Cores e Formas escrita por Amanur


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oneshot! Mukuro x Chrome!



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Um quarto branco sem fim. Sem paredes e sem teto, com apenas um piso frio e branco. Este, é um lugar onde a chuva nunca termina. É o único lugar que guardo na memória. É o único lugar que conheço, sozinha.

 

- Nagi... Nagi...

 

Eu perdi completamente a noção do tempo. Sequer sei se ele realmente existiu. Tudo o que sei é que esta água fria me banha sem parar.

 

- Nagi... Nagi...

 

Há um tempo desde que ouço essa voz. Esse som diferente da chuva que nunca termina. A voz de um menino, fracamente chamando meu nome, do qual nem sei como o obtive, ou que me deu.

 

- Nagi... Nagi...

Eu não sei de onde vem essa voz! Caminho a diante, sempre em frente, tentando encontrá-lo para alcançá-lo. Mas aquela voz simplesmente continua a seguir-me, sussurrando, sempre no mesmo tom e volume. Eu nunca chego mais perto ou mais longe. Simplesmente é sempre a mesma, aos meus ouvidos.

 

- Nagi... Nagi...

 

Essa voz, na verdade, é a única coisa que me mantém calma. A única coisa que me dá um pouco de calor. A única coisa que me faz companhia. Ela é baixa e suave, quase afetuosa. Passional, sedutora, sedenta e faminta.

 

- Nagi... Nagi...

 

E eu já lhe respondi tantas vezes!

 

- O quê? Eu estou aqui! Salve-me! Tire-me daqui!

 

- Nagi... Nagi...

Embora a minha voz fosse quase inaldível, pois fazia muito tempo desde a última vez que disse algo - se é que já disse -, o meu nome era a única coisa que ele podia me dizer.

 

- ’Talvez... ele não pode me ouvir.’ - pensava.


E agora, estou deitada naquele chão frio e úmido, sentindo a chuva cair pesadamente sobre o meu rosto e corpo, como tantas vezes já fiz. Tudo o que há para eu fazer neste lugar, é esperar a morte chegar e me levar de uma vez por todas. Isto é, se já não estou morta. Porque se estou... Espero então que o diabo venha logo me levar para o inferno.

 

- ’Qualquer lugar deve ser melhor do que este.’  - Tremo de frio o tempo todo e, minha pele pálida e dedos, já estão todos enrugados por causa da água fria.

 

Embora eu não sinta a necessidade de comer, meu corpo está fraco e, já mal consigo caminhar. Às vezes eu me arrasto, tentando chegar ao fim deste lugar. Mas aquele branco nunca deixa meus olhos... E pele.

 

No entanto, algum tempo depois, percebo que aquela voz deixou de chamar-me constantemente, dando um longo espaço de tempo, para dizer o meu nome apenas uma vez.

 

 

 

 

- Nagi...

 

 

 

 

 

Mas então, uma vez, apenas uma vez, o ouço chamar-me como se estivesse bem ao meu lado.

- Nagi...

Tão perto, que eu pude sentir seu hálito quente sobre meu pescoço. Foi a única coisa quente que senti neste lugar. Eu mantive meus olhos fechados, e nem sequer os abri por uma vez que fosse. Pois tinha medo de que se olhasse para seu rosto, ele fosse embora.

 

- Não me deixe! - eu disse.


- Eu não vou! - ele respondeu.


- 'Eu não vou?’  - essa, então, seria a primeira vez que essa pessoa me disse algo diferente. Algo que eu poderia confiar. Algo que fez meu coração bater mais rápido.

 

Em seguida, tentei desesperadamente tocá-lo como se fosse uma pessoa cega; tateando o chão, com os olhos fechados. Extremamente necessitada de sua presença e seu toque. De alguém que poderia me dizer que eu não estava louca, imaginando sua voz. Alguém com quem poderia conversar. Alguém que poderia trazer algumas cores para meus olhos. No entanto, não senti nada diferente do chão frio e úmido, que conhecia tão bem por tanto tempo. E então, abro meus olhos, lentamente.

 

- Você ainda está aí? - mas ele não estava. - Por que você me tortura? - o questionando.

 

- Afinal, que é você? És meu salvador ou meu carrasco?

 

Eu olhei para o céu, na esperança de encontrar um pequeno buraco que me permitisse pôr apenas um dedo, que fosse, para dizer-me que havia alguma coisa lá fora. Seria o suficiente para me fazer feliz e aceitar esse destino. Porque então, eu saberia que não estava sozinha. Quando tudo que eu poderia dizer, é que estava.

 

Então eu adormeço, e vejo escuridão. Branco e preto, lutando constantemente na minha cabeça, para ver quem vai ganhar. Qual deles era o mais poderoso.

 

-'Eu odeio os dois.’  - não gostava de nenhum deles. Ambos me trás sensação de vazio e frio. Os dois me dão arrepios. Mas eu não tinha medo deles. Habituei-me com suas presenças. Na verdade, fiquei cheia de sua constante presença. Eu queria algo diferente, como o vermelho. Vermelho como o sangue que eu tirava do meu pulso, com as unhas dos meus dedos. O vermelho é bonito. O vermelho é quente e pode se tornar rosa nesse chão branco, lentamente desaparecendo. Mostrando-me a forma desfocada do reflexo do meu rosto pálido e triste, do qual não suportava mais olhar.

 

 

- Nagi...

 

‘Ah! Aquela voz voltou. E está chamando meu nome novamente. Ahhh, como eu queria vê-lo.’ - penso.

 

Eu queria que ele pudesse me dar a escolha de ter o seu toque ou ver seu rosto. Qualquer dos dois estaria bom. Ambos me serviriam bem.

 

- Vire-se! - ele me disse, como se estivesse logo atrás de mim. E eu, nem sequer pensei. Apenas obedeci ao seu comando.

 

E lá estava ele, longe de mim, em uma forma diferente do que eu já havia visto. Era um objeto diferente dentro daquele lugar torturante.

 

- ’Quem o colocou lá?’  - eu tinha certeza de que não havia absolutamente nada lá. Mas agora, aquele espaço, estava escuro e nebuloso. Sem cores, como eu desejava. Mas foi o suficiente para me fazer mover em sua direção! Pois era uma coisa diferente de mim e daquela chuva fria, que estava à minha espera. Chamando-me, bem ali, tão distante. Meu coração parecia querer sair do meu peito. E o resto do meu corpo parecia não funcionar. Mas minhas pernas estavam demasiada lentas, para alcançá-lo.

 

- 'Ou talvez ele esteja indo embora.'  - entãotentei com todas as minhas forças, gritar:

- Não me deixe! - mas a minha voz saiu muito errada. Rouca e dolorosa. Uma dor que eu nunca senti antes, dentro do meu peito.

 

- Eu não vou. - aquela voz me disse, atrás de mim, novamente.

 

Virei-me para ver quem estava lá, brincando, comigo, com truques sujos. Mas tudo que eu podia ver era aquele mesmo formato escuro, longe do meu alcance. Outra vez.

 

E assim, caio no chão frio, vencida pela exaustão, para encarar aquele céu ilimitado, frio e branco. Desistindo do meu objetivo.

 

-'Não há esperanças para mim.'  - não me restava mais nada. Somente aquelas ilusões estúpidas. E caio no sono, novamente, esperando que eu pudesse nunca mais acordar. Pelo menos aquela escuridão, era menos frustrante e silenciosa.

 

Não sei dizer por quanto tempo eu me mantive trancada, dentro da minha mente, mas, um som diferente, misturado com a chuva caindo, vindo de fora, me chamou a atenção. E assim, percebo que eram passos molhados.

 

- ’Não são meus!’ - pois até onde sabia, eu ainda estava deitada. Então, lentamente, abri meus olhos notando uma sombra sobre mim. Além disso, eu estava rodeada por uma densa névoa fria, envolvendo-me por dentro. Abraçando-me.

 

De repente, fiquei com medo. Aquela forma que antes estava tão distante, agora estava tão perto.


 - 'Será que ele veio por mim?’  - e ele estava bem aqui, na minha frente, dando-me cores que eu nunca vi. Roxo, azul, verde, vermelho, amarelo e cinza. Todos eles vieram juntos enchendo meus olhos de lágrimas.

 

- Nagi. - ele diz com um sorriso nos lábios.

 

- Sim. - respondo sem acredita que, finalmente, ele estava aqui. Oferecendo a sua mão, seu calor, seu toque e seu belo rosto.

E eu aceitei.

Eu aceitei tudo o que tinha para me dar. Aquele belo sorriso, aquela pele quente e aqueles cabelos longos, brilhantes e sedosos. Até mesmo aquele perfume, algo doce e delicioso. Diferente de tudo o que sabia. Convidando-me, tentando me. Obrigando-me a ele, como se pudéssemos ser um só. O mesmo.

 

- Se você me der sua vida, prometo mostrar-lhe o que quiser! - essa voz nunca me pareceu tão doce, suave e real para mim, como me soou naquele instante. Sentindo esta incrível paz dentro do meu coração e peito. E aqueles olhos... a coisa mais linda que eu já vi! Com as cores mais bonitas que o mundo poderia ter. Vermelho e azul. Fascinavam-me, hipnotizando-me, chamando-me. Implorando à mim.

 

- Sim. - lhe daria qualquer coisa para que me levasse com ele. Eu confiaria a minha vida a ele para ter o que tanto queria. Para ter esses olhos e calor sempre ao meu lado, o tempo todo.

 

E então assim aconteceu.

 

Ele me deu os dois. Seu toque e seu belo rosto, para olhar. Finalmente me livrando daquela morte lenta, enchendo a minha vida com todas as cores e formas que eu queria.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Desvaneios da minha imaginação. Espero que alguém goste!