Não tinha ideia do tempo que fiquei encostada naquela porta, chorando. De alguma forma, me sentia mais leve. Todo aquele tempo segurando todas aquelas lágrimas... Fico surpresa por não ter explodido.
A medida que fui me acalmando, pude perceber que a cozinha estava em silêncio. Meu tio devia ter ido embora. Ótimo, eu não estava muito no clima para vê-lo novamente hoje.
Senti a porta ser arranhada atrás de mim. Dei um sorrido fraco. Me levantei, pronta para abrir aquela porta, abraçar meu cachorro e recomeçar mais uma fase de choro.
Mas Kota não estava sozinho. Suspirei pesadamente ao ver quem o acompanhava. O choro teria que esperar.
– Posso entrar? - Um par de olhos esverdeados me encaravam.
Suspurei novamente e me segurei com mais força na porta, sem nada responder.
– É só o que sabe fazer? - me perguntou, com um sorrisinho torto nos lábios. Caramba, eu tinha que admitir, ele era bem bonito.
– Do que está falando?
– É... você sabe. Suspirar. Não faz outra coisa desde quando cheguei.
– É meu corpo mostrando o desânimo que eu sinto quando eu te vejo.
Onde foi que eu tinha aprendido a ser tão grossa? Eu mesma havia me assustado com as palavras que saíram da minha boca. Mas era tarde para me desculpar, o estrago já havia sido feito.
– Eu posso entrar? - perguntou com mais firmeza. Parecia quase... arrependido.
Não. Era impressão minha.
Me afastei um pouco dando passagem a ele, que entrou e foi logo se sentando na minha cama. Olhei para Kota, que ainda estava parado na porta, me observando. Fiz um sinal e ele entrou também, se acomodando na cama ao lado de Klaus. Traidor. Fechei a porta e me contive para não suspirar novamente. Ao invés disso, apenas revirei os olhos.
– O que você quer comigo afinal?
Klaus olhou para baixo e deu um risinho nervoso. Ótimo, ele estava fazendo aquilo novamente.
"Acalme-se Elena, acalme-se. Tudo vai ficar bem quando ele perder esse processo ridículo e ir embora de vez. Com sorte, ele se esquecerá de você antes que você possa dizer 'love'."
Ainda repetia esse mantra quando Klaus resolveu parar de encarar o chão e focar o olhar em mim.
– Me desculpe Elena. De verdade, eu sinto muito mesmo.
Tudo bem, por aquela eu não esperava.
– Pelo que? Pela morte dos meus pais? Por ter tentado me tirar das únicas pessoas que chegam perto de subistituílos? Ou por ter bancado o idiota insensível mais cedo?
– Por... por tudo isso. - Ele já não olhava mais para mim. Senti minha raiva voltar.
– Qual é o seu problema? O que está fazendo aqui? Não, não olhe para baixo. Eu quero que olhe nos meus olhos e diga o que diabos você quer de mim, para que eu possa me ver LIVRE DE VOCÊ E DESSAS SUAS MANIAS IRRITANTES O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL!
– ME DESCULPE ELENA, MAS EU NÃO POSSO TE DEIXAR EM PAZ! NÃO SABE COMO EU GOSTARIA DE FAZER ISSO, MAS EU SIMPLESMENTE NÃO POSSO OK? NÃO POSSO FALHAR COM ELA MAIS UMA VEZ! - Ele havia se levantado da cama com um movimento tão brusco que fez Kota ganir e se enfiar debaixo da escrivaninha. Meu herói.
Prendi o fôlego. Não fora tom de voz de Klaus que me assustou, e sim suas palavras. Falhar com ela? Mais uma vez? O que aquilo significava?
Klaus se aproximou de mim e segurou meu queixo, forçando-me a encará-lo. Tentei enxergar alguma emoção em seus olhos, mas estavam vazios.
– Elena, você precisa vir comigo. Não é uma opção. Nada vai me impedir de levar você para longe daqui, nem seus avós e muito menos aquele tribunal idiota. - Disse essas palavras com uma calma assustadoramente forçada. Então me soltou e começou a andar pelo quarto.
– Klaus. - diante da minha voz firme, ele parou de andar - O que está acontecendo?
Depois de alguns segundos parado, se virou e olhou para mim. Agora eu via algo em seus olhos. Eles estavam cheios de culpa. Mas eu não consegui ter pena dele.
– O que está acontecendo Klaus? O que você não está me contando?
Klaus se jogou novamente na minha cama. Parecia ter envelhecido dez anos, tamanho era seu desânimo.
– Preciso que confie em mim. - foi a sua "resposta"
Deu uma risada sem humor. Ele só podia estar brincando.
– Eu sei que é pedir muito Elena, mas...
– Pedir muito? PEDIR MUITO? O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ PARA MERECER A MINHA CONFIANÇA ATÉ AGORA KLAUS?
– Elena...
– NADA! Tudo que você fez foi me chamar de covarde e bancar o insensível! Droga. - agora eu estava chorando. O que estava acontecendo comigo? - Eu não quero ir com você... Nem ficar aqui... Eu só... só quero eles de volta! Será que é tão errado assim não estar feliz por não poder tê-los de volta?
Klaus se levantou e me envolveu num abraço. Estava tão fragilizada, que nem o impedi. Apenas passei meus braços em torno dele e permiti que ele me confortasse.
– Perdoe-me Elena - ele sussurou - não queria tornar as coisas mais difíceis. Mas acredite em mim, assim como você, eu não tenho escolha.
Aquele não era exatamente o consolo que eu estava esperando. Sem conseguir me conter, soltei um suspiro em meio as lágrimas.