviu um copo cuidadosamente. Tentou apressar-se para chegar logo ao quarto, no entanto, um pequeno acidente aconteceu. Esbarrou em Byakuya e a água virou no traje dele, aparentemente estava recém chegando à sua morada, mesmo quando nem deveria ter saído por causa dos ferimentos. O copo caiu no chão e quebrou-se. Naquele instante, o coração de Aiko disparou e ela olhou para a face de Byakuya, estava envergonhada. Certamente, ele a mandaria embora naquele momento, era isto o que pensava. Rapidamente, Aiko foi de joelhos ao chão e baixou a cabeça.

- Kuchiki-sama... Perdão. Tentei apressar-me para servir a Kuchiki-san o quanto antes. Eu realmente sinto muito, fui descuidada.

Fazia anos que alguém não se ajoelhava aos seus pés, principalmente, para pedir desculpas. Com certeza era digno disto por ser de tão boa casta, entretanto, não se sentia bem com aquilo. Aiko era inocente e Byakuya sabia disto, tinha a certeza que ela não sabia como tratar nobres e shinigamis do jeito correto. Havia reparado a devoção da jovem para com Ukitake, até mesmo com Hanatarou e também com Rukia. Não tinha uma frase pronta e não fazia idéia de como pedir para que ela se levantasse. O que fez foi a única coisa que veio em sua mente. Byakuya abaixou-se e com cuidado, juntou os cacos que estavam espalhados pelo chão.

- Eu poderia ter desviado também, mas não notei a sua presença por estar com a cabeça um pouco cheia. Agora, me ajude – disse ele quase aos sussurros, entregando os cacos nas mãos de Aiko. – Vou buscar um papel para embrulhar isto, assim, ninguém se machuca.

Ela sorriu, o medo repentino que sentiu se desfez na mesma hora. Ele não sabia ser gentil, mas se saiu bem até. Byakuya colocou os cacos de vidro sobre um papel, mas antes disto, trouxe também um copo de água e entregou para Aiko levar até Rukia.
A shinigami bebeu de uma vez só, Aiko sorriu enquanto viu aquela cena, Rukia era tão delicada.

- Obrigada... – Agradeceu Rukia. – Você deve ser do Yonbantai, todos sempre muito gentis.

- Kuchiki-sa...

- Rukia – interrompeu a jovem Shinigami. – Me chame de Rukia.

- Rukia-san – começou um pouco sem jeito, enquanto mexia em uma mecha de seu cabelo. – Não sou Shinigami. Estou aqui porque o senhor desta casa me salvou de um dos ryokas e como não havia mais ninguém onde eu moro, me trouxe aqui para que cuidassem dos meus ferimentos. Moro no 76º distrito de Rukongai e entenderei se quiser que eu vá embora.

Rukia segurou a mão de Aiko e a olhou com doçura enquanto sorria.

- Somos mais parecidas do que você pensa... Aliás, não somente eu... Muitos outros shinigamis, alguns que conseguiram até postos distintos, vieram de Rukongai e dos distritos mais pobres, diga-se de passagem.

- Mas... O Kuchiki-sama e você são tão parecidos – colocou Aiko pensativa.

- A família Kuchiki me adotou. – Disse seriamente. – Ah, o nii-sama é um bom homem, bastante difícil e duro, é verdade, mas, não fique com rancor dele. No fundo, gosta de ajudar os outros.

- Você parece estar bem – Aiko desviou o assunto, estranhamente, não queria falar de Byakuya. – Acredito que logo estará cem por cento!

- Eu também acredito! – Assentiu Rukia com firmeza. – Preciso ajudar meus amigos e para isto, tenho que estar boa...

O tempo passou rapidamente, as duas ficaram conversando durante a madrugada. Logo, Aiko já estava familiarizada com os amigos de Rukia e também sabia quem eram os invasores e muito do que pretendiam. Ficara intrigada com a história de Aizen e com parte de seus planos.
Byakuya passou para ver Rukia, esta dormia tranqüilamente, a conversa com Aiko acabou-se depois de duas horas e esta não estava mais ali. Ele havia espiado o quarto em que Aiko estava hospedada e ela também não estava lá. Achou estranho o fato do futon estar dobrado, assim como os lençóis e cobertor. No fundo, temia que a jovem tivesse sido imprudente a ponto de sair sozinha pela Seireitei e se isto acontecesse, poderiam achar que pertencia ao grupo dos Bount. Após uma busca pela casa, encontrou algo sobre a mesa em que costumava trabalhar quando longe do bantai. Ali, estavam uma carta e o prendedor de cabelo que a jovem usava, era de ouro, cravejado com brilhantes coloridos. Não entendia como alguém como Aiko poderia ter uma jóia tão preciosa, esquecendo este questionamento por hora, leu a carta com atenção:

“Família Kuchiki... Vocês têm a minha eterna gratidão.


Kuchiki-sama, o senhor salvou a minha vida, apesar de naquele momento eu ter rezado para que me arrancassem deste mundo miserável. Aqui, compreendi que eu não sou tão diferente quanto eu pensei que fosse e agradeço à Rukia-chan por ter mostrado esta verdade. Vou buscar pelo meu lugar, seja em que mundo for. Quero provar a minha utilidade e o meu valor! Planejo algo para o meu futuro e com isto, quem sabe eu não ajude muitos iguais a mim para que possam garantir um futuro também.
Um dia pagarei minha dívida, Kuchiki-sama. Por hora, fique com isto, a única coisa de valor que possuo. Assim, lembrará que tenho uma pendência com o senhor e vou quitar isto.

Mais uma vez, arigatou e até breve.

Myazaki Aiko”

Byakuya dobrou o papel novamente e o guardou em sua gaveta, logo depois, pegou o prendedor de cabelo e ficou olhando-o por minutos. Respirava profundamente enquanto pensava nas palavras da jovem.
Dias depois, todos os shinigamis continuavam em alerta. Duras batalhas ocorreram, segredos incríveis foram revelados e a justiça pendeu para um dos lados. Os Bount foram aniquiliados e com eles, novamente as marcas do passado começaram a se apagar. No coração e na mente de muitos, aquelas marcas ficariam para sempre...


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