Depois daquilo, Bennett partiu, me deixando totalmente sozinha.

A única luz ali era a da lua e as estrelas, iluminando o mar. Eu odiava aquele lugar. Talvez seja algum problema meu desde a infância, mas eu nunca fui muito fã do mar ou qualquer coisa a ver com isso. Era muito irônico isso. As pessoas sempre achavam que pelo o fato de eu ser dominadora sempre tivesse alguma ligação positiva com o mar, como nos filmes.

A verdade era que eu tinha medo do mar.

Bondi Beach me trazia uma sensação de nostalgia meio negativa. Para mim, sentir nostalgia e me lembrar da minha infância, época antes do estrago da minha família, é algo muito ruim. Meu pai era um surfista profissional, então quando ele não estava trabalhando na banda dele, compondo músicas ou em projetos com a gravadora, ele estava surfando. Chris também era bom naquilo, então desde que ele tinha uns oito anos, ele ia com o meu pai surfar. Eu comecei a acompanha-los quando eu tinha cinco anos, e ás vezes o meu pai tentava me ensinar um pouco disso. Todas as suas tentativas falharam, e por mais que eu fosse boa em esportes, surf e coisas a ver com o mar sempre foram um inferno para mim.

Eu andava lentamente na areia da praia, a procura de Hector. Os meus olhos estavam nervosos, olhando para o local todo a procura do vampiro. Eu queria que ele aparecesse logo, se ficasse mais tempo ali, essa nostalgia misturada com tristeza e ódio iria piorar muito.

— Sam Watters. — eu ouvi a voz de Hector.

Eu me virei para trás, como um reflexo, e lá estava ele.

— Você me fez matar Helena. — disse. — Bom plano.

Ele deu um sorrisinho sarcástico para mim.

— Era uma teoria que eu tinha de acordo com as suas memórias. — ele dizia. — Você sempre supõe coisas sobre seus inimigos durante as lutas. No meu caso, você supôs que eu tinha péssimos reflexos. Eu fingi a luta toda ser um idiota para no final você acabar matando alguém.

— Foi tudo um plano?

— Sempre é um plano. — disse Hector. — É por isso que eu nunca perco. Eu sempre tenho um plano.

— Então o que você quer de mim, Hector? — perguntei. — Você roubou as minhas memórias. Qual será o próximo passo?

— O meu plano com você ainda é muito amplo. — ele disse. — Vocês, Watters, ainda tem muitas dívidas a pagar comigo nos últimos duzentos anos. Eu só estava esperando algum dominador nascer na sua família para que essa dívida finalmente seja paga.

— Mary Watters? — perguntei. — Você a enganou, não? Provavelmente, ela lhe fez algo que despertou tudo isso.

Hector assentiu.

— Eu gosto disso em você, garota. Você não é do tipo lenta. — disse Hector. — Mas, sim, foi basicamente isso que ocorreu comigo e Mary. Eu estava a usando para chegar até o último dominador de água, mas ela me enganou.

— Você a enganou. — eu me lembrava do sonho que tive na Área 51. — Ela amava você. Foi você que mentiu para ela.

Hector forçou uma risada.

— Aprenda uma coisa, Sam Watters: o problema dos Watters é que vocês sempre encontram uma maneira de escaparem das coisas. Mary era terrível como pessoa, mas ela era tola, acreditava fácil em qualquer um que tivesse os mesmos princípios que ela. Quando eu tentei enganá-la, ela sumiu do mapa. — deu uma pausa. — Eu ainda sinto a sua presença, mas ela está morta.

— Ela traiu o próprio marido por sua causa! — disse. — Ela amava você! Pare de falar essas coisas! Essa sua história de sempre estar acima de qualquer pessoa é ridícula.

— Você foi manipulada com as memórias do último dominador de água. — dizia Hector. — Ele se apaixonou por ela, então, em todas as memórias dele, Mary era um lindo anjo, perfeito e diferente de tudo que ele já viu. Mas, na verdade, ela era apenas uma inglesinha totalmente depravada.

— Então você está descontando toda a raiva que sente dela em mim? — perguntei. — Eu não sabia que você gostasse de vingança.

— Vingança é uma perda de tempo, não acha? Seu querido amigo morreu por causa disso. — dizia Hector. — Qual o nome dele mesmo? Jeffrey, não? Eu não sou igual a aquele garoto, eu não quero nenhuma vingança.

— Não ouse a falar do nome dele. — disse entre os dentes. — Você é um nada perto dele.

Hector forçou uma risada.

— Você destruiu a família daquele garoto. — disse Hector. — Eu o conheci. Estava faminto por vingança, mesmo que fosse contra a garota que ele gostava. E agora, ele está morto.

— Para onde você quer chegar com essa história? — perguntei, já irritada. — Vamos ficar discutindo sobre coisas que já aconteceram ou finalmente fazer alguma coisa?

— É incrível como você sempre tenta mudar de assunto quando as coisas realmente estão ficando sérias. — ele disse. — Você não se cansa de fugir?

— Você não se cansa de ser um idiota?

— É incrível como você age como se fosse mais uma das garotinhas da sua idade, Sam Watters. — disse Hector. — É isso que eu odeio nos dominadores. Por que colocar tanto poder em um ser que nem ao menos sabe usá-lo? Você é a prova mais clara disso. É a reencarnação mais forte nos últimos mil anos e nem tem consciência disso.

Então foi aí que a coisa ficou interessante.

— A reencarnação mais forte nos últimos mil anos? — perguntei.

— Você é ignorante até sobre si mesma. — disse. — Eu acho que esse título de dominadora que você tem só serve para te salvar da morte na maioria das vezes.

— Me explique isso. — disse. — Agora.

— Por que eu faria isso? — ele perguntou— Me dê uma razão para lhe contar.

— Você não quer que eu seja menos ignorante? — disse. — Aproveite.

— Isso não foi um argumento. — disse Hector. — Me faça acreditar que eu realmente preciso lhe contar essa informação.

Respirei fundo. Oh não.

— Você não acha que eu passei por coisa demais para não saber praticamente nada? — perguntei. — Eu me tornei uma assassina com oito anos de idade. Todos me usam como uma arma, mas sempre tem que esconder alguma coisa de mim. Eu já tenho dezessete anos e ainda não faço a mínima ideia do que está acontecendo comigo e as coisas ao meu redor. Eu acho que tenho todo o direito de saber disso.

— Oh não, que coitadinha. Eu tenho tanta pena de você. — ele zombava. — Por favor, para com esse drama. Eu não gosto de coitadinhas como você, sabia? — deu uma pausa, dando um passo para atrás de mim e sussurrando na minha orelha. — Me dê uma única razão sincera. — sussurrou por final.

— Porque eu tenho uma parte mortal que é curiosa que quer saber disso. — admiti. — É só uma curiosidade mortal.

Hector voltou para onde ele estava, na minha frente. Ele deu um sorriso doentio ao ouvir isso.

— Ao menos você está parando de mentir. — disse. — O problema é o seguinte, Sam Watters, você e a reencarnação mais forte de um dominador dos últimos mil anos. Os duzentos anos que demorou para um dominador nascer é a prova disso. Nenhum dominador consegue dominar o seu elemento tão antes da puberdade, e você fez isso. — ele deu uma pausa. — É uma pena ter que matar uma dominadora tão talentosa.

Antes que eu pudesse raciocinar, Hector deu um golpe em mim. Era um chute, na tentativa de me derrubar. Eu desviei antes que fosse ferida. O meu corpo não doía tanto quanto anteriormente, mas ainda doía. Eu não estava 100% apta para lutar, mas era a minha única escolha.

Tudo estava escuro. A única luz naquele lugar era a lua, refletindo em tudo. Desta vez, eu não poderia usar totalmente a minha visão, o meu foco deveria ser mais na minha audição e nos meus reflexos. Eu estava em grande desvantagem. Estava em um local que odiava, além do fato de que já que era escuro, então os meus olhos deveriam estar brilhando. Eu não poderia fugir de Hector desta vez. Chega de fugir.

Eu deixei um sorriso sarcástico estampado no meu rosto e fui lutar. Agora, eu estava mascarada contra qualquer coisa que Hector usasse contra mim. Sarcasmo e ironia sempre vencem a verdade.

Eu esqueci totalmente sobre Jeff ou Helena. Também esqueci de toda a dor que eu sentia. Tudo poderia acabar agora. Eu até esqueci de Matthew e todas as coisas ruins que eu fiz em toda a minha vida.

Eu fui para cima de Hector, já que estava desarmada, eu tinha que usar totalmente a minha força física. Eu comecei a ter tentativas de socar totalmente a sua cara, mas elas eram em vão. Eu tentava o chutar, mas era inútil. Eu não conseguia acertá-lo. Estava tudo indo muito errado.

Então eu comecei a perceber que talvez ele tivesse algum controle sobre mim.

Tentei me livrar daquele pensamento, percebendo que aquilo não fazia sentido nenhum. Hector Kitter é apenas um vampiro que teve a sorte de ter crias suficientes para ganhar força, andar no sol e se regenerar. Ele não é um Darth Vader ou qualquer coisa assim.

Então eu dei um passo em direção ao mar. Eu nem tinha pensando em fazer esse movimento, mas eu fiz, como se algo estivesse me controlando. O sorriso doentio de Hector aumentou, mostrando as suas presas. Eu não sabia mais se aquilo era a vida real ou um filme de terror.

Minhas pernas não se mexiam mais. Eu não sabia como aquilo estava acontecendo, eu só sei que estava, e era bem mais real do que tudo. O controle sobre as minhas pernas foi embora para bem longe, o que significava que nem eu mandava mais em mim mesma. Eu me forçava a mexer, mas não dava certo. Hector movia as suas mãos, como se eu fosse uma marionete principal dele.

Era real. Hector me controlava.

Eu não conseguia entrar em pânico, gritar, berrar ou até chorar. Eu não tinha controle sobre eu mesma. Chegava a ser uma coisa assustadora. Hector paralisou os meus braços, e começou a me enforcar de longe. Aquilo parecia como aquele filme de terror antigo. Hector conseguia me controlar.

Eu nem tinha controle sobre eu mesma.

— Eu te controlo, Sam Watters. — disse Hector. — Eu espero que os seus últimos momentos sejam terríveis, exatamente como a sua vida.

E se foram terríveis?

A resposta era óbvia: claro que sim. De todas as coisas que aconteceram comigo — ser esfaqueada, passar pela a primeira lua cheia com 2 espadas enfiadas no meu tórax, matar pessoas, ser capturada pelo governo americano duas vezes, ser atacadas por lobos, virar uma loba... — aquela era de longe a pior. Era uma tortura. Perder o controle era como se fosse um golpe de realidade na minha cara, berrando para mim o quão fraca eu realmente sou.

As minhas presas de lobo saíam da minha boca, e então Hector me fez erguer o meu pescoço para o céu. Ele estava me fazendo ter uma transformação bem ali. As minhas unhas cresciam, se transformando em garras de lobo. Poderia não parecer, mais aquilo era de longe a maior dor que eu senti em toda a minha vida. Hector estava me torturando. Eu estava sendo sufocada, então respirar não era algo tão fácil do que deveria ser.

E então começou a próxima etapa: o sangue. Agora que eu estava imóvel e no meio de uma transformação, Hector teve a brilhante ideia de me fazer sangrar. Eu não sei como diabos ele fazia aquilo, só sei que acontecia e ponto final. Meu nariz sangrava, como se alguém estivesse me socando. O sangue subia pela a minha garganta, como se eu estivesse sendo esfaqueada de novo.

Perfeito. Ao menos eu iria morrer drenada. Até nisso eu sou diferente das outras pessoas.

As minhas pernas começaram se mexer, porém sem ser com meus comandos. Hector me fazia andar até o mar. Eu já sabia o que ele planejava.

Ele ia me afogar.

Eu nem entrei muito no mar. Ainda estava na parte rasa, mas Kitter me fez praticamente me jogar nas águas. O vampiro pareceu me controlar ainda mais, tirando o meu ar, mas ainda deixando a minha consciência.

Não custava aquele idiota me deixar inconsciente? Seria menos doloroso.

Eu estava no último minuto da minha vida.

— Somos parecidos. — ele disse. — Ambos somos assassinos. A diferença é que eu sou melhor que você, garota. Eu espero que goste da sua morte.

Depois disso, eu não pude mais me defender ou fazer qualquer coisa. A única coisa que eu conseguia ver era escuridão, uma grande e infinita escuridão.

Eu morri.

Ponto de Vista do Narrador.

— Mais rápido! — gritava Matthew. — Não temos muito tempo!

Um dos soldados da Área 52 dirigia o helicóptero da maneira mais rápida que conseguia. Além dele, só tinha Matthew Summers, Travis Springs e os três irmãos Knight: Aaron, Scarlett e Garrett. Bennett fora capturado dez minutos atrás, quando foi pego pelo governo tentando avisar Matthew sobre alguma coisa da dominadora de água. Depois disso, ele se entregou ao governo, e o novo foco era salvar a Sam da morte.

— Então, qual é o plano? — perguntou Scarlett.

— Eu realmente quero saber como você pretende salvar aquele monstro. — disse Travis.

Matthew revirou os olhos.

— Esse é o jogo de Hector. Ele quer nos jogar contra a Sam. — ele disse, tentando pensar em algo. — Ela não sabe nadar. É por causa disso que ele a levou até uma praia.

Garrett tentou segurar uma risada.

— Então a dominadora não sabe nadar? — dizia o líder de uma alcateia. — Como sabe disso, garoto?

Matthew se lembrou do começo de quase tudo aquilo, em Março, quando estavam naquela praia da Nova Zelândia. Sam admitiu a ele que odiava o mar, e na outra vez, horas antes de perder a memória, que ela também admitiu não saber nadar.

— É porque eu roubei a memória dela e sei disso. — ele disse com sarcasmo. — Vá se foder, Garrett.

— Quem nos garante que você está mentindo? — questionou Garrett.

Matthew mentalmente xingou os Knight de todos os nomes possíveis. Odiava Aaron, Scarlett e Garrett também.

— Cale a sua boca! — Matthew quase berrou. — Nós vamos salvá-la antes que seja tarde demais. Não podemos deixar a mesma coisa que aconteceu mais cedo com Helena acontecer de novo.

— Com Helena foi diferente, e você sabe disso. — disse Travis. — A própria Sam a matou na nossa frente sem motivo nenhum.

E Travis estava mais do que certo. Matthew tinha certeza disso, mas o seu lado irracional não deixava aceitar aquilo como uma verdade. Poderia ter quase ter tido uma breve lucidez no momento que Sam matou Helena, mas agora essa lucidez se fora. Mas ele estava começando a se questionar sobre Sam. As pessoas estavam totalmente certas sobre ela, mas ele sabia que tinha algo a mais em Sam. Nem tudo é só desgraça.

— Bennett se importava mais com Helena do que você. — disse Matthew entre os dentes. — Pare com esse teatrinho, Travis.

— Bennett ajudou a assassina. — disse Travis. — Bennett é um monstro exatamente igual a sua querida Sam.

— Cale a sua boca, perdedor. — disse Matthew. — Helena jamais iria ficar com você. Eu acho que é melhor você aceitar que perdedores como você nunca fizeram o tipo dela. Siga em frente. Você pode ser o próximo a morrer se continuar com isso.

— Agora que você está fodendo a Sam vai se tornar igual a ela? — provocou Travis. — Vai se tornar um assassino e me matar sem motivos?

Travis nunca fora desse jeito, mas naquele momento, era algo totalmente necessário. Helena se foi. Ele jamais lidara com a morte antes. E então aconteceu. Helena morreu em cinco segundos, e ele não pode fazer nada, apenas ficou lá, impotente.

A sensação de ser um perdedor inútil só crescia nele.

Matthew não sentiu nada que não fosse ódio por Travis. Poderiam ter chegado a ser amigos por um tempo, mas agora não dava mais.

Então ele deu um soco no dominador de ar.

Travis ia rebater, porém Garrett e Scarlett o seguraram enquanto Aaron foi segurar Matthew. Aquilo só mostrava como todos ali estavam totalmente desunidos. Como queriam derrotar Hector Kitter e acabar com uma guerra se nem conseguiam discutir sem caírem em uma briga?

Matthew se lembrou de quando tinha só onze anos de idade e todos aqueles psicólogos da escola diziam que ele tinha um problema sério com raiva. Agora ele concordava com eles. Realmente tinha um sério problema com raiva.

— Me dê um soco de novo! — provocava Travis. — Você perdeu a sua mão por causa dela! Acorde, Matthew! Ela é uma sociopata!

— Vai se foder, Travis! — gritava Matthew. — Você é um falso de merda!

Aaron revirou os olhos. Não existia nada mais infantil e clichê do que dois adolescentes brigando por uma razão ridícula.

— Chegamos. — disse o piloto.

A escada do helicóptero desceu, e então Travis e Matthew pararam de lutar. Matthew foi o primeiro a descer, logo seguido de Scarlett, Aaron e Garrett. Travis continuou lá dentro. Ele não iria defender uma assassina como Sam.

Hector Kitter estava próximo do mar, parado, e com um sorriso largo em seu rosto. Aaron e Garrett tiraram suas roupas, se transformando e indo atacar Kitter sem pensar duas vezes.

Garrett e Aaron eram lobos do mesmo nível. Se Aaron quisesse, ele poderia muito bem criar uma matilha, já que tinha exatamente a mesma capacidade física de qualquer outro líder. Ele uivava alto, enquanto os pelos de lobo apareciam no seu corpo em fração de segundos. Na primeira vez que se transformou, foi algo bem doloroso, mas agora era natural para ele. Seus olhos negros começaram a ganhar um brilho dourado, que ganhava um foco maior com a luz natural da lua refletindo sobre eles.

Garrett se transformou antes que Aaron, e mesmo que tivessem as mesmas características — pelos negros, olhos dourados —, ele era maior e fisicamente, parecia mais forte que seu irmão. Garrett era maior e mais pesado que Aaron, mas em consideração, o seu irmão era veloz.

Scarlett poderia ser a única humana da sua família, mas nunca se sentiu abalada por causa disso. É o contrário. Ela sempre usa isso ao seu favor. Scarlett pegou os dois revólveres e começou a atirar em Hector, enquanto corria em sua direção. A ruiva sabia que seria inútil, mas poderia distrair Hector e talvez dar uma certa vantagem para os outros ali.

Aaron e Garrett corriam na direção de Hector, já o atacando. Desta vez, ele não iria escapar deles.

Matthew ia atacar Hector, mas algo mais importante chamou a sua atenção: Sam. Era para ela estar no meio de uma luta muito importante com Hector, mas não tinha nenhum sinal dela ali. Apenas algumas pegadas quase apagadas em direção ao mar, juntas de pingos de sangue.

Não demorou muito para que ele raciocinasse o que tinha acontecido. Desta vez, ele não estava sendo lerdo.

Ao invés de ir atacar Hector, como ele havia planejado — foi a única coisa que planejou, era péssimo em estratégia —, ele correu em direção ao mar, vendo uma mão boiando na água rasa. Tinha sangue também. Era a mão de Sam. Ele já sabia o que tinha acontecido, mas não queria nem aceitar.

Ele puxou o corpo de Sam da água, a levando para a areia. Ele se sentou, com Sam em seu colo, sem demonstrar nenhum sinal de vida. Matthew ainda não tinha nenhum controle sobre seus poderes de dominador, então descartou a oportunidade de forçar a sua audição e ver se conseguia ouvir o coração de Sam. Mas tudo era muito óbvio.

Ela tinha se afogado.

Todo aquele momento de lucidez na morte de Helena e até os questionamentos sobre quem Sam realmente era se foram.

Matthew precisava fazer algo. Ele não iria se perdoar se não fizesse nada naquela hora. Se xingou mentalmente de inúmeros palavrões por ter dormido em todas as aulas que tivera de primeiros socorros na escola.

Ele tentou fazer respiração boca a boca na garota... Umas duas vezes. Era inútil. Ela nem respondia.

Ele se virou por um segundo olhando para a situação de Hector. Talvez estivesse segurando o choro, evitando de olhar para Sam. O lobo menor estava sendo atacado por Hector. Ele cravou suas presas no lobo, e logo o jogou no chão.

— Aaron! — gritou Scarlett.

Matthew ouviu alguém tossindo, então voltou a sua atenção para Sam.

Ela estava tossindo a água, porém ainda não tinha aberto os olhos. Matthew se sentiu melhor, ao menos ela estava viva. Lentamente, Sam abria seus olhos e então Matthew teve toda a certeza do mundo de que no final tudo ficaria bem. Sam estava viva e Hector seria eliminado.

O olhar de Sam ficou fixo em Matthew, e ele segurou um sorriso. Quase ele tinha a perdido. A única coisa que ele queria olhar eram os olhos verdes da garota.

— Matt... — ela murmurava com dificuldade. — Fuja.

Antes que Matthew pudesse alertá-la que tudo ficaria bem, uma gargalhada alta o interrompeu.

— Eu matei Aaron Knight! — Hector gritava, entre gargalhadas. Seus passos iam em direção de Matthew. — Oh, pobre Matthew Summers. Ninguém escapa de mim. Nem você e a sua namoradinha.

— Cale a sua boca. — dizia entre os dentes.

— Você não tinha nojo dela? — Hector o lembrou. — Você não se questionava sobre ela?

— Você só é um vampiro. — disse Matthew. — Eu sou um dominador de fogo. Sou mais forte que você.

— Eu andei no sol, garoto. — disse Hector. — Eu não sou só um vampiro.

— Você está certo. — disse Matthew. — Além de um vampiro, você é um ridículo.

O olhar de Matthew foi para atrás de Hector, onde Garrett estava desmaiado no chão, mas claramente, com vida. Scarlett ainda segurava Aaron, agora transformado em humano, em lágrimas.

— Eu sou tão ridículo quanto você. — disse Hector. — Você passa o tempo todo brigando com ela e logo agora resolve defende-la? Me poupe disso, pirralho. Você vai morrer.

Matthew sentiu uma corrente de ódio percorrer o seu corpo. Seu sangue fervia.

O dominador de fogo ergueu a sua mão, em direção de Hector. Poderia estar sentado na areia, com Sam deitada em seu colo, estando em total desvantagem, mas não iria deixar Hector sair impune disso. Ele já tinha causado muito sofrimento. Se dependesse de Matthew, isso não iria acontecer de novo.

Uma luz azul apareceu no local. Uma corrente de eletricidade acertou Hector de surpresa, fazendo o vampiro cair no chão, totalmente vencido.

Matthew olhou para a sua mão, e todos ali pararam o que estavam fazendo para prestar atenção. No helicóptero, Travis estava quase descendo, olhando para Matthew com seus olhos arregalados.

— Raios... — murmurava Travis. — Você domina raios.