Sinto um arrepio passar pelo meu corpo. Estou olhando fixamente para meu reflexo no espelho do meu quarto. Está escuro, mas não totalmente. Eu abri a janela deixando um pouco da luz dos postes na rua entrarem, assim poderia me ver. Sei que tremo levemente.

O tempo parou para me torturar, como uma amostra, por que se fosse por mim, ele ficaria parado para sempre. É onze e meia. Não consigo dormir. Meia noite vai chegar, é inevitável.

Não deveria estar nesse estado deplorável, mas não posso evitar. Amanhã é meu aniversário. Farei dezessete anos. A idade que ela nunca pôde chegar.

Esse é o pensamento que parece me sufocar.

Tem uma foto no canto meu espelho. Encaro-a. Embora ela se pareça levemente comigo, não sou eu. É quem tento ser. Minha irmã mais velha, Letícia.

Respiro fundo. Parece que não existe mais ar o qual eu posso respirar. Também não consigo me mover. Uma lagrima cai do meu olho.

Por que temos que envelhecer?

Eu nunca tinha ficado assim antes do meu aniversário. Mas dessa vez é diferente. É injusto.

Olho para o relógio onze e quarenta e sete. Treze minutos.

Talvez eu esteja sendo ridícula. Provavelmente estou. Mas é mais forte que eu. Quero chorar, mas não tenho motivo. Apenas medo.

Não chore por medo, nunca. Ele não merece isso de você. Já está fraca e ele sabe. Lagrimas é como implorar. Nunca podemos dar esse gostinho a ele. – É uma frase que escuto martelar na minha cabeça. A voz é tão real, que olho para o lado. Para a cadeira no canto de meu quarto.

Como já esperado, não tem ninguém lá.

Mas eu sinto um desapontamento grande demais.

Eu não aguento. Deito na cama e soluço. Prometi que não faria isso, mas não consigo manter a palavra. Falta um minuto. Apenas um. Rezo em silencio, rapidamente. Tento contar os segundos, mas me perco da conta.

Encaro o relógio. Parece que estou sendo esmagada aos poucos.

Então, meia noite chega. Respiro e inspiro. Tenho que me controlar.

Não vou dormir essa noite.

Por mais que tente dormir, volto para o mesmo ponto. O mesmo pensamento. Tento pensar em alguma lembrança boa. Antes, de tudo aquilo começar.

Mas só lembro-me do final. A pior parte.

Letícia, minha irmã. Eu sinto muito, não pude evitar. Tive que crescer.